• Nenhum resultado encontrado

4 GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE E AS SOLUÇÕES PARA O DESCARTE DE MEDICAMENTOS

O Descarte de Medicamentos no Brasil: um olhar socioeconômico e ambiental do lixo farmacêutico

4 GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE E AS SOLUÇÕES PARA O DESCARTE DE MEDICAMENTOS

Após a promulgação da Lei n.º 12.305 (Política Nacional de Resíduos Sólidos), de dois de agosto de 2010, o gerenciamento de resíduos sólidos tomou um novo rumo no Brasil. Aplicam-se aos resíduos sólidos, além do disposto na Política Nacional, as Leis n.º 11.445/ 2007, 9.974/2000, e 9.966/2000, além das normas estabelecidas pelos órgãos do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS), do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária (Suasa) e do Siste-ma Nacional de Metrologia, NorSiste-malização e Qualidade Industrial (Sinmetro), nelas con-tendo a Resolução da Diretoria Colegiada - RDC n.º 306/04 como a Resolução CONAMA n.º 358/05, quando se tratar de Resíduos de Serviços de Saúde (RSS).

O gerenciamento de resíduos sólidos, também conhecido como manejo, conforme dispo-sição do inciso X do artigo 3.º da Lei n.º 12.305/2010, é o conjunto de ações que regem a atenção aos resíduos desde a geração até a disposição final.

Como se pode observar, a Política Nacional de Resíduos Sólidos abrange o gerenciamento de todos os resíduos sólidos, com exceção dos “rejeitos radioativos, que são regulados por legislação específica.” (§ 2.º artigo 1.º).

A Política Nacional de Resíduos Sólidos dispõe acerca dos princípios, objetivos, instrumen-tos, diretrizes, metas e ações a serem adotados, através dos planos de resíduos sólidos. Ademais, essa Política Nacional também aponta que “na gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, deve ser observada a seguinte ordem de prioridade: não geração, redu-ção, reutilizaredu-ção, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos” (Artigo 9.º).

Assim, diante dessa nova perspectiva nacional acerca do gerenciamento de resíduos sólidos, o manejo dos Resíduos de Serviços de Saúde se torna ainda mais relevante, tendo em vista a necessidade de manutenção da qualidade de vida e a manutenção do meio ambiente. Portanto, para o estabelecimento desse gerenciamento de resíduos de saúde, faz-se necessária a elaboração de um Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS) que, conforme determina o inciso XI do artigo 2.º da Resolução CONAMA n.º 358, de 29 de abril de 2005, trata-se de um documento que descreve as ações a serem elaboradas no manejo.

Para o gerenciamento completo dos RSS, existem as seguintes etapas: segregação; acon-dicionamento; transporte interno; armazenamento interno; armazenamento externo; trans-porte externo; tratamento e disposição final dos RSS.

Contudo, tanto a Resolução da Diretoria Colegiada - RDC n.º 306/04 da ANVISA como a Resolução CONAMA n.º 358/05 apresentam suas determinações acerca do gerenciamento dos RSS, apresentando, inclusive, a mesma classificação para os resíduos sólidos, qual seja, Grupo A (potencialmente infectantes), Grupo B (químicos), Grupo C (rejeitos radioativos), Grupo D (resíduos comuns que não apresentem risco biológico, químico ou radiológico à saúde ou ao meio ambiente) e Grupo E (perfurocortantes ou escarificantes).

Os medicamentos, tema central desse estudo, e todos os produtos descartados por servi-ços de saúde, inclusive farmacêuticos, estão classificados no grupo B dos Resíduos de Serviços de Saúde (RSS).

O artigo 21 da CONAMA n.º 358/05 aponta que os resíduos sólidos, ou seja, os medica-mentos objeto de análise deste artigo, quando não tratados, devem ter sua disposição final realizada em aterros de resíduos perigosos – Classe 1.

Vale lembrar que alguns Resíduos de Serviços de Saúde (RSS) devem ser submetidos ao tratamento térmico antes de sua destinação final. Em relação a estes medicamentos, a Resolução CONAMA n.º 316/2002 determina no artigo 16 quais resíduos de cada grupo deverão ser submetidos a esse tipo de tratamento. Tal dispositivo legal assim giza:

Art. 16. Os resíduos de serviços de saúde, quando suscetíveis ao

tratamen-to térmico, devem obedecer, segundo a sua classificação, ao que se segue: [...]

II - GRUPO B: resíduos que apresentam risco à saúde pública e ao meio

ambiente devido as suas características físicas, químicas e físico-quími-cas, devem ser submetidos às condições específicas de tratamento térmico para resíduos de origem industrial; [...] (Grifos nossos).

Como se pode observar, os RSS deverão ser submetidos a tratamento e disposição final específicos, de acordo com as características de toxicidade, inflamabilidade, corrosividade e reatividade, segundo exigências do órgão ambiental competente, devendo obedecer aos critérios estabelecidos pelas Resoluções supramencionadas.

Vistas as determinações legais acerca do descarte de medicamentos, fica plenamente evidenciado que toda a legislação existente atribui obrigação apenas aos responsáveis pela fabricação e distribuição à destinação final correta dos produtos existentes dentro do seu estabelecimento.

Como já relatado anteriormente, tanto os distribuidores, como as farmácias, drogarias e hospitais, por serem grandes geradores de resíduos sólidos (medicamentos) devem se enquadrar as determinações descritas nos regulamentos técnicos da Resolução RDC n.º 306 da ANVISA e da Resolução do CONAMA nº. 358/2005. Afinal, esses estabeleci-mentos são geradores de Resíduos de Serviços de Saúde (RSS). Devem, portanto, elabo-rar o Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS), seguindo todas as etapas previstas nas Resoluções, com subscrição de um profissional com regis-tro ativo junto ao seu Conselho da Classe.

Embora farmácias e distribuidores de medicamentos sejam obrigados a elaborar o PGRSS em seus estabelecimentos, estes não possuem obrigação legal de recolher os fármacos que sobram dos produtos que vendem, nascendo, portanto, um grande problema, o des-carte incorreto de medicamentos pela população.

Mas, como evitar a ocorrência desses problemas em virtude do descarte casual de medi-camentos? A resposta dessa pergunta não é simples, devendo a população e os governantes atuar de forma conjunta para a solução desse grave problema ambiental.

Primeiramente, devem-se criar pontos para coleta dos remédios para serem encaminha-dos ao descarte adequado. Esses pontos de coletas, como no caso das pilhas, lâmpadas, embalagens de agrotóxicos e baterias, deveriam ser os locais aonde houve a aquisição do produto, mediante apresentação da nota fiscal, ou seja, nas farmácias e drogarias. O problema também pode ser solucionado através da biorremediação correta desses medicamentos, que deve ser feita por meio de incineração dos medicamentos, garantindo que eles não cheguem aos lixões ou redes de esgoto. Para Mazzini (2003, p. 98) a biorremediação “Consiste no uso de micro-organismos, como bactérias e fungos, para degradas sustâncias – muitas vezes perigosas para os seres humanos – transformando--as em sustâncias com menor ou nenhuma toxicidade.”.

A parte educacional também não pode ser deixada para em segundo plano. Toda a popu-lação deve se mobilizar visando à redução da quantidade de medicamentos descartados, através da compra apenas dos medicamentos necessários ao tratamento, utilizando, para esse fim, a compra fracionada do medicamento, permitida para muitos remédios. Esse também é o papel do farmacêutico que conforme Resolução n.º 386 do Conselho Federal de Farmácia, de 12 de novembro de 2002, que dispõe sobre as atribuições do farmacêutico em prestar orientações em relação ao descarte correto de medicamentos no âmbito da assistência domiciliar em equipes multidisciplinares. Traz assim o seu corpo: Art. 1.º São atribuições do farmacêutico no exercício da sua profissão em

assistência domiciliar atuando em equipe multidisciplinar ou não:

a) prestar orientações quanto ao uso, a guarda, administração e descarte de

medicamentos e correlatos, com vistas à promoção do uso racional de medi-camentos; [...] (Grifos nossos).

Machado (2006, p. 557) leciona que “as campanhas educativas são de alto valor social, formado e robustecendo a consciência da necessidade da limpeza pública. Entretanto, não basta a elaboração de normas éticas. É preciso revestir tais normas de coercibilidade.”. Diante desses aspectos, a elaboração de uma legislação eficiente que apresente alterna-tivas concretas para esse problema socioeconômico e ambiental, tendo em vista a inexistência de lei específica acerca da coleta de medicamentos a serem descartados, é uma das alternativas mais sensatas a serem tomadas pelos governantes, devendo, toda a população atuar em prol dessa realidade.