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Diante de uma análise inicial sobre os conceitos de Direito Tributário Internacional e Direito Internacional Tributário, pôde-se perceber que, embora tratem-se de ramos jurídicos diversos, visto que, enquanto aquele trata de normas internas ditando sobre situações internacionais em matéria tributária, e, este, de normas provenientes de acordos internacionais, inferiu-se que tal diferenciação é meramente didática, na medida em que o Brasil adota o sistema monista, no qual ambos os ramos convergem para um todo harmônico, tirando o Direito Tributário Internacional seu fundamento de validade no Direito Internacional Tributário. E a preferência do intérprete brasileiro por esse sistema reflete, em termos tributários, principalmente no art. 98 do Código Tributário Internacional, entendendo-se que as normas provenientes de tratados internacionais em matéria tributária firmados pelo Brasil devem ser entendidos como normas de caráter especial em detrimento das normas tributárias internas brasileiras.

Quanto aos princípios diretivos das relações internacionais, percebeu-se que a soberania é o princípio máxime, na medida em que é através dela que o Estado pode fazer valer, sobre os seus indivíduos, aquilo que ficou acordado internacionalmente, além de ser a soberania o fator que coloca os Estados em plataforma de igualdade na conjuntura internacional quando estes decidirem diretrizes conjuntas a serem tomadas a fim de evitar o fenômeno da bitributação. Notou-se, ainda, que o princípio da territorialidade deixou de ser tendência entre os países, visto que esse critério acaba por dar ensejo à evasão tributária internacional, ferindo, por imediata consequência, o princípio da isonomia, pois os contribuintes que se encaixam em situação semelhante terminam por ter carga tributária diferenciada somente pelo fato da localização deles ser diferenciada. Em contrapartida, o contexto atual preza pelo princípio da universalidade, garantidor da tributação dos rendimentos dos indivíduos independente do local onde aqueles foram auferidos. Restou provada a opção do Brasil pela adoção deste último princípio, a partir da edição da Lei nº 9.249/95, que prevê a cobrança do Imposto de Renda de lucros, rendimentos e ganhos de capital auferidos no exterior por filiais, sucursais ou controladas.

Detalhou-se o Imposto de Renda e Proventos de Qualquer Natureza a partir da caracterização de sua regra matriz de incidência, tendo em vista que é o tributo brasileiro atribuído para a arrecadação de rendas e de capital, além de ter sido constatada a existência de

três métodos distintos utilizados para prevenir ou eliminar a dupla tributação internacional de rendas, quais sejam: (1) medidas unilaterais, ou seja, aquelas estabelecidas pelo ordenamento jurídico de cada Estado, como a isenção e a dedução de impostos pagos como despesas; (2) medidas bilaterais, que correspondem a mecanismos utilizados por dois ou mais Estados e concretizados, essencialmente, em convenções sobre dupla tributação; (3) planejamento tributário, que se trata de estratégia utilizada pelo próprio contribuinte para ter sua carga tributária minorada.

Destacou-se, ainda, a importância da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) no combate à dupla tributação internacional, vez que os países, inclusive o Brasil (embora dela não faça parte), utilizem-se dos modelos elaborados pelo Conselho Fiscal da OCDE de tratados de tributação internacional.

Definiu-se o fenômeno do treaty shopping como o uso do tratado por um sujeito que dele não fez parte originariamente, utilizando-se de dois exemplos clássicos: a utilização de empresas canais e de empresas trampolim. Empós, procurou-se adequar o treaty shopping como forma de planejamento tributário legítimo e permitido pela legislação brasileira e pela perspectiva internacionalista. Ademais, foram expostos argumentos desfavoráveis ao treaty shopping como planejamento, encaixando-o como forma abusiva da utilização de tratados internacionais de bitributação, destacando-se que, atualmente, a tendência mundial é de adequá-lo como tal.

Por fim, concluiu-se que inexistem leis brasileiras específicas sobre a temática, mas, caso haja a tentativa de que seja contida essa prática no ordenamento jurídico brasileiro, que o deve ser feito através de medidas bilaterais, quando do firmamento de acordos internacionais do Brasil com outros Estados, tendo em vista que os tratados internacionais firmados por nosso país são, de acordo com o art. 98 do CTN, mais específicos e, portanto, prevalecem sobre a legislação interna.

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