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Neste trabalho, ficou registrado que o conceito de família sofreu diversas alterações e cada vez mais vem se transformando, tendo as entidades familiares atuais, em sua diversidade, três alicerces comuns a todas as formas de sua constituição que são o afeto, a ética e a dignidade da pessoa humana.

O afeto, assunto pouco discutido na sociedade, posto ser uma linha invisível atrelado aos deveres oriundos do poder familiar de educação, guarda e sustento, está incutido ao princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, da proteção aos direitos da personalidade e da proteção integral da criança e do adolescente.

Todo ser humano se depara em algum momento da vida sobre o porquê de ter vindo ao mundo, sobretudo quando não se sente querido por parte dos responsáveis pela sua existência, não encontrando assim o propósito de sua vida, eis que não teve a escolha de não nascer e assim surge uma infinidade de outras indagações que se perdem, por faltar uma ou ambas das principais referências de sua vida.

É no seio da família, habitada por seres “sociais” que se encontra maior sentido de vida e onde se apazigua indagações e interrogações do interior dos menores, mesmo que não seja amplamente compreendida.

O menor que não tem por perto uma das partes, pai ou mãe, por negligência ou indiferença, não encontra facilidade no seu desenvolvimento, pois vive em uma angústia por se sentir diminuído frente às crianças que recebem o amor e acompanhamento de que são merecedoras.

Sendo o elo de vínculo mais forte da humanidade, a família, é o alicerce fundamental em todas as etapas do desenvolvimento do ser humano, principalmente durante a infância e a adolescência.

Ao direito cabe o papel relevante de acompanhar a evolução da família e dar amparo jurídico a esta instituição formadora de seres integrantes da sociedade futura, pois a família é a base de toda humanidade que está em constante transformação.

O abandono afetivo interfere diretamente no crescimento e desenvolvimento da personalidade de uma criança enquanto em fase de amadurecimento, de modo

que este abandono acaba por ceifar a criança de um direcionamento adequado levando, muitas vezes, a criança a tomar a influência de outras pessoas alheias à família, que na maioria das vezes, pela falta de discernimento que tem uma criança, visualiza na pouca atenção recebida de outras crianças e pessoas que não tem princípios e valores estruturados, um aconchego e porque não um exemplo do certo e errado, já que não tem esta estruturação e acompanhamento por quem de direito, encaminhando o menor a uma vida de fantasias e desregramentos que podem ocasionar em um futuro adolescente delinqüente, agressivo e indomável pela falta considerável que fez o apreço devido pelos seus genitores.

Assim, as conseqüências do abandono afetivo de menores por seus pais refletem no atraso do crescimento interior da criança, no tardio amadurecimento do adolescente, que perde anos de sua vida tentando se desvencilhar das amarras causadas pela dor e pela mágoa experimentadas por essa ausência. Não raro, a criança mais vulnerável a esses reflexos fica aprisionada num corpo adulto.

A negligência dos pais em relação aos seus deveres para com sua prole já evidencia o abandono afetivo nos menores, seja em relação à assistência material, seja na assistência moral.

O que dizer então, quando esse abandono afetivo acarreta em sérios prejuízos os filhos que tem suas chances de crescimento saudável diminuídas por esse dano, quer no plano material, quer no plano moral, amadurecimento da personalidade, insegurança e descontrole emocional.

Casais se formam e se separam, amparados judicialmente, porém dos filhos não se separa nunca, posto que uma vez feitos, são para vida toda mesmo após o divórcio dos cônjuges, de modo que os menores devem estar plenamente amparados pelo direito, sob pena de restarem prejudicados enquanto seres integrantes da sociedade de amanhã.

Não somente a criança resta prejudicada, como a sociedade também, já que a criança desamparada de afeto, carinho, comprometimento, acompanhamento, assistências de toda ordem, amor, dignidade, saúde, cultura, etc., poderá facilmente ser “adotada” pelo caminho da marginalização, tornando-se um delinqüente ou até mesmo um criminoso amargurado pelas dores e sentimentos desgostosos de inferioridade, vindo, por isso, a descontar esses dissabores de seu crescimento em toda sociedade, assombrando de toda forma aqueles que não foram responsáveis diretos da pessoa que se tornou.

Por isso, o abandono afetivo consubstanciado pela falta de convivência ativa nas relações familiares, habita na indiferença quanto à educação e construção do caráter do filho, ocasionando em uma criação deficiente da personalidade da criança que reflete diretamente no seu desenvolvimento, enquanto ser humano e social.

Desta forma, entende-se que a reparação civil do dano causado, cujo fato gerador é o abandono afetivo do menor, deve ser ponderada à luz da responsabilidade civil subjetiva, que traz a conduta humana, o ato ilícito, o dano e o nexo causal como pressupostos.

O abandono afetivo é caracterizado como dano moral, tendo em vista ser um bem extrapatrimonial e anímico, posto que não se pode repará-lo, devendo então este ser compensado em pecúnia, onde a obrigação de prestar assistência, afeto, carinho e cuidado, do qual a criança foi vítima de seu inadimplemento, por parte de seus responsáveis, transforma-se neste caso em obrigação de dar quantia certa em dinheiro, podendo dar chance de ser ministrada no tratamento psicológico de que necessita o menor desamparado afetivamente.

Muitas vezes há a possibilidade da imputação de conduta negligente que foi causa necessária a ocorrência do dano, por abandono afetivo a um dos pais, sendo nestes casos, devida a indenização por dano moral.

Porém, pode ser que essa conduta negligente venha de ambos os pais, que mesmo presentes na vida da criança, negligenciam o dever de educação, ausentando-se de acompanhar seu desenvolvimento educacional, por deixarem este encargo somente para a escola.

Não são todos os casos em que se encaixa a imputabilidade da culpa na conduta dos pais pelo dano experimentado por abandono afetivo. No caso de genitores que se separam e passam a morar em cidades diferentes, por inúmeras razões como, por exemplo, uma oportunidade de crescimento profissional que ofereça melhores condições financeiras, em razão da distância criada por esse fato e até mesmo pelo tempo necessário para as viagens, os pais restam, sem culpa, ausentes e/ou distantes da vida dos filhos.

A pesquisa procurou traçar a correta compreensão do afeto e sua importância nas relações familiares parentais e nas conseqüências psicossociais e emocionais originadas da falta de preocupação, cuidado e afeto, servindo assim, a tutela jurídica do afeto, de socorro dentro das relações familiares patológicas e não incentivar o

enriquecimento ilícito que alguns acreditam existir através da concessão de indenizações por danos morais pelo abandono afetivo.

Indubitável é que sempre existirão pais conscientes e desleixados, mas o afeto que deveria estar incutido nas relações familiares de forma natural, quando não existente, restando o menor prejudicado por abandono afetivo, deve encontrar amparo legal pela tutela jurisdicional para compensar o mal causado por infração dos deveres atrelados ao poder familiar, posto que a criança afetada leva mais tempo para amadurecer seu eu e tomar as rédeas de sua vida para que se torne um adulto saudável psicologicamente.

Por todos os caminhos percorridos pelos autores abordados nesta pesquisa, sem preterir nenhum deles, pois que todos visam resultados positivos, acredito que o direcionamento de Gagliano para a teoria de causalidade necessária, em relação ao nexo causal, vá produzir melhor resposta ao pleito, tanto na compensação do prejudicado como na influência de coibir o abandono afetivo nas relações parentais.

Conclui-se diante do exposto que deve ser devido o dano moral como forma de compensar o dano, abandono afetivo sofrido pelo menor, visto que não há como repará-lo afim de que volte ao estado anterior ao dano e que cabe ao Poder Judiciário acompanhar e dar respaldo jurídico as novas concepções de família, sabendo-se não ser tarefa fácil, especialmente no cuidado com o desenvolvimento das crianças frente às inúmeras dissoluções que vem crescendo nos últimos anos, mas deve ser incansavelmente perseguido pelo Direito, posto que as crianças de hoje são a sociedade de amanhã.

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