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Ao longo deste trabalho, foram inúmeras as questões polêmicas suscitadas e, por isso, seria pretencioso concluir de forma fechada. Portanto, adotar apenas uma posição seria adentrar em um campo arriscado.

Desta forma, tendo em vista as múltiplas possibilidades que este trabalho apresenta, parece interessante resumir em breves proposições, as principais teses que foram discutidas ao longo desta pesquisa.

A constitucionalização dos direitos fundamentais se iniciou com a Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão e com a Declaração de Virgínia, tendo como ápice, no entanto, a sua presença nas Constituições Mexicana de 1917 e na Constituição de Weimar, de 1919. Foi a partir daí que outras Constituições começaram a elencar um rol cada vez mais extenso de direitos fundamentais em seus textos.

O Estado, em vez de inimigo da sociedade, passou a permitir uma dimensão objetiva destes direitos fundamentais e passa, então a não só ter o dever de respeitar os direitos fundamentais (ideia de eficácia vertical), mas também passa a ter o poder-dever de tornar efetivos esses direitos na esfera privada, protegendo os cidadãos de seus próprios semelhantes.

Em seguida, passa a haver a necessidade de proteção dos particulares não apenas em relação ao Estado, mas também, em relação aos outros particulares que, pelo menos, sobre eles exerçam algum tipo de influência ou poder econômico ou social.

Apesar da Constituição não regular de forma expressa sobre o assunto em questão, os direitos fundamentais vinculam particulares, sendo esta fundamentada pelo princípio da supremacia do Constituição, pela aplicabilidade imediata dos direitos e das garantias fundamentais, pela dimensão objetiva dos direitos fundamentais e pelo princípio basilar do constitucionalismo brasileiro: a dignidade da pessoa humana.

Por fim, em relação à forma e ao alcance da vinculação da esfera privada aos direitos fundamentais deve-se concluir que os direitos fundamentais vigoram de forma imediata em face das normas de direito privado.

Se, de um lado, a teoria da State Action e a da Convergência Estatista se mostram inaplicáveis, conduzindo, esta última a uma irresponsabilidade dos particulares, já que o Estado não pode ser responsável por toda atuação do cidadão, e nem pode legislar sobre todas as ações do particular.

Por outro, a eficácia dos direitos fundamentais na ordem jurídica privada não

pode se condicionar à mediação legislativa, esperando que o legislador infraconstitucional fixe os casos de incidência dos direitos fundamentais nas relações entre particulares, deixando a atuação do Judiciário num segundo plano, apenas interpretando as cláusulas gerais e preenchendo os conceitos indeterminados conforme os direitos fundamentais. A irradiação dos direitos fundamentais por meio das cláusulas gerais e dos conceitos jurídicos indeterminados se configura como sendo insuficiente.

Vale salientar que a principal crítica à teoria da eficácia direta e imediata dos direitos fundamentais, a restrição excessiva que essa teoria pudesse impor à autonomia privada não tem fundamento, eis que a autonomia não é um valor absoluto, devendo ser ponderada com outros direitos constitucionais, tendo em vista sempre as características próprias de cada caso concreto.

Ao contrário do que essa crítica dispõe, aplicar os direitos fundamentais de forma direta e imediata nas relações privadas, em vez de atentar contra a autonomia privada, visa promovê-la no seu sentido mais pleno, já que procura diminuir as desigualdades entre indivíduos e, de forma desigual, a autonomia privada não se configura de modo completo.

Tratando-se da sociedade brasileira, que é injusta, desigual e com alta concentração de renda, e sendo o modelo brasileiro o de Estado Social, como dispõe a Constituição, e que visa à promoção da igualdade material, figura-se oportuna a aplicabilidade direta e imediata dos direitos fundamentais na ordem jurídica privada. Talvez seja por isso, portanto, que o Supremo Tribunal Federal tem adotado posicionamento fundamentado na teoria imediata dos direitos fundamentais, que também é defendida pela doutrina majoritária do Brasil.

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