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Eixos de oposição a Regimes Autoritários

1.7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A iniciativa do Estado chileno para o conhecimento dos crimes contra a humanidade e de violações aos Direitos Humanos é muito importante para compreender de quais formas uma sociedade que foi tão gravemente cooptada têm para se reestruturar e buscar a superação do passado traumático.

A existência dos três informes das comissões da verdade permite um amplo mapeamento sobre como, onde e quem sofreu as violações, tendo em uma estimativa mais de três mil nomes comprovados20. Entretanto, a permanência de elementos do período

ditatorial ainda impede a plena realização democrática no país.

CAPÍTULO 2

À MODA DA CASA: a incoerência do pensamento brasileiro sobre democracia, Direitos Humanos e o alcance da Comissão da Verdade

“Porque nós não nos submeteremos a nenhum golpe, a nenhuma resolução arbitrária. Não pretendemos nos submeter. Que nos esmaguem! Que nos destruam! Que nos chacinem, neste Palácio! Chacinado estará o Brasil com a imposição de uma ditadura contra a vontade de seu povo.”21 2.1 INTRODUÇÃO

A ordem política no Brasil encontra dissonâncias com os vizinhos latino- americanos ainda no século XIX, quando a família real, fugindo das guerras napoleônicas, vem para a colônia, elevando-a a Reino Unido. A seguir, vemos o Brasil se transformando em um império em 1822, e a partir de um golpe de Estado em 1889, uma república.

O país possui uma tradição de instabilidade política: desde a independência em 1822 até o golpe militar em 1964, houve 13 tentativas de golpe (TORELLY, 2012, p. 175). Assim, o século XX vivenciou as intranquilidades constitucionais de forma muito latente, havendo inicialmente uma república oligárquica marcada pela alternância de poder entre a elite paulista e a mineira. A ordem política foi alterada com a Revolução de 1930 e a instauração da ditadura de Getúlio Vargas.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o Brasil, seguindo a onda global, foi também contagiado pela primeira fase otimista de desenvolvimento nacional- econômico evidenciado pelo governo de Juscelino Kubitschek. Entretanto, à medida que a conjuntura do cenário internacional foi se alterando para o surgimento e posterior acirramento da Guerra Fria, o país foi igualmente submerso nas questões políticas e de segurança que passaram a fazer parte da agenda do continente.

Assim, quando o presidente eleito Jânio Quadros abdicou de seu cargo em 1961 e o vice-presidente João Goulart assumiu, a situação política se tornou bastante complexa. Aliando o contexto internacional com o novo governo conciliador de Goulart aliados ao seu plano de reformas de bases, a solução proposta foi o golpe militar em 1964, como uma continuação do projeto iniciado em 1961. Dado isso, a solução encontrada por

21 Pronunciamento do governador do estado do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola (1959-1963), transmitido

pela Rádio Guaíba, direto da sede do governo, o Palácio Piratini, em Porto Alegre, no dia 28 de agosto de 1961. Disponível na íntegra em: http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=630 - acesso em 16/07/2019

setores conservadores e pelas Forças Armadas, que desde 1961 não pretendiam permitir a posse do então vice-presidente, foi o golpe de Estado promovido pelas Forças Armadas em 1964.

Sendo assim, o presente capítulo apresentará o contexto em que o ocorreu o golpe civil-militar brasileiro entre 31 de março e 1º de abril de 1964, a partir da renúncia de Jânio Quadros; o cenário de instabilidade econômica e política do país; e o conturbado período do governo de Jango. A partir disso, será possível considerar a dimensão das ações das Forças Armadas, tanto em nível legal quanto nos meios práticos de institucionalização do regime e repressão.

Faz-se necessário ressaltar as especificidades deste que se tornou o regime ditatorial mais longo da história brasileira, que durou 21 anos. Como bem afirma Torelly: “não se pode deixar de referir algumas características peculiares dessa interrupção da ordem jurídica, uma vez que tais características distintivas influenciam e guardam direta relação com o processo de reabertura, conduzido sob o pulso forte do regime” (TORELLY, 2012, p. 175).

Também são apontadas as principais ações do regime no que tange às questões de violações de Direitos Humanos, como os Atos Institucionais e a própria ideia da “transição lenta, gradual e segura para a Democracia” encabeçada a partir do governo do General Ernesto Geisel (1974-1979) e efetivada no mandato seguinte de General João Figueiredo (1979-1985).

A seguir serão mostradas as mobilizações pelas eleições diretas, no movimento que ficou conhecido como “Diretas Já”, e como esse foi vencido pela classe política, mas que de alguma forma influenciou a criação da constituinte e consequentemente na Constituição Cidadã de 1988.

A partir disso, serão analisadas as Comissões estabelecidas para a promoção da reparação e da Justiça de Transição, ainda que não sejam Comissões da Verdade, propriamente ditas, como o projeto Brasil: Nunca Mais (1985); Dossiê dos Familiares de Mortos e Desaparecidos (1979; 1995; 2009); Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos – CEMDP (1995); e Comissão de Anistia do Ministério da Justiça (2002).

Em seguida, o julgamento do caso Gomes Lund e outros (Guerrilha do Araguaia) versus Brasil na Corte IDH e como a sua sentença, aliada ao momento histórico brasileiro, impulsionou em 2011, a criação da Comissão Nacional da Verdade (CNV). será feito um panorama sobre a atuação e principais feitos da instituição no que tange a Justiça de Transição, como que o país lida com essa instituição 30 anos após o final do seu período

ditatorial e a condenação, em 2018, do Caso Vladimir Herzog e outros versus Brasil, também na Corte IDH.

2.2 A ESPERANÇA EQUILIBRISTA: A LUTA PELA ANISTIA E