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Em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, em dezembro de 2007, Maria Alice Setúbal, socióloga da USP, analisa a ausência de participação dos pais nas ações escolares e faz uma análise sobre as dificuldades desse relacionamento e as diferenças de cultura entre a escola, os alunos e suas respectivas famílias. Aponta alguns fatores para esse distanciamento:

Etn om ate m áti ca : fo rm aç ão d e p ro fes so re s e p rát ica p ed ag óg ica

Um primeiro aspecto a ser observado são as diferenças entre a cultura letrada e a cultura oral. A escola é por excelência o local da cultura le- trada. Todas as suas atividades, especialmente as aulas, são norteadas por essa lógica, muitas vezes linear e de sacralização do texto escrito ... que não encontram eco numa população movida pela cultura oral, em que o pensamento é menos estruturado, mais extensivo, concreto e repetitivo em suas explanações... há uma dupla barreira relativa ao currículo. De um lado, a distância entre o que se ensina e a realida- de da sociedade contemporânea, do mundo vivido pelos alunos. Do outro a falta de incorporação ao currículo das histórias, dos valores, da arte e dos costumes da comunidade onde a escola se insere. Com isso, o aluno e seus pais não se reconhecem nem se identificam com os conteúdos transmitidos pela escola. Ao contrário, sentem-se mais uma vez excluídos, já que seu universo cultural não é levado em conta. (SETUBAL, 2007)

Esse artigo da professora Setúbal veio confirmar o fato que tenho observado de que a escola está fisicamente inserida num contexto social (bairro, região, aldeia etc.), mas, na maioria das vezes, não faz parte deste contexto. Seus professores e administradores vêm de outros lugares, somente para cumprir o horário de trabalho, não participando do ambiente social de seus alunos, e nem valorizando os seus saberes. Além de mudanças nas políticas públicas de educação, o que só conseguiremos quando eleger- mos administradores comprometidos, verdadeiramente, com a melhoria da educação oferecida ao povo brasileiro, uma outra medida necessária e urgente para avançar seria uma transformação radical nos cursos de formação de professores, com propostas baseadas em novos paradigmas, entre eles os da Etnoma- temática. O que também demandará muitos esforços já que as universidades também têm se mostrado extremamente distanciadas dos contextos sociais e culturais em que estão inseridas.

Como diz o professor Eduardo Sebastiani Ferreira:

Mas como fazer isso em sala de aula? Em primeiro lugar, faz-se ne- cessário mudar o professor, ele tem que ter competência, seu ofício é diferente: o ofício de docente não consistiria mais em ensinar, mas sim em fazer aprender, isto é, criar situações favoráveis, que aumentem a probabilidade do aprendizado visado. As competências são construí- das somente no confronto com verdadeiros obstáculos epistemológi- cos, no sentido de Bachelard, em um processo através de projetos ou resolução de situações-problema contextualizada, como é a proposta metodológica da Etnomatemática. Por outro lado, a participação do aluno é muito maior, pois, pela Etnomatemática, ele é o pesquisador de campo, o criador da situação-problema e junto com o professor

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a e tnoma temá tIc a na sala de aula Mar ineusa Gazz etta

2ª PROVA – JLuizSM – dez 2009

busca a solução. Então: pede-se a ele que em seu ofício de aluno, torne-se um prático reflexivo. O aluno é convidado para um exercício constante de metacognição e de metacomunicação. Esse contrato exige uma maior coerência e continuidade de uma aula para outra, além de um constante esforço de explicitação e de ajuste das regras do jogo. Também passa por uma ruptura com a competição e com o individualismo. Isso remete à improvável cooperação entre adultos e ao possível contraste entre a cultura profissional individualista dos professores e o convite feito aos alunos para trabalharem juntos. Os alunos serão, então, levados a construir competências cada vez mais complexas, no sentido espiral, somente confrontando-se, regular e intensamente, com problemas numerosos, complexos e realistas, que mobilizam diversos tipos de recursos cognitivos. (SEBASTIANI FERREI- RA, [200-])

Referências

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