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Figura 1 Mapa 3D de Localização das Áreas de Estudo do Gradiente Altitudinal da Morraria do Urucum Ladário MS

CONSIDERAÇÕES FINAIS

1 - O gradiente estudado é formado por duas faixas/grupos de vegetação: o grupo das florestas estacionais decíduas de terras baixas e submontanas e o das florestas estacionais semidecíduas submontanas e montanas. Esses dois grupos foram, floristicamente, bem distintos com pouquíssimas espécies comuns. A precipitação foi considerada como o principal fator associado às mudanças ocorridas na vegetação. Observou-se um aumento em escala logarítmica da precipitação ao longo do gradiente de altitude, o que deve estar determinando as diferenças fisionômicas e florísticas encontradas. Outros fatores associados a mudanças na vegetação dentro de cada grupo foram a profundidade e a textura dos solos. Dentro dos dois grandes grupos encontrados, as unidades amostrais sobre solos mais profundos e arenosos foram florísticamente diferentes daquelas sob solos rasos e mais argilosos e com maior saturação por bases.

2 - Os solos das áreas estudadas apresentaram elevada fertilidade ao longo de todo gradiente. Não houve variação da composição florística ao longo do gradiente que pudesse ser explicada por variações nos teores de macro e micro-nutrientes avaliados. Os nutrientes com variação mais fortemente associada com a altitude foram o Fe e o Cu. A porcentagem de saturação por bases esteve relacionada com a riqueza de espécies quando consideradas, em separado, as áreas de 100 a 200 m de altitude e de 400 a 800 m. Áreas com baixa saturação por bases apresentaram número menor de espécies, áreas com saturação entre 60 e 75% apresentaram riqueza maior, enquanto que áreas com saturação acima disso não apresentaram relação clara com a riqueza de espécies. 3 - Em relação ao número de espécies por área estudada, não houve padrão ao longo do gradiente altitudinal. Entretanto, ao se verificar o número de espécies por indivíduo as áreas a 100 e 200 m apresentaram um padrão de riqueza maior que as áreas a 600 e 800 m. A área a 400 m configurou-se como uma área de transição, com forte intersecção de espécies das áreas acima e abaixo, sendo proporcionalmente mais rica que as demais. Em virtude disso, o modelo de riqueza de espécies para gradientes altitudinais aqui encontrado é o de maior riqueza de espécies nas áreas intermediárias do gradiente.

4 - Ao longo do gradiente estudado, as espécies que dominaram nas altitudes acima de 400 m apresentaram picos de valor de importância alternados para cada altitude. Nas áreas de menor altitude ocorreu um padrão de co-dominância entre as espécies Acacia polyphylla e Acosmium

cardenasii. Nas extremidades do gradiente ocorreram muitos indivíduos com pouca área basal,

estiveram associados, principalmente a umidade. Nessas áreas intermediárias, apesar de não ter sido amostrada nenhuma área adjacente à cursos d’água, existem várias nascentes de córregos, o que indica maior disponibilidade de água no subsolo, proporcionando melhores condições para o crescimento desses indivíduos. A área basal foi mais elevada, também, naquelas parcelas com maior fertilidade (saturação por bases nos solos). Nas áreas até 200 m de altitude os terrenos mais inclinados também exibiram áreas basais maiores, enquanto que nas áreas acima de 400 m ocorreu o oposto. Isso mostra a resposta que as comunidades avaliadas têm ao aumento da disponibilidade de nutrientes, o que provavelmente provoca aumento na produtividade com conseqüente alteração na fisionomia. Nas áreas baixas e planas se acredita que o afloramento do lençol freático, durante o período chuvoso, possa funcionar como limitante do crescimento. Já nas áreas de maior altitude, a maior inclinação do terreno, associada a solos rasos e litólicos, provavelmente, age inibindo o estabelecimento/recrutamento de indivíduos de maior porte, que devem cair ao atingir um tamanho limite.

5 - O número de espécies no sub-bosque decresceu com o aumento da altitude. Isso foi atribuído ao fato do dossel, das áreas de baixa altitude, ser composto principalmente por espécies decíduas, que permitem maior penetração de luz para o sub-bosque, proporcionando maior quantidade de nichos. A altura do dossel apresentou padrão semelhante ao da área basal com os maiores valores ocorrendo em altitudes intermediárias. Na área de maior altitude, a vegetação apresentou porte mais baixo, muito provavelmente em função da declividade do terreno, que foi associada à presença de muitos indivíduos de menor porte. Esse fenômeno é comum em áreas com gradiente altitudinal.

6 - Com exceção da área na altitude de 600 m, todas as áreas estudadas apresentaram estrutura vertical formada por três camadas de vegetação: A primeira, descontínua, constituída principalmente por espécies do dossel que atingem alturas um pouco maiores e por espécies emergentes; a segunda, contínua, constituindo o dossel propriamente dito, e a terceira formada pelo sub-bosque. Na área a 600 m o dossel contínuo encontrado foi mais alto que o das demais áreas, não apresentando espécies emergentes.

7 - A umidade ao longo do gradiente e a deciduidade do dossel, aparentemente exerceram influência na distribuição das espécies segundo sua síndrome de dispersão. O número e os valores de importância de espécies autocóricas diminuíram com o aumento da altitude, em todas camadas da estrutura vertical. Isso indica um padrão diretamente relacionado às condições de umidade

existentes ao longo do gradiente, ou seja essas espécies tendem a diminuir em número e importância em áreas mais úmidas. Em todas as altitudes avaliadas o número de espécies zoocóricas foi alto. Entretanto, a importância delas na estrutura horizontal da vegetação esteve associada positivamente com variações de umidade altitudinais, ou seja nas áreas mais baixas, e portanto mais secas, a importância dessas espécies foi menor em todas as camadas da estrutura vertical. Em número de espécies, apenas no sub-bosque tendeu a diminuir com a altitude, acompanhando a tendência geral de diminuição de riqueza no sub-bosque. As tendências não foram muito claras para as espécies anemocóricas. De modo geral, houve uma tendência de diminuição em número de espécies e importância no sub-bosque ao longo do gradiente. Isso foi interpretado como sendo um efeito do fechamento do dossel nas altitudes mais elevadas, dificultando a penetração do vento.

8 - Nas duas fitofisionomias estudadas foram encontradas 417 espécies. As espécies de mata decídua, em geral, não atingem altitudes mais elevadas. Para as matas semidecíduas estudadas, boa parte de suas espécies esteve associada a áreas de maior altitude e ainda a áreas mais úmidas, como as matas de galeria. Muitas dessas espécies ocorreram nas matas de galeria em altitudes baixas. Isso leva a crer que as espécies encontradas nas áreas de maior altitude atingem essas áreas via matas de galeria dos córregos existentes nos morros, que funcionam como corredores de dispersão dessas espécies. Entretanto, essas espécies associadas às áreas mais úmidas não ocorrem nas matas ripárias do rio Paraguai, muito provavelmente em virtude da inundação, que funciona como barreira para essas espécies. Como esses córregos são todos tributários do rio Paraguai, o que configura um sistema fechado, muito provavelmente essas espécies atingiram a região via mata ripária do rio Paraguai, em períodos com cheia de menor intensidade no Pantanal.

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