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Figura 1 Mapa 3D de Localização das Áreas de Estudo do Gradiente Altitudinal da Morraria do Urucum Ladário MS

URUCUM LADÁRIO MS.

INTRODUÇÃO

Estratificação e termos relacionados têm sido historicamente utilizados por pesquisadores para descrever a organização e as variações simultâneas que podem ser vistas quando se observa uma um ambiente florestal (Parker & Brown 2000). A palavra estrato é derivada do latim (stratum) e significa cama, cobertura, coberta, leito ou pavimento (Ferreira 1992; Ferreira 1986). O termo estratificação tem sido empregado com significados diferentes na literatura. Em uma revisão, Parker & Brown (2000) encontraram vários significados diferentes para estratificação na literatura: 1) sinônimo de altura; 2) diferentes formas de vida ou classes de idade em diferentes alturas; 3) variabilidade geral nas plantas; 4) distribuição vertical contínua de superfícies foliares; 5) distribuição vertical da folhagem; 6) conjunto de limites de copas; 7) agrupamento de áreas foliares por altura; 8) espécies com diferentes alturas de folhas; 9) espécies com diferentes alturas de topos de copa. A existência de estratificação em ambientes florestais é um assunto controverso, e em alguns casos autores têm questionado a sua existência. De acordo com Mildbraed (1922 apud Richards 1996) as plantas lenhosas podem ser agrupadas em três, quatro, cinco ou mais camadas de acordo com a preferência de quem está estudando. Como árvores de alturas intermediárias estão sempre presentes e a mistura de espécies é muito grande, os intervalos de classe, normalmente criados para avaliar a estratificação, nunca revelam estratos reais (ver também Schulz 1960 apud Smith 1973; Paijmans 1970).

Independentemente da polêmica sobre a existência ou não da estratificação, sobre o número de estratos existentes (Smith 1973) e ainda sobre qual seria a definição correta de estratificação, existe uma tendência de se acreditar que as espécies se distribuem na estrutura vertical de um dado ambiente florestal de maneira não aleatória (Richards 1996).

A disponibilidade de luz é um dos fatores ecológicos apontados como responsável pelas variações na estrutura vertical. Esta é bastante reduzida após atravessar uma camada em um dado ambiente florestal (Théry 2001; Montgomery & Chazdon 2001). Além da diminuição na intensidade, há também uma modificação drástica nos espectros de luz disponíveis em função da

transmissão e reflexão seletiva proporcionada pelas folhas (Théry 2001). Essas diferenças na disponibilidade de luz criam ambientes diferentes onde as espécies vegetais se posicionam de acordo com a sua capacidade de aproveitamento das diferentes intensidades e espectros de luz disponíveis ao longo do perfil vertical da floresta (Richards 1996; Théry 2001). Além disso, o número de camadas é também influenciado pela idade das árvores e pelo estágio sucessional das diversas manchas (eco-unidades) que compõem uma dada formação florestal (Torquebiau 1986).

Além das diferenças nas espécies vegetais, a oferta de alimento para a fauna frugívora também é distribuída em camadas em áreas de floresta úmida. Schaefer & Schmidt (2002) encontraram valores energéticos diferentes para os frutos carnosos de acordo com a camada florestal considerada. As estratégias de dispersão das espécies também são variáveis de acordo com a camada florestal considerada (ver capítulo 1). Outros organismos também se dispõem de maneira estratificada dentro da mata, como no caso dos morcegos (Bernard 2001) e pássaros (Walther 2002).

Estudos com dados que abrangem estrutura vertical de florestas tropicais são mais comuns para florestas tropicais úmidas (Richards 1996; Ashton & Hall 1992; Popma et al. 1988) do que para florestas estacionais tropicais (Killeen et al. 1998; Sampaio 1995; Ivanauskas et al. 2000). Da mesma forma, dados comparativos da estrutura vertical de áreas florestais ao longo de gradientes altitudinais são bastante comuns para as florestas úmidas (Heaney & Proctor 1990; Kitayama 1992; Sanchez 2001) e mais raros para as florestas estacionais (Sugden 1986).

O diagrama de perfil foi o primeiro método utilizado para descrição da estrutura vertical em formações florestais. Apesar de ser um ótimo método para descrição da estrutura vertical, não apresenta informações quantitativas necessárias para o entendimento do funcionamento da floresta como um ecossistema, uma vez que é o retrato de uma pequena faixa de uma dada área estudada (Richards 1996).

Nos últimos anos, diversos métodos têm sido apresentados para descrever a estrutura vertical de florestas usando diferentes critérios. Dentre esses, se pode citar Latham et al. (1998) que identificaram e quantificaram as camadas da estrutura vertical de florestas com base nos dados de raio da copa, altura total e diâmetro a altura do peito (DAP) e Baker & Wilson (2000) que utilizaram dados de altura total e altura da primeira ramificação (base da copa).

O fato de a estrutura vertical de um dado ambiente florestal possuir diversas espécies, com diferentes habilidades ou estratégias para aproveitamento da luz, apresentando diferentes alturas e

modos de crescimento para minimizar a ocupação dos espaços, indica que o assunto estrutura vertical, pode ser estudado com emprego de técnicas de análise multivariada. Algumas iniciativas nesse sentido podem ser encontradas em Souza et al. (2003), que utilizaram método de agrupamento para análise da estratificação e em Guilherme (2003) que utilizou técnicas de ordenação para descrever a estrutura vertical de um trecho de mata Atlântica. Assim, mesmo sendo uma ferramenta útil, o uso desse tipo de técnica para descrição de estruturas verticais em florestas, continua pouco explorado. Nesse sentido, o método Twinspan (Hill 1979) pode ser uma ferramenta útil, uma vez que produz em uma mesma análise um agrupamento de espécies e outro de ambientes.

O presente estudo foi desenvolvido em cinco áreas de floresta estacional ao longo de um gradiente de altitude no Planalto residual do Urucum, MS, com o objetivo principal de descrever a estrutura vertical das áreas florestais avaliadas. Em virtude da necessidade de se descrever as cinco áreas usando critérios comparativos padronizados, que não fossem subjetivos, foram utilizadas técnicas de análise quantitativas com emprego de análise multivariada. Assim, o presente estudo teve como objetivos responder as seguintes questões: 1 - Quantas camadas de vegetação existem na estrutura vertical das áreas estudadas?; 2 - Quais são as principais espécies componentes dessas camadas? 3 - Como varia a estrutura vertical do dossel ao longo do gradiente?

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