• Nenhum resultado encontrado

Desde o relatório Health Sytems: Improving Perfomance (OMS, 2000), a literatura tem avançado no sentido de prover proteção financeira aos domicílios frente aos gastos com saúde, promovendo a equidade no financiamento e buscando a consolidação da cobertura universal. Essa monografia foi fruto desse recente debate e buscou estimar os gastos catastróficos em saúde para os domicílios da RMS, bem como, analisar os fatores socioeconômicos que agem na demanda por saúde e também nos gastos catastróficos.

Os resultados encontrados foram bastante coerentes com estudos prévios, com um percentual ainda elevado de domicílios incorrendo em gastos catastróficos em saúde na RMS, apesar da existência do SUS que oferece atendimento universal à toda população. Enquanto a presença de criança influencia positivamente, a renda possui uma relação negativa com a probabilidade de gastos catastróficos. Esses resultados sinalizam a necessidade de que maior atenção seja dada para as formas de suavização do impacto de uma enfermidade sobre os domicílios, garantindo o acesso aos cuidados médicos sem que o domicílio seja levado à ruína financeira

Foram constatados o peso dos custos com medicamentos e planos de saúde nos gastos catastróficos, com destaque para o primeiro, quando analisado CHE3, que exclui as despesas com medicamentos, a incidência de gastos catastróficos cai substancialmente para todos os pontos de corte. Além disso, dentre domicílios impossibilitados de adquirir medicamentos devido à sua restrição orçamentária, a incidência de gastos catastróficos aumentou para os três pontos de corte. Esses dois resultados evidenciam a insuficiência da proteção financeira dos domicílios mais pobres que gastam proporcionalmente mais em gastos curativos.

Além disso, existe também uma necessidade de aprimoramento da metodologia de estimação e análise dos gastos catastróficos que possa melhor compreender o comportamento dos domicílios mais pobres, detectando os mecanismos de enfrentamento que os mesmos adotam frente aos gastos com saúde como formar de garantir sua sobrevivência econômica.

É importante analisar como os outros custos que afetam a renda e o padrão de consumo das famílias, tal como, o custo associado a diminuição da renda familiar a partir do momento em que um dos membros da família que seja trabalhador autônomo ou não esteja coberto por um

sistema de seguro social se vê forçado a se ausentar do mercado de trabalho para que possa receber tratamento médico.

A incorporação desse fator ao modelo é grande relevância para a estimação dos gastos catastróficos na RMS, região que historicamente apresenta uma das maiores taxas de desemprego entre as grandes regiões brasileiras, dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) apontaram que em 2013 a taxa de desemprego total em Salvador era de 18,3%, para exemplo de comparação, no mesmo período Belo Horizonte, Fortaleza, Recife e São Paulo apresentaram taxas de desemprego total correspondentes a 6,9%, 8,0%, 13,0% e 10,4%, respectivamente.

Finalmente, o estudo dos gastos catastróficos em saúde não está restrito a minimização dos danos econômicos causado aos domicílios, mas está inserido em um debate muito mais amplo sobre equidade e justiça social que foram expressos nos objetivos dos sistemas de saúde traçados pela OMS (2000). A saúde está entre uma das mais importantes condições da vida humana e desempenha papel criticamente significante para o desenvolvimento do potencial dos indivíduos. Sen (2006) ressalta que:

Qualquer concepção de justiça social que aceita a necessidade de uma distribuição justa, bem como formação eficiente das capacidades humanas não pode ignorar o papel da saúde na vida humana e oportunidades que as pessoas, respectivamente, têm de alcançar uma boa saúde - livre de doenças e aflições evitáveis e mortalidade prematura (SEN, 2006, p.660) (tradução nossa).7

Assim, espera-se que futuramente a superação das limitações metodológicas existentes, permita que o desenvolvimento do tema dessa monografia ofereça uma maior contribuição ao debate e elaboração de políticas públicas que estejam alinhadas com a busca pela melhor oferta de cuidados médicos, respondendo as expectativas das pessoas e alcançando a menor desigualdade possível entre os indivíduos e grupos, sem qualquer discriminação.

7

Tradução do autor: “Any conception of social justice that accepts the need for a fair distribution as well as

efficient formation of human capabilities cannot ignore the role of health in human life and the opportunities that persons, respectively, have to achieve good health – free from escapable illness, avoidable afflictions and premature mortality” (SEN, 2006, p.660).

REFERÊNCIAS

ALVES, Denisard. Gastos com saúde: uma análise por domicílios para a cidade de São Paulo. Pesquisa e Planejamento Econômico, v. 31, n. 3, p. 480-493, dez. 2001.

ANDRADE, Mônica Viegas; NORONHA, Kenya de Souza; OLIVEIRA, Thiago Barros de. Determinantes dos Gastos das Famílias com Saúde no Brasil. Revista Economia, v.7, n.3, p.485–508, set/dez. 2006.

BANCO MUNDIAL. A organização, prestação e financiamento da saúde no Brasil: uma agenda para os anos 90. Banco Mundial, 1994. Disponível em: < http://documents.worldbank.org/curated/en/421811468239375008/pdf/126550SR0Portugese0 Box96983B01PUBLIC1.pdf. Acesso em: 05 dez. 2018.

BANCO MUNDIAL. Envelhecendo em um Brasil mais velho. Washington DC: Banco

Mundial, 2011. Disponível em: <

http://siteresources.worldbank.org/BRAZILINPOREXTN/Resources/3817166-

1302102548192/Envelhecendo_Brasil_Sumario_Executivo.pdf>. Acesso em: 05 dez. 2018. BANCO MUNDIAL. THE WORLD BANK. Health Expenditure total (%GDP). World Health Organization. Global Health Expenditure Database, 2017. Disponível em: <http://data.worldbank.org/indicator/SH.XPD.TOTL.ZS>. Acesso em: 31 jul. 2017.

BANCO MUNDIAL. World Development Report 2006: Equity and Development. World

Bank Publications. 2005. Disponível em: <

http://documents.worldbank.org/curated/en/435331468127174418/pdf/322040World0Develo pment0Report02006.pdf> Acesso em: 13 dez. 2018.

BANCO MUNDIAL. Healthy development: the World Bank strategy for health, nutrition, and population results. Washington, DC: World Bank, 2007. Disponível em: < http://documents.worldbank.org/curated/en/259221468141871868/pdf/394850revised01nal1 Text1Annexes1B1W.pdf >. Acesso em: 20 jan. 2019.

BARNETT, Jessica C.; VORNOVITSKY, Marina S. Health insurance coverage in the United States: 2015. US Census Bureau, Current Population Reports, Report, p. 60-257, 2016. BARROS, Elizabeth et al. Financiamento do Sistema de Saúde no Brasil: marco legal e comportamento do gasto. In: ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE (OPAS/OMS). Série técnica Projeto de Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde. Organização Pan-Americana da Saúde, 2003. p. 14-70.

BOING, Alexandra Crispim et al. Desigualdade socioeconômica nos gastos catastróficos em saúde no Brasil. Revista de Saúde Pública, v. 48, n. 4, 2014.

BRASIL. Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Caderno de Informações da Saúde Suplementar: beneficiários, operadoras e planos. Rio de Janeiro, 2015. Disponível em:<http://www.ans.gov.br/images/stories/noticias/pdf/caderno_de_informa%C3%A7%C3% A3o_mar_2015_final.pdf >. Acesso em: 05 dez. 2018.

BRASIL. Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Manual da Sala de Situação da ANS: Conceitos e Fontes de Dados, maio 2016. Disponível em: <

http://www.ans.gov.br/images/stories/Materiais_para_pesquisa/Perfil_setor/Dados_e_indicad ores_do_setor/Manual-Sala-de-Situacao.pdf>. Acesso em: 05 dez. 2018.

BRASIL. Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS). Assistência de Média e Alta Complexidade no SUS. Coleção Progestores – Para entender a gestão do SUS, 9. –

Brasília, 2007. Disponível em: <

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/colec_progestores_livro9.pdf>. Acesso em: 10 dez. 2018.

BRASIL. Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS). Debate – Caminhos da Saúde no Brasil. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. – Brasília: CONASS, 2014. Disponível em: < http://www.conass.org.br/biblioteca/pdf/CONASS%20Debate%20N2.pdf>. Acesso em: 13 dez. 2018.

BRASIL. Constituição Federal (1988). Diário Oficial da União, Brasília, nº 191-A, 5 out.

1988. - Seção 1. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/DOUconstituicao88.pdf>. Acesso em 14 dez. 2018.

BRASIL. Constituição Federal (1988). Emenda Constitucional nº 29, de 13 de set. 2000. Diário Oficial da União, Brasília, nº 191-A, p. 1, 14 set. 2000. - Seção 1. Disponível em: < http://www2.camara.leg.br/legin/fed/emecon/2000/emendaconstitucional-29-13-setembro- 2000-354961-norma-pl.html>. Acesso em 14 dez. 2018.

BRASIL. Decreto-lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, p. 18055, 20 set. 1990. - Seção 1.

BRASIL. Decreto-lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990. Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, nº 249, p. 25694, 31 dez. 1990. - Seção 1.

BRASIL. Ministério da Saúde. Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) - 2010. Disponível em: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?idb2011/e03b.def. Acesso em: 23 ago. 2017.

BRASIL. Ministério da Saúde. Despesas com Ações e Serviços Públicos de Saúde como

proporção do PIB. SIOPS, Brasília, 2012. Disponível em:

<http://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2013/outubro/02/despesa-total-saude 021013.pdf>. Acesso em: 11 dez. 2018

BRASIL. Ministério da Saúde. Entendendo o SUS: 10 Informações Básicas, 2006. Disponível em: <http://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2013/agosto/28/cartilha- entendendo-o-sus-2007.pdf>. Acesso em: 11 dez. 2018.

BRASIL. Senado Federal. Financiamento da Saúde: A espera de um Resgate, Ano 5, n. 19, fev. 2014. Disponível em: <http://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/496714> . Acesso em 13 dez. 2018.

BUSSE, Reinhard; BLUMEL, Miriam. Germany Health system review. The European Observatory on Health Systems and Policies. Health Systems in Transition, vol. 16 n. 2, 2014.

CASTRO, Ana Luisa Barros de. Atenção primária e relações público-privadas no sistema

de saúde do Brasil. 2015. Tese de Doutorado. Disponível em: <

https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/12822> Acesso em: 10 dez. 2018.

CHOI, Jae Woo et al. Catastrophic health expenditure according to employment status in South Korea: a population-based panel study. BMJ open, v. 6, n. 7, p. e011747, 2016.

COELHO, I. B. Democracia sem equidade: um balanço da reforma sanitária e dos dezenove anos de implantação do Sistema Único de Saúde no Brasil. Ciência Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v. 15, n. 01, jan., p. 171-183. 2010.

DAIN, Sulamis. Os vários mundos do financiamento da Saúde no Brasil: uma tentativa de integração. Ciência & saúde coletiva, v. 1, n. 1, p. 1851-1864, 2007.

DATASUS. Indicadores básicos para a saúde no Brasil: conceitos e aplicações. Disponível em: < http://tabnet.datasus.gov.br/tabdata/livroidb/2ed/indicadores.pdf>. Acesso em: 17 fev. 2017.

DÍAZ, María Dolores Montoya et al. Catastrophic Health Expenditure in Brazil. Regional Differences, Budget Constraints and Private Health Insurance. In: KNAUL, Felicia; WONG, Rebeca; ARREOLA-ORNELAS, Héctor (Org). Household spending and impoverishment. Massachusets, EUA: Harvard University Press, 2012. v. 1, p. 111 - 125.

DINIZ, B. P. C. et al. Gasto das famílias com saúde no Brasil: evolução e debate sobre gasto catastrófico. In: SILVEIRA, Fernando Gaiger Silveira; SERVO, Luciana Mendes, MENEZES, Tatiane; PIOLA, Sérgio Francisco (Org). Gasto e Consumo das famílias brasileiras contemporâneas. Brasília: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), 2007. v. 2, p. 146-67.

DONEV, Doncho. The role and organization of health systems. In: BURAZERI, Genc; KRAGELJ, Lijana Zaletel (Org). Health: Systems – Lifestyle – Policies. Forum for Public Health in South Eastern Europe. A Handbook for Teachers, Researchers and Health Professionals. Lage, AL: Jacobs Publishing Company, 2013. v. 1, p. 3-14.

FLÓREZI, Carmen Elisa; GIEDION, Ursula; PARDO, Renata. Risk factors for catastrophic health expenditure in Colombia. In: KNAUL, Felicia; WONG, Rebeca; ARREOLA- ORNELAS, Héctor (Org). Household Spending and Impoverishment. Massachusetts, EUA: Havard University Press, 2012. v. 1, p. 155-88.

HSIAO, W. Why is a systemic view of health financing necessary? Health Affairs,v. 25, n 4, p. 950-961, agosto, 2007.

IBGE. Censo Demográfico 2010. Disponível em:

<www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/>. Acesso em: 10 dez. 2018.

IBGE. Estatísticas da Saúde. Assistência Médico-Sanitária 2009. Rio de Janeiro, 2010. Disponível em: < https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv46754.pdf>. Acesso em: 10 dez. 2018.

IBGE. Tábua completa de mortalidade para o Brasil 2015: breve análise da evolução da mortalidade no Brasil. Rio de Janeiro: [S.n.], 2016.

IBGE. Um panorama da saúde no Brasil: acesso e utilização dos serviços, condições de saúde e fatores de risco e proteção à saúde 2008. Disponível em: < http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/pnad_panorama_saude_brasil.pdf>. Acesso em: 10 dez. 2018.

JAKOVLJEVIC, Mihajlo; GETZEN, Thomas E. Growth of global health spending share in low and middle-income countries. Frontiers in pharmacology, v. 7, 2016.

KAWABATA, Kei, et al. Preventing impoverishment through protection against catastrophic health expenditure. Bulletin of the World Health Organization, v. 80, n. 8, p. 612-612, 2002.

KNAUL, Felicia Marie et al. Household catastrophic health expenditures: a comparative analysis of twelve Latin American and Caribbean Countries. Salud Pública de México, v. 53, p. 85-95, 2011.

KNAUL, Felicia Marie et al. Household Health Spending, Equity and Poverty: A Literature and Methodology Review. In: KNAUL, Felicia; WONG, Rebeca; ARREOLA-ORNELAS, Héctor (Org). Household Spending and Impoverishment. Massachusetts, EUA: Havard University Press, 2012. v. 1, p. 17-48.

KULESHER, Robert R.; FORRESTAL, Elizabeth. International models of health systems financing. Journal of Hospital Administration, v. 3, n. 4, p. 127, 2014.

LAMEIRE, Norbert; JOFFE, Preben; WIEDEMANN, Michael. Healthcare systems—an international review: an overview. Nephrology Dialysis Transplantation, v. 14, n. suppl. 6, p. 3-9, 1999.

LIMA, Sheyla Maria Lemos et al. Hospitais filantrópicos e a operação de planos de saúde próprios no Brasil. Revista de Saúde Pública, v. 41, n. 1, p. 116-123, 2007.

MÂNICA, Fernando Borges. Participação privada na prestação de serviços públicos de saúde. 2009. 306p. Tese (Doutorado) – Curso de Pós-Graduação em Direito, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.

MUSGROVE, Philp. Health insurance: the influence of the Beveridge Report. Bulletin of the World Health Organization, v. 78, n. 6, p. 845-846, 2000.

NOVAIS, Marcos et al. Perfil dos beneficiários de planos e SUS e o acesso a serviços de saúde–PNAD 2003 e 2008. São Paulo: Instituto de Estudos de Saúde Suplementar, 2010. Disponível em <http://www.iess.org.br/TDIESS00352010PNAD003_2008.pdf>. Acesso em: 12 dez. 2018.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). WORLD HEALTH ORGANIZATION. Fact sheet: Universal health coverage (UHC), updated December 2016. Disponível em: <http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs395/en/>. Acesso em: 08 nov. 2018.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). WORLD HEALTH ORGANIZATION.

Documentos relacionados