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Em termos de políticas públicas, uma das grandes limitações é que os programas de governo são concebidos para um horizonte de curto prazo, quando deveriam ser planejados na escala de tempo da sustentabilidade, ou seja, pensados para várias gerações. Ao mesmo tempo, não é simples instrumentalizar um conceito que, à primeira vista, parece demasiadamente “impreciso”.

No setor de saneamento ambiental, especialmente para os municípios de pequeno e médio porte, é premente a necessidade de intensificar a participação do Poder Público, em diferentes esferas, quanto à implementação de programas com vistas a aperfeiçoar as condições e as ferramentas de gestão dos seus resíduos sólidos.

Em nível global, tem-se observado o aumento na sofisticação teórica dos sistemas de indicadores, muito embora - na prática - a sua implementação não tenha acompanhado o mesmo ritmo: sobram barreiras para seu uso efetivo. Uma delas é a lacuna que existe entre a formulação e a apropriação desses indicadores, que deveria se dar no contexto do fenômeno medido, legitimado, portanto, pelos agentes locais.

Nesse sentido, a adoção de um sistema de indicadores de sustentabilidade, adaptado às especificidades da gestão local de RSU, pode auxiliar os administradores municipais na definição das prioridades, direcionando os investimentos públicos, em geral insuficientes, para os aspectos mais problemáticos do setor. A consolidação desse sistema pode melhorar também aspectos como a forma de engajamento dos agentes e a continuidade das ações após períodos de mudanças de gestão governamental.

O principal diferencial resultante da adoção deste tipo de indicador, entretanto, será uma mudança na percepção geral da situação da gestão dos RSU, em que os princípios e dimensões da sustentabilidade passem a ser considerados.

Face à fragilidade técnico-operacional das prefeituras, o grande desafio é manter o sistema de indicadores atualizado. Para isso, é preciso incentivar os municípios a levantar dados sobre a situação dos RSU dentro de seus territórios. Cabe reforçar o papel do Poder Público enquanto administração municipal no levantamento e na sistematização das informações referentes aos serviços de natureza pública que presta, assim como disponibilizar as mesmas para conhecimento da população.

A partir da presente pesquisa podem ser formuladas algumas conclusões com relação à metodologia empregada e aos resultados obtidos:

ƒ O conjunto final aqui apresentado compreende 15 indicadores que se associam às cinco dimensões analisadas da sustentabilidade. A estratégia de proposição, fundamentada no contexto em que os indicadores serão aplicados, isto é, nos

problemas identificados previamente e priorizados pelos gestores municipais envolvidos na gestão de RSU, permitiu a consideração efetiva das particularidades locais.

ƒ A utilização dos indicadores formulados por Milanez como ponto de partida para a elaboração de um novo conjunto para São Carlos mostrou-se bastante adequada, uma vez que sete dos 15 indicadores foram mantidos na proposta final.

ƒ A análise e aplicação da proposta de Milanez para a realidade do município de São Carlos foram etapas importantes no processo de ajuste dos indicadores. Por outro lado, a definição do conjunto final de indicadores se deu em um universo restrito de pessoas: outros coletivos, mais ampliados, certamente obteriam conjuntos diferentes para este mesmo contexto.

ƒ A sistematização dos indicadores considerando as cinco dimensões da sustentabilidade possibilitou a visualização dos seus princípios, geralmente tidos como plano de fundo. Em tempos de valorização deste conceito, ainda divergente, é fundamental que os instrumentos que se propõem a avaliar e monitorar as políticas e ações frente à sustentabilidade deixem seus objetivos explícitos.

ƒ O conjunto proposto de indicadores é direcionado para a gestão pública de RSU no município de São Carlos, de forma que a geração e a divulgação sistemática de resultados - a partir de sua aplicação periódica - podem tornar as características desta gestão mais transparentes à sociedade em geral.

ƒ Para a validação deste conjunto de indicadores, novas aplicações ainda se fazem necessárias. A sensibilização e a participação dos diversos agentes e parceiros envolvidos com a gestão de RSU em São Carlos pode legitimar a implementação efetiva e permanente de um sistema de indicadores locais, possibilitando a criação de mecanismos de controle social e o estabelecimento de metas que apontem para uma gestão “mais sustentável” dos RSU.

Enquanto recomendações entende-se que o processo de identificação dos problemas prioritários para a gestão de RSU em São Carlos, assim como a seleção de indicadores de sustentabilidade, pode fornecer muitos dos subsídios técnicos para a elaboração da Agenda 21 local na temática Resíduos Sólidos.

O conjunto de indicadores proposto pode ser uma ferramenta auxiliar na caracterização das condições dos RSU no município, subsidiando a elaboração de diagnósticos. Porém, a definição de algumas etapas prévias à sua aplicação é necessária, como por exemplo:

ƒ Explicitar o processo de cálculo e a obtenção detalhada de cada indicador;

ƒ Especificar as fontes de dados existentes. No caso da ausência ou indisponibilidade das informações, definir e viabilizar meios para sua obtenção;

ƒ Estabelecer os padrões a serem atingidos e as metas para um determinado período; ƒ Definir os responsáveis pela aplicação dos indicadores e as instâncias de análise

das respostas obtidas, em função dos padrões previamente estabelecidos;

ƒ Calcular os indicadores respeitando-se a classificação nas cinco dimensões da sustentabilidade: ambiental/ecológica, econômica, social, política/institucional e cultural; e

ƒ Avaliar as tendências expressas pelos indicadores em relação ao padrão estabelecido.

Recomenda-se ainda que os indicadores sejam aplicados anualmente. Desta forma, será possível verificar a evolução de cada um deles, assim como avaliar a efetividade das ações propostas a partir das análises e metas estabelecidas em períodos anteriores.

Considera-se, enfim, que a continuidade desta pesquisa por meio da aplicação e obtenção dos indicadores propostos pode gerar resultados interessantes, não apenas para caracterização das condições dos RSU e sua gestão em âmbito local, mas também para conhecer as possíveis lacunas e dificuldades que deverão ser enfrentadas. Isto permitirá que sejam tomadas medidas para minimizar tais problemas.