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Indicador 10 – Recuperação de áreas degradadas pela gestão dos

4. ANÁLISE E APLICAÇÃO DO CONJUNTO DE INDICADORES PARA

4.2 Aplicação do conjunto de indicadores de sustentabilidade para a gestão de

4.2.10 Indicador 10 – Recuperação de áreas degradadas pela gestão dos

Este indicador, em particular, foi completamente formulado por Milanez, não sendo encontrado equivalência em nenhuma das experiências que serviram de referência para o autor. O argumento utilizado para o seu emprego sugere que a incorporação do passivo ambiental pela geração presente é um meio de nos responsabilizarmos pelas ações predatórias realizadas pelas gerações passadas.

Em São Carlos há muitas áreas mapeadas pela prefeitura cuja principal causa de degradação foi justamente a disposição irregular de resíduos. Para fins didáticos, far-se-á a descrição dessas áreas de acordo com a origem do resíduo que provocou sua degradação.

a) Resíduos Sólidos Domiciliares - RSD

Um caso emblemático é o do antigo lixão, localizado às margens da Rodovia Washington Luís, altura do km 221, no sítio Santa Madalena, região rural de cidade, na parte alta da bacia do Ribeirão do Feijão. A área recebeu os resíduos sólidos (não só domiciliares) de São Carlos por duas décadas, de 1976 a 1996, quando foi desativado.

Inicialmente, os resíduos eram dispostos a céu aberto em uma voçoroca existente no local, sem haver impermeabilização da base do aterro, compactação do lixo ou construção de drenos para a coleta de percolados e gás (ÁLVARES, 2000). Com as exigências da legislação, a partir de 1988 o lixo passou a ser coberto com terra e os resíduos hospitalares incinerados (CONTIN et al., 1995). Durante a sua utilização, até ser desativado em 1996, o então “aterro controlado” chegou a receber, em média, 90 toneladas diárias de lixo, tanto de origem doméstica quanto industrial (BOSSOLAN, 1993).

Um dos agravantes é que o local se encontra em solo residual da Formação Botucatu, em uma das áreas de recarga do Aqüífero Guarani, dentro da bacia de captação de água da cidade (FUSCONI & GODINHO, 1999). Além disso, existem outros fatores que contribuem para a contaminação do meio físico, como o contato direto com os rejeitos, a cobertura pouco espessa e permeável (que permite infiltração de água), o substrato geológico problemático e a existência de cursos d’água a menos de 200 m do aterro (MENEZES, 1995).

Em aterros controlados, mesmo que o lixo receba uma cobertura diária de material inerte, os problemas gerados pela infiltração do chorume não estão resolvidos (LIMA, 1995), podendo perdurar, em média, por até 18 anos (XU et al, 1999).

O chorume é um líquido escuro proveniente da degradação microbiana, predominantemente anaeróbia, cujas características variam em função do tipo de resíduos sólidos aterrados, da idade do aterro e das condições metereológicas, geológicas e hidrológicas do local do aterramento. Em geral, o chorume possui elevada carga orgânica, fontes de nitrogênio como a amônia, metais pesados e microrganismos (WU et al., 1988).

Trabalhos realizados na região do antigo aterro sugerem o impacto do mesmo nos recursos hídricos locais: Ellert e colaboradores (1990) detectaram uma pluma de poluentes proveniente do aterro; Gonçalves e colaboradores (1992) determinaram a direção do fluxo

freático que, associada à alta permeabilidade do substrato local, pareceu indicar que grande parte do chorume produzido está se infiltrando para o aqüífero profundo; Bossolan (1993) e Fusconi & Godinho (1999) estudaram aspectos ecológicos dos microrganismos das águas subterrâneas do local e revelaram a influência do chorume proveniente do aterro nas populações microbianas analisadas; Menezes (1995) constatou poluição nos poços de monitoramento e observou, na direção das linhas de fluxo, as maiores concentrações de poluentes no poço localizado na área do aterro; Gadotti (1997) detectou altas concentrações de nitrato, bário e cloreto, que ultrapassam os limites de potabilidade nas águas superficiais e subterrâneas ao redor do aterro; e Polaz (2004) observou, após 10 anos do encerramento das atividades de disposição de lixo, a continuidade da influência do percolado nas populações bacterianas isoladas do lençol freático abaixo do aterro, bem como alterações nas variáveis físicas e químicas da água subterrânea local.

Em 2006, após serem realizadas as etapas de diagnóstico, investigação e análises confirmatórias, o antigo lixão passou a fazer parte do cadastro de áreas contaminadas da CETESB. As obras de recuperação da área tiveram início por volta de 1996, logo após a desativação do aterro.

Desde então, a área permanece em constante monitoramento devido à necessidade contínua, sobretudo no período de chuvas, de obras de manutenção, como a construção de curvas de nível para conter as erosões e escorregamentos dos taludes, o que expõe a céu aberto os resíduos ainda não decompostos (PMSC, 2007).

b) Resíduos de Construção e Demolição - RCD

O descarte inadequado de resíduos de construção civil, ou simplesmente “entulhos”, tem provocado uma série de impactos de alta relevância sócio-ambiental para o município, como a degradação de Áreas de Preservação Permanente (APPs), o assoreamento de corpos d’água e até mesmo o soterramento de nascentes. Associado a isso, observa-se ainda a presença de trabalhadores atuando de forma insalubre nesses verdadeiros “bota-fora”, além da propagação de criadouros de mosquitos, baratas e outros vetores, graças à mistura de entulhos e lixo (Figura 9).

FIGURA 9 – Disposição irregular de resíduos de construção civil em São Carlos/SP. Fonte: PMSC (2007). Fotos: Paulo S. Shiroma

Representando um grande obstáculo para a gestão ambiental da cidade, estima-se que, em São Carlos, são geradas aproximadamente 435 toneladas de entulhos diariamente (LOPES, 2003), três vezes mais que a produção diária de RSD (145,5 ton/dia).

Na tentativa de encontrar soluções para equacionar esses problemas, o atual governo instituiu, através da Lei Municipal n. 13.867, de 12 de setembro de 2006, o Plano Integrado de Gerenciamento e Sistema de Gestão de Resíduos da Construção Civil. Resultado de cinco anos de discussões, constam dos objetivos do plano: a) facilitar o descarte de entulhos pela população; b) destinar adequadamente os RCD e demais resíduos volumosos gerados no município; c) evitar a disposição irregular de entulhos em APPs, terrenos baldios e áreas institucionais; d) disciplinar o fluxo de geração, transporte e disposição de RCD, bem como os agentes envolvidos; e e) atender à legislação ambiental vigente (Resolução CONAMA n. 307, de 05 de julho de 2002).

O sistema de gestão proposto no plano é composto por vários itens, entre eles a implantação de uma rede de pontos de entrega para pequenos volumes de entulhos e resíduos volumosos, denominados “ecopontos”, selecionados em áreas de expansão urbana, com histórico de deposição irregular de RCD - inclusive em APPs – e preferencialmente instalados em terrenos institucionais. Esses ecopontos servirão de locais para recebimento e armazenamento temporário de pequenos volumes - até 1 m3 de entulhos - trazidos por pequenos geradores/transportadores.

Existem oito áreas mapeadas em regiões periféricas do município; entretanto, apenas um ecoponto está em processo de implantação, situado no bairro Tijuco Preto; os demais ecopontos localizar-se-ão nos bairros São Carlos VIII; Santa Felícia; Botafogo; Jardim

Pacaembu; Douradinho / Tangará; Jardim Paulistano; e Primavera. Futuramente, a expectativa é que esses dispositivos sejam operados por associações de carroceiros que atuam nos respectivos bairros e na região de entorno (PMSC, 2007).

Outro item desse sistema de gestão é a regulamentação de áreas para recepção de grandes volumes de entulhos; até o presente, duas áreas estão em operação com este fim: uma Usina de Reciclagem de Entulhos (detalhes no item 4.2.12) e um novo Aterro de Resíduos de Construção Civil, instalado sobre uma voçoroca (Figura 10 – detalhe para a Área da Voçoroca).

FIGURA 10 – Vista da área da voçoroca onde hoje se localiza o Aterro de Resíduos de Construção Civil em São Carlos/SP. Fonte: PMSC (2007)

A antiga área utilizada pela prefeitura para o descarte de RCD, conhecida como “entulheira do Aracy”, teve suas atividades totalmente paralisadas no final de 2006 por determinação do escritório regional da CETESB de Araraquara. Há alguns anos, está em tramitação na prefeitura um processo para recuperação e revitalização do local. Por esse motivo, a partir de 30 de outubro daquele ano, os entulhos começaram a ser depositados na nova área.

O aterro de RCD possui uma capacidade nominal de operação de 320 toneladas/dia e vida útil estimada em dois anos. A entrada dos entulhos é controlada por servidores públicos; na área do aterro, devidamente autorizado pela prefeitura, existe um grupo organizado de 21 catadores que faz a triagem dos materiais passíveis de comercialização, gerando trabalho e renda (PMSC, 2007).

Embora exista, em nível municipal, o mapeamento e a identificação do passivo ambiental gerado pela gestão incorreta de resíduos, nenhuma das áreas foi plenamente recuperada; algumas delas, porém, encontram-se em processo de recuperação, como o antigo lixão e a antiga entulheira descritos acima. Por esses motivos, a tendência do indicador foi considerada desfavorável à sustentabilidade.

4.2.11 Indicador 11 – Implementação de medidas mitigadoras e obtenção de licenças