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O objetivo desta monografia foi verificar os fatores orçamentários, políticos e espaciais que influem no desempenho do investimento público do Estado da Bahia. Diversos estudos investigaram o desempenho e as restrições do investimento público federal. Por ser o ente federado com a maior capacidade arrecadatória, o interesse da sociedade em saber quais os fatores que atuam de forma a reduzi-lo é maior. No entanto, ultimamente foram os municípios que apresentaram o desempenho mais robusto em termos comparativos em relação aos gastos com investimento. O interesse desse estudo foi compreender quais os fatores que dificultam a execução do investimento público municipal, em especial, no estado da Bahia. A hipótese levantada neste trabalho é que existe efeito de interação espacial bem como determinantes políticos no gasto público local de investimento nos municípios baianos. Além disso, investigou-se a hipótese dos problemas relacionados ao orçamento público como limitante da capacidade de investir.

Para atingir os objetivos deste trabalho, o segundo capítulo analisou quais os problemas recentes que afetam a execução do investimento público. Foi possível observar que tanto a execução orçamentária quanto os problemas relacionados à capacidade de gestão dificultam o aumento do gasto público com investimento nos municípios. A execução orçamentária nos últimos anos vem se concentrado nos gastos com pessoal e com a máquina administrativa e, nesse sentido, vem comprimindo o gasto público com investimento. Apesar do aumento substancial nos repasses de convênios, os restos a pagar vem obstaculizando um cronograma mais organizado do investimento local. A capacidade de gestão, por sua vez, se reflete na dificuldade em se obter licenças ambientais e dificuldade na elaboração de projetos de investimento. Verificou-se também que o estado da Bahia apresenta uma situação crítica quanto ao investimento público dos seus municípios, especialmente pela distribuição heterogênea desse gasto no território baiano.

O terceiro capítulo apresentou o referencial teórico e os estudos empíricos de trabalhos na literatura que serviram de base para a realização do trabalho. A literatura investigada apontou que o gasto público local é mais eficaz em termos de ganho de bem-estar. Indicou também que tais gastos podem estar sujeitos a transbordamentos espaciais, isto é, alguns gastos do governo local podem impulsionar (efeito positivo) ou restringir (efeito negativo) as despesas

públicas locais dos vizinhos. Sobre os fatores políticos, a literatura apontou que, em tese, as decisões políticas buscam um ótimo social. Atualmente, a economia política vem assumindo o protagonismo como princípio organizador da economia do setor público, o que tem aberto um campo teórico muito importante para fundamentar trabalhos empíricos.

O capítulo 4 apresentou a estrutura metodológica utilizada no trabalho. Foram apresentadas as bases de dados utilizadas a partir dos dados da STN, TSE e IBGE. O banco de dados foi constituído de 4.543 observações num painel desbalanceado entre os anos de 2000 a 2011. A estratégia empírica baseou-se na literatura sobre o tema, sendo que a especificação do modelo econométrico inclui três vetores de variáveis explicativas em relação a variável dependente, despesas com investimento como proporção da receita corrente líquida.

Os resultados encontrados apontaram uma diversidade de fatores que influenciam o nível de despesa com investimento. Os principais fatores de caráter orçamentário foram o grau de dependência em relação às transferências orçamentárias, o resultado fiscal e as despesas com juros e amortizações. As evidências encontradas indicaram que o endividamento não se constituiu num fator significante sobre o investimento público municipal. Na esfera política, os resultados apontaram que a participação do eleitorado e a competição por vagas na câmara municipal divergem do que aponta a literatura. No entanto, a fragmentação partidária mostrou-se relevante sobre o nível de investimento local. As variáveis de afinidade política não se mostraram estatisticamente significante para explicar o nível de investimento local. Por fim, as variáveis de natureza geográfica apontam que a distância a um município com mais de 100.000 habitantes é um fator relevante sobre a despesa com investimento. As demais variáveis que captam a influência da distância de um município a outro e o efeito sobre o investimento não se mostraram estatisticamente significante.

A situação do investimento público nos municípios do Estado da Bahia é crítica. O orçamento público, hoje como está estruturado, apresenta poucas perspectivas de mudança. As diversas instituições criadas favoreceram a responsabilidade fiscal e reduziram a capacidade do poder público de fazer investimentos com recursos próprios. As mudanças previstas numa eventual Reforma Tributária seriam pouco significativas para a grande parcela dos municípios. A maior parte dos municípios são de pequeno porte e pouco populosos que sobrevivem fundamentalmente de transferências governamentais. A única nova fronteira a ser explorada

para oxigenar o orçamento público dos municípios seria a redistribuição dos royalties do petróleo. No entanto, sua eficácia em termos de melhora da situação financeira é questionável.

Por outro lado, o sistema político também não apresenta uma boa perspectiva no que tange ao seu impacto sobre o investimento público dos municípios. Em que pese os resultados obtidos nesta pesquisa, uma reforma política que privilegie um desempenho ótimo das despesas do poder público está longe de ocorrer. No Brasil, e em especial na Bahia, existe uma alta heterogeneidade social o que favorece um excesso de fragmentação e personalismos na condução das contas públicas.

Além das considerações sobre os resultados quantitativos e qualitativos expostos, a pesquisa apresentou algumas possibilidades de estudos futuros. Uma delas seria a adaptar a discussão dos modelos de painel de dados para a provável presença da dependência espacial entre as unidades de corte transversal. Conforme foi visto, distância a um município com mais de 100.000 habitantes é um fator relevante sobre a despesa com investimento. Desse modo, existem evidências de dependência espacial entre as variáveis do modelo.

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