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Não só o dengue, como outras doenças infecciosas e de transmissão vetorial, requerem esforço intersetorial e qualificação profissional dos agentes de saúde envolvidos no controle de doenças veiculadas por artrópodes vetores. Investimentos financeiros também são necessários para subsidiar as ações e garantir infraestrutura adequada para que as estratégias ocorram de forma resolutiva e oportuna. No presente estudo, constatou-se a necessidade premente de uma agenda prioritária dos gestores e profissionais de saúde dos municípios investigados, em decorrência dos impactos resultantes de grandes empreendimentos como, por exemplo, o COMPERJ, que pode acelerar o processo endêmico-epidêmico do dengue e de outras doenças negligenciadas no Brasil. Acredita-se que é imprescindível a articulação entre os gestores, agentes de saúde e a população, com vistas à obtenção de um planejamento unificado, que possa dar soluções para os problemas advindos principalmente das alterações antrópicas e da morbimortalidade observada no dengue.

Quanto a análise dos dados do LIRAa observa-se a necessidade de maior discussão sobre a seleção dos estratos e a unidade de análise que hoje é o quarteirão, com sugestões de incorporação da base territorial única, o setor censitário utilizado pelo IBGE. A amostragem de seleção dos estratos é uma insatisfação recorrente dos técnicos no âmbito dos municípios, pois não contempla de forma satisfatória a subdivisão da cidade, impossibilitando a identificação dos bairros existentes e gerando índices diluídos. Por conta disso, é comum em alguns municípios a realização de outra forma de levantamento de índice, apontadas na metodologia deste estudo, que é o Levantamento de Índice Amostral - LIA, junto com a modalidade tratamento, que irá produzir IIP, IB e ITR ao final de cada período de 60 dias. É importante observar que esta decisão é local de alguns municípios, a despeito das recomendações, tanto do PNCD/MS, quanto da SES-RJ, inclusive com o referendo e chancela dos secretários, por meio de pactuações nas reuniões da Comissão Intergestores Bipartite – CIB. Com isso, observa-se uma insatisfação contínua dos técnicos, e infere-nos a necessidade de reflexão urgente sobre a metodologia do LIRAa. Isso torna cada vez mais premente a necessidade de avaliação do custo- benefício quanto a possibilidade de agregação de outras metodologias, não

80 obstante a perspectiva de aumento de recursos que deverão ser dispensados para implantação e implementação destas estratégias de monitoramento.

A despeito das potencialidades do LIRAa, dada a sua aplicação em campo de forma menos onerosa e mais rápida que outras metodologias, bem como de suas limitações aqui expostas, acredita-se que o LIRAa não deveria ser o único método de aferição dos índices de infestação do Ae. aegypti, principalmente sob o aspecto da classificação das cidades quanto aos risco de transmissão, o que requer de outros níveis de governabilidade estudar e apontar alternativas complementares, como as que foram utilizadas neste estudo. Para isso, a promoção de fóruns e pesquisas nessa direção deve ser priorizada na agenda de gestores, técnicos e pesquisadores que militam no ramo da saúde pública.

Em suma, nossos resultados sugerem que o LIRAa é uma metodologia importante para a identificação dos criadouros predominantes nas áreas, o que pode guiar a estratégia de controle, principalmente, por conta dessa capacidade, poder permitir a definição de estratégias de acordo com a realidade local, possibilitando aos técnicos desenvolverem estratégias que envolvam a participação da população no processo de controle mecânico dos criadouros passíveis de remoção. Por outro lado, o LIRAa sozinho tem baixa sensibilidade para gerar índices adequados de infestação, uma vez que índices elevados de positividade e de densidade de ovos e adultos de Ae. aegypti foram obtidos em estratos onde o LIRAa classificou como satisfatório ou de alerta. Dessa forma, o presente estudo aponta para a necessidade e viabilidade de se executar estratégias integradas de monitoramento com o objetivo de melhor informar as decisões de intervenção para essa grave doença que acomete nossa população.

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8. CONCLUSÕES

Os municípios de Itaboraí e Guapimirim apresentaram precariedades nos serviços básicos de saneamento ambiental, com baixa e irregular cobertura no abastecimento de água, condição que contribui para o armazenamento em depósitos móveis ao nível do solo, favorecendo a proliferação do Ae. aegypti e consequentemente a manutenção do dengue;

O LIRAa em Itaboraí apresentou índices de infestação predial, que variaram entre 1,2% a 5,4%, apontando no mês de maio situação de risco e com a predominância de depósitos para armazenamento de água, enquanto em Guapimirim os índices foram mais baixos, com variação de 0,3 a 1%, com predominância de depósitos móveis;

As ovitrampas apresentaram elevada sensibilidade para detectar a presença do

Ae. aegypti em todos os bairros nos dois municípios avaliados, quando

comparadas ao método LIRAa;

Ao comparar os índices de positividade da ovitrampa (IPO) com os índices de densidade de ovos (IDO) nos inquéritos realizados em Itaboraí e Guapimirim, não detectou-se evidência de saturação do índice de positividade das ovitrampas;

O (IPO) a partir de ovitrampas instaladas nos mesmos imóveis, revelaram um aumento da positividade das armadilhas na segunda semana, enquanto o (IPO) medido simultaneamente (imóvel LIRAa versus imóvel não LIRAa) apresentou uma tendência a ser mais semelhante do que indicadores medidos nos mesmos imóveis em semanas subsequentes;

Em Itaboraí, observou-se grande variabilidade na produtividade de ovos de

Aedes dentre os bairros estudados, de 11,07 ± 23,68 a 32,47 ± 70,56 ovos/

armadilha, porém em Guapimirim a variabilidade foi menor, de 8,7 ± 23,2 a 18,1 ± 57,5 ovos/armadilha;

Aedes aegypti foi a espécie predominante tanto em Itaboraí quanto em

Guapimirim, principalmente nas áreas mais centrais dos municípios, quando comparado ao Ae. albopictus;

82 Em Itaboraí observou-se maior densidade de ovos de Aedes por armadilha em maio, com o IDO indicando grande variação na infestação dos bairros, revelando padrão heterogêneo que deve ser considerado na definição dos estratos para cálculos de medidas que subsidiem o controle e prevenção do dengue nos diferentes municípios do Rio de Janeiro;

A aspiração de mosquitos adultos nos mesmos imóveis onde o LIRAa foi realizado demonstrou ser eficiente ferramenta para capturar fêmeas e machos de Ae. aegypti em ambos os municípios;

O LIRAa apresentou baixa capacidade de detecção do Ae. aegypti em Itaboraí, quando apenas um (1) imóvel em 100 pesquisados pelo método de aspiração apresentou larvas ou pupas de Ae. aegypti, enquanto 32 apresentaram mosquitos adultos de Ae. aegypti, e em Guapimirim 6 imóveis foram positivos em relação a 72 pesquisados pelo mesmo método, enquanto 20 positivaram para adultos de Ae. aegypti;

Nossos resultados em relação à análise do padrão espacial do número de ovos de Aedes coletados nas ovitrampas e estratificação do LIRAa em Itaboraí e Guapimirim, revelaram alta densidade de ovos de Aedes em estratos onde o LIRAa apresentou índices de infestação predial entre <1 e ≥4%. Embora, a armadilha de oviposição não seja um bom indicador da população de adultos, os resultados demonstram a presença e elevadas densidades do Ae. aegypti, mesmo em estratos onde o LIRAa apresenta situação satisfatória ou de alerta; Observou-se a necessidade de manter regularidade nos processos de qualificação sobre a metodologia LIRAa, para garantir melhor desempenho nas diferentes fases de sua execução, a saber: planejamento, execução e avaliação dos resultados para direcionar medidas de intervenção oportuna.

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