4 MATERIAL E MÉTODOS
6.4 Considerações finais
Depreende-se dos resultados apresentados nesta pesquisa, bem como de outros trabalhos aqui citados, que há uma relação direta entre os problemas fonoarticulatórios estudados e o trespasse vertical interincisivos negativo. Já em relação a diminuição dos problemas fonoarticulatórios na presença do trespasse vertical interincisivos aumentado, não foram encontradas pesquisas nesta revisão de literatura que apóie esta conclusão.
Contudo, é incorreto responsabilizar somente um tipo de má oclusão como sendo o causador de alterações fonoarticulatórias, pois pesquisas anteriores relataram que, normalmente, a combinação de vários tipos de más oclusões presentes em um único indivíduo, aliados ao padrão facial genético desfavorável, presença de hábitos bucais deletérios, o tônus da musculatura bucal alterado, o
modo de respiração e o tipo de deglutição, aumentam, em grande número, a probabilidade do surgimento de problemas de fala (BERNSTEIN, 1954; WARD et al., 1961; LAINE, 1992; SOLIGO, 1996; MARCHESAN, 1999; MARCHESAN, 2000). Até mesmo porque 64,5% das crianças com ceceio anterior exibiram trespasse vertical interincisivos normal e aumentado, demonstrando claramente a existência de outros fatores etiológicos envolvidos na gênese deste distúrbio fonoarticulatório.
Para a obtenção de melhores resultados em pesquisas futuras, indica-se a realização de estudos epidemiológicos longitudinais, para que se possa avaliar a prevalência dos distúrbios fonoarticulatórios nas idades em que as alterações estruturais já tenham ocorrido, principalmente em relação à oclusão dentária, já que essas alterações podem favorecer a diminuição da projeção lingual anterior inclusive na fonação (RATHBONE, 1955; FLETCHER; GASTEEL; BRANLEY, 1961; KORTSCH, 1963; PALVIAINEN; LAINE, 1990; WERTZNER, 1990; JUNQUEIRA, 1994; MARCHESAN, 1999; TOMÉ et al., 2004).
Apesar de os resultados indicarem uma relação positiva dos problemas fonoarticulatórios com o trespasse vertical interincisivos negativo (mordida aberta anterior), a análise das características oclusais deve ser complementada com o estudo de todas as estruturas orofaciais associadas e do padrão facial para se avaliar a relação existente entre os problemas de fala e as más oclusões. Para isso, sugere-se a utilização de métodos auxiliares de diagnóstico, como a cefalometria, com o objetivo de se determinar o padrão facial genético, além da análise e avaliação das estruturas orofaciais e suas dimensões por meio de modelos de estudo, contribuindo dessa maneira para resultados mais fidedignos.
7 CONCLUSÕES
Com base nos resultados, de acordo com a amostra e a metodologia empregadas, julga-se lícito concluir que:
7.1 As prevalências dos quatro tipos de trespasse vertical interincisivos (normal, aumentado, nulo e negativo) foram respectivamente, de:
48,30%, 22,50%, 9,30% e 19,80% na amostra total;
42%, 12,50%, 12,50% e 33,30% no grupo com ceceio anterior; e
42,10%, 14%, 10,50% e 33,30% no grupo com projeção lingual anterior na emissão dos fonemas linguoalveolares /t/, /d/, /n/ e /l/.
7.2 A análise estatística dos dados mostrou que:
houve significância para os portadores de ceceio anterior e de projeção lingual anterior na emissão dos fonemas linguoalveolares /t/, /d/, /n/ e /l/ em relação ao trespasse vertical interincisivos negativo;
houve significância para os não portadores de ceceio anterior e de projeção lingual anterior na emissão dos fonemas linguoalveolares /t/, /d/, /n/ e /l/ em relação ao trespasse vertical interincisivos aumentado; e
não houve significância nos trespasses verticais interincisivos normal e nulo em relação às ocorrências fonoarticulatórias estudadas.
REFERÊNCIAS
1Benediktsson E. Vaiation in tongue and jaw position in ”s” sound production in relation to front teeth occlusion. Acta Odontol Scand. 1957. 15: 275-301.
Bernstein M. The Relation of Speech Defects and Malocclusion. Am J Orthod. 1954. 40: 149-50.
Bigenzahn W, Fischman L, Mayhofer-Krammel U. Myofunctional therapy in patients with orofacial dysfunctions affecting speech. Folia Phoniat. 1992. 44(5); 238-244. Blyth P. The Relationship Between Speech, Tongue Behaviour, and Occlusal Abnormalities. Dental Practitioner. 1959. 10: 11-20.
Braz HA, Pellicciotti HF. Exame de linguagem TIPITI. 3a ed. São Paulo: MNJ Ltda. 1988. p. 19, 57, 143, 145.
Cayley AS, Tindall AP, Sampson WJ, Butcher AR. Electropalatographic and cephalometric assessment of tongue function in open bite and non-open bite subjects. Eur J Orthod. 2000. 22(5): 463-474.
Coleman RO, Gullikson JS. Speech Problems in Children. J Denta Child 1971. 38: 17-21.
Choi SC. Introductory applied statistics in science, (Prentice-Hall, Englewood Cliffs, New Jersey, 1978).
Dworkin JP. Characteristics of frontal lispers clustered according to severity. J Speech Hear Disord. 1980. 45(1): 37-44.
Dworkin JP, Culatta RA. Tongue strength: its relationship to tongue thrusting, open-bite, and articulatory proficiency. J Speech Hear Disord. 1980. 45 (2): 277-282. Faria RJA. Mordida aberta: etiologias, diagnósticos e o tratamento multidisciplinar enfocando a associação ortodontia/fonoaudiologia. [Monografia]. Presidente Prudente, SP: Universidade do Oeste Paulista. 1999.
Farret MMB, Jurach EM, Brandão L, Moraes DCF, Brandão SRS, Santos SL. Relationship Between Malocclusion and Fonoarticulatory Disorders. Int J Orofacial Myology. 1998. 24: 20-6.
Fletcher SG, Casteel RL, Bradley DP. Tongue-Thrust Swallow, Speech Articulation, and Age. J Speech Hear Disord. 1961. 26(3): 201-8.
Franco DP, Ávila CRB. Achados fonoaudiológicos de crianças com queixa de distúrbio de fala. Pró-fono Rev. Atual. Ci. 2000. 12(1): 40-47.
1
Galvão CAAN, Pereira CB, Bello DRM. Prevalência de Má Oclusões na América Latina e Considerações Antropológicas. Ortodontia. 1994. 27(1): 51-9.
Graber TM. Ortodoncia. Teorica Y Pratica. Tradução: Garcia JL. 3a Ed. México Edit. Interamericana. 1974.
Guay AH, Maxwell DL, Beecher R. A Radiographic Study of Tongue Posture at Rest and During the Phonation of /s/ in Class III malocclusion. Angle Orthod. 1978. 48(1): 10-22.
Hanson ML, Barret RH. Tongue Thrust and Related Disorders: an overview. In: Fundamentals of orofacial myology. Illinois: Charles C. Thomas Publisher. 1988. cap.1.
Harrington R, Breinholt V. The relation of oral-mecanism malfunction to dental and speech development. Am J Orthod. 1963. 49: 84-93.
Ingervall B, Sarnäs KV. Comparison of dentition in lispers and non-lispers. Odontol Revy.1962. 13: 344-54.
Jabur LB. Inter-Relação entre Forma e Função na Cavidade Oral. In: Marchesan IQ, Bolffi C, Gomes ICD, Zorzi JL. Tópicos em Fonoaudiologia. São Paulo: Editora Lovise. 1994. p. 223-5.
Jabur LB. Avaliação Fonoaudiológica. In: Ferreira FV. Ortodontia - Diagnóstico e Planejamento Clínico. 5ª ed. São Paulo: Artes Médicas. 2002.
Johnson NC, Sandy JR. Tooth position and speech-is there a relationship? Angle Orthod. 1999. 69(4): 306-10.
Junqueira PS. Ocorrência de ceceio anterior interdental em crianças de 3 a 8 anos e sua relação com idade e oclusão dental [Dissertação de Mestrado]. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. 1994.
Keith K, Schaaf NG. The effects of dental abnormalities on speech production. Quintessence Inter. 1982. 13(12): 1353-62.
Kellum GD, Gross AM, Hale ST, Eiland S, Williams C. Thombsucking as related to placement and acoustic of /s, z/ and lingual rest postures. Int J Orofacial Myology. 1994. 20: 4-9.
Klechak TL, Bradley DP, Warren DW. Anterior Open Bite and Oral Port Constriction. Angle Orthod. 1976. 46: 232-42.
Kortsch WE. Speech defects in a tonque-trust group. J. Am. Dent. Assoc. 1963. 67: 698-700.
Laine T. Articulatory disorders in speech as related to size of the alveolar arches. Euro J Orthod. 1986. 8: 192-197.
Laine T. Associations between articulatory disorders in speech and oclusal anomalies. Euro J Orthod. 1987. 9(2): 144-50.
Laine T. Malocclusion traits and articulatory components of speech. Euro J Orthod. 1992. 14(4): 302-9.
Laine T, Jaroma M, Linnasalo AL. Relationships between interincisal occlusion and articulatory components of speech. Folia Phoniat. 1987. 39: 78-86.
Lino AP. Introdução ao problema da deglutição atípica. In: Interlandi S. Ortodontia. Bases para a iniciação. São Paulo: EDUSP. 1997. p. 231-50.
Lubit EC. The Relationship of Malocclusion and Faulty Speech Articulation. J Oral Med. 1967. 22: 47-55.
Marchesan IQ. Adapted or atypical Thrusting? J Orofacial Myology. 1999. 25: 15-17. Marchesan IQ. The speech pathology treatment with alterations of a stomatgnathic system. Int J Orofacial Myology. 2000. 26(5): 5-12.
McGlone R, Proffit W. Comparison of lingual pressure patterns in lisping and normal speech. Folia Phoniat 1974. 26: 389-397.
Moura ALL. O ceceio anterior em crianças de 3 a 7 anos. In: Marchesan IQ, Bolffi C, Gomes ICD, Zorzi JL. Tópicos em Fonoaudiologia. São Paulo: Editora Lovise. 1994. p. 231-238.
Moyers RE. Ortodontia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 1991. p. 180-3.
Pahkala R, Laine T, Narhi M. Associations among different orofacial dysfunctions in 9–11-year–olds. Euro J Orthod. 1995. 17(6): 497-506.
Palviainen S, Laine T. The role of developmental stage of occlusion for articulatory disorders in speech among first-graders. J Clinical Pediatric Dentstry. 1990. 15(1): 33-8
Pereira LF, Silva AMT , Cechella C. Ocorrência de hábitos orais viciosos e distúrbios fonoarticulatórios em indivíduos portadores de deglutição atípica. Pró-fono Rev. Atual. Ci. 1998. 10(1): 56-60.
Proffit W. Muscle pressures and tooth position: North American Whites and Australian Aborigines. Angle Orthd. 1975. 45(1): 1-11.
Proffit W. Equilibrium Theory Revisited: Factors Influencing Position of the Teeth. Angle Orthod. 1978. 48: 175-86.
Qvarnström M, Jaroma M, Laine T. Accuracy of articulatory movements of speech in a group of first-graders. Folia Phoniat. 1993. 45: 214-222.
Rathbone JS. Appraisal of speech defects in dental anomalies. Angle Orthod. 1955. 25: 42-8.
Rossi KMA, Ávila CRB. Estudo comparativo da produção de fonemas na oclusão normal e má oclusão dental em adolecentes. Pró-Fono Rev. Atual. Ci. 1999. 11(2): 77-9.
Santos LK, Ávila CRB, Cechella C, Morais ZR. Ocorrência de alterações de fala, do sistema sensorimotor oral e de hábitos orais em crianças pré-escolares e escolares da 1ª série do 1o grau. Pró-fono Rev. Atual. Ci. 2000. 12 (2): 93-101.
Spiegel MR. Estatística no paramétrica aplicada a las ciências de la conduta. 2a ed. México: Trillas. 1975. p 346.
Silva Filho OG, Gonçalves RMG, Maia FA. Sucking habits: Clinical management in dentistry. J. Clin Pediatr Dentist. 1991. 15(3): 137-55.
Soligo MO. Hábitos de sucção e suas correlações com oclusão, respiração e ceceio em uma população de pré-escolares [Dissertação de Mestrado]. São Paulo:
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. 1996.
Subtelny JD, Mestre JC, Subtelny JD. Comparative Study of Normal and Defective Articulation of /s/ as Related to Malocclusion and Deglutition. J Speech and Hearing Disorders. 1964. 29(3): 269-85.
Takamura PM. Contribuição ao estudo epidemiológico da prevalência das relações verticais interincisais, na dentadura decídua, dos 4 aos 6 anos de idade [Dissertação de Mestrado]. São Paulo: Universidade Cidade de São Paulo. 2001.
Tomé MC, Guedes ZCF, Silva AMT, Cechella C. Estudo da ocorrência de alterações da deglutição e da oclusão dentária em crianças com queixa de falar errado. Pró- Fono Rev. Atual. Ci. 1998. 10(1): 61-5.
Tomé MC, Farias SR, Araújo SM, Schimitt BE. Ceceio interdental e alterações oclusais em crianças de 03 a 06 anos. Pró- Fono Rev. Atual. Ci. 2004. 16(1); 19-30. Tomita NE, Bijella VT, Franco LJ. Relação entre hábitos bucais e má oclusão em pré-escolares. Rev Saúde Pública. 2000. 34(3): 299-303.
Van Der Linden FPGM. Crescimento e Ortopedia Facial. Trad. Francisco Ajalmar Maia. São Paulo: Editora Santos. 1990. p. 163.
Van Norman RA. Digit-Sucking: A Review of the Literature, Clinical Observations and Treatment Recommendations. Int J Orofacial Myology. 1997. 23: 14-34.
Vieira ACG. Estudo da prevalência do trespasse vertical interincisivos na dentadura decídua, dos dois aos seis anos de idade, em nipo-brasileiros [Dissertação de Mestrado]. São Paulo: Universidade Cidade de São Paulo. 2003.
Ward MM, Malone SH, Jann GR, Jann HW. Artculation variations associated with visceral swallowing and malocclusion. J Speech Hear Disord. 1961. 26; 334-341.
Wertzner HD. Articulações e suas alterações. In: Fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional em pediatria. São Paulo. Savier, 1990. p. 91-9. (série pediatria, 32).
Yavas M, Hernandorena CM, Lamprecht RR. Avaliação fonoaudiológica da criança - reeducação e terapia. Porto Alegre: Artes Médicas. 1992. p. 9-32.
Zaldívar CV, Rodrigues JB, Pérez EF. Las maloclusiones y su ralacion com los trastornos del lenguaje. Parte I. Rev Cubana Estomatol. 1987. 24(2): 135-140. Zaldívar CV, Rodrigues JB, Pérez EF. Las maloclusiones y su ralacion com los trastornos del lenguaje. Parte II. Rev Cubana Estomatol. 1987. 24(2): 141-147
ANEXO A