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Interpretação e discussão dos resultados

4 MATERIAL E MÉTODOS

6.3 Interpretação e discussão dos resultados

É sabido que a prevalência das más oclusões atinge, em média, 50% da população (GALVÃO; PEREIRA; BELLO, 1994; SILVA; GONÇALVES; MAIA, 1991). Aceitando-se o fato de que as más oclusões associam-se às alterações fonoarticulatórias, conseqüentemente essas últimas ocorrerão com uma alta freqüência, atingindo uma média de 50% das populações estudadas (WARD et al., 1961; ZALDÍVAR; RODIGUES; PÉREZ, 1987; TOMÉ et al., 1998; SANTOS et al., 2000; TOMÉ et al., 2004).

Takamura (2001) estudou as prevalências dos quatro tipos de trespasse vertical interincisivos em um grupo de 130 crianças, dos quatro aos seis anos de idade, pertencentes ao mesmo espaço educacional onde foi realizada esta pesquisa. Utilizando-se dos mesmos critérios de inclusão na amostra estudada, a autora concluiu que não houve diferenças estatisticamente significantes entre os gêneros no que tange à prevalência dos diversos tipos de trespasse vertical interincisivos, sendo que devido a essa ausência de dimorfismo, as taxas de prevalência foram associadas em um só grupo geral, conduzindo a índices de prevalência de 48,46% para o trespasse vertical interincisivos normal, 21,54% para o aumentado, 11,54% para o nulo e 18,46% para o negativo. Apesar da amostra da atual pesquisa ser de 333 crianças, superior ao dobro da amostra do trabalho de Takamura (2001), os

resultados obtidos apresentaram uma grande semelhança (48,30% para o trespasse vertical interincisivos normal, 22,50% para o aumentado, 9,30% para o nulo e 19,80% para o negativo). Vieira (2003) realizou esse mesmo tipo de levantamento epidemiológico citado anteriormente, porém em um grupo de 310 nipo-brasileiros, com idades entre dois e seis anos, tendo como resultados para os índices de prevalência do trespasse vertical interincisivos: 60% para o normal, 27,10% para o aumentado, 8,39% para o nulo e 4,51% para o negativo. As diferenças dos resultados encontrados por Vieira (2003) em relação a Takamura (2001) e a esta pesquisa provavelmente estão relacionadas às diferenças étnicas e culturais dos grupos estudados na realização das pesquisas.

Sendo a prevalência do trespasse vertical interincisivos negativo de 19,80% neste estudo e em outras pesquisas de 18,46% (TAKAMURA, 2001) e 4,51% (VIEIRA, 2003), e considerando-se que vários autores pressupõem existir uma relação direta entre os problemas fonoarticulatórios e a mordida aberta anterior (BERNSTEIN, 1954; RATHBONE, 1955; BENEDIKTSSON, 1957; WARD et al., 1961; INGERVALL; SARNAS, 1962; HARRINGTON; BREINHOLT, 1963; LUBIT, 1967; COLEMAN; GULLIKSON, 1971; KLECHAK; BRADLEY; WARREN, 1976; GUAY; MAXWELL; BEECHER, 1978; KEITH; SCAAF, 1982; LAINE, 1987; LAINE; JAROMA; LINNASALO, 1987; ZALDÍVAR; RODRIGUES; PÉREZ, 1987; HANSON; BARRET, 1988; MOYERS, 1991; LAINE, 1992; MOURA, 1994; PAHKALA; LAINE; NARHI, 1995; VAN NORMAN, 1997; JOHNSON; SANDY, 1999; CAYLEY et al., 2000; MARCHESAN, 2000; JABUR, 2002; TOMÉ et al., 2004), devemos considerar que mesmo a prevalência de menor valor representa uma grande faixa populacional a ser observada, orientada e tratada.

Os resultados obtidos nesta pesquisa mostraram que a prevalência do ceceio anterior em relação à amostra total foi de 26,42%, e para os diferentes tipos de trespasse vertical interincisivos foi de: 42% para o normal, 12,50% para o aumentado, 12,50% para o nulo e 33,30% para o negativo. Já a prevalência da projeção lingual anterior na emissão dos fonemas linguoalveolares /t/, /d/, /n/ e /l/ em relação à amostra total foi de 34,23%, e em relação aos tipos de trespasse vertical interincisivos foi de: 42,10% para o normal, 14% para o aumentado, 10,50% para o nulo e 33,30% para o negativo, sendo que na revisão bibliográfica realizada não foram encontrados índices de prevalência das alterações de fala estudadas em relação aos quatro diferentes tipos de trespasse vertical interincisivos.

Ward et al. (1961) encontraram, em um grupo de 358 crianças, um índice de prevalência de 64% do grupo com ocorrência de ceceio anterior e projeção lingual anterior na emissão dos fonemas linguoalveolares /t/, /d/, /n/ e /l/. Tomé et al. (1998) constataram em sua pesquisa que, do total das ocorrências de alterações da fala, 45,20% estavam relacionadas a alterações na emissão dos fonemas linguoalveolares /t/, /d/, /n/ e /l/, relacionado-os com problemas na oclusão dentária. Tomé et al. (2004), objetivando verificar a ocorrência do ceceio anterior e as alterações no trespasse vertical interincisivos em 132 crianças, na faixa etária dos três aos seis anos de idade, verificaram uma prevalência de 51,51% de ocorrência de ceceio anterior em relação à amostra estudada, sendo que 50% dessas crianças apresentaram alterações no trespasse vertical interincisivos e a mordida aberta anterior foi a alteração de maior freqüência (73,52%) dentre esses casos, porém sem apresentar significância estatística.

Segundo vários autores, há uma relação direta entre a presença do ceceio anterior e da projeção lingual anterior na emissão dos fonemas linguoalveolares com vários tipos de má oclusão, entre eles:

‰ o trespasse horizontal interincisivos aumentado (RATHBONE, 1955; LAINE, 1987; LAINE; JAROMA; LINNASALO, 1987; ZALDÍVAR; RODRIGUES; PÉREZ, 1987; PALVIAINEN; LAINE, 1990; MOYERS, 1991; LAINE, 1992; PAHKALA; LAINE; NARHI, 1995; JOHNSON; SANDY, 1999; MARCHESAN, 2000);

‰ a má oclusão de Classe II (RATHBONE, 1955; BLYTH, 1959; GUAY; MAXWELL; BEECHER, 1978; KEITH; SCAAF, 1982; LAINE, 1987; ZALDÍVAR; RODRIGUES; PÉREZ, 1987; PALVIAINEN; LAINE, 1990; LAINE, 1992; MARCHESAN, 2000; JABUR, 2002); e

‰ a má oclusão de Classe III (RATHBONE, 1955; GUAY; MAXWELL; BEECHER, 1978; KEITH; SCAAF, 1982; ZALDÍVAR; RODRIGUES; PÉREZ, 1987; LAINE, 1992; FARRET et al., 1998; JOHNSON; SANDY, 1999; MARCHESAN, 2000; JABUR, 2002).

Entretanto, a literatura evidencia que a má oclusão que mais se relaciona com esses problemas fonoarticulatórios é o trespasse vertical interincisivos negativo (BERNSTEIN, 1954; RATHBONE, 1955; INGERVALL; SARNAS, 1962; HARRINGTON; BREINHOLT, 1963; LUBIT, 1967; COLEMAN; GULLIKSON, 1971; KLECHAK; BRADLEY; WARREN, 1976; KEITH; SCAAF, 1982; LAINE, 1987; LAINE; JAROMA; LINNASALO, 1987; ZALDÍVAR; RODRIGUES; PÉREZ, 1987; HANSON; BARRET, 1988; PALVIAINEN; LAINE, 1990; MOYERS, 1991; LAINE, 1992; JUNQUEIRA, 1994; MOURA, 1994; PAHKALA; LAINE; NARNI, 1995; VAN

NORMAN, 1997; JOHNSON; SANDY, 1999; CAYLEY et al., 2000; JABUR, 2002; TOMÉ et al., 2004), o que coincide com os resultados apresentados nesta pesquisa, mostrando haver uma relação estatisticamente significante da mordida aberta anterior com o ceceio anterior (p = 0,001) e a projeção lingual anterior na emissão dos fonemas linguoalveolares /t/, /d/, /n/ e /l/ (p = 1,573E-05). Conseqüentemente, o atual trabalho demonstra uma redução na presença dessas alterações fonoarticulatórias em crianças portadoras de trespasse vertical interincisivos aumentado (ceceio anterior p = 0,013 e projeção lingual anterior na emissão dos fonemas linguoalveolares /t/, /d/, /n/ e /l/ p = 0,011), fato esse que coincide com os resultados obtidos por Pahkala, Laine e Narhi (1995), demonstrando que o trespasse vertical interincisivos positivo foi negativamente associado aos fonemas produzidos com projeção lingual anterior, ou seja, o risco de problemas fonoarticulatórios aumenta quando o trespasse vertical interincisivos caminha no sentido negativo.

Vale ressaltar que o grau de severidade do trespasse vertical interincisivos negativo guarda uma relação direta com o grau de severidade do ceceio anterior e da projeção lingual na emissão dos fonemas /t/, /d/, /n/ e /l/, de acordo com alguns trabalhos (KLECHAK; BRADLEY; WARREN, 1976; DWORKIN, 1980; KEITH; SCAAF, 1982), o que se contrapõe aos resultados apresentados por outros pesquisadores (BERNSTEIN, 1954; RATHBONE, 1955; JOHNSON; SANDY, 1999), que não encontraram relações entre o grau de severidade do trespasse vertical interincisivos negativo e as alterações de fala.

Com relação aos tipos de trespasse vertical interincisivos normal e nulo, neste estudo não se verificou associação estatisticamente significante com os desvios fonoarticulatórios pesquisados (normal p = 0,209 e nulo p = 0,324), corroborando os

resultados dos trabalhos de vários autores que também não encontraram essa relação (BERNSTEIN, 1954; RATHBONE, 1955; BENEDIKTSSON, 1957; BLYTH, 1959; WARD et al., 1961; INGERVALL; SARNAS, 1962; HARRINGTON; BREINHOLT, 1963; SUBTELNY; MESTRE; SUBTELNY, 1964; LUBIT, 1967; COLEMAN; GULLIKSON 1971; KLECHAK; BRADLEY; WARREN, 1976; GUAY; MAXWELL; BEECHER, 1978; KEITH; SCAAF, 1982; LAINE, 1987; LAINE; JAROMA; LINNASALO, 1987; ZALDÍVAR; RODRIGUES; PÉRZ, 1987; HANSON; BARRET, 1988; PALVIAINEN; LAINE, 1990; MOYERS, 1991; LAINE, 1992; JUNQUEIRA, 1994; MOURA, 1994; PAHKALA; LAINE; NARHI, 1995; VAN NORMAN, 1997; JOHNSON; SANDY, 1999; CAYLEY et al., 2000; MARCHESAN, 2000; JABUR, 2002; TOMÉ et al., 2004).

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