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Considerações sobre o tema abordado

4 MATERIAL E MÉTODOS

6.1 Considerações sobre o tema abordado

Ainda hoje, pouco se sabe sobre os fatores primários determinantes das más oclusões. Na maioria das vezes, as características morfofuncionais da oclusão dentária são herdadas no sentido de que haja normalidade, já que os caracteres genéticos geralmente são dominantes. Contudo, os elementos que participam do desenvolvimento e manutenção dessas características de normalidade são numerosos e sensíveis, principalmente em suas inter-relações. Assim sendo, qualquer modificação no mecanismo funcional (respiração, deglutição, fonação e mastigação) poderá alterar a forma, bem como a forma poderá alterar a função, determinando, conseqüentemente, desvios e deformidades morfofuncionais (PROFFIT, 1975; JABUR, 1994, LINO, 1997; MARCHESAN, 2000; JABUR, 2002; TOMÉ et al., 2004). Vale lembrar que segundo Graber (1974), apesar de ser o tecido ósseo um dos mais duros do corpo humano, ele é um dos mais plásticos e que mais responde às forças geradas durante as funções.

Segundo Ingervall e Sarnas (1962), Proffit (1978) e Van Der Linden (1990), as forças musculares também influenciam o posicionamento dentário de acordo com suas durações e intensidades. Esses autores relataram que as forças resultantes da fonação e da deglutição, que são forças de maior intensidade e intermitentes em

relação às forças de repouso, consideradas de menor intensidade e contínuas, não apresentam grande influência sobre os dentes. Logo, no que se refere à fala, muitas pesquisas não obtiveram resultados conclusivos na tentativa de relacionar os problemas fonoarticulatórios com as más oclusões e desvios nas dimensões das estruturas bucais. Contudo, tais relações não foram totalmente descartadas, havendo concordância entre os autores de que mais estudos devem ser realizados, visando um maior esclarecimento dessa relação (BERNSTEIN, 1954; BLYTH, 1959; INGERVALL; SARNAS, 1962; SUBTELNY; MESTRE; SUBTELNY, 1964; LUBIT, 1967; COLEMAN; GULLIKSON, 1971; PROFFIT, 1975; LAINE, 1986; KELLUM et al., 1994; SOLIGO, 1996; JOHNSON; SANDY, 1999; ROSSI; ÁVILA, 1999; CAYLEY et al., 2000; TOMITA et al., 2000; TOMÉ et al., 2004).

Considera-se a língua o órgão mais importante na articulação da fala, devido à sua habilidade em apresentar rápidas mudanças de movimentação e forma. Quando algum tipo de anormalidade impede a sua articulação normal com as estruturas relacionadas (lábios, dentes, alvéolos, palato duro e palato mole), isso pode resultar em um problema de fala (COLEMAN; GULLIKSON, 1971; KEITH; SCHAAF, 1982; WERTZNER, 1990).

Alguns pesquisadores concluíram que o organismo humano possui uma tendência natural de compensação postural da musculatura funcional diante de problemas estruturais (más oclusões), no afã de se obter uma emissão correta dos fonemas durante a fonoarticulação (BENEDIKTSSON, 1957; BLYTH, 1959; HARRINGTON; BREINHOLT, 1963; LUBIT, 1967; COLEMAN; GULLIKSON, 1971; PROFFIT, 1975; GUAY, MAXWELL; BEECHER, 1978; KEITH; SCAAF, 1982; MOYERS, 1991; VAN NORMAN, 1997; FARRET et al., 1998; JOHSON; SANDY,

1999; MARCHESAN, 1999; MARCHESAN, 2000; JABUR, 2002). É importante destacar que devem ser avaliados criteriosamente os casos em que o organismo não consegue compensar funcionalmente as deficiências morfológicas, para a definição de um correto diagnóstico, plano de tratamento e prognóstico, auxiliando na realização dos tratamentos ortodônticos e evitando possíveis recidivas (HARRINGTO; BREINHOLT, 1963; PROFFIT, 1975; GUAY; MAXWELL; BEECHER, 1978; JABUR, 2002).

Diversos autores, em seus trabalhos, têm relacionado problemas fonoarticulatórios com diferentes tipos de más oclusões dentárias (BERNSTEIN, 1954; RATHBONE, 1955; BENEDIKTSSON, 1957; BLYTH, 1959; WARD et al., 1961; INGERVALL; SARNAS, 1962; HARRINGTON; BREINHOLT, 1963; SUBTELNY, MESTRE; SUBTELNY, 1964; LUBIT, 1967; COLEMAN; GULLIKSON, 1971; MCGLONE; PROFITT, 1974; PROFFIT, 1975, KLECHAK, BRADLEY; WARREN, 1976; GUAY; MAXWELL; BEECHER, 1978; PROFFIT, 1978; KEITH; SCHAAF, 1982; LAINE, 1987; LAINE; JARONA; LINNASALO, 1987; ZALDÍVAR; RODRIGUES; PÉREZ, 1987; HANSON; BARRET, 1988; MOYERS, 1991; LAINE, 1992; MOURA, 1994; PAHKALA; LAINE; NARNHI, 1995; SOLIGO, 1996; VAN NORMAN, 1997; TOMÉ, 1998; FARIA, 1999; JOHNSON; SANDY, 1999; MARCHESAN, 1999; CAYLEY et al., 2000; MARCHESAN, 2000; TOMÉ et al., 2004), sendo o trespasse vertical interincisivos negativo (mordida aberta anterior) a má oclusão mais associada à presença de ceceio anterior e projeção lingual anterior na emissão dos fonemas linguoalveolares (BERNSTEIN, 1954; RATHBONE, 1955; INGERVALL; SARNAS, 1962; HARRINGTON; BREINHOLT, 1963; LUBIT, 1967; COLEMAN; GULLIKSON, 1971; KLECHAK; BRADLEY; WARREN; 1976; KEITH; SCAAF, 1982; LAINE, 1987; LAINE; JAROMA; LINNASALO, 1987; ZALDÍVAR;

RODRIGUES; PÉREZ, 1987; HANSON; BARRET, 1988; PALVIAINEN; LAINE, 1990; MOYERS, 1991; LAINE, 1992; JUNQUEIRA, 1994; MOURA, 1994; PAHKALA; LAINE; NARHI, 1995; VAN NORMAN, 1997; JOHNSON; SANDY, 1999; CAYLEY et al., 2000; JABUR, 2002; TOMÉ et al., 2004).

Crianças que apresentam ceceio anterior na emissão dos fonemas fricativos /s/ e /z/ exercem significantes pressões linguais na região dos dentes anteriores superiores, quando comparadas a crianças com fala normal (MCGLOVE; PROFFIT, 1974). Todavia, outras pesquisas não mostraram diferenças significantes nas forças protrusivas linguais em grupos com e sem mordida aberta anterior, ceceio anterior e projeção lingual anterior na emissão dos fonemas linguoalveolares /t/, /d/, /n/ e /l/ (DWORKIN; CULATTA, 1980).

Vale ressaltar que, segundo algumas pesquisas, os problemas de fala, especificamente o ceceio anterior e a projeção lingual anterior na emissão dos fonemas linguoalveolares, sofrem uma redução espontânea em sua prevalência, diretamente proporcional ao avanço da idade, e na maior parte dos casos se normalizam por volta dos sete aos nove anos de idade (RATHBONE, 1955; FLETCHER; GASTEEL; BRANLEY, 1961; KORTSCH, 1963; COLEMAN; GULLIKSON, 1971; PALVIAINEN; LAINE, 1990; WERTZNER, 1990; QVARNSTRÖM; JAROMA; LAINE, 1993; JUNQUEIRA, 1994; MOURA, 1994; PAHKALA; LAINE, NARHI, 1995; MARCHESAN, 1999; TOMÉ et al., 2004). Relatou-se também que a persistência dos problemas de fala pode estar relacionada aos insucessos nos tratamentos ortodônticos, sendo que as alterações de fala são consideradas como diagnóstico de um comportamento inadequado de todo o mecanismo funcional e a sua correção pode colaborar para a normalização da

oclusão (HARRINGTON; BRENHOLT, 1963; PROFITT, 1975; BIGENZAHN; FISHMAN; MAYHOFER-KRAMMEL, 1992).

De acordo com Faria (1999), o diagnóstico e o tratamento preventivo das alterações morfofuncionais bucais, realizados por uma equipe multidisciplinar envolvendo, além de ortodontistas, cirurgiões dentistas clínicos, médicos pediatras, otorrinolaringologistas, fonoaudiólogos, fisioterapeutas e em algumas vezes psicólogos, são de extrema importância na correção e manutenção dos resultados no relacionamento entre a forma e a função, e suas influências no padrão de crescimento esquelético craniofacial, justificando, dessa maneira, a importância do tema abordado nesta pesquisa.

Tendo em vista os aspectos comentados anteriormente, o atual estudo se propôs avaliar a prevalência e as inter-relações dos diferentes tipos de trespasse vertical interincisivos, do ceceio anterior e da projeção lingual anterior na emissão dos fonemas linguoalveolares /t/, /d/, /n/ e /l/, na dentadura decídua.

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