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“Sou jardineiro e sou campineiro Tenho tudo que Mamãe me dá No jardim eu tenho as flores E nas Campina eu andava atrás Sou campineiro e sou verdadeiro E é preciso eu viajar Que o poder de Deus é grande E eu desejo alcançar” (Trecho do hino 82 “Campineiro”, do Hinário “O Cruzeiro”, Mestre Irineu) Tendo em vista a proposta desse estudo de investigar a emergência e processo de formação do Santo Daime na Paraíba e seu quadro de seguidores, a pesquisa desenvolvida envolveu a observação participante nas atividades e trabalhos e/ou rituais e a coleta de dados incluindo imagens, fotos e vídeos. Como fonte principal da busca de compreensão das categorias ou sistema religioso a que essa pesquisa se dedica, foram realizadas 10 entrevistas. Para esse ínterim lançamos mão da teoria e técnicas da História Oral, declarando assim que mesmo a pesquisa estando relacionado à experiência junto a uma denominação religiosa, o teor biográfico, ou mesmo nuances da história de vida das pessoas, imprimem aqui um registro de suas memórias que ficam conservadas nas suas falas e narrativas transcritas segundo as recomendações de tratamento com o material de História Oral e consentimento dos depoentes.

Além de investigar a respeito da formação dos grupos o alcance da pesquisa de campo permitiu, como foi proposto, fazer um levantamento etnográfico das experiências vividas junto ao segmento religioso aqui estudado e sobre suas crenças e práticas, indo além do que projetamos a primeira mão. Mesmo estando aí implicadas compreensões da formação pessoal dos entrevistados, consideramos, tendo vista o alcance do trabalho antropológico, ser um levantamento que de certo modo reflete o universo do povo daimista na Paraíba, por contar com narrativas de alcance de memória, além de individual, ter em si a memória coletiva do grupo. Objetivo intensificado tendo em vista as funções desempenhadas pelos sujeitos, acessada pela “escolha” e perfil dos entrevistados.

Foram compartilhadas vivências em uma religião, tendo em vista a particularidade da experiência enteógena, e sua cultura simbólica e social, onde as plantas sagradas num contexto religioso são a fonte do religare, “alcançado pela força, luz e som” do Daime.

Acessamos, nas narrativas, os elementos e matrizes culturais que formam essa religião, o sentido e a importâncias dos hinos e formatos rituais desenvolvidos pelo fundador Raimundo Irineu Serra e expandidos em sentido geográfico e simbólico por Sebastião Mota de Melo e seus seguidores. Vida comunitária, convivência, relações humanas, conflitos e divisões nos grupos foram registrados. Testemunhos e contribuições sobre cura, autoconhecimento e Estados de Consciência: sejam expandidos, alterados, não-ordinários, intensificados, visionários, como chamados aqui em relação a experiência com a ayahuasca e tradição de conhecimento milenar do uso dessa bebida sagrada e os padrões de interpretação inaugurados e desenvolvidos na tradição do Santo Daime, ficam aqui registrados nas falas de seus seguidores. Os segmentos religiosos anteriores a adesão a “Doutrina da Floresta” foram investigados assim como os diálogos inter-religiosos e mesmo, como categoria primordial desse estudo, os costumes digamos dos “nativos da terra paraibana”- que esse culto tem entrado em contato como tratamos detidamente sobre a “Jurema”. Nas entrevistas podemos observar também aspectos da história desse povo e sua liberdade de crença, envolvendo a regulamentação do uso da ayahuasca, elemento central nessa religião, envolvendo assim o que rege, permite e assegura essa prática religiosa segundo a legislação brasileira que prevê a liberdade de culto. A descriminação religiosa também foi um assunto dialogado nas entrevistas, tendo em vista as representações sociais e sensacionalistas dessa religião.

Estar em campo, na categoria de observadora participante e daimista abriu portas e permitiu-nos alçar voos mais altos na relação com a pesquisa e os narradores dessas histórias. Desse modo, observamos, além do emprego das técnicas recomendadas à pesquisa antropológica, a ligação da biografia pessoal e história de vida de quem empreendia a coleta, ou mesmo a colheita das lembranças brotadas da árvore frondosa da Memória desse povo, aqui representado pelos narradores e informantes que informalmente, ou seja, sem estarem sendo gravadas entrevistas, contribuíram para a construção desse estudo. Acreditamos, que a pesquisa contribui na construção da memória do povo daimista, sua emergência e/ou surgimento no Nordeste, detidamente a formação da primeira igreja, com inauguração em 11 de outubro de 1994 e abertura

anterior do ponto em 15 de agosto de 1993, em atividade então a mais de 20 anos. Registradas as primeiras experiências, segundo o alcance dessa pesquisa, enfatizamos dessa religião no Nordeste, desde 1991 no Rio Grade do Norte, levando em consideração o registro do uso da ayahuasca desde a década de 80, segundo o alcance das entrevistas. O estabelecimento desse segmento no campo religioso da Paraíba conta com mais três igrejas na parte litorânea do Estado: Céu do Amanhecer com 10 anos de funcionamento; Céu de Coqueirinho, 9 anos e Céu da Flor da Nova com 13 anos.

Em certos momentos do texto, substituímos a expressão “coleta” por “colheita”, para descrever a pesquisa de campo, em especial as entrevistas, motivo de profunda surpresa as quais consideramos a riqueza desse trabalho que vem inaugurar os estudos dedicados ao Santo Daime no Nordeste e, realizado, a partir do local oficialmente considerado a porta de entrada dessa religião, assim como tantos outros segmentos religiosos no Nordeste: o Encontro da Nova Consciência. Registramos que essa pesquisa também rende um levantamento etnográfico de relato do surgimento e história desse Encontro que, assim como o tema central aqui tratado, não existe, segundo nossas pesquisas, referências acadêmicas, que tomam como objeto de estudo, as falas históricas dos participantes dessas história.

Na elaboração do projeto, não se tinha a dimensão da riqueza que poderiam ter guardadas nas memórias e corações dos entrevistados, feito sementes plantadas que brotaram ao serem regadas e cuidadas pelos jardineiros, e, especificamente pela “jardineira campineira” colhedora. Eis aí um cesto de frutas e flores. Nesse sentido, a pesquisa em muito extrapolou as expectativas da pesquisadora e, esperamos que, também, a dos possíveis leitores.

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