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Considerações Finais

Ao longo do presente trabalho foi realizado um estudo crítico de forma a discutir e propor contributos para fundamentar futuras intervenções urbanas em Évora, relacionadas a mobilidade e com a acessibilidade, com o objetivo de promover espaços acessíveis para a equiparação de oportunidades de uso, da vivência no espaço construído e para a promoção de uma cidade mais sustentável.

Com o desenvolver do estudo foi possível discutir uma mudança de paradigma para as cidades atuais, centradas preferencialmente no transporte automóvel. Isto, por meio da identificação duma nova cultura de mobilidade sustentável que privilegia o modo pedonal e outros modos de mobilidade suave (bicicleta, skate e patins).

Este estudo possibilitou também o melhor entendimento do conceito de acessibilidade como característica de um espaço físico, que permite a percepção e o entendimento para o uso autônomo de todas as pessoas, de uma forma equilibrada, respeitadora e segura. Inserida no contexto da sustentabilidade, a acessibilidade possibilita promover a equidade social agregando valor ao espaço. Em suma, a acessibilidade é um fator de funcionalidade, segurança e conforto para toda a sociedade.

Existem alguns atributos que caracterizam uma cidade sustentável, tais como: existência de planejamento adequado; boa gestão; consciência política, tanto da população quanto dos governantes; participação popular; economia responsável; compromisso com valores humanos; respeito com o ambiente e, principalmente ações implantadas localmente com a visão global do sistema. Neste sentido, verifica-se que Évora iniciou o procedimento para a inserção da Agenda 21 local.

Para Magalhães (1997), as cidades de média dimensão podem ser consideradas como “mais fáceis” de se tornarem sustentáveis, pois oferecem melhor qualidade de vida. Perde- se menos tempo nos deslocamentos, as pessoas têm mais contato com a natureza, mais tranquilidade e segurança, melhor qualidade do ar e mais tempo para o relacionamento social. Dadas as características da cidade de Évora, observa-se que, conforme referenciado, a cidade tem grande possibilidade de se tornar mais sustentável.

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Dada a riqueza cultural e harmonia arquitetônica de Évora, ela foi classificada como Patrimônio Cultural da Humanidade. Nota-se que na intervenção urbana Évoracom foram conscienciosos os procedimentos técnicos e administrativos, resultando na adequada valorização e gestão da paisagem, pois a acessibilidade urbana foi pensada de modo a garantir a facilidade do deslocamento, a inserção social e, sobretudo, a autonomia para se alcançar os destinos desejados dentro da cidade, com acesso amplo e democrático. A evolução deste estudo permitiu-nos compreender que a metodologia utilizada fornece subsídios para estudos futuros, visto que o uso do diário de campo possibilitou presenciar a vida e os modos de deslocamento na área de estudo e ainda verificar as relações entre os usos do espaço quanto à mobilidade e às interações socioespaciais ocorridas nos espaços abertos públicos.

Por outro lado, as entrevistas exploratórias contribuíram de modo a enriquecer a ótica do estudo. Estas revelaram determinados aspectos que o investigador não teria como identificá-los por não os vivenciar cotidianamente. Notou-se também que a cidade de Évora pode ser entendida como um sistema de redes de espaços com uso coletivo, por meio da sua apropriação pelas pessoas. É importante ressaltar a existência das relações de conectividade entre os sistemas de circulação com o lazer, o convívio coletivo, a memória e a conservação ambiental. Em suma, partindo da informação coletada no contexto em análise, verificou-se que os espaços, na sua maioria, são agradáveis de estar e/ou percorrer; ratificou-se a ideia de que a cidade deve possuir uma rede de percursos pedonais porque as pessoas necessitam transitar por ela. Esta constatação foi evidenciada nas respostas dos entrevistados, identificando-se que as pessoas gostam de utilizar os espaços abertos públicos existentes na cidade e muitas delas se deslocam a pé. Acredita-se, a partir da análise realizada, que os espaços abertos de Évora estejam todos interligados, fazendo parte da vida das pessoas que os usam.

Com o intuito de aferir em relação à acessibilidade na área em estudo, realizou-se um procedimento metodológico denominado por walkthrough, que nos permitiu fazer uma análise dos aspectos circunstanciais dos espaços abertos públicos. Através deste, foram observadas as características do terreno- relevo e morfologia, estacionamento e acessos à outras vias e espaços. Isto, para além das diferentes técnicas construtivas dos pavimentos

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e das dificuldades e das facilidades ao caminhar. A análise realizada também possibilitou refletir sobre diversos aspectos relacionados com a estrutura física, possibilitando uma análise construtiva para melhorar a qualidade dos espaços.

Com a intenção de mensurar a acessibilidade da área em estudo foi realizada uma avaliação do espaço construído conforme DL 163/2006 de 8 de Agosto de 2006, utilizando o instrumento checklist de acessibilidade. Esta análise descritiva permitiu-nos identificar e mensurar quais os itens que mais precisariam de atenção em cada espaço estudado. Estes dados serão úteis nas próximas intervenções pois servem como diretrizes para futuros projetos.

O resultado da avaliação do espaço avaliado não dependeu da localização do espaço estudado, dentro ou fora da muralha. Notou-se que intervenções urbanas favoreceram alguns dos espaços avaliados enquanto a falta de manutenção, noutros espaços, resultou em uma má ponderação. A partir dos dados levantados, obteve-se, como resultado, o índice de acessibilidade da área total de estudo, que foi de 0,55; ou seja, é preciso melhorar a acessibilidade, principalmente quanto aos itens: pavimentação, percursos acessíveis e sinalização. Estes precisam ser aprimorados pois são essenciais para a mobilidade pedonal além de se refletirem na vitalidade da cidade.

Quanto à legislação em vigor, é primordial estimular a sua revisão, especialmente no que diz respeito aos centros históricos pois, nestes locais, o caráter do lugar deve ser preservado, tornando-se improvável e difícil, a aplicação da norma na sua total conformidade.

A promoção de modos suaves de locomoção tem o poder de revitalizar a cidade, criar ambientes agradáveis aos usuários e ainda servir de apoio ao comércio e aos serviços. Isto contribui para a reafirmação de uma cidade mais sustentável e de curtas distâncias, onde o deslocamento pedonal é estimulado. Não existe uma única solução para reduzir o uso de automóveis. Para isto acontecer, deve-se tornar atraente as demais alternativas de locomoção por meio de vias com passeios adequados, com zonas plantadas e transporte público eficiente, de maneira a garantir a segurança, a autonomia e o conforto dos transeuntes. Uma cidade que busca sustentabilidade é também aquela que está atenta não

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só à economia, mas também à gestão dos seus espaços abertos, principalmente os com cobertura vegetal, para além da qualidade de vida da sua população.

Dentro deste contexto, espera-se que os resultados obtidos nesta pesquisa, venham servir de embasamento para diretrizes de futuras intervenções urbanas que visem melhorar as condições de mobilidade e acessibilidade na cidade de Évora. Espera-se também que este estudo possa apoiar futuras pesquisas sobre o tema. Esta oportunidade permitiu-nos um excelente aprendizado, pois os conhecimentos adquiridos terão muito proveito no Brasil, em nossa vida profissional, na área de arquitetura e urbanismo.

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