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O Espaço Agrário é um conjunto completo de objetos e ações novos. Os novos objetos e as novas ações promovem o surgimento de outros elementos na realidade sócio-espacial. O Espaço Agrário sofre uma mutação não somente física, mas também social. As novas ações e os novos objetos são oriundos de uma lógica exógena e remodelam o espaço num contínuo transformativo, motivado pela abrangência da lógica exógena capitalista.

A lógica exógena capitalista é a personificação do capitalismo agrícola que se insere no Espaço Agrário através de seus elementos internos, integrando-os ao circuito internacional de reprodução do valor.

O excedente gerado dentro do Espaço Agrário é absorvido pelo próprio modo de produção capitalista agrícola. Tal fato afeta negativamente as especificidades sociais e produtivas anteriores à implantação da lógica capitalista, remodelando o Espaço Agrário segundo o dogma de continuidade do processo de acumulação de capital.

As novas ações e os novos objetos redefinem outras estratégias para a criação espacial do valor, reconstruindo e reorganizando a estrutura sócio-espacial agrícola. As novas ações inserem ações excludentes e os objetos indiferentes ao modo produtivo do agricultor familiar, originando o desaparecimento da forma produtiva agrícola tradicional. O acesso às ações e aos objetos novos torna insatisfatório o convívio das novas técnicas com as técnicas tradicionais na agricultura familiar.

Assim, o processo de Organização do Espaço Agrário no município de Simão Dias contribuiu para a verificação dos fatos relacionados à criação e implantação de novas ações e novos objetos. As novas ações e os novos objetos surgidos foram originados das políticas públicas estatais que denotaram uma nova dinâmica para o Espaço Agrário e para os agricultores familiares.

Com a instituição das Políticas Agrícolas, em especial o Pronaf, no município de Simão Dias, a estrutura familiar tradicional de produção agrícola foi severamente substituída por uma monocultura especializada em milho, integrando a base produtiva agrícola local ao sistema de provimento de estoques de matéria-prima à indústria de alimentos à base de milho e à indústria de rações; além de favorecer as multinacionais e empresas nacionais produtoras de insumos e de implementos agrícolas (tratores, agrotóxicos, etc.) com a compra massiva de produtos agrodefensivos.

Uma estrutura tradicional agrícola desaparece dando lugar a outra forma produtiva muito mais destinada à reversão de lucros para os capitalistas que para os agricultores familiares.

A especialização produtiva inseriu ações e objetos novos no Espaço Agrário simaodiense. O processo de exploração envolto em tais novos objetos e novas ações chama atenção pelos impactos sociais negativos sentidos devido à conversão da forma produtiva tradicional familiar para agricultura especializada e pelas transformações nocivas no âmbito ambiental no Espaço Agrário.

As políticas agrícolas introduzem as ações e os objetos novos, sendo que tais elementos espaciais surgem subservientes ao modo capitalista de produção e promovem o processo de dependência do agricultor. Desta forma, o agricultor familiar não mais se desprende das formas de dependência financeira e técnica para dar continuidade ao seu processo de reprodução social e a obtenção um estoque anual de excedente. Ele constitui elemento centro do novo circuito espacial de produção capitalista do valor pautado no agronegócio.

Todo excedente gerado é absorvido pelos bancos e capitalistas (atravessadores e comerciantes). Os baixos preços e a incapacidade dos bancos em prestar auxílio orçamentário e técnico ao agricultor na gestão dos recursos possibilitam a decadência da reprodução social do agricultor familiar simãodiense e sua autonomia financeira e técnica.

De todos os lados, novas dinâmicas expropriatórias integram o processo de transformação capitalista do Espaço Agrário à estrutura agrícola familiar, dando corpo ao processo exploratório do Capital Agrícola sobre o agricultor familiar em Simão Dias.

A forma de modernização da agricultura familiar simãodiense revela uma catástrofe social e ambiental travestida de desenvolvimento rural. Isto simboliza o agravamento da crise da agricultura familiar no século XXI. O modo tradicional de agricultura familiar, mais auto- sustentável, é revertido para uma agricultura subordinada ao sistema de reprodução do valor expropriatório patrocinado pelo capitalismo.

Os meios técnico-produtivos são, na verdade, tentáculos articuladores do capitalismo agrícola, colocando em cheque as vantagens de permanência e de valorização do saber produtivo tradicional do agricultor familiar. Este processo de dominação capitalista resulta na forma contínua de garantia do uso das políticas agrícolas na ampliação dos níveis aceitáveis de lucratividade e exploração do agricultor familiar.

De igual modo, a especialização produtiva garante a reversão de lucros ainda mais rápidos, extirpando a forma agrícola tradicional e redirecionando todos os recursos locais para um novo processo de reversão do valor espacial.

A monocultura do milho é um fato delineador do grau de isenção do agronegócio em áreas periféricas do Nordeste, a exemplo de Simão Dias. Ademais, a forma de emersão da agricultura familiar tradicional simãodiense ao circuito nacional e internacional do agronegócio possibilita que os estoques de excedente sejam, facilmente, extorquidos pelos atravessadores e a indústria de insumos, mediante o uso do Pronaf como forma de propagação do capitalismo no campo.

Particularmente, as políticas de crédito rural do Pronaf possibilitaram as condições para que a lógica de modernização e especialização agrícola fosse absorvida pelos agricultores familiares tradicionais em Simão Dias, provocando o agravamento da situação de inadimplência e exclusão do pequeno agricultor familiar ao crédito.

A falta de um dinamismo decisório por parte dos gestores públicos locais e do sindicato possibilitou os instrumentais para que o agricultor familiar fosse subsumido ao capitalismo agrícola. Desta forma, está consumado o intento do agronegócio capitalista e seu poder expropriatório na Organização do Espaço Agrário e na agricultura familiar tradicional simãodiense.

Destra forma, pode-se extrair um entendimento sobre a forma de uso das Políticas Agrícolas na Organização do Espaço Agrário simãodiense: primeiro a conversão total da forma agrícola tradicional para a forma agrícola especializada mais condizente com o agronegócio. Em segundo momento, percebe que o papel das Políticas Agrícolas, inclusive, o Pronaf torna mais abrangente o nível de integração da estrutura produtiva agrícola tradicional ao circuito de Reprodução Espacial do Valor que favorecerá o programa de lucratividade capitalista. No Terceiro momento, observa-se a constituição de uma estrutura produtiva agrícola especializada que se baseia na monocultura do milho. Finamente, surge a integração da nova estrutura produtiva agrícola simãodiense aos mercados através da absorção dos agrodefensivos pelos agricultores. Há, também, a garantia de permissividade do processo de exploração capitalista mediante a falta de sinergia dos agentes locais como a Prefeitura, os bancos e os órgãos de extensão rural.

Todos os momentos anteriormente expostos resultam a um ponto convergente fundamental: o processo de Organização do Espaço Agrário, no município de Simão Dias, está inserido no processo internacional de acumulação capitalista mediante o uso das Políticas Agrícolas pelo Agronegócio.