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A retomada do planejamento e dos investimentos em infraestrutura no Brasil são os principais méritos do PNLT e do PAC. A comparação entre eles, no entanto, é complexa por falta de dados, períodos e estimativa de valores não coincidentes, mesmo quando aparentemente se tratam da mesma obra. Apesar destas ressalvas, e levando em conta estas limitações, pode-se afirmar que:

• Das obras previstas para o período de 2008 a 2011 no PNLT, apenas 25% estão contemplados de alguma forma pelo PAC (2007 a 2010), cuja 53% das obras são procedentes daquele29.

• Em termos do volume de recursos, o PNLT previa a necessidade de um investimento de R$ 10,3 bilhões, enquanto o PAC está orçado em R$ 8,4 bilhões para o setor de transporte, correspondendo a 82% do recomendável.

• Avaliando a distribuição dos recursos entre os modais, ambos concentram a maior parte deles no modal rodoviário, no entanto no PAC a distorção é ainda maior que no PNLT, pois enquanto neste, o modal rodoviário representa 54,08% dos recursos, naquele, a participação é de 89,31% dos investidos.

• A distribuição geográfica dos investimentos, tanto no PNLT quanto no PAC, reforça as desigualdades regionais, com concentração dos investimentos nas regiões dinâmicas do Estado (Oeste e Leste), pouco beneficiando a região do semiárido (região central).

Quando analisado o conjunto de obras elencadas no PNLT e no PAC por modal, em contraposição aos gargalos identificados30, tem-se:

• Ferroviário – Tanto no PNLT, quanto no PAC, está prevista a construção da Ferrovia de Integração Oeste-Leste, para atender a demanda dos produtores de grãos do Oeste e

29 Algumas obras estão subdivididas no PAC e concisa no PNLT e vice-versa. Para a determinação dos

percentuais, considerou-se o número de obras como descrita em cada programa e no caso do PNLT foram desconsideradas aquelas obras que apesar de identificada no Sumário Executivo (BRASIL, 2009b) como contemplados no PAC, não foi possível localizá-las neste.

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de Minério no Sudoeste, aumentando as ofertas de rotas. Para solucionar o problema da complexa transposição da ponte D. Pedro II, propôs-se a construção de contornos ferroviários entre Cachoeira e São Felix e no caso do problema das inúmeras passagens de nível apenas Camaçari foi beneficiada com a construção de uma variante ferroviária, de forma a que o trem não circule mais pelos centros da cidade. A preocupação em garantir a intermodalidade se encontra apenas no PNLT, onde se faz presente indicação de obras que facilitem o acesso das mercadorias transportadas por trens aos portos. Quanto à manutenção das vias permanentes, não há referência, possivelmente por ser de obrigação das empresas concessionárias.

• Hidroviário – no PNLT e no PAC há indicação de investimentos para a revitalização da Hidrovia do São Francisco, que é a de maior potencial de exploração econômica. O objetivo é ampliar a capacidade de carga do rio, aumentando a eficiência do sistema através de obras de derrocamento, dragagem, balizamento e sinalização. Obras importantes para a revitalização da bacia só estão contempladas no PAC. Apenas no PNLT e pós 2015 é que tem a recomendação de investimentos na melhoria das condições de navegabilidade dos Rios Grade e Corrente e a construção de um complexo intermodal.

• Portuário – no PNLT e no PAC a recomendação é aprimorar a infraestrutura já existente, com aumento da capacidade de carregamento (através de obras ampliação de cais e dragagem). No PAC as obras seriam realizadas apenas nos Portos de Salvador e Aratu, já no PNLT, obras também seriam realizadas no Porto de Ilhéus. Mais uma vez, apenas o PNLT inclui obras que favorecem a intermodalidade, bem como há a recomendação da instalação de terminal de armazenagem de grãos no Porto de Aratu. Tais obras resolveriam o problema das filas de atracação e de perda de carga para outros portos.

• Rodoviário – No PNLT e no PAC estão recomendadas obras em diversas rodovias para solucionar o problema de elos faltantes, da capacidade de carga e recuperação de suas vias. No PNLT não foram recomendadas obras de construção de pontes, mas algumas foram incluídas no PAC, que compreende também o controle de velocidade, manutenção e sinalização das vias em geral.

• Aeroportuário – no PNLT as obras recomendadas se concentram em dois aeroportos: Porto Seguro e Salvador. Com obras de construção e ampliação das estruturas. Mas nada trata do Aeroporto de Ilhéus e de outros aeroportos regionais. No PAC a única obra elencada foi a ampliação e readequação do sistema viário de acesso ao Aeroporto de Salvador. As obras mais importantes de recuperar e ampliar a capacidade do Aeroporto de Salvador e a construção de um novo aeroporto em Ilhéus, que irá operar em conjunto com a Zona de Processamento de Exportação (ZPE), estão previstas para depois de 2010.

Quanto ao gargalo enfrentado pela produção na hora de trabalhar em multimodal, só o PNLT prevê a construção dos Centros Logísticos Intermodais em diversos municípios, mas apenas para o período pós 2010. No entanto o PAC não contempla tais obras.

Pelo exposto pôde-se notar que apesar da importância da realização de investimentos em infraestrutura de transporte, ele ainda é insuficiente para superar todos os gargalos de anos de baixos investimentos. Ainda se tem muito que fazer, e o Governo já demonstrou que está ciente disto, pois foi incluido no PAC indicativos de investimentos pós 2010 e em março de 2010 foi lançado a segunda versão do PAC, o chamado PAC 2, mesmo em meio a criticas, em virtude de a primeira versão do PAC ainda ter muitas obras atrasadas.

A continuidade dos investimentos e seu ritmo ainda estarão dependentes do resultado das eleições deste ano (2010). Mas acredita-se que independentemente de quem vença o pleito eleitoral, não poderá deixar de investir em infraestrutura, por ser uma questão crucial para o crescimento do país.

Apesar de o PAC enfrentar dificuldades quanto ao andamento de sua execução, com atrasos significativos no seu cronograma (com apenas 32% das obras já concluídas), ainda assim a existência de tais previsões de investimentos já é capaz de estimular o investimento privado no Estado da Bahia, como destacado pela reportagem da Revista Valor Estados Bahia de maio de 2010, intitulado Uma economia alguns graus acima da média. Segundo a matéria, o fato de já ter começado os investimentos em infraestrutura no Estado e existir previsões de outros investimentos futuros motivaram projetos da iniciativa privada na ordem de R$ 73,8 bilhões até 2013, correspondente a 534 projetos de empresas que pretendem se instalar no Estado nos próximos anos. Estes projetos, se concretizados, serão capazes de criar algo em torno de 130 mil novos empregos.

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