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Al Gore é verdadeiro. Acredita na sua verdade, que revela com a emoção de quem a quer partilhar com os outros, de quem quer persuadir e tornar a sua opinião uma opinião comum. Por isso, porque a sua verdade parte da esfera privada, a esfera da sensibilidade, ele é verdadeiro. A partir da mesmidade da Terra, Al Gore procura o encontro entre a verdade e a opinião. A urgência planetária das alterações climáticas requer esta abordagem emocional, assumindo a opinião privada de Al Gore como verdade pública, que Al Gore abraça de corpo e alma, numa entrega ao mundo, em nome da Terra. A afirmação de um político, que se dirige a cada um na sua singularidade, a partir de um palco global, muito para além do seu país. Porque a crise ambiental é responsabilidade de todos.

Godard, ao contrário de Al Gore, parte do mundo para o mundo, colocando diferentes cidadãos na única cidade em reconstrução. O cineasta convida o espectador para uma dialéctica, através da qual promove, naquele que nela participa, a faculdade de juízo, a mais política das actividades mentais. A reconciliação com o mundo é feita, aqui, através da acção e do discurso, ou seja, da verdade, a partir das singularidades de cada um. Godard procura fazer coincidir a esfera pública com a esfera política que, no cenário apresentado, estão distantes. O campo da política é o do diálogo no plural, que acontece num mundo que é público, onde a palavra e a acção são a expressão da liberdade. Quando assim é, esfera pública e esfera política são uma e a mesma coisa e representam o lugar do ser humano, onde o ponto mais elevado traduz a humanitas. Porque a crise civilizacional é responsabilidade de todos.

Arendt parte do mundo e da Terra, quando nos olha, com a retrospecção do historiador e o zelo analítico do cientista político, a partir de um ponto arquimediano. Desapaixonada na análise mas apaixonada pelo mundo. Amar

o mundo é pertencer-lhe, senti-lo fenomenologicamente nas mais pequenas coisas. Distinguir ideias, fenómenos, contar histórias, ouvir histórias, estar com os outros, expressar emoções; distinguir a naturalidade dos elementos, os cheiros, os sons, as texturas, os movimentos, os equilíbrios, os rituais, a diversidade de cores e formas, tudo isto são diferentes maneiras de sentirmos o mundo e a natureza como o nosso lugar.

Arendt parte do mundo para chegar à Terra, às condições da existência humana que são a vida e o planeta Terra, a natalidade e a mortalidade, a mundanidade e a pluralidade. A pluralidade, como força para a mudança, é a base da sustentabilidade da humanidade. É esta a sua (nossa) verdade.

FILMOGRAFIA

Notre Musique, 80 minutos, França, 2004, Estúdio: Les Films Alain Sarde /

Canal+ / TSR / Vega Film AG / Avventura Films / Peripheria / France 3 Cinéma , Distribuição: Wellspring Media, Produção: Alain Sarde e Ruth Waldburger, Música: Julien Hirsch, Direção de Arte: Anne-Marie Miéville, Direcção, Roteiro e Edição: Jean-Luc Godard. Intérpretes: Sarah Adler, Nade Dieu, Rony Kramer, lean-Christophe Bouvet, Juan Goytisolo, Mahmoud Darwich, George Aguilar, Letícia Gutierrez,Ferlyn Brass, Jean- Paul Curnier, Pierre Bergounioux e Gilles Pecqueux. Estreia em Portugal em 2006.

An Inconvenient Truth, 100 minutos, EUA, 2006, Estúdios: Paramount

Classics/Participant Produtions; Distribuição: Paramount Classics / UIP; Direcção e Realização: David Guggenheim; Produção: Laurie David, Lawrence Bender e Scott Z. Burns; Jeff Skoll e David Guggenheim; Leslie Chilcott. Edição: Jay Lash Cassidy e Dan Swietlik; Intérprete: Al Gore; Música: Michael Brook e Melissa Etheridge; Estreia em Portugal em 2006.

BIBLIOGRAFIA

Livros de Hannah Arendt:

________ Der Liebesbegriff bei Augustin, (1ª ed., 1929); versão inglesa, Chicago, The University of Chicago Press, 1996.

________ The Origins of Totalitarianism, 6ª ed., New York, Harcourt Brace & Co, 1968, (1ª ed. 1951); trad. port. de Roberto Raposo, As Origens do Totalitarismo, Lisboa, Publicações D. Quixote, 2004.

________ Essays in Understanding, 1930-1954,sd; trad. port. de Miguel Serras Pereira, Compreensão e Política e outros ensaios, Antropos, Lisboa, Relógio D’Água Editores, 2001.

________ The Human Condition, 2ª ed., Chicago, The University of Chicago Press, 1998, (1ª ed. 1958); trad. port. de Roberto Raposo, A Condição Humana, Lisboa, Relógio D’Água Editores, 2001.

________ Rahel Varnhagen, The Life of a Jewess, London, East and West Library, 1958.

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Outras obras:

BECKERT, Cristina, (org), Ética Ambiental – uma ética para o futuro, Lisboa, Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, 2003.

FERRY, Luc e VINCENT, Jean-Didier, Qu’est-ce que l’Homme?, 2000, trad. port. de Marcelo Corrêa Ribeiro, O que é o Homem? Sobre os Fundamentos da Biologia e da Filosofia, Porto, ASA Editores, 2003. GIL, José, Portugal Hoje, O medo de Existir, Argumentos, Lisboa, Relógio D’Água Editores, 2005.

KANT, Immanuel,... ; trad. Port. de António Marques e Valério Rohden, Crítica da Faculdade do Juízo, Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1992.

STEINER, George, The Idea of Europe, 2004; trad. port. de Maria de Fátima St. Aubyn, A Ideia de Europa, Lisboa, Gradiva, 2005.

SOROMENHO-MARQUES, Viriato, A era da cidadania, de Maquiavel a Jefferson, Biblioteca Univeritária, Men Martins, Publicações Europa- -América, 1996.

__________ O Futuro Frágil: Os Desafios da Crise Global do Ambiente, Estudos e Documentos, Men Martins, Publicações Europa-América, 1998. __________ Metamorfoses, Entre o colapso e o desenvolvimento

sustentável, Biblioteca das Ideias, Men Martins, Publicações Europa- -América, 2005.

Artigo no prelo

BECKERT, Cristina, O regresso a casa, entre a terra e o mundo, comunicação apresentada no Colóquio Comemorativo do Centenário do Nascimento de Hannah Arendt, Hannah Arendt, Luz e Sombra, realizado nos dias 11 e 12 de Janeiro de 2007, na Faculdade de Letras Universidade de Lisboa.