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A partir dos anos 70 iniciou-se o processo de modernização da agricultura no Rio Grande do Norte, tendo por base políticas de infraestrutura, com destaque para construção da irrigação pública e privada. Com destaque para a vinda de empresas pautadas na produção da fruticultura irrigada, como a MAISA e a FRUNORTE. Apenas a partir da década de 1990 a agricultura familiar passou a contar com políticas específicas de desenvolvimento rural, com o objetivo de fortalecer a sua produção, entre as quais se incluíram o PRONAF, em 1996, e posteriormente o PAA, em 2003, e o direcionamento do PNAE para aquisição da produção da agricultura familiar, em 2006, o que contribuiu para criar alternativas de mercado institucional no âmbito da Política Nacional de Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais, de 2006.

Uma análise mais aprofundada do atual sistema agroalimentar globalizado permitiu observar que os mercados de alimentos não estão totalmente industrializados e padronizados como se pensava até o final do século passado. Essa condição é reflexo, dentre outras coisas, da crescente preocupação dos consumidores com a segurança alimentar, com os locais de produção e com os processos produtivos, o que acabou reforçando alguns valores relacionados à qualidade e à procedência do produto. A partir daí, passaram a ser considerados novos atributos nos produtos, além do preço e da conformidade, buscando e priorizando as mercadorias que contemplem valores tradicionais, ecológicos, cívicos, artesanais que são mais apropriados para a agricultura familiar.

Sob esse contexto, foram analisadas experiências da agricultura familiar e da agricultura empresarial. O primeiro grupo se apoderou da crescente valorização dos produtos locais diferenciados, somado ao desenvolvimento de políticas públicas para agricultura familiar, e acabou encontrando uma nova possibilidade de acesso aos mercados. No entanto, apesar desses mercados, são cada vez mais rigorosas as exigências estabelecidas pela política sanitária. Na realidade, as exigências sanitárias, são barreiras e condições impostas pelas organizações ligadas ao comércio internacional, que refletem na regulamentação interna, e, inclusive, nas condições de produção, processamento e distribuição dos produtos em geral da agricultura familiar. Ao longo do trabalho foi apontado como um grande entrave tanto para o acesso ao mercado institucional, assim como, para exportação dos produtos originados da agricultura familiar. Além da barreira imposta pela política sanitária, tem-se a ausência de assistência técnica ofertada pelo estado e o pouco crédito, o que torna a êxito dessas experiências um desafio ainda maior para esses agricultores.

É necessário destacar que entre os relatos, aqueles que são fruto da reforma agrária ainda são as que mais sofrem. Dado os muitos entraves que a política de reforma agrária ainda não foi capaz de superar. Com uma agricultura baseada em feijão, milho e mandioca, somada aos últimos anos de seca e a completa ausência de assistência técnica, esses agricultores ainda sofrem para se encaixarem nos atuais moldes do sistema agroalimentar. O que garante a sobrevivência, para boa parte dessas famílias, são as políticas sociais, com destaque para bolsa família e a aposentadoria rural.

A agricultura empresarial tem conquistado um espaço ainda maior. A produção de melão por parte da Agrícola Famosa e Copyfruit tem buscado na inovação e no cumprimento das exigências internacionais manter-se no mercado externo, sendo uma saída para continuar crescendo durante o período de crise no mercado nacional. O vasto acesso ao crédito garante a esses produtores condições de expandirem as suas produções, como tem feito a Agrícola Famosa e a Copyfruit, dessa forma, conseguido alcançar um número cada vez maior de compradores, adentrando agora no mercado asiático. Todavia, essas empresas mostram claros problemas de infraestrutura para expansão da produção dentro do Rio Grande do Norte, principalmente no que desrespeito ao escoamento dos seus produtos. Apesar da produção ser em grande escala, esses produtores encontram nas certificações internacionais um meio de agregar valor aos seus produtos.

Ainda no grupo empresarial, tem-se a Hortaviva, empresa certificada de produtos orgânicos. Ela é especializada em circuitos curtos, abastecendo os principais supermercados da cidade, assim como, lojas especializadas em produtos orgânicos. A conquista da certificação, garantiu ao empresário adentrar em um mercado que só tende a expandir, dada as exigências dos consumidores, que estão buscando produtos que garantam qualidade de vida, longevidade e sejam sustentáveis. Apesar do proprietário não destacar a relevância das políticas públicas para o seu êxito, é necessário destacar a atuação do Sebrae, assim como o acesso a política de tarifa verde e o uso da infraestrutura do estado para escoar a sua produção.

Não seria possível que as experiências analisadas ao longo deste trabalho encontrassem êxito, sem o apoio das políticas públicas. Todavia, é necessário destacar que esses agricultores e empresários, ainda carecem de um estado mais eficiente, que possa assegurá-los assistência técnica de qualidade, assim como melhores condições de infraestrutura. Também é evidente, que as políticas públicas destinadas a agricultora familiar, ainda que tenha sido um marco as suas criações, ainda apresentam grandes disparidades quando comparadas com a agricultura empresarial, com destaque para diferença do montante destinado ao crédito, em que para agricultura familiar representou durante esse ano 30 bilhões de reais e para agricultura

empresarial 185 bilhões de reais. Diante disso, o êxito para a produção familiar ainda é um constante desafio.

Para próximas pesquisas, faz-se necessário explorar a discussão dessas experiências além de uma perspectiva normativa, levando em consideração a relevância dos atuais estudos sobre o território, enfatizando o papel da teoria da interação social para compreensão do sistema agroalimentar no Rio Grande do Norte.

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