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QUADRO SINÓPTICO DAS PRINCIP

5.0 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Do ponto de vista da constituição de uma rede de Educação Profissional o Plano ganha uma grande visibilidade dentro do Estado e no cenário nacional, de fato buscar a organização de uma rede de preparação para o mundo do trabalho é bastante salutar.

Contudo, existe uma série de questões que necessitam de um maior amadurecimento, já que um planejamento bem orientado é um dos passos fundamentais para a proposição com clareza das metas, o que poderá contribuir para a sua consecução.

Em primeiro lugar, é nítido que o Plano é redigido sem uma contextualização histórica, desconsiderando a trajetória da Educação Profissional na Bahia, seus percalços e limites, bem como não se apontam as medidas empreendidas para obter a superação dessa escola dual como se tem vivenciado no Brasil desde os seus primórdios, e, por conseguinte, nos estados brasileiros, onde a Bahia está incluída. É certo que muito já se avançou, mas ainda há muito a fazer, já que os processos de exclusão tem se intensificado diante da acumulação flexível, que é aspecto inerente à economia numa perspectiva neoliberal.

Não foram apontados os encaminhamentos e o posicionamento do estado na elaboração de políticas públicas para a Educação Profissional diante do contexto de reformulação legislativa que se vivencia no Brasil desde o processo de elaboração da LDB, Lei 9.394/96 até a reforma da Educação Profissional estabelecida pelo Decreto 5.154/04. Diferente da Bahia, o Estado do Paraná elaborou um documento para a Educação Profissional denominado de “Fundamentos Políticos e Pedagógicos da Educação Profissional do Paraná”, que faz toda uma contextualização histórica tanto do ponto de vista social e econômico assim como na perspectiva legislativa.

A desconsideração do aspecto histórico revela que o enfrentamento da problemática em torno da educação para o trabalho se limitou apenas à esfera pedagógica, como se o Plano isoladamente pudesse dar conta de resolver as vicissitudes dessa área. Ao não tratar das questões sociais houve uma tentativa de desvincular a problemática de sua raiz histórica que é divisão social e técnica do trabalho como fruto da sociedade de classes. Sem se apontar esses elementos dificilmente se caminhará para a compreensão sobre a fragmentação a que vem sendo submetida a Educação Profissional, e por conseguinte a obtenção da superação dessa dualidade. É aí que aderindo a essa visão a-crítica o Plano sofreu um esvaziamento teórico.

Outro ponto a ser considerado é a necessidade de que as categorias conceituais que dão subsídio ao Plano sejam revistas, pois não há uma elucidação quanto aos conteúdos que

abarcam, ou mesmo uma discussão aprofundada da inter-relação dos conceitos apresentados. Nessa perspectiva não está especificado no Plano o arcabouço teórico utilizado e nem se faz referência à legislação nacional a que pretende se adequar.

Entende-se como de uma profunda gravidade que uma política pública esteja pautada numa falta de clareza quanto aos pressupostos que a embasam. O silenciamento que não revela o posicionamento assumido, longe de nada dizer, aponta para uma inércia que é própria de quem nada deseja mudar ou fazer.

Essa atitude certamente compromete o delineamento da concepção pedagógica e a compreensão sobre o tipo de indivíduo que se pretende formar, pois não havendo clareza sobre que objetivos atingir qualquer resultado obtido será suficiente. Quando não está colocada de forma clara a concepção de sociedade e de escola que o Estado defende, não será possível que os cidadãos se posicionem contra ou favor, ou mesmo que possam cobrar o que está proposto. Desse modo, é necessário que a sociedade civil se posicione a fim a exigir que o Estado exponha claramente as metas para o ensino, uma vez o desconhecimento destas poderá incorrer na aceitação de qualquer resultado.

Nessa perspectiva não se expressou no Plano em que medida há um comprometimento com a implantação de um sistema nacional de educação com vistas à implantação de um ensino integrado, onde Educação Profissional e Básica seja uma unidade indissolúvel. Existe uma previsão de oferta de cursos integrados, mas isso é diferente de garantir que toda a população possa ser preparada, conforme estabelece a LDB 9.394/96, para ingressar no mundo do trabalho estando instrumentalizada nos conhecimentos científicos e tecnológicos.

Ainda há que se avançar na implantação desse sistema se de fato o objetivo for garantir a inserção igualitária no mundo do trabalho para os sujeitos de direito. Sem discutir a Escola Básica e seus pressupostos certamente não se avançará nos encaminhamentos de uma Educação para o trabalho. É preciso resgatar os princípios politécnicos para a construção de uma escola unitária e emancipadora, onde de fato os aprendizes construam o conhecimento compreendendo que a produção do saber é fruto do processo histórico da divisão social do trabalho, sendo seres autônomos e não apenas reprodutores de informações desarticuladas.

Certamente, a implantação de um sistema de ensino de formação integral não é tarefa de fácil concretização, pois a raiz do problema está além de um projeto pedagógico bem formulado, mas nos condicionantes sociais baseados no capital que tem impedido uma educação igualitária, dentre outros direitos sociais.

Desse modo, é preciso discutir as determinações sociais que tem influenciado na constituição da escola dual que se conhece no Brasil, ao passo que é preciso uma vontade e comprometimento político com a verdadeira mudança. Entenda-se por mudança aquela que não seja terminológica, ou aparente, mas a que garanta igualdade e justiça social para todos, onde educação e trabalho sejam não mais produtos adquiridos no mercado, mas direitos inegociáveis para cada cidadão e cidadã brasileiros.

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