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CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES

Os dados da pesquisa, na perspectiva das três dimensões analisadas: visão dos cursistas, visão dos gestores escolares e visão dos docentes universitários, apontam que os professores avançaram nos posicionamentos pedagógicos, no planejamento de suas aulas, na intervenção didática com os alunos que necessitam de atenção especial, na participação em reuniões de coordenação pedagógica, a partir da implantação do Projeto Professor Nota 10, política de formação continuada da Secretaria de Educação do Distrito Federal.

Observou-se que o trabalho docente não é mais visto, nem sentido por esses professores que fizeram o curso de Pedagogia para Início de Escolarização, como um meio exclusivo para se conseguir a sobrevivência. Ficou evidente que os professores aliam o desempenho profissional com o seu salário. Tinham plena consciência de que o curso superior proporcionaria o aumento dos vencimentos, mas antes de tudo, demonstraram significados éticos, sociais e um caráter de movimento ativo - pontos essenciais colocados por Marques (1992).

Os dados obtidos na pesquisa revelaram mudanças na atuação profissional do professor quando eles passam a se envolver nas discussões e na construção do projeto pedagógico da escola, com o embasamento teórico adquirido, em grande parte, no curso superior em pauta.

É importante ressaltar algumas idéias lançadas por Imbernón (2001) as quais desenham uma coerência com os resultados obtidos na pesquisa.

... é necessária uma renovação da instituição educativa que perpassa pela redefinição da profissão docente (...) um novo mundo requer um novo profissional da educação... (p.12).

... para ser profissional é preciso ter autonomia, poder de tomar decisões sobre os problemas profissionais da prática (...) capacidade de se adequar aos novos contextos (...) de analisar a educação como um compromisso político. (p.13).

... A formação assume um papel que transcende o ensino, sai da mera atualização científica, pedagógica e didática e se transforma na possibilidade de criar espaços de participação e reflexão. (p. 15).

Imbernón, ainda, afirma que “... o conhecimento é tão importante quanto as atitudes.” (2001 p. 16), o que vem corroborar com a nova postura dos professores, citadas pelos gestores escolares e pelos docentes universitários.

Apesar de os professores terem avançado bastante na questão pedagógica, ainda não houve avanço no que se refere à participação nas decisões da escola. Observou-se que uma parte dos professores ainda sente dificuldade de colocar-se frente à gestão da escola. Quando esses dados aparecem na pesquisa, fica explicitado que se deve ao tradicionalismo da direção da escola. Grande parte dos professores, mesmo com maior conhecimento, ainda não consegue participar da gestão, ficando alheios às decisões da direção.

Outro ponto que se destacou, como necessitando de um olhar mais direcionado, foi que os professores não consideraram o curso como desencadeante de novas aprendizagens na área da multimídia, principalmente quanto ao uso do computador. É bem verdade que o currículo do curso abordava o uso das tecnologias contemporâneas, entretanto não satisfez à demanda dos cursistas.

Há que se revelar o seguinte: em uma das instituições os laboratórios de informática usados no curso foram os da rede pública que, em sua maioria, tinham equipamentos obsoletos, mas na outra instituição os laboratórios eram atualizados. Isso comprova que não foi o tipo de máquinas que influenciou, mas efetivamente, como se conduziu a prática da informática na programação do curso. O fato é que não houve mudanças significativas nesse contexto. Pode ter sido por não perceberem as possibilidades práticas do uso da informática para a aprendizagem do aluno.

Ficou evidente como o projeto contribuiu para o desenvolvimento da profissionalização dos professores. Pode-se afirmar, pelos resultados da pesquisa, que a política de formação continuada, em serviço, o Projeto Professor Nota 10, contribuiu para mudanças e avanços dos professores no sentido do maior envolvimento, comprometimento, bem como na maior conscientização de seu papel enquanto profissional da educação.

O que pode ser considerado como ponto propulsor do sucesso do projeto, no que diz respeito aos avanços da prática pedagógica dos professores, não foi apenas o fato de cursarem um curso superior, mas sim a metodologia adotada, que aliava a teoria à prática.

O Projeto Professor Nota 10 exigiu que os professores, para participarem do curso de Pedagogia, estivessem em sala de aula. Este foi um ponto que pode ser considerado fundamental para o êxito do projeto. Dessa forma, a difícil relação teoria e prática, tão incompreendida nos cursos me geral, se deu desde o início da Licenciatura. Os cursistas pesquisados afirmaram que a partir da Pedagogia para Início de Escolarização passaram a entender o processo pedagógico, pois a teoria trabalhada na faculdade era imediatamente aplicada em sala de aula.

O fato de os professores cursarem a Licenciatura, em serviço, no horário da coordenação pedagógica, concomitante aos trabalhos na escola, tendo a chance de discutir as novas aprendizagens com os colegas e fazer a transposição didática quase que de imediato, foi determinante para os avanços dos professores.

O Projeto Professor Nota 10, pelos resultados apontados na pesquisa, indica que o Distrito Federal adotou uma política de formação de professores que apresentou uma nova prática de formação continuada, aliando à vivência acadêmica a vivência de sala de aula, tendo em vista a metodologia adotada, na formação superior em serviço.

Em outros momentos históricos da educação do Distrito Federal já haviam sido implantados projetos e programas que oportunizaram aos professores a elevação de seu nível de escolaridade, descritos no corpo da dissertação.

Entretanto, o desenho de um curso superior no horário do trabalho, com dispensa autorizada para freqüentar o curso, como uma atividade efetiva de coordenação pedagógica, somente foi observado nesse projeto, foco desta pesquisa.

Talvez este tenha sido o fator propulsor para o êxito dos professores no desenvolvimento de sua prática pedagógica, a partir do projeto em pauta.

Nas diferentes visões dos professores cursistas, dos gestores escolares e dos docentes das Faculdades, as mudanças foram significativas no que diz respeito aos itens pedagógicos.

Todavia, quanto ao aspecto da gestão escolar, as opiniões dos professores divergiram, mas não em número significativo. Os professores ainda não conseguem participar efetivamente da gestão escolar. Por mais envolvimento que os professores

passaram a ter nas discussões e decisões colegiadas, os dados indicam que estão ainda muito tímidas.

Na opinião dos professores, poderiam prestar maiores colaborações se as direções das escolas fossem mais abertas, dessem mais chances à participação dos professores.

Segundo Marques (1992), a formação pedagógica, mesmo numa perspectiva preparatória, ainda mais em se tratando de habilitação específica, não deveria prescindir de uma inserção das questões profissionais bem como deveria estar centrada em núcleos éticos e políticos, atentando para as atividades globais da escola, como sua própria gestão.

Uma constatação surpreendente é que mesmo ampliando os seus conhecimentos, construídos no curso de pedagogia, os professores não conseguem romper o bloqueio nas administrações tradicionalistas e fechadas. Esperava-se que, ao deter maiores conhecimentos, a argumentação seria mais eficaz.

Esse descompasso pode ser também por receio de contestar a direção, como poder constituído. Isso poderá ser matéria para outro estudo.

O que se quer (...) independentemente desta ou daquela instância de formação, é o resgate da dignidade e a valorização do profissional que se dedica ao ensino fundamental. (MARQUES, 1992. p. 186).

Se houve maior e melhor qualificação dos professores, é natural que esses venham a se interessar mais pelas questões da escola, de seu ambiente de trabalho e queiram participar ativamente das decisões colegiadas.

Recomenda-se que cursos voltados para a gestão escolar sejam abertos aos professores. Há que se investir mais no campo da gestão da escola.

Um fator surpreendente, cuja investigação não foi prevista, em nenhum momento, foi o crescimento das duas instituições de educação superior, com o Projeto Professor Nota 10. O projeto provocou reflexões e atitudes de integração entre os diversos setores e faculdades das instituições. Esse acontecimento diferencial nas instituições, tanto na particular quanto na pública, poderá apontar novos rumos e abrir um campo de pesquisa no sentido de revelar pontos de interesse comuns entre os departamentos e faculdades de um centro acadêmico.

Apesar da implantação de políticas favoráveis à melhoria da educação, ainda são preocupantes os dados educacionais. Dados foram publicados na edição do dia 8 de maio de 2006, do Correio Braziliense, jornal de grande circulação no Distrito Federal, na matéria do artigo “O Quadro se Repete”, ficando evidente que os esforços não estão sendo eficazes para o alcance de melhores resultados, como se constata abaixo:

De acordo com a Síntese de Indicadores Sociais do IBGE, na 1ª série do ensino fundamental, cerca de 16,7% dos alunos têm dois anos de idade a mais do que o recomendado (7 anos) (...) Dados da Secretaria de Educação do Distrito Federal mostram que a distorção idade-série entre os alunos de 1ª a 4ª série do ensino fundamental chega a 21,93%. (CORREIO BRAZILIENSE, 2006).

No mesmo artigo, a Subsecretária de Educação Pública, da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal, admite que os números comprovam uma realidade dura, que decorre da história educacional brasileira e afirma: “Há muitas causas para a defasagem: a entrada tardia na escola, a reprovação, os problemas

sociais em decorrência da necessidade de trabalhar (...) o abandono”. (FERRARI, 2006).

Ciente dessas questões, a Secretaria de Educação vem desenvolvendo uma série de projetos que incentivam a matrícula na idade adequada. Vários são os projetos voltados especificamente para o problema da distorção idade-série: “Quanto mais cedo melhor”; “A escola bate à sua porta”; “Aceleração da aprendizagem”.

Se o Distrito Federal atingiu a meta de capacitar todos os professores que atuam em classes de 1ª a 4ª série do ensino fundamental e da educação infantil com curso superior – Pedagogia para Início de Escolarização, espera-se que o quadro acima descrito venha a ser referência do passado, daqui a alguns anos.

O Projeto Professor Nota 10 pode ser considerado pelo governo do Distrito Federal como um valioso recurso para elevar o aproveitamento dos alunos das séries iniciais, diminuindo, quem sabe, os índices negativos atualmente em evidência.

Do ponto de vista dos resultados educacionais, se a formação dos professores investigada nesta pesquisa foi eficaz, como sinalizam os dados, deverá haver alguma mudança nos índices de forma geral, levando em consideração que trabalhando melhor as quatro primeiras séries do ensino fundamental, toda a educação básica será compensada, no decorrer do processo de ensino e de aprendizagem.

Não há ensino de qualidade sem uma adequada formação de professores. Os fatores que interferem na educação como os econômicos, sociais, materiais, humanos, históricos, culturais, têm a sua proporcionalidade nos resultados

educacionais, não tanto quanto à qualificação dos profissionais que nela atuam. Nóvoa (1995) se reporta àEusébio Tamagnini :

... se o currículo deve indiscutivelmente considerar-se de competência do estado, o mesmo não se pode afirmar dos programas dos cursos que devem constituir atribuição exclusiva dos corpos docentes. O Estado organiza o plano geral dos estudos, formula os objetivos a realizar, mas aos professores e, só a eles, compete a organização dos programas dos cursos, isto é, a seleção das matérias, a concretização dos exemplos e a escolha dos métodos e processos adequados à realização dos fins que se tem em vista. (NÓVOA, p. 17. 1995).

Esse pensamento corrobora plenamente com a liberdade que as instituições envolvidas tiveram para desenvolver o currículo do curso de Pedagogia para Início de Escolarização, solicitado pela Secretaria de Educação do DF.

O fato é que, segundo informações de técnicos da Escola de Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação - EAPE, o Governo do Distrito Federal, embora tendo financiado o projeto especial de formação continuada, não interferiu na condução do projeto, deixando que as duas instituições seguissem suas normas próprias, sem, contudo, ferir a proposta inicial da Secretaria de Educação.

Para se considerar uma formação de professores equilibrada há que se aliar alguns aspectos importantes como: o desenvolvimento profissional e o desenvolvimento pessoal, na perspectiva dos projetos das escolas. (Nóvoa, 1995). Nesse sentido, a formação de professores, mediante o Projeto Professor Nota 10, pelas evidências, desempenhou um papel relevante na construção de uma nova

identidade docente, estimulando a construção de um novo olhar para o entendimento do papel do professor na sociedade contemporânea.

Pode-se considerar que o projeto em pauta forneceu aos professores os meios para desenvolver, com autonomia e de forma crítica, seus pensamentos, suas teorias e suas práticas. As duas instituições envolvidas, ambas, apresentaram resultados positivos nesse aspecto, o que corrobora mais ainda a relevância do projeto.

Observa-se que o projeto em questão desencadeou um olhar crítico-reflexivo sobre o papel sócio-político do professor no contexto educacional. Pela indicação dos dados da pesquisa, os professores estão voltados não somente para a sua prática pedagógica, mas essencialmente para a sua formação profissional como um todo.

“... a formação não se faz antes da mudança, faz-se durante, produz-se nesse esforço de inovação e de procura dos melhores percursos para a transformação da escola.” (NÓVOA, 1995. p. 28). Nessa dimensão, entende-se que o projeto contribuiu muito para um novo olhar dos professores na perspectiva de que fazem parte do processo educacional, são partícipes ativos nos resultados de seus alunos, são responsáveis pelos índices de aproveitamento escolar.

De acordo com o especialista Nóvoa (1995), todo o processo de formação implica um projeto de ação e de transformação. E nesse sentido, há indicativos de que a proposta de formação continuada do Projeto Professor Nota 10 causou impacto ao desencadear um processo de transformação nos professores que vivenciaram o referido projeto.

Uma questão identificada e que inspira reflexões por parte do Sistema foi a de que a gestão escolar ainda se mostra fechada aos trabalhos participativos. Os professores que estavam no curso de Pedagogia para Início de Escolarização passaram a vislumbrar a possibilidade de participarem do Projeto Político Pedagógico - PPP da escola. E sentiram, na pele, o tradicionalismo, o conservadorismo e a cultura de que o professor não faz parte da gestão.

No que diz respeito à LDB (Arts. 62 e 87), está evidente que não havia exigência de os professores que já estivessem no Sistema, atuando nas séries iniciais do ensino fundamental e na educação infantil, por ingresso mediante concurso público, de terem o nível superior para se manterem no cargo. A exigência é para os professores que irão ingressar nos Sistemas de Ensino, a partir da Década da Educação.

Assim, entende-se que o Projeto Professor Nota 10 não foi um mero cumprimento da LDB. Percebe-se que houve uma atitude política de melhoria da educação, tendo como foco a maior qualificação dos professores, o que merece destaque.

Apesar do devido destaque ao projeto, não se deve permanecer neste patamar. A formação é permanente e os professores devem reivindicar novos projetos e programas de aperfeiçoamento profissional, bem como o governo do Distrito Federal deve estar atento às necessidades dos professores de atualização constante.

A demanda pela pós-graduação, com certeza, será latente nesses professores que concluíram ou estão concluindo a licenciatura plena, curso de Pedagogia para Início de Escolarização – Projeto Professor Nota 10.

Há que se estabelecer programas que desenvolvam ações voltadas para a gestão participativa, na perspectiva de maior integração entre professores e direção da escola. Como ficou comprovado, os diretores das escolas ainda permanecem em clausura administrativa.

Com a gestão participativa, isto é, todos em busca dos mesmos objetivos, professores e direção, pode-se chegar a resultados educacionais mais expressivos. Uma gestão participativa, com certeza, gera responsabilidades de todos os envolvidos.

Se os programas dos cursos acadêmicos ainda não contemplam esses requisitos, a formação continuada passa a ter uma responsabilidade maior. Assim, as políticas públicas definidas pela Secretaria de Estado de Educação deverão contemplar os vácuos deixados pelas universidades.

Outro ponto a recomendar é que os programas de cursos de formação continuada para professores dediquem mais tempo e praticidade à multimídia, principalmente quanto ao uso de computador como recurso didático no processo educacional. Os professores se ressentem de aprendizagens neste campo, conforme pode ser detectado neste estudo.

Em suma, a pesquisa alcançou os objetivos, ao identificar os avanços dos professores que passaram pelo Projeto Professor Nota 10 no que diz respeito à prática pedagógica. Identificou, também, pontos que necessitam de atenção por parte da Secretaria de Educação como um trabalho mais expressivo na área de gestão da escola para que os professores estejam mais envolvidos nas decisões colegiadas. O projeto, pela sua abrangência e metodologia, pode ser considerado uma prática avançada e de impacto na política de formação de professores.

Embora a pesquisa não tenha focado as questões internas das instituições de ensino superior, desencadeadas pela implantação do Projeto Professor Nota 10, foi observada uma disposição para mudanças de paradigmas na prática de formação de professores nessas instituições, o que merece ser investigado, posteriormente, em outro estudo.

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