• Nenhum resultado encontrado

TECNOLOGIA SOCIAL

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As tecnologias sociais voltadas para o bem-estar de famílias em situação de vulnerabilidade social e para a educação familiar no cuidado e educação das crianças e adolescentes ainda são escassas no Brasil. As poucas que operam são voltadas para a saúde física ou fi - nanceira da família. São raros os mecanismos de apoio e proteção e muitos deles poderiam estar associados a outros segmentos sociais tais como a escola, posto de saúde, igrejas etc. Nesse sentido, deve-se rei- terar que não se pode afi rmar que as áreas da educação ou psicologia

tenham apresentado propostas efetivas em nível de políticas para o atendimento familiar.

Assim, cada vez mais se tem discutido a necessidade de apoiar ao invés de regular as funções familiares. Ou seja, “o Estado não pode substituir a família. Portanto, a família tem de ser ajudada”. Ademais, não se pode “falar de políticas públicas sem abordar a necessidade de parceria com a família” (Gomes & Pereira, 2005, p. 363). Em linha com essa ideia de cunho ecológico e sistêmico, o argumento deste ca- pítulo é que quaisquer intervenções com famílias devem ser em rede e apoiadas pela rede de segmentos sociais, o que alinha com as inciativas classifi cadas como tecnologias sociais. Sob esse aspecto, constata-se que além de insufi ciente, o apoio para as famílias, em geral, tem sido executado de forma fragmentada e descoordenada. Como afi rma Fon- seca (2006), “parece raro o cuidado em considerar as suas necessidades como um todo, em apurar os efeitos das políticas sociais na vida das famílias e implicá-las nas ações, de forma ativa” (p. 6-7).

As experiências de intervenção social apresentadas neste ca- pítulo estão de acordo com as dimensões essenciais da tecnologia so- cial (ITS, 2007), pois correspondentemente à primeira dimensão, as ações têm como ponto de partida a identifi cação de problemas sociais relacionados à violência e difi culdades no exercício da parentalidade das famílias nas comunidades atendidas; a segunda dimensão propõe desenvolver a cidadania e a democracia com a participação efetiva dos grupos familiares e da rede de apoio social nas estratégias para a re- solução das problemáticas identifi cadas; a terceira dimensão da edu- cação, propõe estratégias e processos educativos como alternativa para o enfrentamento da violência e negligência; e a quarta dimensão da relevância social avalia a importância das intervenções para a promo- ção da resiliência das famílias participantes e para a qualifi cação dos serviços de apoio social envolvidos e atuantes nesses processos.

As experiências de intervenção mencionadas proporcionaram a construção de conhecimentos inovadores, para solucionar uma ne-

cessidade social, os quais podem ser caracterizados como Tecnologias Sociais de apoio e educação familiar. A partir do estudo dos conheci- mentos gerados e da implementação dessas tecnologias, as estratégias de intervenção comunitária foram organizadas e sistematizadas pelos pesquisadores em conjunto com os serviços sociais.

A aplicaçã o dessas tecnologias envolveu a participaçã o de am- plos setores da sociedade, inclusive das famí lias, utilizando metodo- logias participativas, trabalho em rede, construçã o coletiva e compar- tilhamento da atençã o. No momento em que se abriram espaços de diá logo e de orientaçã o, de apoio, de educaçã o, fez-se necessá rio tra- balhar as relaçõ es para diluir as resistências, os preconceitos, os medos, as relaçõ es de poder. A ló gica das teconologias sociais é propor o fazer com acompanhar, criar consensos possí veis, repensar, ir ao encontro, dialogar. Os espaços de construçã o coletiva apresentaram como carac- terí sticas a horizontalidade e a democracia.

No tocante à dimensã o educativa, as tecnologias sociais im- plementadas com famílias em situação de risco se caracterizam por possuírem um sentido pedagó gico que gera diversos aprendizados nos participantes e pesquisadores, pois promove, por meio de suas açõ es e aprendizados, o diá logo entre saberes populares e acadêmicos atravé s da constituiçã o de parcerias entre as instituiçõ es de ensino e as en- tidades e grupos que a compõ em, fomentando a apropriaçã o de sua metodologia pela populaçã o (profi ssionais, grupos, indiví duos da co- munidade), garantindo a sua permanência e continuidade.

Os estudos dessas intervenções foram unânimes em reconhe- cerem o seu impacto positivo, ao promoverem a resiliência familiar e comunitária com o fortalecimento das redes de apoio social, dos processos de educação de famí lias em situação de risco e a garantia do direito à convivência familiar e comunitá ria de crianças e adolescentes. A tecnologia social como estratégia de intervenção e estudo se apre- senta como proposta inovadora ao gerar alternativas de enfrentamen- to dos problemas familiares, comunitários e sociais.

Por fi m, esse capítulo argumenta que as tecnologias sociais podem ser objeto de estudo no campo da Psicologia Comunitária, por ser um fenômeno que movimenta sistemas sociais e produz respostas resolutivas sobre as inúmeras necessidades das populações em situação de vulnerabilidade.

REFERÊNCIAS

Bronfenbrenner, U. (1974). Developmental research, public policy, and the ecology of childhood. Child Development, 45, pp. 1-5.

Carvalho, L. (1998). Famílias chefi adas por mulheres: relevância para uma política social dirigida. Serviço Social e Sociedade, ano XIX, n.57. Cecconello, A. M. & Koller, S. (2003). Inserçã o ecoló gica na comunidade:

uma proposta para o estudo de famí lia em situaçã o de risco. Revista

Psicologia: Refl exã o e Crí tica, pp. 515-524.

Currie, J. & Th omas, D. (1995). Does Head Start Make a Diff erence Ame- rican Economic Review. American Economic Association, 85(3), pp. 341- 364.

Dagnino, R. & Th omas, H. (2001). Planejamento e políticas públicas de ino- vação: em direção a um marco de referência latino-americano. Planeja-

mento e Políticas Públicas, Brasília, n. 23, pp. 205-232.

Fonseca, M. T. N. M. (2006). Famílias e Políticas Públicas: Subsídios para a Formulação e Gestão das Políticas para Famílias. Pesquisas e Práticas

Psicossociais, 1(2), (1-13), São João del-Rei, dez., pp. 6-7.

Garcia, N. M. (2012). Educaçã o parental: Estraté gias de intervençã o protetiva

e as interfaces com a Educaçã o Ambiental. Tese (Doutorado em Educa-

çã o Ambiental). Programa de Pó s Graduaçã o em Educaçã o Ambiental, Universidade Federal do Rio Grande. Rio Grande do Sul.

Garcia, N. M., & Yunes, M. A. M. (2006). Resiliência familiar: baixa renda e monoparentalidade. In: Dell’Aglio, D.; Koller, S. H.; Yunes, M. A. (Org.). Resiliência e psicologia positiva: interfaces do risco à proteção. São Paulo: Casa do Psicólogo.

Garcia, N. M. & Yunes, M. A. M. (2015). Educação Familiar como proposta de investigação e intervenção em Educação Ambiental. Revista Ele-

trônica do Mestrado em Educação Ambiental, v. esp., pp. 105-120.

Garcia, N. M. ; Yunes, M. A. M. ; Lucas, L. B. & Garcia, S. F. (2010). Pro- gramas de educação familiar e suas contribuições para o exercício da parentalidade e cidadania. In: Claudio Simon Hutz. (Org.). Avanços

em Psicologia Comunitária e intervenções psicossociais, pp. 165-189. São

Paulo: Casa do Psicólogo.

Gomes, M. A. & Pereira, M. L. D. (2005). Família em situação de vulne- rabilidade social: uma questão de políticas públicas. Ciência & Saúde

Coletiva, 10(2), pp.357-363.

Instituto de Tecnologia Social – ITS. (2007). Uma metodologia de Aná lise das

Tecnologias Sociais. São Paulo: (s.n.).

Juliano, M. C. C. (2013). Rede Família: Uma tecnologia social e seu diálogo

com a promoção da resiliência comunitária e a educação ambiental. Tese

(Doutorado em Educaçã o Ambiental). Programa de Pó s Graduaçã o em Educaçã o Ambiental, Universidade Federal do Rio Grande. Rio Grande do Sul.

Lassance Jr., A. E., & Pedreira, J. S. (2004). Tecnologias sociais e políticas pú-

blicas. pp. 65-83.

Maciel, A. L. S., & Fernandes R. M. C. (2011). Tecnologias sociais: interface com as políticas públicas e o Serviço Social. Serviço Social & Sociedade, 105, pp. 146-165.

Masten, A. S. (2014). Ordinary Magic: Resilience Processes in Development. New York: Th e Guilford Press.

Ojeda, E. N. S., La Jara, A., & Marques, C. Resiliência Comunitá ria. In.: Hoch, C., & Rocca, S. Sofrimento, Resiliência e Fé : implicaçõ es para as

relaçõ es de cuidado. Sã o Leopoldo, RS: Editora Sinodal, 2007.

Prati, L. E., Couto, M. C. P. P., Moura, A., Polletto, M., & Koller, S. H. (2008). Revisando a Inserçã o Ecoló gica: Uma Proposta de Sistematiza- çã o. Psicologia: Refl exão e Crítica, 21(1), pp. 160-169.

Rodrigo, M. J., Máiquez, M. L., Byrne, S., Rodríguez, B., Rodríguez, G., & Pérez, L. (2008). Crecer felices en familia: Un programa de apoyo psicoedu-

cativo para promover el desarrollo infantil. Canarias, Espanha: Dirección

General de Acción Social/Consejería de Sanidad y Bienestar Social/ Junta de Castilha y León.

Sheldon, K. M., & King, L. (2001). Why positive psychology is necessary.

American Psychologist, 56 (3), pp. 216-217.

Yunes, M. A. M. (2015). Dimensões conceituais da resiliência e suas interfa- ces com risco e proteção. In: Murta, S. G., L.-França, C., Brito, K., & Polejack, L. (Orgs.). Prevenção e Promoção em Saúde Mental: Funda-

mentos, Planejamento e Estratégias de Intervenção. Novo Hamburgo:

Synopisis, pp. 93-112.

Yunes, M. A. M., Garcia, N. M., & Albuquerque, B. de M. (2007). Mono- parentalidade, pobreza e resiliência: entre as crenças dos profi ssionais e as possibilidades da convivência familiar. Revista Psicologia: Refl exão &

Crítica, 20(3), pp. 444-453.

Zape, J., Dell`Aglio, D. D., & Yunes, M. A. M. (2015). Psicologia dos de- sastres e resiliência comunitária: refl exões sobre o incêndio da boate Kiss em Santa Maria/RS. In: Coimbra, R., & Moraes, N. (Orgs.). A Resiliência em questão. 1a. ed. v.1, pp. 215-229. Porto Alegre: Grupo A Educação.

¿ES POSIBLE EL EMPODERAMIENTO