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O conjunto dos projetos e a variedade de Unidades de Referência permitiram a geração de estratégias inovadoras de intercâmbio de experiências e troca de saberes, como visitas técnicas em outras regiões com características sociais e de produção semelhantes. Nesse sentido, foram realizados eventos procurando promover a socialização do conhecimento já adquirido em outras experiências da equipe de Agroecologia da Embrapa Meio Ambiente em assentamentos rurais e propriedades familiares do estado de São Paulo. Esse processo permitiu a integração entre os agricultores, fortalecendo a dinâmica do grupo e contribuindo para o trabalho coletivo entre os assentados, atraindo a cada nova fase outros agricultores interessados.

Pode-se observar o papel central do conhecimento para alavancar processos produtivos com uma nova base paradigmática. Agricultores que estavam inseridos no modelo convencional de

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produção puderam vivenciar formas de construir sistemas mais sustentáveis, sistemas estes que não mais apresentavam os riscos à saúde e que se mostravam tão ou mais produtivos que os anteriores. Do ponto de vista econômico, os agricultores puderam compreender como construir formas de produção mais autônomas, que permitem a redução da dependência externa de insumos. Apropriaram-se de conhecimentos sobre o estabelecimento de sistemas, com seleção de espécies adequadas ao equilíbrio natural e à obtenção de renda, sobre os manejos alternativos de biomassa, sobre formas variadas de manejo de insetos e patógenos, e sobre estratégias de renovar a fertilidade dos solos.

Com isso, passaram a superar os entraves psicológicos e técnicos para transição de sistemas agroquímicos para agroecológicos, criando autossuficiência para, por conta própria, tomarem decisões, incluindo entre elas a expansão das áreas de SAFs. Notou-se, assim, um inegável avanço na compreensão, por parte dos agricultores, dos mecanismos de funcionamento dos elementos dos sistemas biodiversos e suas correlações internas. Aprenderam a substituir os fertilizantes químicos por plantas de adubação verde, adubos oriundos de compostagem e de vermicompostagem. Iniciaram novas atividades como a apicultura e a meliponicultura, esta última pouco conhecida sob o aspecto técnico de produção racional. Entenderam como melhor arranjar árvores e espécies anuais de modo a desenhar sistemas de produção sob a perspectiva da estratificação vegetal.

Houve avanços no que diz respeito à compreensão da importância do conhecimento, da pesquisa e do monitoramento dos sistemas agroecológicos, como ferramentas de melhoria técnica e econômica destes sistemas.

Em face das restrições inerentes à natureza dos projetos institucionais, regidos por escassez de recursos, burocracia excessiva e caráter transitório, aspectos conflitantes com os

tempos e ritmos de vida dos agricultores, pode-se afirmar que o trabalho na região constitui um marco, senão para uma mudança radical e massiva das práticas dos agricultores da região, mas como embrião de uma nova perspectiva de agricultura, mais sustentável ecologicamente e inclusiva do ponto de vista social e econômico. De parte da equipe técnica, reconhece-se que o aprendizado foi mútuo. Desde o ponto de vista técnico, a equipe pôde tomar contato com conhecimentos tradicionais ainda utilizados pelos agricultores e enriquecer seu próprio acervo. Com relação às metodologias, foram muitas aprendizagens, motivando adaptações e inovações metodológicas que vão além dos manuais. E, quem sabe, mais importante, as ações na região possibilitaram a elevação da autoestima dos agricultores, ao se sentirem protagonistas dos processos, com um estreitamento social entre a equipe técnica e os agricultores, a revalorização da agricultura familiar e dos valores fundamentais da vida, como o compartilhamento e a solidariedade. Um aspecto a destacar é a constatação de que os papeis dos atores envolvidos em uma ação regional deve ser bem conhecido e, principalmente, compartilhado pelo conjunto dos participantes. O papel de assessoria da equipe técnica da Embrapa Meio Ambiente foi sempre destacado em um alerta de que a condição para o êxito dos projetos não poderia recair unicamente sobre os técnicos, mas dependeria, preponderantemente, da mobilização das organizações e pessoas envolvidas. Assim, trabalhou-se fortemente sobre o problema da seleção dos responsáveis pelas experiências a campo, de modo a deixar claramente manifesto que, sem o envolvimento efetivo destes responsáveis, os resultados seriam questionáveis.

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