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O monitoramento do processo de conversão agroecológica constitui-se numa ferramenta fundamental para mensurar o impacto das práticas adotadas, avaliar e reordenar, se for o caso, desenhos e/ou práticas que apresentem resultados negativos, uma vez que a conversão para sistemas agroecológicos não diz respeito apenas à eliminação de insumos externos. Em verdade, é um processo com diversas fases, que pode demorar alguns anos, dependendo do nível de degradação do agroecossistema no início da intervenção e da qualidade dos arranjos de cultivos e manejo de solo empreendidos.

Outro aspecto relevante se refere à capacidade da pesquisa contribuir para dar respostas apropriadas às necessidades efetivas das agricultoras e agricultores familiares, no sentido de construir metodologias e indicadores efetivos para avaliar a evolução dos sistemas e que sejam de fácil compreensão, práticos, simples e de baixo custo.

Esse processo deve ser concebido a partir dos anseios e necessidades dos(as) próprios(as) agricultores(as) familiares. Assim, é necessário valorizar práticas e experiências locais de modo que os(as) agricultores(as) possam acompanhar e avaliar, conforme suas concepções e expectativas, facilitando a construção, a adaptação e a apropriação de conhecimentos e tecnologias. Nesse contexto, a avaliação de tecnologias e processos gerados e construídos coletivamente, de baixo custo e aproveitando os recursos locais, as atividades biológicas, a autonomia e as demandas das(os) próprias(os) agricultoras(es) familiares, poderão proporcionar contribuições significativas à construção e ao aperfeiçoamento de sistemas agroecológicos de

produção, gerando novas perspectivas aos agricultores. É nessa linha de pensamento que a equipe do projeto elaborou, em conjunto com as(os) técnicas(os) e agricultoras(es) locais, uma planilha de cadastro dos lotes e das Unidades de Referência, construindo um plano de monitoramento.

Plano de monitoramento das URs

Considerando que as práticas adotadas nas URs priorizaram fundamentalmente dois sistemas diferentes, pecuária leiteira e sistemas agroflorestais, os indicadores foram definidos tendo em vista essas especificidades. Os principais indicadores estão detalhados na Tabela 2.

Tabela 2. Indicadores do plano de monitoramento das URs.

Indicador Sistema

Pecuária leiteira SAFs

Análise da paisagem x x Fertilidade do solo x x Plantio de estacas e mudas x x Diversidade de espécies vegetais x x Diversidade de insetos x x Controle leiteiro x

Controle reprodutivo x

Pluviometria x x

O referido plano de monitoramento foi aplicado nas URs que tiveram os maiores avanços no processo de conversão agroecológica, conforme detalhado a seguir:

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» Análise da paisagem

Registro fotográfico periódico da UR, realizado a partir de um ponto definido e identificado no campo e com a mesma angulação, utilizando referenciais fixos existentes na paisagem como, por exemplo, árvores e palanques.

» Fertilidade do solo

Realizado a partir dos resultados das análises de solo com as seguintes variáveis: pH, matéria orgânica, P, K, Ca, Mg, H+ Al, Al e SB, CTC, V% e os seguintes micronutrientes: S, Na, Fe, Mn, Cu, Zn e B. O processo de monitoramento deste indicador teve início com a coleta das amostras de solo em diferentes pontos da UR, nas profundidades de 0 a 20 e 20 a 40 cm.

» Desempenho do estabelecimento de estacas e mudas plantadas Avaliado a partir da identificação de estacas e mudas referências para a definição de três Índices de Desempenho de Estabelecimento: 1: alto - planta com elevado vigor, com ou sem brotos (ramos, folhas, etc.); 2: médio - planta com bom vigor; e 3: baixo - planta com reduzido vigor, com perda de folhas ou alterações de cor, forma e outros. (Figura 6).

Fotos

: Joel Leandro de Queiroga

Figura 6. Registros fotográfi cos de plantas referências para a defi nição de Índices

de Desempenho de Estabelecimento (IED). Da esquerda para direita, IED 1, 2 e 3, 2013.

» Taxa de sobrevivência de estacas e mudas plantadas

Avaliada pela porcentagem das plantas vivas em relação ao número de indivíduos de uma espécie e o número total de estacas e mudas plantadas.

» Diversidade de espécies vegetais

Monitorada pelo método de amostragem do quadrado (1m2)

distribuído aleatoriamente em diferentes pontos da UR. Em cada quadrado fez-se o registro fotográfi co e a identifi cação das espécies existentes e predominantes (Figura 7).

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Foto

: Joel Leandro de Queiroga

Figura 7. Metodologia de aplicação das amostragens de diversidade de plantas,

2013.

» Diversidade de insetos

Avaliada a partir da identifi cação dos insetos existentes no interior das URs e comparada com outras áreas do lote, por meio de amostragens aleatórias distribuídas em diferentes pontos de cada área.

» Controle leiteiro

Feito a partir da pesagem e do registro diário da produção de leite por animal. Para a pesagem, foram utilizadas balanças digitais e os pesos em quilogramas registrados em planilhas. A partir do registro dos dados, defi niu-se o peso da produção total e da produção média diária de cada animal, bem como as variações destas ao longo do tempo. Além da produção, adotou-se, também, o uso da caneca de fundo preto para avaliar a sanidade do rebanho e a qualidade do leite produzido.

» Controle Reprodutivo

Com o objetivo de prever os partos, identificar as vacas que demoram a emprenhar (IP = intervalo entre partos) e controlar o número de nascimento de bezerros, o controle reprodutivo foi definido a partir do registro das coberturas (natural por montas ou inseminações artificiais) e do nascimento de bezerros. » Pluviometria

Avaliada a partir de pluviômetros instalados nas diferentes URs.

Alguns resultados do monitoramento das URs

O monitoramento das Unidades de Referência, construído coletivamente com as agricultoras e agricultores, evidenciou, de maneira geral, a melhoria de todos os indicadores avaliados no período (Tabela 3).

Tabela 3. Síntese qualitativa dos resultados do monitoramento das URs entre

2011 e 2013.

Indicador Síntese dos Resultados

Diversidade de espécies Aumento da diversidade de espécies Cobertura do solo Aumento do percentual de cobertura do solo Sobrevivência de mudas

plantadas

Identificação de espécies arbóreas mais adaptadas às condições locais

Estado sanitário de mudas plantadas

Melhoria do estado fitossanitário e do desenvolvimento das plantas

Controle leiteiro

Registro e acompanhamento da produção de leite por vaca ao longo do tempo e identificação dos impactos positivos das tecnologias implantadas sobre a produtividade leiteira Controle fitossanitário do

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Os índices de diversidade de espécies, avaliados a partir de amostragens realizadas em diferentes pontos de cada UR e em subáreas de 1m2, demonstraram aumento do percentual

de cobertura do solo por espécies forrageiras (gramíneas e leguminosas) implantadas nos sistemas e também da regeneração natural de espécies herbáceas espontâneas.

A avaliação dos indicadores de sobrevivência e do estado fitossanitário das mudas arbóreas plantadas permitiu identificar as espécies que melhor se adaptaram às condições locais como também as que apresentaram maior suscetibilidade a doenças e ataques de formigas e outros insetos. A definição de critérios de sanidade das plantas, construído em conjunto com agricultoras e agricultores, possibilitou evidenciar que, com o passar do tempo, de forma geral, as mudas das espécies arbóreas melhoraram o seu estado fitossanitário.

O acompanhamento diário da produção de leite por animal, a partir da pesagem e registro em caderneta de campo, evidenciou o aumento da produção de leite por animal durante o período avaliado, refletindo os impactos positivos das tecnologias utilizadas nas Unidades de Referência. Além disso, essa prática de controle, antes não utilizada, associada ao controle reprodutivo, tem subsidiado as(os) agricultoras(es) na melhoria do manejo e seleção do rebanho.