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O acentuado avanço populacional do campo para as cidades deflagrou uma série de impactos negativos no meio e, por conseguinte, na vida da população nelas residentes, pois a forma de uso e ocupação do solo traz implícito o problema gerado por uma ocupação desequilibrada e perversa sob o ponto de vista social. Os problemas ambientais não afetam apenas uma parcela da população, todos são vulneráveis a eles. E a camada social menos capitalizada é maior em relação à minoria abastada e que possuem condições financeiras para “driblar” alguns desses obstáculos, como a refrigeração artificial do interior das edificações.

Os impactos ocorridos no meio intra-urbano advêm com a forma de ocupação do espaço transformado e do ritmo de ocupação e transformação, pois a velocidade e voracidade com que os espaços são degradados para a inserção do aglomerado urbano, determinam invariavelmente a asfixia dos recursos naturais, sobretudo dos recursos hídricos e vegetais que são expurgados e poluídos inviabilizando futuramente o seu aproveitamento e utilização.

Caldas Novas não se exime deste cenário, pois as transformações impostas pela acelerada urbanização, aliada ao planejamento inadequado, expõe seus recursos naturais a vários impactos provenientes das diversas atividades humanas, resultando no aumento da temperatura, diminuição da umidade do ar e más condições de dispersão de poluentes atmosféricos. Atualmente, as médias e pequenas cidades demonstram a necessidade de estudos pelos seus ambientes degradados e inserção cada vez maior de novos elementos no espaço.

Referente ao comportamento do clima urbano de Caldas Novas, os resultados obtidos através das análises dos dados termo-higrométricos coletados em campo ressaltam a necessidade de um planejamento estratégico quanto da adequação do espaço já construído, bem como de um melhor estudo para a abertura de novos loteamentos, pois a expansão vertical e horizontal da malha urbana adentra áreas de fragilidade ambiental.

De acordo com as características físico-estruturais do sítio urbano foram perceptíveis as distorções nos padrões termo-higrométricos nos diferentes espaços urbanos e entorno rural, indícios da interferência antrópica, resultando na alteração dos valores dos elementos climáticos pesquisados. Diante desta constatação, reforça ainda a necessidade de aplicação de medidas a curto, médio e longo prazo, para que os problemas hoje detectados possam ser corrigidos ou evitados, caso contrário, o que se observará é a geração de um espaço desconfortável, inibindo ou até mesmo inviabilizando a presença de turistas, principal ator da economia local, além da deterioração dos padrões de vida da população.

A análise dos dados possibilitou expor algumas considerações sobre o comportamento do clima de Caldas Novas. Observou-se que a área urbana nem sempre apresenta temperaturas maiores em relação ao seu entorno. No espaço interno ocorrem modificações dos elementos climáticos entre bairros e ruas, ora associadas ao tipo de uso da terra, ora a topografia e à produção de calor antropogênica. A estrutura da cidade (altura dos prédios, localização geográfica, presença de arborização, asfalto e concreto etc.) influencia na variação dos elementos climáticos.

O centro da cidade implica em um balanço irregular de energia refletindo nos valores de temperatura do ar. Isso tem relação com a diminuição dos corpos d`água e vegetação em detrimento da urbanização, o que confere maior armazenamento de energia durante o dia. A radiação solar absorvida aumenta a partir das características do material construtivo e seu poder de absorção. A variação da temperatura deve-se também a capacidade de reflexão da radiação solar de uma determinada superfície (albedo) cujo valor vai depender do tipo de solo, forma de relevo, vegetação, água, quantidade e tipo de nuvens, grau de urbanização e inclinação dos raios solares.

A amplitude térmica verificada nos postos ilustra esse aspecto melhor do que quando se comparava os postos entre si. No período da manhã os valores de temperatura mostraram-se relativamente homogêneos. Por outro lado foi no período da tarde que se registraram as maiores diferenças de temperatura, haja vista as diferenças quanto à situação topográfica, características das edificações, funções urbanas, presença ou não de áreas verdes, ventilação etc.

É indiscutível a interferência do clima regional sobre o urbano. Entretanto, a radiação, a forma característica do sítio urbano e a vegetação são fatores que o condicionam. As áreas verdes e parques são exemplos cabais da ação moderadora de temperaturas urbanas. Isto foi constatado nos gradientes térmicos coletados em áreas com essas características.

No decorrer das tomadas durante transecto móvel de 21 a 30 de julho de 2008, os postos Portal das Águas Quentes e Bairro Turista apresentaram ilha de frio. O primeiro se caracteriza pela presença de vegetação, edificações esparsas, baixa altitude e topografia deprimida. O segundo, pela presença de edificações com mais de três andares, altitudes pouco elevadas, presença de vegetação e corpos d`água no seu entorno que, aliado ao vento constante de origem oeste/noroeste manteve-se mais frio durante toda pesquisa.

A variação de temperatura esteve fortemente ligada à ação dos ventos, dependendo da velocidade e direção, no sentido de intensificar ou amenizar os valores térmicos. Para o planejamento construtivo é importante observar as direções predominantes dos ventos e a incidência direta da radiação solar, evitando a exposição a esta radiação nos horários de maior pico, principalmente nas edificações verticais com diversos pavimentos. Corpos d’água presentes na linha do transecto demonstraram uma diferenciação nos valores térmicos, visto que nos locais onde estes se faziam presentes, aliado também à vegetação nas suas margens, verificando-se menores valores e ratificando sua importância dentro do espaço urbano. O aquecimento foi maior nas áreas fortemente ocupadas como os bairros: Santa Efigênia, Vila São José e parte do Centro com elevadas densidade de construção e pequena quantidade de vegetação.

Percebe-se então que o comportamento dos elementos climáticos nesta cidade é influenciado tanto pelo entorno rural quanto pela própria cidade. Porém, ficou evidente que algumas anomalias ocorrem de forma pontual, dependendo do período do dia, do ano e das características topográficas urbanas (altitude, topografia, estrutura das ruas e edificações). Neste caso, aliado à topografia, por encontrar-se em posição de relativo abrigo (vale do rio Corumbá).

Após a realização de todas as etapas foi possível ponderar a validade da metodologia utilizada durante a pesquisa, desde as dificuldades encontradas até a possibilidade de dar continuidade a essa linha de estudos, agora num nível mais complexo.

As metodologias aplicadas considerando as interações entre os diversos elementos do meio e com base numa visão dinâmica do universo de estudo, mostraram-se satisfatórias, respondeu às questões formuladas no início da pesquisa, além de possibilitar a identificação dos diferentes ambientes climáticos intra-urbanos de acordo com os objetivos estabelecidos.

Apesar do monitoramento constante dos equipamentos onde se encontravam instalado e das orientações à equipe que auxiliavam na coleta de dados, tomou-se o cuidado de

adotar como parâmetros a estação meteorológica oficial de Morrinhos (INMET) e estações particulares (Estação Corumbá – UHE).

O tempo selecionado para a coleta de dados, envolvendo o período seco e chuvoso, subdividido em escalas diárias e horárias, foi satisfatório porque possibilitou identificar entre os bairros escolhidos para a análise aqueles que apresentam maior ou menor capacidade de manter ou produzir calor, dados a sua estrutura e aspectos geográficos. Possibilitou ainda entender até que ponto os elementos climáticos são influenciados pela urbanização (escalas micro, topo e mesoclimáticos) ou, ainda mais, pelo sistema atmosférico (escala regional).

A partir da técnica do trabalho de campo realizado em vários dias seguidos foi possível perceber, tanto empiricamente quanto através dos dados coletados, as mudanças das condições do tempo de cada dia pesquisado e, juntamente com as imagens de satélite, alcançar um resultado mais satisfatório.

Categoricamente, o referencial teórico constituiu-se num aspecto essencial para o desenvolvimento de toda a pesquisa, uma vez que as discussões sobre determinado conceito na visão de diferentes autores possibilitou superar as várias dificuldades de entendimento sobre o assunto e relacionar o resultado obtido com a teoria (especificamente, as obras de Monteiro e Mendonça serviram de base para a realização deste trabalho).

Quanto ao processo de elaboração da coleta de dados, a maior dificuldade encontrada foi a formação de uma equipe de pessoas dispostas a auxiliar na coleta de dados dos postos fixos e a montagem da estrutura para este fim (envolveu a disponibilidade do morador de cada setor escolhido em colaborar de alguma forma na pesquisa). No transecto móvel, o maior empecilho foi o trânsito intenso e lento durante a alta temporada em Caldas Novas para as tomadas móveis num tempo pré-determinado (em torno de 25 minutos). Outro aspecto foi a tabulação dos dados, confecção de gráficos e mapas que, além de dispor de tempo, envolveram gastos substanciais27.

O quantitativo de dados foi satisfatório para alcançar o resultado obtido e possibilitou entender melhor a dinâmica do espaço urbano de Caldas Novas e seu reflexo sobre o clima. Ainda é pequeno o conhecimento sobre o clima urbano, pois se necessita de várias outras leituras para se chegar a um possível prognóstico, pretensão para o doutorado,

27 Cabe lembrar que não se obteve nenhum financiamento durante a realização desta pesquisa. A instituição, por

meio do laboratório de climatologia e recursos hídricos, auxiliou com o fornecimento de alguns aparelhos para a tomada dos dados. A pesquisa contou, fundamentalmente, com recursos próprios para o seu desenvolvimento.