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1. ASPECTOS GERAIS DA ÁREA DE ESTUDO, JUSTIFICATIVAS, PROBLEMAS E

1.3 Justificativa da Pesquisa

Caldas Novas é uma cidade que apresenta um crescimento significativo nos últimos anos. Entre 1991 e 2007, sua população aumentou 38.045 habitantes. Essa expansão populacional implica na necessidade de um planejamento urbano, haja vista que parte da população se aglomeram nas áreas limítrofes da cidade, desencadeando diversos problemas sócio-ambientais, inclusive alterações no comportamento dos elementos climáticas. Os dados produzidos através da pesquisa climatológica podem auxiliar nesse planejamento, utilizando desses resultados como base comparativa em novas pesquisas.

A ação antrópica sobre o meio físico provoca efeitos, particularmente na variação dos elementos climáticos, que muitas vezes só serão sentidos com o passar do tempo e que vão se agravando com o ritmo constante das alterações neste meio. Isso não significa dizer que sejam menos danosos do que aqueles impactos que ocorrem de imediato e que são facilmente detectáveis. A tendência para a busca de soluções, só ocorre quando o impacto atinge um patamar considerável, afetando o homem e suas atividades.

Na busca de discutir a questão do ambiente urbano de Caldas Novas, o estudo do clima surge como uma alternativa para repensar a organização da estrutura da cidade. O crescimento descontrolado e irregular nas últimas três décadas (abertura de novos loteamentos, invasão em áreas de risco, construções verticalizadas etc.) suscitou o interesse pela pesquisa, visando neste estudo à identificação dos problemas e as possíveis soluções, que na concepção de Clarck (1991, p. 228):

O planejamento urbano evoluiu consideravelmente através do tempo respondendo às mudanças de natureza dos problemas urbanos [...] a atenção esteve primeiramente voltada para a superpopulação e saúde, e os controles foram direcionados para a construção e uso do solo na crença de que as melhorias do meio ambiente físico poderiam aliviar os principais problemas sociais das cidades [...] o controle do uso do solo e a disposição da forma dos povoamentos são por si mesmo insuficientes [...] envolve estratégias relacionadas com emprego, moradia, transporte e prestação de serviços.

Levando em consideração a problemática da teorização ambiental, a área foco da pesquisa enquadra-se neste tema proposto, pois apesar de ser considerada cidade de pequeno à médio porte6, contempla mecanismos próprios que convergem para a necessidade de ações

6 Santos (1993, apud, MENDONÇA, 1994), considera cidade média uma “aglomeração populacional em torno

preventivas à medida que seus espaços naturais são substituídos por áreas artificiais.

Em termos de escala, a pesquisa oscila entre os níveis microclimático e topoclimático (do espaço imediato ao redor dos pontos de mensuração à escala dos bairros e segmentos das vertentes ao longo dos principais vales que cortam a cidade) e local (influenciados pelos tipos de tempo, repercussão local dos sistemas atmosféricos). Um estudo urbano nestes níveis facilita a compreensão da relação homem/natureza, visto que o homem, ao se organizar no espaço (no caso, área urbana de Caldas Novas), acaba por transformá-lo. Os microclimas e topoclimas de acordo com Jardim (2007, p. 13) são reflexos em grande parte da relação contraditória do homem com a natureza a sua volta (“organização” e “desorganização”). Embora ele [...] “seja um grande produtor de microclimas, isso não quer dizer que tudo que produza seja benéfico para si e/ou para as demais formas de organizações espaciais” (op. cit. p.12). Com este enunciado, fica explícita a necessidade de questionar o ritmo, ou seja, a freqüência e a duração em que ocorrem determinados fenômenos que, aliado às condições físicas da cidade, podem influenciar nas atividades humanas.

Embora Lombardo (1985 p. 23) em suas pesquisas defenda que [...] “a distribuição das isotermas nas cidades mostra uma tendência para o aumento da temperatura da periferia em direção ao centro” [...], nem sempre isso ocorre. Cada cidade apresenta características peculiares, concernentes não apenas a estrutura dos setores periféricos, mas também à composição e uso do seu entorno rural, que pode favorecer ou não o aumento da temperatura, não só nesses setores, como também, em todo espaço urbano. Além desses fatores, neste caso, devem-se considerar os aspectos físicos, sobretudo a topografia e os tipos de tempo. Logo, a conclusão da autora aplica-se a alguns dos casos.

A composição e a estrutura do sítio urbano de Caldas Novas tende a dificultar a circulação do ar e dispersão do calor, associado às condições geográficas favoráveis ao acúmulo de energia transformada em calor sensível. Sua localização geográfica (entre as Serras de Caldas e da Matinha) pode influenciar no comportamento térmico da cidade, visto que se encontra num trecho da depressão, dificultando o contato direto com a entrada de massas de ar, formando seu próprio campo térmico e de circulação de ar local (o que, por sua vez, influencia o urbano e intra-urbano) (Figura 9).

Figura 9 – Esquema da circulação, regional, local e topoclimático. Organização: Marilene R. S. Pimentel

Assim, a pesquisa justifica-se, ainda, pela importância geográfica que assume nos estudos climáticos, fato observado a partir da intensa urbanização, o que remete à queda da qualidade de vida e à degradação do meio ambiente; na busca de soluções e métodos para rediscutir as questões relativas à urbanização e oferecer os resultados da pesquisa como subsídios ao planejamento urbano. Outros fatores relevantes que direcionam a pesquisa é a carência de trabalhos científicos na área de climatologia realizados na cidade de Caldas Novas (bem como em todo o estado de Goiás), além de enriquecer o acervo de pesquisas geográficas sobre a cidade através do montante de dados climáticos produzidos e, até o momento, inexistentes.

O estudo foi delimitado basicamente pela possibilidade de comparar áreas contrastantes naquilo que se refere aos aspectos ambientais “natural/artificiais”, ainda por ser uma cidade turística, onde os impactos tendem a agravar-se. A escassez da vegetação, vias e praças pouco arborizadas, canalização dos córregos que cortam a cidade, construções em áreas de veredas, construções sobre nascentes de cursos d’água, abertura de novos setores, bairros densamente urbanizados, propiciam o surgimento de “qualidade novas” ou “propriedades emergentes” provenientes desses novos elementos. De acordo com Jardim (2007, p. 6) “As “propriedades novas” ou “emergentes” advêm com relações transformadoras

e não apenas da sobreposição ou justaposição dos elementos num sistema”. Se por um lado as construções proporcionam melhor condição de vida para a população, de outro traz transtornos para o ambiente, justamente pela “negligência do planejamento”7 no ato das construções.

A transformação do espaço natural é necessariamente seguida de mudanças nos componentes verticais (entrada e saída de radiação) e horizontais (circulação do ar) do clima. O reflexo dessas interações aparece nas variações de temperatura e umidade do ar. Essas transformações compreendem o processo acelerado de urbanização e as mudanças associadas à funcionalidade urbana, atrelada ao ritmo sazonal do turismo, como é o caso da cidade de Caldas Novas. Tarifa (1981, p. 16) sintetiza essas relações ao considerar a interação entre os controles de superfície e os atributos atmosféricos:

[...] Estando, pois, localizados junto à interface solo-atmosfera (camada limite) qualquer alteração na natureza dessa superfície, tanto espacial como vertical, altera significativamente o modo de propagação da energia, alterando conseqüentemente os resultados das trocas verticais de radiação solar e interferindo nos processos advectivos pelas mudanças que introduz no comportamento do vento. Resultam dessas interferências, alterações nas variações de temperatura e umidade, que nada mais são do que elementos ou variáveis respostas, conseqüentemente funções do balanço de energia por unidade de tempo, dentro de um espaço tridimensional.

A partir das considerações do autor, a atmosfera urbana deve ser compreendida como um corpo tridimensional passível de mudanças e variações internas associadas às mudanças do próprio espaço urbano.