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A conclusão de um trabalho dessa natureza e principalmente pela temática proposta torna-se um desafio ainda maior, sobretudo por mensurar respostas a violências nas escolas. Ter a oportunidade de realizar uma pesquisa de tal significado proporcionou um engradecimento profissional bem vasto; em especial, pelo conhecimento que a temática em estudo exige e requer do pesquisador, enfim, um novo olhar ante o diferente. A aproximação com a área de educação representou aspecto importante para a consecução deste trabalho.

Este estudo orienta-se por um dos principais objetivos: refletir acerca de um novo olhar para a Educação, ante as práticas violentas vivenciadas no cotidiano das escolas, em especial, as públicas. Outro ponto é não enxergar as violências nas escolas como um ponto único e acabado, mas compreendê-lo, a partir de seus condicionantes.

A generalização, ou a não precisão acerca do que vem a ser violência repercute de forma muito precisa na compreensão do fenômeno. Refletir sobre a escola como um espaço de socialização é pensar que o relacionamento entre os alunos é marcado pela necessidade de confiar no outro, de encontrar, no outros interesses semelhantes aos seus, de forma que o colega possa tornar-se, de fato, um amigo ou confidente, contribuindo assim, para que a escola seja percebida como um espaço, sobretudo, confiável e prazeroso.

Estudar acerca das categorias juventude, violência e violências nas escolas possibilitou a análise das principais formas de violências existentes no espaço escolar. Pôde-se entender, através das leituras e da pesquisa realizada, que conceituá-las não é tão fácil, além de que as formas de violências legitimam práticas e reproduzem olhares até então muito comuns no universo escolar. As agressões, por exemplo, nem sempre são vistas como uma forma de violência, embora sejam mais uma prática da convivência diária entre as partes envolvidas.

O conhecimento das principais apreensões do universo juvenil no mundo contemporâneo possibilitou conhecer um pouco mais das principais angústias e inquietações da faixa etária estudada, principalmente, por se trata de um segmento tão vulnerável e estigmatizado. Fenômenos como: violência e desemprego

aparecem entre suas principais apreensões e, muitas vezes, são motivos de grande temor e incertezas futuras.

A compreensão da dinâmica escolar e seus principais entraves é de suma importância na análise sobre as violências nas escolas, pois, dependendo da forma como a dinâmica escolar é conduzida, o fenômeno terá uma determinada forma. Ter a ciência dos problemas e pensar mecanismos para viabilizar saídas minimizarão os entraves acerca dessa realidade.

A hipótese levantada – a atual crise civilizatória incide de forma peculiar no universo escolar e, assim, torna-se terreno fértil para a acirramento das relações e, sobretudo, da violência – foi verificada em suas várias nuances, seja nos textos ou na realidade empírica. Portanto, a atual a crise repercute nas várias faces das relações sociais e, dentre suas expressões mais visíveis está o fenômeno. Verifica- se, assim, a forma exacerbada das relações e as formas de convivência vão ficando cada vez mais difíceis com o passar do tempo. A discussão acerca da crise da escola reflete essa realidade.

É notório analisar que as exigências para a escola sofreram modificações ao longo do tempo. O aluno que senta numa carteira já não mais busca o conteúdo programático e isolado daquela disciplina. O mesmo anseia que o professor vá além. Nessa perspectiva, significa, sobretudo, o que aquele conteúdo contribuirá para a formação não apenas profissional, mas pessoal do mesmo. Ainda, muitas vezes o aluno que se encontra naquele ambiente gostaria de ser ouvido, ou de dividir algo de sua vida com professores, funcionários ou colega de turma, em suma, gostaria de dizer coisas para as quais não recebe atenção no ambiente familiar.

Outro aspecto que floresce na literatura estudada é acerca do respeito ao diferente. Faz-se necessário lançar um novo olhar sobre o diferente, mesmo fazendo uma análise real das práticas em sociedade, que reforçam uma cultura à brasileira, onde muitas vezes ‘excluem’ o negro, o pobre, a mulher, o jovem, a pessoa com deficiência, o gordo, o míupe (ou apenas pelo fato de usar óculos) e etc. Em vez disso, adotar uma postura que, ao contrário de humilhar, reprimir, caçoar ou mesmo aterrorizar, que se possa apreender a conviver e abrir-se ao mundo do outro, permitindo assim, a interação com o diferente.

É preciso pensar as violências nas escolas como um ato concreto, visto que elas agregam: fatores; conceitos; formas; manifestações que carecem de ser sabidas, compreendidas e precisamente detectadas pelos sujeitos e principalmente,

pelos trabalhadores que convivem neste ambiente. Esta é uma batalha que precisa ser travada diariamente. Desmistificar tais práticas, conhecer as limitações e habilidades dos sujeitos, enfim, abrir caminhos para práticas que ultrapassem a fronteira do silêncio e das reproduções tradicionais – não fazendo uma crítica generalizada, mas refletindo acerca de outros métodos a serem adotados - que muitas vezes não agregam valores reais ao processo ensino x aprendizagem. No tocante às práticas, questões como: a masculinidade que reflete muitas vezes na lei do mais forte, de não levar desaforo para casa, de se cumprimentar com chutes, empurrões, pontapés, dentre outras; são praticas que, muitas vezes conduzem a um quadro muito maior - é a desculpa que, freqüentemente, vem a concretizar as violências nas escolas. A grande questão está em ter a sensibilidade de enxergar além da timidez ou mesmo da agressividade, que muitas vezes sinalizam agravantes que ultrapassam o que os olhos humanos enxergam, momentaneamente.

Para efeito de análise desta dissertação, comunga-se com a idéia de que as violências devem ser atacadas em suas raízes e não, ser vista de forma pontual. No que se refere às formas de combate à violência, há duas correntes de análise. Uma, defende que o fenômeno seja atacado em suas raízes: na miséria, na pobreza, na má distribuição de renda e no desemprego. Há quem defenda que o combate à violência deva ser feito através de medidas repressivas, o que ainda provoca muita polêmica no meio acadêmico, pois, investimentos em policiamento e na repressão ao crime contribuem, muitas vezes, para gerar mais violência.

A abertura das escolas nos fins de semana é uma realidade que tem ganhado terreno acerca das respostas quanto à violência nas escolas. É uma iniciativa que a UNESCO tem semeado nos estados onde intervém. Refletir acerca da abertura das escolas aos fins de semana faz pensar sobre o trabalho de uma equipe interdisciplinar na escola. Que o trabalho cotidiano das escolas dispunha, no seu quadro, não somente professores e pedagogos, mas que agregue nesse espaço: assistentes sociais, psicopedagogos, psicólogos, arte educadores, sociólogos, dentre outros; que os mesmo interajam com a comunidade, a escola e o poder público; vale salientar também que a família deve ser chamada a atuar.

Um ponto que chamou a atenção durante a aplicação dos questionários foi saber que na escola há trabalho de responsáveis pelos alunos, os denominados Amigos da Escola. Sem ser generalista, mas pensando sobre o papel dessas

pessoas na escola, pois muitas vezes o mesmo acaba mascarando um problema e preenchendo uma lacuna que poderia ser resolvido pelo poder público.

Quanto aos caminhos de superação desta realidade, baseando-se na literatura estudada, destaca-se um conjunto da sociedade, como um todo, em promover mudanças nesse quadro, além de um trabalho pedagógico desenvolvido na escola. Que a escola, o Estado e a sociedade unam esforços para valorizar a Educação e o Magistério e ainda, redefinir o papel da educação escolar além de tornar o ambiente escolar mais iluminado, confortável e limpo.

Algumas iniciativas do poder público já estão já estão sendo tomadas, nas três esferas do governo. No caso do RN, por exemplo, a Agenda da Educação, a princípio, traz uma proposta de melhoria do processo educativo. Vale ressaltar que, planos como esses são importantes, mas que não visem apenas números ou índices; que garantam também, uma política de recursos humanos que contemple os funcionários, como planos de carreiras e infra-estrutura digna – sala de aula em bom estado de conservação; bom aproveitamento dos espaços físicos; além de material para as atividades diárias – para que o objetivo final, o educar seja alcançado.

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