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Violência nas escolas: Um novo olhar ante as relações sociais

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Academic year: 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO/MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL

Jane Cristina Guedes da Costa

Violências nas escolas: Um novo olhar ante as relações sociais

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Jane Cristina Guedes da Costa

Violências nas escolas: Um novo olhar ante as relações sociais

Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Serviço Social, curso do Programa de Pós-Graduação/Mestrado em Serviço Social, Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Orientador: Prof. Dr. João Dantas Pereira.

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Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA Divisão de Serviços Técnicos

Costa, Jane Cristina Guedes da.

Violência nas escolas: Um novo olhar ante as relações sociais / Jane Cristina Guedes da Costa. -Natal, 2007.

115 f.

Orientador: Prof. Dr. João Dantas Pereira.

Dissertação (Pós- Graduação em Serviço Social) Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Programa de Pós- Graduação/ Mestrado em Serviço Social.

1. Violência. – Dissertação. 2. Violência nas escolas. – Dissertação. 3. Juventude. Dissertação. 4. Vulnerabilidade. - Dissertação. I. Pereira, João Dantas. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

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AGRADECIMENTOS

A minha família querida: meus “pais biológicos”, Joca e Arlete, meus queridos e amados irmãos Jarbas e Jannyce. Palavras são poucas para descrever a importância de vocês em minha vida. Quem me conhece sabe: sem vocês falta algo em mim.

Aos pais que a vida me presenteou: Prof. Dr. João Dantas e a Assistente Social Letícia Ferreira. Prof. João Dantas, um ser iluminado, com quem trabalho, há alguns anos. Com certeza, sou um ser bem melhor, através de seus ensinamentos. Tenha certeza que levarei seu legado para toda vida; bem como para todos que estão ao meu redor. Letícia, você está e sempre esteve comigo nos momentos alegres e naqueles não tão bons da vida... A minha eterna gratidão, por tamanha amizade. Com vocês aprendi que vocação não é fato, existe! E que a arte de ensinar perpassa todos os campos da vida.

Aos irmãos que a vida confiou – aqui vão os representantes: Socorro Rocha, Karina Bezerra, Viviane Ferreira, Ana Leopoldina, Adriana Xavier, Silvana Santana, Tereza Karla, Hildemberg, Estevão Ribeiro, Fernanda Teixeira, Rodrigo Monte, Éder Marinho; e outra pessoa que, com certeza, tem o maior orgulho na realização desta: meu padrinho Francisco Fernandes Marinho.

A seqüência não é precisa e, muito menos, mede o grau de carinho que tenho por vocês. Meus eternos agradecimentos e cumprimentos.

As colegas de Mestrado: Ana Paula, Alaíde, Iana, Janaína, Joseneide, Marta, Renata, Socorro, Suzana, Tamara e Thalyta, meu muito obrigada pelo debate nas aulas, corredores e etc., além do engrandecimento pessoal e profissional colhido. As ProfasDraIzete e Dra Audenora, pela atenção, carinho e compromisso no exame de qualificação e, agora, na dissertação. Podem ter certeza que as contribuições de vocês fizeram-me pensar muito além e impulsionaram grandes idéias para a concretização desta.

Às colegas de turma 2004.1 de Serviço Social da UFRN, pela semente que foi plantada e que hoje começa a dar frutos. Em especial, ao meu grupo de estudo composto por: Cláudia Moreira, Cristiana Assis, Daline Maria, Rosinete Paulino, Suzana Santos e Viviane Ferreira.

A Base de Pesquisa Exclusão Social, Saúde e Cidadania, pelo debates travados, pela seriedade e compromisso nas atividades e, em especial, com as pessoas e atividades, não somente ligadas ao Serviço Social, mas com a ciência.

Aos docentes da graduação: Izete Soares, Maria Figueiredo, Mônica Calixto, Bosco Araújo, Ilka de Lima, Rosemary, Fernando Teixeira, João Ferreira, Iza Leal, Valéria Regina, Maria de Jesus, Francisca Bernardo, Edna, Eliana, Dalvanir, Roberto Marinho, Rose Aimée, Zoraide.

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Secretária da Graduação, pela amizade e paz transmitida em momentos que tanto precisei.

Aos docentes da Pós-Graduação: Denise Câmara, Severina Garcia, Willington Germano, Rita de Lourdes, Silvana Mara, Telma Gurgel, Célia Nicolau, Arlete Duarte. Que vocês continuem a caminhar nesse terreno fértil que é a arte de tecer os fios do saber.

Aos docentes e discentes que ouviram e contribuíram, de forma reflexiva, nos eventos onde este trabalho, em forma ainda de projeto, foi apresentado, meus sinceros agradecimentos.

À escola em que esta pesquisa foi realizada. Desde o porteiro que, de forma tão acolhedora me recebeu, passando pela Diretora, Vice-Diretor, Coordenadora, educadores e ao alunado que fez com que esse trabalho tornasse realidade.

A CAPES, que patrocinou este trabalho.

Às ProfasDra Marilda Vilela e Dra Carmelita Yazbek, pelas contribuições e reflexões para com esta dissertação, no ENPESS 2006.

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Antes do compromisso, há hesitação, a oportunidade de recuar, uma ineficiência permanente. Em todo ato de iniciativa (e de criação), há uma verdade elementar cujo desconhecimento destrói algumas idéias e planos esplêndidos. No momento em que nos comprometemos de fato, a Providência também age. Ocorre uma espécie de coisas para nos ajudar, coisas que de outro modo nunca ocorreriam. Toda uma cadeia de eventos emana da decisão, fazendo vir em nosso favor todo o tipo de encontros, de incidentes e de apoio material imprevistos, que ninguém poderia sonhar que surgiriam em nosso caminho. Começas tudo o que possas fazer; ou que sonhas poder fazer. A ousadia traz em si o gênio, o poder e a magia.

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RESUMO

As mais variadas formas de manifestação do fenômeno da violência na sociedade contemporânea encontram-se, cada vez mais, nos espaços da mídia e entre as discussões da sociedade. Faz pensar-se em medidas a serem tomadas ante o crescimento e recrudescimento de tal fenômeno. As manifestações de violências nas escolas mostram-se como um reflexo do que acontece no âmbito da violência social. Sua dinâmica origina-se na sociedade e se reflete na escola, ou seja, as violências nas escolas combinam elementos internos e externos ao ambiente escolar de vários campos e esferas das quais os indivíduos participam. Refletir acerca das violências nas escolas requer, sobretudo, fazer uma ponte com as categorias: juventude e violência. Violências nas escolas: Um novo olhar ante as relações sociais é uma dissertação de mestrado que tem como principal objetivo: Analisar as principais formas de violência existentes no espaço escolar. Para a consecução do mesmo, foi feito um levantamento bibliográfico, aplicação de questionários (em anexo) e observação. Assim sendo, esta pesquisa articulou as duas abordagens: qualitativa e quantitativa. A aplicação dos questionários se deu numa escola estadual do município de Natal-RN e, dentre os condicionantes para essa escolha esteve no fato da escola ter mais de 500 alunos, está localizada em local estratégico da cidade, proporcionando uma heterogeneidade de sujeitos a serem pesquisados; além das limitações de recursos disponíveis – meios financeiros e materiais – e o tempo disponível para a realização da pesquisa. A escola reúne condições objetivas, designamente no que se refere aos critérios previamente definidos: faixa etária, nível socioeconômico e número de alunos. Dentre os principais resultados obtidos pode-se destacar que a violência é um fenômeno visto, pela grande maioria dos sujeitos da pesquisa, como ligado às formas mais visíveis de violência: as agressões. Uma questão sempre presente nas instituições públicas de ensino: a falta de infra-estruturas, alto índice de evasão escolar e vulnerabilidade entre os alunos que possibilite ao aluno enxergar a escola como uma extensão do lar. Tal dissertação conclui que o fenômeno da violência nas escolas exige e requer, dos mais variados sujeitos envolvidos nos processos, um entendimento dos seus determinantes, para que, assim, possa-se intervir em tal fenômeno, que não se resume a atos de agressão física, mas que aparece, sobretudo, no não respeito ao diferente.

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ABSTRACT

The most varied ways of manifestation of the violence phenomenon in the contemporary society are each time more found in the media spaces and among society discussions. It makes think about procedures to be taken before the growth and new outbreaks of such phenomenon. The violences manifestations in schools reveal themselves as a reflection of what happens in the scope of social violence. Its dynamics originates in society and reflects itself in scholl, that is, the violences in schools combine internal and external elements to school enviroment of many fields and spheres of which the individuals participate. To reflect about the violences in the schools requires, over all, to make a bridge with the categories: youth and violence. Violences in schools: A new look to the social relations, is a Ms. Sc. Dissertation that has as main objective: to analyze the main existing forms of violence in the school space. For its achievement, it was made a bibliographical survey, questionnaires application (annexed) and observation. Thus, this research articulated the two approaches: qualitative and quantitative. The questionnaires application happened in a state school of the Natal city and amongst yhe criteria for this choice there was the fact of the school had more than 500 pupils, to be located on a strategical place of the city, providing a subjects’ heterogeneity to be researched, deyond the limitations of available resources – financial and material – and the available time for the research accomplishment. The scool congregates objective conditions, specifically in what concerns the criteria previously defined: age range, socioenomical level and number of pupils. Amongst the main results obtained, it can be detached that the violence is a phenomenon seen, for the great majority of the research subjects, as a phenomenon connected to the most visible violence forms: the agressions. And a question always present in the public education institutions: infrastructures precariousness, high scool evasion índex and vulnerability among the pupils that makes possible to the pupil to see school as an home extension. Such dissertation concludes that the phenomenon of the violence in scools demands and requires of the most varied subjects involved in the processes na understanding of its determinants so that thus, one can intervene in such phenomenon that does not restrains itself to the physical acts of aggression, but that it is, over all, on a non respecting the different.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Distribuição dos inquiridos segundo sexo Tabela 2 – Distribuição dos inquiridos segundo faixa etária Tabela 3 – Distribuição dos inquiridos segundo com quem vive

Tabela 4 – Distribuição dos inquiridos segundo quantas pessoas moram em casa Tabela 5 – Distribuição dos inquiridos segundo situação conjugal dos pais

Tabela 6 – Distribuição dos inquiridos segundo responsável pela renda Tabela 7 – Distribuição dos inquiridos segundo procedência dos jovens

Tabela 8 – Distribuição dos inquiridos segundo atividade que realizam quando não estão na escola

Tabela 9 – Distribuição dos inquiridos segundo prática de esportes

Tabela 10 – Distribuição dos inquiridos segundo ocupação além da escola Tabela 11 – Distribuição dos inquiridos segundo atividade extra-escola Tabela 12 – Distribuição dos inquiridos segundo opção religiosa

Tabela 13 – Distribuição dos inquiridos segundo tempo que estuda na escola Tabela 14 – Distribuição dos inquiridos segundo o que gosta na escola

Tabela 15 – Distribuição dos inquiridos segundo existência de espaço para diversão na escola

Tabela 16 – Distribuição dos inquiridos segundo o que não gosta na escola

Tabela 17 – Distribuição dos inquiridos segundo relação com os funcionários da escola

Tabela 18 – Distribuição dos inquiridos segundo reprovação

Tabela 19 – Distribuição dos inquiridos segundo quantidade de vezes que foi reprovado

Tabela 20 – Distribuição dos inquiridos segundo papel da escola

Tabela 21 – Distribuição dos inquiridos segundo o maior problema dos jovens na atualidade

Tabela 22 – Distribuição dos inquiridos segundo relação com os colegas Tabela 23 – Distribuição dos inquiridos segundo relação com os professores

Tabela 24 – Distribuição dos inquiridos segundo condições físicas e materiais da escola

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Tabela 27 – Distribuição dos inquiridos segundo lugar que pode acontecer alguma agressão

Tabela 28 – Distribuição dos inquiridos segundo local que foi ameaçado

Tabela 29 – Distribuição dos inquiridos segundo opinião em abrir as escolas aos fins de semana

Tabela 30 – Distribuição dos inquiridos segundo opinião se há violência na cidade de Natal

Tabela 31 – Distribuição dos inquiridos segundo como se expressa a violência na cidade de Natal

Tabela 32 – Distribuição dos inquiridos segundo opinião se há violência na escola Tabela 33 – Distribuição dos inquiridos segundo comparação de violência entre sua escola e outras

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LISTA DE SIGLAS

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDJ – Índice de Desenvolvimento da Juventude

INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação

OMS – Organização Mundial de Saúde

OPAS – Organização Pan-Americana de Saúde

PISA – Programme for Interncional Student Assessment

PNUD – Programa das Nações Unidas para Desenvolvimento

UNESCO – Organização das Nações para a Educação, a Ciência e a Cultura

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SUMÁRIO

CONSIDERAÇÕES INICIAIS 12

1 CAPÍTULO 1 – JUVENTUDE E VIOLÊNCIA: EM CENA ASPECTOS

PRIMORDIAIS NA ABORDAGEM DA JUVENTUDE EM DIAS ATUAIS 20

1.1 Juventude: conceitos e aspectos contemporâneos 20

1.2 Juventude e vulnerabilidade 25

1.3 Juventude e violência: uma realidade latente 27

1.4 Violência – marco conceitual 29

2 CAPÍTULO 2 – AS VIOLÊNCIAS NAS ESCOLAS: CONCEITOS, FATORES, CONTRADIÇÕES E FORMAS

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2.1 Escola e violência 39

2.2 Fatores que incidem na análise acerca das violências nas escolas 47 2.3 As diversas faces das violências nas escolas 52 2.4 A representação social da escola ao longo do tempo 62

2.5 A escola em meio aos conflitos 69

3 CAPÍTULO 3 – A REPRESENTAÇÃO DOS DADOS 76

3.1 Perfil dos inquiridos 76

3.2 Relação: escola e jovens 84

3.3 Relação: violência e escola 92

CONSIDERAÇÕES FINAIS 98

REFERÊNCIAS 102

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Violências nas escolas: um novo olhar ante as relações sociais - é uma dissertação de mestrado que reflete acerca das várias formas de violências vivenciadas pelos sujeitos que integram o universo das escolas. Traz como objetivo geral: Analisar as principais formas de violências existentes no espaço escolar. Tem como objetivos específicos: Conhecer as principais apreensões do universo juvenil no mundo contemporâneo; Compreender a dinâmica escolar e seus principais entraves. A hipótese que norteará a mesma estará polarizada na reflexão de que a atual crise civilizatória incide, de forma peculiar, no universo escolar e que, assim, torna-se terreno fértil para o acirramento das relações e, sobretudo, da violência. As categorias de análise são: Juventude; Violência; Violências nas escolas.

Esta dissertação analisa, ainda, a violência nas escolas, na realidade juvenil, na faixa etária dos 15 aos 24 anos. Esta é a faixa etária mais vulnerável ao problema, sugerindo estudos feitos por especialistas, o que se poderá constatar ao longo da dissertação. A coleta teve como lócusuma escola estadual do município de Natal/RN, na zona urbana, com o número de alunos superior a 500 e que abrange realidades heterogêneas. Outro critério de escolha foi o fato de a escola ser referência, em termos de ensino, a nível estadual, tendo obtido prêmio nacional em modelo de gestão; sua localização, pois a mesma situa-se em área central da cidade, além das limitações de recursos disponíveis – meios financeiros e materiais – e o tempo disponível para a realização da pesquisa. A escola reúne condições objetivas, designamente no que se refere aos critérios previamente definidos: faixa etária, nível socioeconômico e número de alunos. Além desses, a referida escola está entre as mais procuradas pelos estudantes e é uma referência dentre as escolas estaduais, na lista de aprovados no vestibular. Adotou-se esse critério, para que o estudo não se limitasse e reproduzisse a idéia de que a violência acontece, somente, em locais com condições sócio-econômicas precárias, ou seja, na periferia das cidades.

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dos que quiseram responder ao mesmo. Vale salientar que o momento era de estruturação do ano letivo – era a terceira semana de aulas, oficialmente, quando o quadro era de falta de alguns professores e estava à espera de estagiários enviados pela Secretaria Estadual e a conjuntura era da iminência de uma greve.

A motivação particular deste estudo teve início no ano de 2003 como bolsista voluntária da Base de Pesquisa Exclusão Social, Saúde e Cidadania e, assim, pude ter aproximação com estudos na área da violência. Estudar violência nas escolas trouxe à tona a realização desta pesquisa adentrando um pouco na área da educação, uma vez que os trabalhos sobre violências nas escolas desenvolvidos pela UNESCO têm-se debruçado, apenas, sobre as capitais dos seguintes estados da Federação: GO, MT, AM, PA, CE, PE, AL, BA, ES, RJ, SP, SC, RS e Distro Federal.

Pela formação em Serviço Social e esta dissertação ser parte integrante do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social, parte-se da análise da violência no contraditório contexto das transformações societárias que se observa no capitalismo contemporâneo. Esta realidade comporta uma vasta agenda de questões para o trabalho e para a formação profissional do Serviço Social, além de agregar as dimensões complementares de inserção da profissão no cenário contemporâneo.

Entende-se, por estas transformações societárias, os seguintes aspectos: acirramento de fenômenos de extrema desigualdade social entre alguns segmentos sociais; desestabilização das relações sociais e das formas culturais, conseqüências de um processo de alteração de uma ordem mundial com grande impacto sobre a vida econômica, cultural e social de toda a sociedade, além do crescente desenvolvimento dos meios de comunicação de massa que estimula, a cada dia, uma sociedade de consumo, dentre outros. As referidas conseqüências incidem na vida dos jovens na faixa etária dos 15 aos 24 anos de idade.

A partir destas considerações acerca das transformações societárias pode-se observar que a violência é uma das conseqüências que trazem graves implicações para o tecido social, o que chama a atenção de cientistas e pesquisadores, ou seja, alerta-os para as novas configurações e expressões à questão social dentre as quais se destaca a temática da violência.

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Chamar atenção para atos, gestos, agressões, ameaças, palavras, brincadeiras e até silêncios, que trazem como conseqüências: matar, ferir, machucar, ofender, aborrecer, frustrar. Vale salientar que esses verbos/atos não são sinônimos. Trata-se de identificar o que incomoda, machuca, agride as pessoas desTrata-se grupo.

Em termos de conceituação do objeto optou-se por analisar a juventude como categorial social e a violência num sentido amplo, ou seja, o de se estabelecer um limite racional acerca do tema, sabendo-se de antemão que é difícil de alcançá-lo. Os principais eixos discutidos tomarão por referência as contribuições das abordagens desenvolvidas a partir da Sociologia e da Antropologia, com ênfase na dimensão histórico-cultural, diante da problemática da violência na sociedade brasileira, além da tentativa de analisar o fenômeno de maneira crítica, contemplando suas múltiplas determinações. A análise sobre violência contemplará atos e palavras que, diante das situações vividas, causam mal-estar às pessoas, sobretudo às vítimas de outros tipos de violência: psicológica, simbólica, institucional entre outros.

Posta a discussão acerca da violência, faz-se necessário debater a violência no ambiente escolar, onde a mesma torna-se objeto legítimo de debate no interior da esfera pública e de atenção do Estado, na condição de uma problemática social, incidindo, de forma particular, no desenvolvimento juvenil.

Na última década, em especial no Brasil, a temática da violência ganha visibilidade no campo das Ciências Sociais. Para citar, apenas, alguns exemplos são os trabalhos desenvolvidos no eixo Rio de Janeiro e São Paulo, pelas Universidades e por Organizações Não-Governamentais. Dentre os especialistas na área destacam-se: Zaluar (1999); Velho (2002); Minayo (1994); Adorno (2002); Candau (2004); Abramovay (2002); Sposito (2001); Waiselfisz (1998); Charlot (2002), dentre outros.

Os estudos sobre juventude iniciam-se nas décadas de 1920 e 1930, nas Escolas de Chicago, onde estas tornaram marco fundamental nas pesquisas sobre tal fenômeno. Esta categoria aparece como um contraste com a ordem social. Principalmente, na atualidade, o que mais se estuda sobre a juventude é entender o efeito do crescimento urbano acelerado sobre o comportamento dos habitantes.

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Sabe-se que não há definição universalmente aceita para os limites de idade em que se encontra a juventude. Do ponto de vista sociológico, a juventude tem sido considerada, não apenas como uma categoria etária, mas também como um processo. Assim sendo, para se entender os processos sociais com os quais os jovens se envolvem, é necessário recorrer à forma como expressam seus comportamentos [...]. A história, a tradição e a cultura contribuem para a expressão de seus valores.

A juventude é uma das etapas de desenvolvimento mais significativas pelas quais passa todo ser humano. Apresenta-se como uma etapa de suma importância na mudança das relações sociais estabelecidas, além de contemplar características como transformações sociais e questionamentos de valores, de costumes, enfim, de sentimentos que contribuem para o exercício da vida adulta.

Dada essa diversidade do conceito de juventude e o viés histórico e cultural que o perpassa, nenhum corte etário seria por si só, perfeito ou impassível de ressalvas; outrossim, serve como denominador comum disponível para a coleta de dados e comparações entre determinadas macro e microrregiões acerca da juventude.

Na contemporaneidade, a juventude é a categoria social sobre a qual se refletem as mudanças, ou seja, estudar a juventude numa sociedade em transformação é, em última análise, estudar a própria mudança, e esse é um aspecto importante dos estudos sobre essa temática, qual seja contribuir para a compreensão dos atuais transformações da cultura

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Os trabalhos desenvolvidos pela UNESCO, no Brasil, trazem como principais objetivos: A definição, a estratégia e implementação de políticas públicas que contemplem a juventude e suas múltiplas necessidades, desempenhando um papel inovador na difusão da cultura de paz e na transformação da prática pedagógica. Sendo assim, busca-se que se promova a melhoria da qualidade de vida dos jovens afetados pela exclusão social e expostos a situações de vulnerabilidade social.

A partir desta realidade, como analisar a violência entre adolescentes? Desse modo, assim, com base em quais fontes, evidenciar os estudos sobre a violência juvenil, sobretudo na faixa etária dos 15 aos 24 anos?

A violência entre os jovens expressa concepções de um leque extenso do que representa a multiplicidade de experiência dos jovens com situações violentas. Indica também seu caráter difuso e difundido por meio do qual é vivenciada por eles.

Na contemporaneidade brasileira, os índices alarmantes de homicídios são superiores aos de alguns conflitos bélicos travados em outros espaços geográficos e épocas. Pode-se dizer que há uma guerra civil não declarada que tem alvo preciso, cujos dados mostram onde ela está fazendo baixas. Seus princípios parecem fundamentar-se numa ética perversa, em que a sociedade parece preservar e necessita promover a morte do novo, em relação à figura de seus jovens.

Relativamente à violência, a leitura da realidade contemporânea apresenta-a como um dos problemas sempre presentes na ordem social e nas práticas políticas e relacionais da humanidade. Ao longo do tempo, não se conhece nenhuma sociedade onde a violência não tenha estado presente. Observa-se no decorrer da história, que existe uma preocupação do ser humano em entender a essência do fenômeno da violência, contemplando aspectos como: natureza e origens, bem como os objetivos principais de atenuá-la e de preveni-la da convivência social. A dialética do desenvolvimento social traz, portanto, à tona os problemas mais expressivos e angustiantes do ser humano. A partir desta reflexão, pode-se dizer que a violência torna-se um veículo de mediação das relações sociais cotidianas.

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No caso brasileiro, ao longo do tempo, a violência passou a ocupar lugar de destaque na agenda pública. De 2% da mortalidade geral em 1930, a violência subiu para 10,5% em 1980; 12,3% em 1988; e 15,3% em 1989. No fim da década era a segunda causa de óbitos no país, perdendo em índices, apenas, para as doenças cardiovasculares (MINAYO, 2006).

As formas específicas de violência estão presentes, em maior ou menor intensidade, em todas as regiões do país e nos diversos grupos sociais. Perpassam as várias fases da vida e se instauram nas mais variadas relações humanas. Relacionadas aos diversos tipos de violência, as formas específicas com que se apresentam constituem uma rede complexa, na qual cada um, a seu modo, é vítima e autor, a um só tempo. Tal como epidemia, todos são afetados pela fonte comum de estrutura social que se mostra de forma desigual e injusta, que alimenta e mantém ativos os focos específicos de violência, os quais se expressam nas relações domésticas, de gênero, de classes e no interior das instituições.

Vive-se num mundo em decadência, com medo. Os sujeitos mostram-se, de certa forma, impotentes, diante da falência de um quadro atual de violência, corrupção e falência generalizada das instituições sociais. Sendo assim, busca-se construir estratégias que garantam a própria vida.

Na realidade urbana, a violência que atinge a todos, enquanto sujeitos e vítimas, atinge, também, a população do campo, sobretudo os trabalhadores, seja nas suas formas fatais, seja em manifestações como lesões fatais, psíquicas e simbólicas. Este fenômeno, porém, assume maiores proporções nas relações sociais das grandes regiões metropolitanas e urbanas, onde está concentrada a maioria da população brasileira.

Na sociedade contemporânea, a violência ganhou importância social, política e acadêmica fazendo parte de nosso cotidiano como um acontecimento quase normal. Ainda há um agente complicador, a insensibilidade aos acontecimentos que ultrapassam a esfera do privado ou do interesse individual. Acaba-se por aceitar tudo como normal. A violência se expressa como elemento de carência social (ABREU, 2000).

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que ocupa a vida pública de diversas outras sociedades, tanto nos países pobres como nos desenvolvidos.

Ao lado das dificuldades relativas à definição de violência, tem-se o problema da delimitação do seu objetivo. A polissemia do conceito soma-se aos problemas de definição da violência, ou seja, a multiplicidade de compreensão conduz à diversidade que evidencia a fragilidade de suas fronteiras. A violência se confunde, se interpenetra, se inter-relaciona com a agressão de modo geral e/ou com a disciplina, quando se manifesta na esfera escolar (CAMACHO, 2001).

A violência não é e nem pode ser um conceito científico. Sendo assim, é uma palavra-valor, conceito dinâmico, multifacetado, e inter-relacionado com questões sociais e referenciais éticos, culturais, psicológicos e políticos.

Estudar o fenômeno da violência nas escolas requer hierarquizar o referido fenômeno por tipos, como por exemplo, as ameaças, que são as menos violentas dentre as outras (ABRAMOVAY, 2006).

O termo violência escolar é classificado dadas as diversas formas de violência e suas principais conseqüências, com o objetivo de distinguir os atos de violência, dos atos de indisciplina.

As situações de violência comprometem o que deveria ser a identidade da escola como um lugar de sociabilidade positiva, cuja aprendizagem está enfocada em valores éticos e de formação de espíritos críticos, pautados no diálogo, no reconhecimento da diversidade e da herança civilizatória do conhecimento acumulado. Essas mesmas situações repercutem na aprendizagem e na qualidade do ensino.

Estudos, no Brasil e no mundo, tentam tornar mais preciso o conceito de violência considerando a população–alvo os jovens e o lugar da escola como instituição. Ao contemplar, não apenas a violência física, mas também acentuar aspectos como: a ética, a política e a preocupação em dar visibilidade a violências simbólicas.

A pesquisadora Abramovay (2005), chama a atenção para um desafio ao pesquisador que se propõe a estudar a violência na escola: o de desconstruir a pseudo-evidencia do conceito. Cabe analisar atos, palavras, silêncios (...) e seus efeitos, sem introduzir de imediato a palavra violência.

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1980 e desenvolvida nos anos de 1990. No século XIX, contudo, já havia explosões violentas no interior de algumas escolas do ensino médio (antigo 2º grau). A medida adotada para conter esses atos foi recorrer ao aparato policial e a prisões. Sendo assim, observa-se que, nas décadas de 1950 e 1960, a relação entre os alunos era bastante grosseira nesses estabelecimentos. Em suma, baseado na literatura especializada evidencia-se que o fenômeno das violências nas escolas não é novo; e sim, que ele assume formas ao longo do tempo. O que se pode chamar de novo são as suas formas contemporâneas.

Os anos 1990 podem ser caracterizados como um momento de mudanças no padrão de violência nas escolas públicas, englobando não apenas atos de vandalismo, mas, também, práticas de agressões interpessoais. São mais freqüentes as agressões verbais e as ameaças. Fenômeno que atinge cidades de médio e até de pequeno porte, além das regiões metropolitanas. Os efeitos de roubo e depredações são mais evidentes e fortes nas escolas públicas. A maior incidência de violências nas escolas são as agressões e ameaças entre alunos. O receio da invasão: a questão da insegurança é um dos aspectos permanentes a serem trabalhados entre os gestores das escolas.

Esta dissertação tem a seguinte estrutura: capítulo 1, articulação do binômio violência e juventude. Além das reflexões conceituais acerca das referidas categorias e fatores, vulnerabilidade e dados estatísticos; Capítulo 2 trata da conceituação das violências nas escolas, tomando por base os anos de 1980, até a contemporaneidade; discute ainda, a função da escola ao longo do tempo; os fatores de risco que incidem na análise das violências nas escolas e as manifestações acerca das violências nas escolas. O capítulo 3 apresenta, analisa e interpreta os dados coletados durante a aplicação dos instrumentos; este capítulo foi subdividido em três itens; o primeiro contempla os principais aspectos relacionados ao perfil dos entrevistados; já o segundo, abordará a relação escola e jovens e por último, a relação escola e violência.

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CAPÍTULO 1 – JUVENTUDE E VIOLÊNCIA: Em cena aspectos primordiais na abordagem da juventude e violência em dias atuais

O referido capítulo está polarizado na análise que abrange juventude e violência, além de contemplar seus conceitos e determinantes. Busca aproximar-se das diferentes formas de conceituar as categorias anteriormente citadas, assinalado a juventude como uma categoria social, quanto à violência, como um fenômeno multicausal e plural com diferentes dimensões.

1.1. Juventude: conceitos e aspectos contemporâneos

Abordar a temática juventude é de suma importância para a compreensão acerca da violência nas escolas, visto que, abordar seu significado e aspectos contemporâneos possibilitará, de forma mais próxima a análise da relação juventude e violências nas escolas.

Quanto ao conceito de juventude, pode-se dizer que este se apresenta de forma complexa e qualquer tentativa nesse sentido não pode desprezar pelo menos duas perspectivas de análise: uma biopsicológica e outra sociológica. Vale salientar que estas duas formas de análise estão intimamente ligadas (UNESCO, 2006).

Ao pesquisar sobre o verbete cultura da juventude, encontra-se a referência do termo envolvendo considerações tanto sócio-históricas quanto psicológicas, estas últimas baseadas em teorias como: psicodinâmica, desenvolvimentista, cognitiva, da personalidade, behaviorista, dentre outras. Teorias que abrangem, de certa forma, a análise acerca da transformação biopsicológica (UNESCO, 2006).

Nas explicações sociológicas, enfatizam-se, dentre outras, a importância da socialização política (família, escola, meios de comunicação...), a rápida transformação de uma sociedade, as condições e estruturas de oportunidades que favorecem a formação de movimentos da juventude.

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modificam de uma sociedade para outra. Nesse sentido, o termo juventude caracteriza-se pela transição entre a infância e a vida adulta, o que representa uma busca por um vir-a-ser, ou seja, um período de transitoriedade. É uma categoria de invenção moderna e que é tecida em um terreno de constante transformação (DIÓGENES, 1998).

Pode-se dizer também que, juventude corresponde a uma fase de transição, além de contemplar aspectos como: incerteza, mobilidade, abertura para a novidade e a mudança, instabilidade, amplas possibilidades, experimentação de diferentes identidades sociais; é um conjunto de características que parecem ter-se deslocado para além de limites biológicos, a fim de se tornarem modelos culturais que os indivíduos assumem em diferentes estágios da vida (SOUZA, 2003).

A respeito da categoria juventude, a mesma caracteriza-se como a construção de identidade, algo plástico, dinâmico e até explosivo. A construção de formas próprias de existência, de estar no mundo, de comunicar-se entre si e com os outros. O sentido de identidade é composto por elementos vivenciados pelos jovens em vários campos: na família, no trabalho e nas posições sociais que ocupam (ARAÚJO, 2004).

Na altura, pode-se introduzir uma questão: a juventude é sinônimo de adolescência?

Para responder a esta polêmica, os jovens, ao longo da História assumiram vários estereótipos, dentre eles, rebeldes, desviantes, frágeis, acomodados, alienados, irresponsáveis. Um elemento a mais surge neste cenário: aparecem como protagonistas de uma violência extrema, sem rumos e limites.

A diferença entre juventude e adolescência está no fato de juventude ter um sentido dinâmico e coletivo, e remeter a um segmento populacional que faz parte de uma determinada sociedade, ao passo que a adolescência conduz a um aspecto mais relacionado ao plano individual e demarcado cronologicamente (WAILSELFISZ, 1998).

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[...]há distinção entre juventude e adolescência no que se refere aos aspectos social, cultural e emocional. O termo juventude tem um sentido dinâmico e coletivo, e nos remete a um segmento populacional que faz parte de uma determinada sociedade, ao passo que a adolescência nos conduz a um aspecto mais relacionado ao plano individual e demarcado cronologicamente? (WAISELFISZ, 1998, p.153).

A preocupação em definir juventude ou adolescência pode ser visualizada pela OMS (Organização Mundial de Saúde) e OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde), para os quais a adolescência estaria atrelada a um processo biológico que inclui uma série de mudanças de ordem fisiológica, enquanto juventude estaria vinculada a uma categoria essencialmente sociológica; indicaria o processo de preparação para os indivíduos assumirem o papel adulto na sociedade, tanto no plano familiar quanto no profissional, estendendo-se dos 15 aos 24 anos de idade.

Outro importante aspecto que envolve o conceito de juventude está relacionado à questão da identidade coletiva. Trata-se, nesse caso, do debate entre os que a concebem como quase grupo, dotado de uma identidade latente, de uma categoria, ou seja, um simples contingente populacional com características comuns (UNESCO, 2003).

Historicamente, a juventude ganha destaque na agenda pública, na década de 1960, quando a mesma manifesta críticas mais pronunciadas à sociedade. Nesse momento destacam-se: as críticas de valores e as propostas de mudanças sociais, como por exemplo, o surgimento do movimento hippie; os jovens passam a ser considerados como atores de mudança social, introduzindo novos temas a serem debatidos em seu meio: drogas, sexo, racismo, liberdade de expressão, dentre outros. A cultura jovem passa a ser assimilada.

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impossibilidade de adquirir os bens que almejam, de satisfazer os desejos criados pelo mercado e apresentados como necessidade de consumo.

Após os anos de 1980, constatam-se novas transformações e manifestações de caráter significativo, na composição da categoria juvenil. Os estudos enfocam diferenças entre gangues e galeras e abordam sua proliferação no espaço urbano. Vale dizer que, entende-se por gangues e galeras como processo de formação de grupos de jovens de manifestações distintas; correspondem às ligações que vão desde morarem no mesmo bairro, torcer pelo mesmo time, ou, então ligadas à música, ao lazer e até mesmo às delinqüências, ou seja, são formas de afirmação de identidades.

Os estudos sobre gangues, geralmente, enfocam a violência presente nesses grupos, pela disputa de territórios nos espaços das cidades e pelo envolvimento com o tráfico de drogas e de armas. Apontam, também, para o surgimento de novas formas de sociabilidade, via aspectos de lazer cultural e artístico.

Os jovens, de modo geral, reclamam da violência existente entre gangues ou galeras que dominam territórios nos bairros. Queixam-se da rival brutalidade entre as gangues, afetando diretamente a sua liberdade de circulação.

A organização juvenil ligada a atos como: pichar, brigar por espaços, atacar um inimigo em comum, até grupos que passam para o estágio que inclui assaltos, roubos e consumo/vendas de drogas. Grupos mais ou menos estruturados, com uma rede de relações eficiente e códigos próprios. Membros são solidários entre si; partem de uma identidade comum, considerados uma verdadeira família.

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fator que impulsiona a atuação de gangues; d) em alguns casos, a invasão das escolas está ligada a atuação das gangues.

Em relação ao histórico acerca da juventude no Brasil, os estudos da mesma não têm muita tradição, manifestando-se, apenas, de grande relevância nas análises acerca da questão social na contemporaneidade, no envolvimento de crianças e adolescentes nas várias manifestações de violência ocorridas nos centros urbanos. Tem aumentado a preocupação de especialistas com os meios pelas quais os jovens possam ocupar um espaço cada vez maior na agenda governamental; principalmente, dada a realidade vivida pelos mesmos, sobretudo para aqueles que vivem em regiões menos favorecidas, com altos índices de violência e grande poder de ação da mídia.

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1.2 Juventude e Vulnerabilidade

Analisar as categorias violência e juventude requer, de forma muito particular, refletir acerca da vulnerabilidade, visto que o termo vulnerabilidade remete ao risco, à fragilidade, ou à possibilidade de dano. De modo geral, a abordagem analítica da vulnerabilidade diferencia-se desse sentido comum pela ênfase no seu contraponto ou a potencialidade de resposta dos sujeitos frente às situações adversas (WAISELFISZ, 2003).

O conceito de vulnerabilidade caracteriza-se pelo resultado negativo da relação entre a disponibilidade de recursos materiais e simbólicos dos atores envolvidos, sejam eles de caráter individual ou grupal; além de contemplar o acesso à estrutura de oportunidades de caráter: social, econômico e cultural advindos do Estado, do mercado e da sociedade. São necessidades de insumos básicos para o desenvolvimento dos recursos materiais e simbólicos (educação, saúde e trabalho), quanto ao acesso dos jovens a esses bens e serviços, explicam a dificuldade em acessar as estruturas de oportunidade e indicam os focos de reprodução de situações de vulnerabilidade social (ABRAMOVAY, 2006).

Sendo assim, relacionadas ao termo juventude, as situações de vulnerabilidade estão ocorrendo de forma mais corriqueira nos casos de: gravidez na adolescência, uso de drogas ou na prática de comportamentos violentos.

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jovens. Estas condições são determinadas, de certa forma, pelo ambiente no qual estão inseridos.

Outra forma de análise acerca da vulnerabilidade é a abordagem conceitual negativa e positiva. Enfoque negativo, do ponto de vista dos obstáculos para as comunidades, famílias e indivíduos, além dos riscos. Já os enfoques positivos, considerando possibilidades; a importância de se identificar com recursos mobilizáveis nas estratégias das comunidades, famílias e indivíduos. Além disso, o acesso às políticas públicas de lazer, educação, projetos sócio-educativos, valores religiosos; e, familiares socializados pela condição econômica de seus responsáveis e pelo contexto social que permitem aos jovens uma menor suscetibilidade aos riscos, entre eles, o risco da violência.

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1.3 Juventude e violência: uma realidade latente

Na década de 1980, por exemplo, as mortes violentas ocupavam o primeiro lugar. Pode-se constatar essa afirmação a partir dos seguintes dados: 47% na faixa dos 05 aos 09 anos; 54,6% dos 10 aos 14 anos; 70,8% dos 15 aos 19 anos; 65,9% dos 20 aos 29 anos; 41,1% dos 30 aos 39 anos; e 20,6% dos 40 aos 49 anos. A referida década de 1980 já sinalizava a incidência de homicídios nas faixas etárias mais jovens, em idade produtiva (MINAYO, 2006).

Segundo a OMS, em 1989, as causas externas constituem a primeira causa de morte na faixa etária dos 05 aos 14 anos (46,5%) e entre os jovens dos 15 aos 29 anos esse índice cresce para 64,4%, correspondendo ao conjunto das causas de mortalidade desses grupos de idade.

Em 2002, também é verificada a escalada de violência que vitima a juventude: a taxa de mortalidade, na faixa dos 15 aos 24 anos, por causas violentas duplicou nas duas últimas décadas. Os índices são alarmantes. No plano nacional, 40% das mortes entre os jovens devem-se aos homicídios. Nas capitais do país, essa proporção se eleva para 47%. No âmbito internacional, os índices de homicídios entre jovens são extremamente elevados (WAISELFISZ; MACIEL, 2003).

O Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003, realizado pela UNESCO, apresenta indicadores preocupantes acerca dos jovens no Brasil como um todo. A partir destes dados reforça-se a questão de que o Brasil, ainda carece de uma política efetiva voltada para a juventude. A vítima mais expressiva do crime organizado é a juventude enquanto consumidor e força de trabalho paralelo, mas também como alvo de extermínio. Estudos mais aprofundados apresentam dados de mortalidade por violência entre os jovens que evidenciam um perfil onde predominam as seguintes características: a baixa escolaridade e baixa renda, a pouca qualificação, o sexo mais atingido é o masculino e a cor é a negra (MINAYO; et al, 1999).

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Faz-se necessário citar que, o comportamento dos jovens, atualmente, se manifesta, sobretudo, nos ritos de passagem. Os designados ritos de passagem entre a infância e a vida adulta. Com isso, diversos ritos significavam, simbolicamente, a passagem de uma fase de desenvolvimento da vida para a seguinte. Como por exemplo: os bailes de formatura, o primeiro emprego, a primeira relação sexual, medos e ansiedades diante de uma nova etapa da vida.

Nas sociedades atuais, estes ritos de passagem não estão tão visíveis. Apresentam-se mais empobrecidos e raros em nosso meio cultural. Acabam por reproduzir incertezas e inseguranças nos jovens, quando se deparam com momentos de importantes mudanças, diante da passagem de um momento a outro da vida. Os ritos que se fazem presentes na contemporaneidade não se embasam na tradição. As novas gerações vêm perdendo, cada vez mais, o contato com as tradições de seus antecedentes. Com isto, importantes valores como formação, informação e autoridade deixam de ser transmitidas às gerações futuras.

Para os jovens, a violência nem sempre está referida à agressão física. Muitos estudos consideram como violentas, também, situações que não evolvem a força e que abrangem atitudes que, muitas vezes, estão arraigadas nos comportamentos entre os pares, tais como: “magoar, agredir por meio de palavras e atitudes, comportamentos que os jovens consideram ‘falta de respeito’, já seriam, para eles, formas de exercer a violência” (ABRAMOVAY, 2002, p.95).

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1.4 VIOLÊNCIA – marco conceitual

No capítulo que ora inicia, far-se-á uma abordagem acerca dos conceitos e principais referentes à temática.

O termo violência tem origem no latim, violentia; ‘veemência’, ‘impetuosidade’ e deriva da raiz latina vis ‘força’. Ainda pode-se dizer que há uma relação entre violência e violação, caracterizando-se, assim, na quebra de algum costume ou dignidade.

Em sentido primário, a violência caracteriza-se como uso banal, simples: violênciatende a ser uma palavra complicada, que se refere a uma agressão física. Pode-se tomar, como exemplo, o ato de roubar um banco, ao uso do significado de agressão física, como o uso da força física e o uso de bombas.

A violência traz inúmeros significados, além do reconhecimento do ato violento, definido por alguns autores como condições históricas e adversas.

O uso da força física ou do poder, real ou potencial, contra si próprio, contra outras pessoas ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha grande possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação (OMS apud PINHEIRO; ALMEIDA, 2003, p.16).

De acordo com a UNESCO, a violência corresponde à intervenção física de um individuo ou grupo contra a integridade, desde suicídios, espancamentos de vários tipos: roubos, assaltos e homicídios até a violência no transito, disfarçada sob a dominação de acidentes, além das diversas formas de agressão sexual. Compreende-se, igualmente, todas as formas de violência verbal, simbólica e institucional.

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mas nas relações familiares, nas relações de gênero, na escola e nos diversos campos da vida social (FANTE, 2005).

A partir desta reflexão, Waiselfisz (1998, p.174) contempla o conceito de violência como o “fenômeno que se manifesta nas diversas esferas sociais, seja no espaço público, seja no espaço privado, compreendido de forma física, psíquica e simbólica”.

Outra forma de análise do fenômeno da violência:

Trata-se de um complexo e dinâmico fenômeno biopsicossocial, mas seu espaço de criação e desenvolvimento é a vida em sociedade. Portanto, para entendê-la, há que se apelar para a especificidade histórica. Daí se conclui, também, que na configuração da violência se cruzam problemas da política, da economia, da moral, do Direito, da Psicologia, das relações humanas e institucionais, e do plano individual (MINAYO, 1993, p. 01).

Baseado nisso, podem-se reter alguns elementos constitutivos da violência: ação, produção de dano e intencionalidade, ou seja, conduz a uma definição básica do que seja violência: ação intencional que provoca dano. Violência como substantivo funciona como um qualificador do agir humano:

A violência é exagerada, arrebatadora. A força é cometida. Não é possível viver abdicando do uso da força, mas é necessário saber a diferença que existe entre ela e a violência. O uso da força é prudente-dentro, claro, de seus limites. Já a violência é a “força cega”, que não enxerga as conseqüências de seus atos (PINHEIRO; ALMEIDA, 2003, p.9).

Quando se age, exerce-se a violência, ou não. A ação não-violenta, pautada pela ética, é a única forma que possibilita o encontro dos homens e mulheres pela palavra. Tentar compreender a violência é uma tarefa que se coloca diante da própria essência humana.

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houve intenção de causar dano. Daí, a distinção entre a violência de lesar e a intenção deusar a violência.

Nesta reflexão, observa-se a intencionalidade à prática do ato, independentemente do resultado produzido. Não se restringe a considerar as ormas de violência que não acarretam, necessariamente, lesão ou morte, mas que oprimemas pessoas, as famílias, as comunidades e os sistemas de saúde de forma abrangente.

Violência é todo ato que implica a ruptura de um nexo social pelo uso da força. Nega-se, assim, a possibilidade da relação social que se instala pela comunicação, pelo uso da palavra, pelo diálogo, e pelo conflito (SPOSITO, 2006, p.22).

No momento, torna-se pertinente a reflexão sobre os termos poder e uso da força física: ampliam a natureza de um ato violento e abrangem atos que resultam de uma relação de poder, inclusive ameaças e intimidações além de negligência. O uso da força física ou do poder deve incluir a negligência e de todos os tipos de abuso físico, sexual e psicológico, contemplando, ainda, o suicídio e outros atos de auto-abuso. A inclusão da palavra poder abre a possibilidade de desconsiderar as violações de direitos humanos, especialmente quanto aos direitos civis, que contemplem a omissão ou certas práticas de agentes estatais, como por exemplo, a tortura e as execuções sumárias.

Faz-se importante a abordagem da violência como o resultado ou a reação das pessoas contra circunstâncias opressivas que os afligem, principalmente o estado de pobreza. A vida marginalizada, acometida e desencadeada, principalmente, pelas desigualdades e pelo desemprego; além de analisar a violência como um fenômeno multidimensional e que, para compreendê-la, é preciso ter presente diversos fatores relacionados à problemática macrossociológica, abordando aspectos de âmbito: econômico, social, cultural e político para, partir de então, entender suas causas (OLIVEIRA, 2000).

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indivíduo ou grupo de indivíduos prejudicados, pela forma repetitiva com que, consciente ou inconscientemente, se expressa e pelas ações ou intenções que causam sofrimento generalizados (FANTE, 2005, p.207).

Não se restringe à manifestação física, mas se entende às situações de humilhação, exclusão, ameaças, desrespeito, indiferença, omissão para com o outro. O conceito de violência, expressando-se nas formas e mecanismos pelos quais a sociedade convive com as diferenças.

A partir de então, far-se-á uma análise acerca dos principais aspectos que contemplam a análise da violência na realidade brasileira, da década de 1970 até os dias contemporâneos.

Na realidade brasileira, a partir da década de 1970, foram identificados os primeiros sinais que evidenciavam o fenômeno da violência urbana. Deu-se início no Brasil, a produção intelectual sobre a violência, momento em que o nível de consciência social dos intelectuais sobre a temática aumentou. Fenômeno desencadeado como conseqüência do agravamento da crise social. Um número expressivo de pessoas, muitas vezes sem perspectivas, deixou o meio rural e chegou à cidade. Essas pessoas acabaram se refugiando em regiões periféricas dos centros urbanos. Vale salientar que o crescimento desordenado das cidades tem um importante papel no chamadodesajuste social. Além de tais aspectos: o inchaço das grandes cidades, o favelamento e o desemprego são variáveis fundamentais na análise sobre a violência, tendo como conseqüências a escalada da criminalidade e o surgimento do clima de insegurança que se tem nos dias atuais. Outros pontos a serem colocados são a competitividade, o individualismo e o consumismo, alimentados e enfatizados na sociedade moderna pela mídia – para alguns autores, este meio é usado como agente precursor na eclosão da violência (OLIVEIRA, 2000).

A partir da década de 1980 foi o momento em que a violência urbana tornou-se o objeto de intensa produção na perspectiva das Ciências Sociais.

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baixos salários e à baixa renda familiar, para a maioria da população, associados à inflação e, conseqüentemente, à perda do poder aquisitivo.

Pode-se dizer, ainda, que a intensificação da violência estrutural reforça a descrença e o afastamento da população, em relação às instituições sociais que, em muitas vezes, não realizam as funções as quais se destinam e, em muitas vezes, quando as realizam, atuam de modo violento e discriminatório.

Na década de 1980, a violência surge como um fenômeno cuja faceta apresenta algumas características como: apreensão no cotidiano, pela inércia e pelos tempos marcados pelos assaltos, seqüestros e assassinatos; além de passar a ser objeto de reflexão por várias áreas do saber, dentre elas a saúde pública, pelo papel que assume diante das taxas de morbi-mortalidade, vitimando crianças, jovens adultos e idosos, indiscriminadamente (MINAYO, 2006).

No tocante à conjuntura social da época, MINAYO; et all (1999) relacionam três principais fatos quanto ao aumento das taxas de homicídio nas grandes regiões metropolitanas. O primeiro corresponde à consolidação do crime organizado em torno do tráfico de drogas, criando uma economia e um poder paralelos; assumindo, muitas vezes, o papel do Estado em áreas como: assistência e segurança; e confrontando-se, no imaginário social e na realidade das classes populares, como a segurança política. O segundo fato está na consolidação de grupos de extermínio. Por último, o terceiro fato está relacionado ao aumento da população que vive e trabalha nas ruas, sobretudo a população infantil e juvenil, obrigada a trabalhar, devido, principalmente, ao aumento da pobreza absoluta, nas regiões metropolitanas brasileiras na década citada.

É muito comum encontrar, tanto na literatura quanto nas páginas de notícias, referências que permitam focalizar diferencialmente o fenômeno, como por exemplo: violência doméstica, juvenil, bélica, contra a mulher, contra a criança, religiosa, simbólica, racial, física, criminal, dentre outras. Com base no que foi colocado até então, pode-se reter que, ao analisar o termo de forma genérica, corre-se o risco de esconder realidades que geram modos bem diferentes de manifestação e de entendimento da violência.

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Tal quadro possibilitou ao crime organizado impor seu terror, instalando-se nas comunidades populares e transformando-se em enclaves do não-estado de direito, muitas vezes graças à omissão ou até conivência das autoridades, tanto na ditadura como na democracia (PINHEIRO; ALMEIDA, 2003, p.9).

A combinação de fatores pode indicar a emergência da violência em diferentes níveis: individual, familiar, comunitária e no âmbito da desigualdade. Em nível individual, corresponde à impulsividade sem autocontrole e o abuso de álcool e drogas são fatores de risco para todos os tipos de violência. Na família, a falta de habilidade no exercício da paternidade ou da maternidade é o fator de risco para o abuso contra a criança. Já na esfera comunitária, o isolamento de mulheres e a influência negativa dos pares são fatores de risco para a violência. Por último, a desigualdade caracterizada em várias faces: entre os sexos, ricos e pobres no acesso fácil às armas e aceitação social da violência podem prover campo fértil para a violência (PINHEIRO; ALMEIDA, 2003).

Ainda, de acordo com os autores, para que se possam minimizar os efeitos da violência é preciso intervir em todos esses níveis.

A sociedade brasileira tradicional, a partir de um complexo equilíbrio de hierarquia e individualismo, desenvolveu, associado a um sistema de trocas, reciprocidade na desigualdade e patronagem, o uso da violência, mais ou menos legítimo, por parte de atores sociais bem definidos (VELHO,2006).

A partir desta realidade, aspectos como: a manipulação de poder, a corrupção, e o uso da força - dentro de certos limites – são ocultos, tolerados e mesmo valorizados, tendo papel fundamental no desenvolvimento e manutenção da dinâmica social.

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Cabe, aqui, uma reflexão: na sociedade brasileira, que há apenas duas décadas saiu de um regime autoritário, vivencia quatro tendências: 1) o crescimento da delinqüência urbana, em especial dos crimes contra o patrimônio e de homicídios dolosos; 2) a emergência da criminalidade organizada, em particular referente ao tráfico internacional de drogas, que de forma direta intervém nos modelos e perfis convencionais da delinqüência urbana e propõe novos problemas para o direito penal e para o funcionamento da justiça criminal; 3) graves violações de direitos humanos; 4) a explosão de conflitos relacionados à intersubjetividade, como por exemplo: conflitos de vizinhança, que em muitas vezes terminam em desfechos fatais (ADORNO, 2002).

Outro aspecto merece destaque, é a discussão da tipologia da violência, como mecanismo voltado para fornecer uma estrutura útil para a análise e o entendimento dos padrões de violência na sociedade brasileira e no resto do mundo, assim como na vida diária dos indivíduos, família e comunidades. Essa análise permite também, captar a natureza dos atos violentos, a relevância do cenário, a relação entre perturbador e vítima. É óbvio que, por tratar-se de uma realidade, uma categoria social, não é tão fácil classificar e conceituar a violência; no entanto, essa análise contribui para a maior apreensão de como esta se manifesta (PINHEIRO; ALMEIDA, 2003).

De acordo com esta análise, a tipologia da violência subdivide-se em três categorias: a Auto-infligida, a Interpessoal e a Coletiva. A auto-infligida é a violência dirigida a si mesmo; é subdividida em: comportamento suicida e comportamento auto-abusivo.

A interpessoal é infligida a outra pessoa ou grupo. É subdividida em: violência da família e dos parceiros íntimos (violência doméstica) e violência comunitária. A violência doméstica, em geral, é o tipo de violência que ocorre dentro de casa. Na violência comunitária, em geral, ocorre fora de casa e entre pessoas que podem, ou não, se conhecer. Um exemplo desse tipo de violência é a violência juvenil, as agressões físicas entre jovens e a violência em grupos institucionais, como: escolas, locais de trabalho, prisões e asilos.

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Quanto à classificação geral da violência, pode-se dividi-la em: violência estrutural, violência de resistência ou revolucionária e violência da delinqüência. A violência estrutural é o tipo de violência que nasce no próprio sistema social. Pode ser compreendida como aquela que oferece um marco à violência do comportamento e aplica-se tanto às estruturas organizadas e institucionalizadas da família como os sistemas econômicos, culturais e políticos que os tornam mais vulneráveis que outros, ao sofrimento e à morte. Estas estruturas influenciam os sujeitos de forma preponderante, nas práticas de socialização. Traz como conseqüências: a fome, o desemprego e os problemas sociais vivenciados pela classe trabalhadora. É cuidadosamente velada e não costuma ser nomeada, sendo muitas vezes vista, assumindo como características: a-histórica, vista como algo natural, como a própria ordem das coisas e disposições das pessoas na sociedade.

A violência de resistência ou revolucionária corresponde às diferentes formas de respostas dos grupos, classes, nações e indivíduos oprimidos à violência estrutural. Para os grupos discriminados, este tipo de violência expressa o grito das classes, que ocorre, geralmente, de forma organizada, buscando a criação de uma conscientização transformadora. Já os dominantes a vêem como forma de resistência e de denúncia, são vistas como insubordinação e desordem.

A violência da delinqüência constitui-se nas ações fora da lei, socialmente reconhecida. A análise deste tipo de ação necessita compreender o significado da violência estrutural (MINAYO, 1990). Um fato importante a ser colocado é que a delinqüência não pode ser vista como um fenômeno natural, nem pode ser explicada como uma conduta patológica dos sujeitos e tampouco como atributos de pobres ou negros. Como fatores que influenciam na expansão da delinqüência, exemplificam-se: as desigualdades sociais, a desvalorização de normas e valores morais, o desejo do lucro fácil, o culto à força e o machismo e a perda das referências culturais.

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Uma crise ampla que concerne à crise de valores, sobretudo morais e éticos. A partir disso, observa-se uma crise, juntamente com o aumento da violência, que conduzem a três graves conseqüências: a) banalização da vida, visto que a mesma tornou-se algo sem importância; b) aumento de respostas violentas frente a situações de humilhação vividas cotidianamente; c) desconhecimento ou desrespeito aos valores éticos públicos como: justiça, honestidade, humildade e generosidade e, em seu lugar, à apreciação dos valores privados – fidelidade e coragem – e dos que significam alguma forma de glória – beleza, força física, statusfinanceiro e social.

A partir desta análise, outro ponto a ser debatido é quanto à forma como a violência se configura na realidade brasileira atual, onde: “perdem-se referências simbólicas significativas, perdem-se expectativas de convivência social elementares”. Assim, segundo Velho (2006a), embora tenha raízes na pobreza e na miséria, a violência não é apenas um fenômeno sócio-econômico. É também ético-moral.

A violência na contemporaneidade ganhou uma tradução polifônica e um caráter múltiplo, trazendo à agenda pública alguns questionamentos como: direitos fundamentais, valores universais liberdades individuais e coletivas. Sendo assim, questões como valores e direitos tornaram-se uma bandeira de luta para os defensores da vida e da dignidade humana; principalmente, quando se observa que, no século XX, há uma realidade onde se destacam: guerras, massacres, intolerância, homicídios, aprofundamento das desigualdades sociais produzindo fome e miséria extrema, dentre outros acontecimentos brutais, o que gerando uma profunda perplexidade entre aquelas pessoas chocadas com tais fatos.

Na contemporaneidade o tema da violência ganhou importância social, política e acadêmica, passando a fazer parte de nossas vidas como se fosse um acontecimento quase banal. Ela está dentro de nossas casas, nos jornais [...], enfim, em quase todas as dimensões de nossa vida e na realidade em que estamos inseridos (COSTA; PIMENTA, 2006, p.5).

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A violência, tanto para quem a comete quanto para quem é submetido a ela, é, no mais das vezes, uma questão de violência repetida, às vezes tênue e dificilmente perceptível, mas que, quando acumulada, pode levar a graves danos e traumas profundos nas vítimas, e a um sentimento de impunidade no perpetrador (embora devemos ter sempre em mente que certos perpetradores costumam ser, eles próprios, vítimas) (DEBARBIEUX,2002,p.82-83).

Na contemporaneidade, o fenômeno da violência caracteriza-se, sobretudo, como intencionalidade lesiva, além de um dos signos dos espaços urbanos que gera insegurança, medo e sentimento de impotência, onde o valor da vida parece inexistente. A violência deixou de ser um componente de excepcionalidade e se dissemina a tal ponto que se naturalizou, banalizou-se, passando a ser elemento comum no cotidiano das populações, sobretudo nas de baixa renda. A banalização da violência provoca a insensibilidade ao sofrimento, ao desrespeito e a invasão do campo do outro.

Dentre as novas configurações que singularizam um cenário de violências nos centros urbanos brasileiros na virada do século, destacam-se: a) aumento do acesso a armas; b) “juvenalização” da criminalidade; c) maior visibilidade e reação da violência policial, em particular contra jovens, em bairros periféricos; d) ampliação do mercado de drogas e poder de fogo do crime organizado, em especial do narcotráfico, em distintos centros urbanos; e) cultura individualista e por consumo – “individualismo de massa” – derivada das expectativas não satisfeitas, potencializando violências.

Um aspecto a ser enfocado é a forma como os valores priorizados pelos jovens são os mais ligados à glória (como status social). Então, a indisciplina e a violência assumem características que funcionam como instrumento: de ascensão social, fortalecimento da posição de comando do grupo de amigos, mostra de poder para as prováveis pretendentes amorosas, manifestação de força para grupos rivais, ou para atrair novos adeptos ao seu grupo.

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CAPÍTULO 2 - AS VIOLÊNCIAS NAS ESCOLAS: CONCEITOS, FATORES, CONTRADIÇÕES E FORMAS

2. 1. Escola e violência

A escola, em sua condição de instituição, acaba sofrendo os efeitos de processos sociais mais amplos. Processos esses que incidem de forma muito peculiar nas relações sociais estabelecidos naquela instituição. Assim sendo, a violência veiculada à questão da educação, propõe que a escola tenha uma postura ética, que proporcione o engajamento de seus membros pela via educacional. Assim,

“violência” é o nome que se dá a um ato, uma palavra, uma situação, etc., em que um ser humano é tratado como um objeto, sendo negados seus direitos e sua dignidade de ser humano, de membro de uma sociedade, de sujeito insubstituível. Assim definida, a violência é o exato contrário da educação, que ajuda a advir o ser humano, o membro da sociedade, o sujeito singular (ABRAMOVAY; AVANCINI, 2005, p.25).

O que é caracterizado como violência varia, em função do estabelecimento escolar, da posição de quem fala (professores, diretores e alunos, dentre outros), da idade, do sexo. Sendo importante uma conceituação mais apropriada do lugar, do tempo e dos inquiridos – atores que a examinam. “[...] requer um leque extenso do que seja violência, expressando uma multiplicidade de experiência dos jovens com situações violentas” (ABRAMOVAY; et al, 2002, p.95).

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A violência relaciona-se com a palavra, assim como o silenciamento, cercamento de palavra, em planos diversos. A não negociação de conflitos estimula o recurso da não comunicação. Mas a não palavra se configura em violência além do corte da relação dialógica, a recusa à argumentação, a ouvir e compreender o outro, refletindo e transpondo intolerância (ABRAMOVAY; AVANCINI, 2005,p.82).

Candau et al (2001) atribui ao conceito de violência nas escolas, não apenas as agressões físicas e individuais, ou sob a forma de vandalismo, como também as chamadas incivilidades em forma de ofensas e humilhações, palavras grosseiras, dentre outras; além de dividir a violência nas escolas em três pontos principais: violência física, econômica e moral ou simbólica.

Fenômeno múltiplo e diverso, que assume determinados contornos em conseqüências de práticas inerentes aos estabelecimentos escolares e ao sistema de ensino, bem como às relações sociais nas escolas (ABRAMOVAY; AVANCINI, 2005, p.70).

Quanto à análise teórica sobre a violência nas escolas, Charlot (2002) divide esta análise em três formas: violência na escola; violência à escola e violência da escola. A violência nas escolas caracteriza-se pelo tipo de violência que se produz dentro do espaço escolar, não estando diretamente ligada à natureza e às atividades da mesma, como por exemplo: brigas, agressões e xingamentos entre alunos neste espaço. A violência à escola constitui-se no tipo de violência pela natureza e pelas atividades da instituição escolar; uma violência contra a escola. São exemplos desta forma de violência: as depredações e pichações nas escolas. Por último, a violência daescola, ou seja, uma violência institucional, simbólica, corresponde à forma como a escola e seus agentes conduzem o processo de ensino e que, muitas vezes estas formas incidem de forma negativa no processo ensino - aprendizagem. Os exemplos desta forma se apresenta como: a atribuição de notas, palavras desdenhosas dos adultos, atos que se configuram como injustos e racistas, dentre outros.

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A defesa de um conceito ampliado de violência se fundamenta numa compreensão do fenômeno como algo intrinsecamente relacionado ao contexto social, histórico, cultural em que se dá, com a vantagem de poder abarcar ações, comportamentos e processos diferenciados que envolvem sujeitos distintos (alunos, professores, moradores da comunidade, etc.) e a própria instituição escolar. Assim, não são apenas os episódios graves e espetaculares – como homicídios, porte e uso de armas – que são compreendidos como violência, mas também conflitos, comportamentos e práticas institucionais incorporadas aos cotidianos dos estabelecimentos escolares (ABRAMOVAY; AVANCINI, 2005, p.79).

Nos últimos anos, dado o aumento ou registro de atos delituosos e de pequenas e de grandes incivilidades tem-se como resultado um sentimento de insegurança nos que freqüentam o ambiente escolar. Tornam-se mais visíveis as transgressões, os atos agressivos; os incidentes mais ou menos graves têm como palco a escola ou seu entorno, onde todos os atores (professores, alunos e corpo técnico -pedagógico) sentem-se vítimas em potencial.

Observa-se, nos anos 1990, que a violência escolar passar a ser observada nas interações dos grupos de alunos, caracterizando um tipo de sociabilidade entre os pares ou de jovens com o mundo adulto, ampliando e tornando mais complexa a própria análise ao fenômeno (SPOSITO, 2006, p.91).

Em alguns lugares, a violência nas escolas associar-se-ia a três dimensões, segundo Abramovay; Castro. A primeira dimensão retrata a degradação do ambiente escolar, ou seja, a dificuldade na gestão das escolas, resultando em estruturas diferentes. A segunda dimensão corresponde a uma violência que se origina fora e vem para dentro da escola, manifestando-se por intermédio da penetração das gangues, do tráfico de drogas e da visibilidade crescente da exclusão social. E a terceira dimensão relaciona-se com componentes internos das escolas; específicas de cada estabelecimento.

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Tabela 2 – Distribuição dos inquiridos segundo faixa etária
Tabela 3 – Distribuição dos inquiridos segundo com quem vive
Tabela 5 – Distribuição dos inquiridos segundo situação conjugal dos pais
Tabela 8 – Distribuição dos inquiridos segundo atividade que realizam quando não  estão na escola
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Referências

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