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Considerações gerais sobre o projeto “Timóteo, capital do inox”

3 ASSOCIATIVISMO E COOPERATIVISMO POPULAR TRAJETÓRIAS,

5.1 Considerações gerais sobre o projeto “Timóteo, capital do inox”

De acordo com os dados do IBGE do ano de 2006, o município de Timóteo, no qual se localiza a COOPERINOX, possui uma população estimada em mais de 81 mil habitantes. A cidade está localizada a 200 km de Belo Horizonte, na Região Metropolitana do Vale do Aço (região rica em reservas de minério de ferro, insumo básico para a produção do aço) e tem como limites geográficos, Coronel Fabriciano, Ipatinga, Santana do Paraíso, Antônio Dias, Marliéria, Jaguaraçu.

Do ponto de vista econômico, o município possui uma receita mensal média de R$ 4,5 milhões. A População Econômica Ativa (PEA) é composta de mais de 18 mil habitantes que se distribuem em mais de 200 indústrias, 2.000 estabelecimentos comerciais e 3.500 prestadores de serviços. Segundo dados da Fundação João Pi- nheiro, o setor industrial se destaca com mais de 54% da população trabalhadora. O Produto Interno Bruto (PIB) gira em torno de 424 milhões estimando-se, portanto, um PIB per capta superior a R$ 7,5 mil.

O município teve sua origem com a construção da Acesita – uma indústria de referência no setor do aço no Brasil e América Latina em meados da década de 1940, o que o levou a um rápido crescimento econômico. No início da década de 90, com o objetivo de atenuar os impactos socioeconômicos causados pelo processo de privatização da Acesita em 1992 (hoje Arcelor Mittal Inox Brasil), foram lançadas as bases do projeto Timóteo, capital do inox. Esse projeto é coordenado pela Agência de Desenvolvimento de Timóteo (ADT), com apoio da própria ACESITA, Fundação ACESITA e Instituto do Inox.

Quanto às diretrizes gerais desse projeto lançado em abril de 1997, teve co- mo objetivo principal, estimular a criação de empresas que queriam utilizar o aço inox como matéria-prima na fabricação de produtos e/ou na prestação de serviços.

Esse projeto surgiu do fato de estar instalada no município, a única empresa fabri- cante de aços inoxidáveis planos da América Latina, a Acesita S.A.

O projeto oferecia várias vantagens aos empresários que queriam se instalar no município, como: doação de terreno público; treinamento gratuito da mão-de-obra (operacional e gerencial); subsídio médio de 20% na compra do aço inoxidável; pra- zo de 45 dias para pagamento na compra do aço inoxidável, sem encargos financei- ros; fornecimento do aço inoxidável de acordo com a demanda das empresas, sem a exigência de cotas mínimas; fornecimento do aço inoxidável em sistema de Just in Time - JIT, eliminando a necessidade de estoques.

Naquele momento, o município dispunha apenas de uma empresa trabalhan- do na atividade do beneficiamento do aço inoxidável que, pelo seu porte, (consumo superior a 18 ton./mês de aço inoxidável), estava fora do projeto.

A partir do lançamento do projeto, em abril de 1997 até dezembro de 2002, fo- ram criadas 25 (vinte e cinco) novas empresas, sendo que 2 (duas) delas foram de- sativadas. Dessa forma, restaram no município 24 (vinte e quatro) empresas: 23 (vinte e três) integram o projeto Timóteo, capital do inox, e 01 (uma) não.

Em virtude das estratégias de ampliação do mercado interno de aço inoxidá- vel no país, a ACESITA apoiava várias entidades e projetos existentes no município, inclusive com aporte de recursos financeiros o que contribuiu para a viabilização do projeto. Tal apoio reverteria em maior visibilidade da empresa, bem como assegura- ria uma imagem de responsabilidade social. A propósito, as entidades que recebe- ram apoio da ACESITA foram:

1 - Agência para o Desenvolvimento de Timóteo – ADT. Entidade sem fins lu- crativos cujo objetivo principal é a captação, implantação e fortalecimento de micro- empresas e pequenas empresas. Essa entidade foi quem criou e coordena o projeto Timóteo, capital do inox. Os dirigentes das empresas de aço inox da cidade reco- nhecem que a ADT contribuiu para a sobrevivência de suas empresas, seja na cria- ção dos benefícios daquele projeto, seja na criação de outros projetos que visam ao fortalecimento dessas empresas.

2 - Instituto do Inox. Entidade sem fins lucrativos, criada pela ADT e, atual- mente, mantida pela Fundação Acesita, cujo objetivo principal é a formação profis- sional da mão-de-obra operacional e de empresários no ramo do aço inoxidável. A- tua, também, na promoção de seminários e participação em feiras ligadas ao setor do aço inoxidável. Os empresários e dirigentes em geral reconhecem que o Instituto funciona como uma base de apoio tecnológico, ainda que incipiente, àqueles que queiram ingressar no ramo do aço inoxidável e, também, àqueles que já estão no ramo.

3 - Além das entidades que apóiam microempresas e pequenas empresas, foi criado em setembro/2002, pela ADT, um projeto denominado Vendas, cujo objetivo principal era incrementar o volume de vendas das microempresas e pequenas em- presas que integram o projeto Timóteo, capital do inox. Participam desse projeto 20 (vinte) das 24 (vinte e quatro) empresas fabricantes de produtos em aço inoxidável. Esse projeto surgiu da necessidade, identificada pelos dirigentes dessas empresas, de melhorar o desempenho das empresas em termos de vendas de seus produtos e serviços. Para tanto, foram definidas no plano piloto e sem custo para os dirigentes dessas empresas, ações, tais como: contratação de representantes comerciais em Belo Horizonte e Governador Valadares; elaboração de um folder institucional para cada empresa contendo os seus produtos e serviços; confecção de uma pasta con- tendo os folders e as tabelas de preços dos produtos e serviços; capacitação dos representantes comerciais sobre a aplicabilidade do aço inox.

4 - Outro projeto dessa época foi o Consórcio de Exportação, criado também pela ADT, em dezembro/2002. Ele tinha por objetivo a preparação da empresa em termos de estrutura organizacional e tecnológica, e ainda, definição de linhas e pro- dutos das microempresas e pequenas empresas visando à exportação de seus pro- dutos. Participaram dele 10 (dez) das 24 (vinte e quatro) empresas do projeto Timó- teo, capital do Inox que durou dois anos. Esse projeto contemplou ações significati- vas, tais como: organização administrativa e financeira, treinamento sobre design, elaboração de catálogos manuais e eletrônicos, participação em feiras nacionais e internacionais, certificação de normas internacionais (ISO), exportação de produtos.

Por fim, o objetivo geral desse projeto é proporcionar a comercialização de chapas de aço inox em âmbito local, até então restrita ao mercado de grandes ata-

cadistas nacionais. Constam desse projeto ainda, cursos de formação e qualificação de mão-de-obra técnica para capacitar operários para a trabalhabilidade do AÇO inoxidável.

Tais cursos estão fundamentados numa concepção de favorecer a cultura empreendedora, ao estimular o surgimento de empresas que beneficiam o aço inox. Grande parte delas é constituída por microempresas e pequenas empresas. Nas trilhas da interpretação, tal concepção se articula com a estratégia mais ampla de especialização flexível do capitalismo contemporâneo, que consiste segundo Xavier (1997, p. 83), em um paradigma alternativo para a produção capitalista,

[...] o qual se funda em elementos da produção artesanal em pequenos lo- tes, com tecnologia multipropósito, ancorada em trabalhadores qualificados e dotada de capacidade de alterar, constantemente, o mix de produção com baixos custos de reconversão, em oposição ao paradigma da produção em massa, que teria dominado o desenvolvimento econômico internacional desde o século 19.

Quanto à especialização flexível, em uma perspectiva microeconômica e nu- ma formulação sintética, Schmitz (1989, p. 263) a define como a “fabricação de pro- dutos variados com equipamentos de múltiplos propósitos e trabalhadores polivalen- tes”.

Do ponto de vista macroeconômico, para entendimento da proposta de es- pecialização flexível, Piore e Sabel (1984, p. 258) adotam um esquema analítico que recua aos distritos industriais do século XIX, ou seja,

[...] estabelecer como um dos aspectos fundamentais desse sistema, a inte- ração entre firmas, cujo relacionamento conciliaria os princípios aparente- mente contraditórios de cooperação e competição – o primeiro permitindo enormes ganhos de eficiência global e o segundo estimulando a inovação permanente de produtos e processos.

Ainda quanto ao projeto Timóteo, capital do inox, tem como propósito, através da ADT, atrair empresas do setor de inox para o município. Aliás, desde sua origem, foram constituídas cerca de 30 empresas especializadas na manufaturação do aço inoxidável.

O SEBRAE Minas apóia a iniciativa do Projeto Timóteo, capital do inox pro- movendo ações de capacitação e treinamento gerenciais para trabalhadores envol- vidos nas microempresas e pequenas empresas, bem como na cooperativa. No ano

de 2004, fez um trabalho de design gráfico e de produtos com o objetivo de desen- volver linhas de produtos para fabricação em série. Tal perspectiva conflita com a concepção original da Cooperinox que se propõe ser uma cooperativa de artesãos e não de operários inseridos em linha de produção em série. Na visão do SEBRAE, tratava-se de incentivar a implantação da forma de produção seriada, a fim de mini- mizar a sazonalidade da produção por encomenda, a principal forma de atuação das empresas. Tal iniciativa permeava o consórcio de exportação em implantação na cidade.

O entendimento da experiência histórica da COOPERINOX (Cooperativa dos Produtores Artesanais de Inox de Timóteo), confrontada com os desafios do coope- rativismo popular solidário e com a ideologia do empreendedorismo, por sua vez, auxilia a compreensão do significado e alcance das experiências de economia soli- dária em confronto com as estratégias de organização da produção pelas empresas modernas na Região do Vale do Aço, durante os primeiros anos desta década. An- tes, porém, cumpre fazer uma breve análise sobre a principal matéria-prima proces- sada pelos trabalhadores da COOPERINOX, qual seja, o aço inoxidável.

Para tanto, no próximo tópico, serão demonstradas as principais particulari- dades que envolvem o aço inoxidável, tais como o desenvolvimento, as característi- cas, a classificação e o consumo. O aço inoxidável é a principal matéria-prima utili- zada pelas empresas do projeto Timóteo, capital do inox.

5.2 Aço inoxidável: desenvolvimento, características, usos e exigên-

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