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Origens, estrutura e dinâmica do Fórum Regional de Cooperativismo Popular

3 ASSOCIATIVISMO E COOPERATIVISMO POPULAR TRAJETÓRIAS,

4.1 Origens, estrutura e dinâmica do Fórum Regional de Cooperativismo Popular

As iniciativas de articulação e dinamização das experiências de cooperativis- mo popular na Região do Vale do Aço através da constituição de um fórum perma- nente foram um marco decisivo para a compreensão dos impasses vividos pela eco- nomia solidária nessa região. A experiência revela ser como são fascinantes as tra- jetórias desses homens e mulheres que ousaram desafiar em seu cotidiano de vida e trabalho, os obstáculos de natureza social, cultural e econômica impostos pelo processo de reestruturação produtiva na região.

Como foi essa história? Vale a pena relembrá-la. No início de 2002, realizou- se, nas dependências do UnilesteMG - Centro Universitário do Leste de Minas Ge-

rais, o 1º seminário de cooperativismo popular com o intuito de reforçar a rede de solidariedade entre os vários grupos, associações e cooperativas populares de pro- dução existentes. A proposta era divulgar a existência de referidos grupos com seus respectivos sistemas de organização de empreendimentos que tecem, nos subterrâ- neos da vida social e econômica, alternativas ao processo excludente de produção, distribuição e consumo hegemônico.

As classes trabalhadoras no Brasil, no início desta década enfrentavam as consequências do perverso processo de reestruturação produtiva expressas pela dura realidade do desemprego estrutural e a precariedade do emprego e salário que atinge o polo moderno da classe operária (ALVES, 2000, p. 247)22. Com o avanço da globalização e os processos de reestruturação produtiva no setor vieram privati- zações das empresas públicas e o sucateamento do patrimônio público. A região do Vale do Aço não escapou disso, ao contrário.

Posto isso, dimensionar o drama do desemprego no início desta década, de- ve-se recorrer à análise de Dowbor (2006, p. 10-11), descrita abaixo:

O Brasil tem em 2004 uma população de 180 milhões de habitantes. Des- tes, 121 milhões são considerados população em idade ativa (PIA), entre 15 e 64 anos23. Como muita gente em idade ativa opta por não trabalhar – e este “optar” representa uma dramática simplificação estatística – a popula- ção considerada economicamente ativa (PEA) é da ordem de 93 milhões de pessoas. Trata-se das pessoas que estão trabalhando e das pessoas que estão desempregadas e procuram. Na visão do IBGE, quem não está pro- curando emprego na semana de referência, não está desempregado, faz parte dos inativos, o que permite manter as estatísticas de desemprego em torno de 9%.

Na visão do DIEESE, que inclui nos desempregados os que não estão pro- curando emprego porque cansaram de procurar – desemprego por desalen- to – os desempregados representam algo em torno de 18% da população economicamente ativa.

22 Além da parcela imensa de marginalizados com relação à legislação trabalhista, tende a surgir nova exclusão social no próprio campo da contemporaneidade. A precariedade e a insegurança penetram no núcleo integrado da classe dos traba- lhadores assalariados, atingindo os que ainda mantêm vínculo formal de emprego. Desenvolve-se, em maior amplitude, portan- to, um mundo do trabalho no Brasil, mais diversificado, mais segmentado, polarizado, que tende a tornar ainda mais difícil a própria constituição da solidariedade de classe.

23 O IBGE utiliza outra classificação, optando simplesmente por pessoas de 10 anos ou mais de idade, resultando para 2004 uma população em idade ativa de 150 milhões de pessoas. Optou-se aqui, pela classificação internacional. Para os da- dos, ver IBGE, Anuários Estatístico do Brasil 2005, páginas 2-18 e 2-43

Se adotarmos o cálculo do Dieese, indiscutivelmente mais realista para um país em desenvolvimento tem-se 17 milhões de desempregados.24 Os crité- rios do Dieese não são exagerados. Na realidade, além do desemprego por desalento, seria interessante acrescentar o desinteresse por trabalho cau- sado pelo baixo nível de remuneração: Uma pessoa que consegue um em- prego de 200 reais, que desconta o quanto vai gastar com condução e ou- tros gastos extra fora de casa, chega facilmente à conclusão que fica mais barato ficar em casa e ajudar a cuidar das crianças.

Os 9% de taxa de desemprego que o IBGE nos apresenta são sem dúvida preocupante, mas razoáveis. No entanto, se compararmos os 85 milhões de economicamente ocupados, com os 121 milhões em idade ativa, estamos falando em 35 milhões de pessoas em idade de trabalho e que não exercem atividade econômica remunerada. Não há dúvida que encontramos aí um grande número de mães que preferem ficar em casa cuidando dos filhos, ou pessoas incapacitadas por diversas razões. Em compensação, entre os 85 milhões efetivamente ocupados temos um sólido 40% de trabalhadores que têm baixíssima escolaridade, e um bom número de trabalhadores pouco produtivos por desnutrição e outros fenômenos característicos do subde- senvolvimento, outra forma absurda de subutilização do potencial humano. Não estamos aqui na esfera de cifras precisas, mas de ordens de grandeza. E a ordem de grandeza, por mais voltas que lhe demos, é realmente assus- tadora. Na realidade, o que se apresenta de maneira bastante evidente, é que a subutilização da nossa força de trabalho atinge dezenas de milhões de pessoas e constitui um dramático desperdício do principal recurso do pa- ís, a sua mão de obra.

A globalização substituiu o trabalho coletivo, produtivo e construtivo pelo em- preendimento privado que, através de seus métodos visa apenas ao lucro e acaba gerando o grave problema social do desemprego. Numa tentativa de dar a volta por cima, os trabalhadores, e aqui cabe especificar, em grande parte as mulheres, orga- nizaram-se em pequenos grupos, muitas vezes com a cara e a coragem e começa- ram a produzir salgados, doces, pequenas confecções e artesanatos para o sustento da família.

24 Com os critérios estreitos do IBGE, que só considera o desemprego aberto, temos uma população ocupada da or- dem de 85 milhões. Aqui, trabalhou-se com ordens de grandeza. É difícil estimar, por exemplo, quantas pessoas gostariam de entrar no mercado de trabalho se os salários fossem mais decentes. Os critérios do DIEESE, que incluem o desemprego por desalento e chegam a cifras de desemprego da ordem de 18% nas áreas metropolitanas, tanto podem reduzir as estimativas de população ocupada como expandir as cifras de população economicamente ativa. Tais aproximações estatísticas não influ- em nas grandes linhas de raciocínio desenvolvidas neste trabalho, mas é importante ter em mente o grau de aproximação com o qual se trabalhou.

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