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4 MODELO MULTICRITÉRIO DE DECISÃO PARA LOCALIZAÇÃO DE

4.1 Considerações Iniciais

4.1.1 Antecedentes sobre relocação de cidades em função de barragens

Na história do Brasil, podem ser encontrados alguns exemplos de casos em que populações foram relocadas para dar lugar à construção de barragens. O estudo de localização de novos centros urbanos, que tem por finalidade abrigar populações atingidas pela construção de represas, muitas vezes não é realizado. Nesta seção, apresentam-se alguns exemplos de cidades que passaram por processos de relocação.

¾ Relocação da Cidade de São Rafael – RN

A cidade de São Rafael foi relocada para dar lugar à construção da barragem Eng°. Armando Ribeiro Gonçalves, no Rio Grande do Norte. O objetivo principal da barragem era o abastecimento de água para o Projeto de Irrigação do Baixo Açu para incentivar a agricultura da região semi-árida.

A construção dessa barragem exigiu que ações complementares para o remanejamento de populações atingidas pela bacia hidrográfica do Açude Açu, entre essas ações pode-se destacar: relocação da sede do município de São Rafael (730 famílias); construção de um dique de proteção à cidade de Jucurutu com reassentamento de parte da população urbana; relocação das linhas de transmissão e do sistema viário e reassentamento da população rural com cerca de 1.852 famílias (DNOCS, 2004).

Nesse caso, no processo de decisório de localização do novo centro urbano o DNOCS procurou ouvir as reivindicações, anseios e desejos da população para a formulação da proposta da cidade a ser construída. O processo de decisão de localização da cidade, porém, foi baseado em estudos técnicos realizados por especialistas sem a participação da popular.

¾ Reservatório de Sobradinho – BA

No Estado da Bahia, os centros urbanos de Santa Sé, Casa Nova, Remanso e Pilão Arcado surgiram com o objetivo de assentar cerca de 3.851 famílias relocadas para construção da barragem do Sobradinho que represava o rio São Francisco, na Bahia. Neste caso, o poder público procurou compensar a população pelo seu transtorno através de medidas como novas habitações, infra-estrutura urbana, entre outras (FURTADO, 1992).

¾ Vila de Guassussê – CE

Em 1960, a construção do açude Orós, no Estado, do Ceará fez com que a Vila de Guassussê fosse totalmente inundada pela bacia formada pela barragem. De acordo com DNOCS (2004), a barragem do Açude Orós tem como finalidades: perenização do Rio Jaguaribe, irrigação do Médio e Baixo Jaguaribe, piscicultura, culturas agrícolas de áreas de montante, turismo e aproveitamento hidroelétrico.

A relocação dessa Vila decorreu das reivindicações dos seus moradores. Portanto, não se evidência qualquer consulta à população no processo de relocação. Ali, não foi constatada qualquer preocupação do poder público com a comunidade. A expectativa, na época, era de que as famílias atingidas pela obra se deslocariam para outros centros urbanos.

4.1.2 Descrição do Problema

A questão dos recursos hídricos é fundamental para a estratégia de desenvolvimento sustentável da economia cearense. A barragem do Castanhão é elemento central da política estadual de águas, pois tem como função à tentativa de superar a vulnerabilidade das atividades sociais e econômicas quanto a incerteza de disponibilidade de água.

A construção da barragem Castanhão, localizada no vale do Rio Jaguaribe (Figura 4.1) foi tema de muita discussão desde o início do século XX, como solução para amenizar o problema da seca no Estado do Ceará. Os primeiros estudos para o projeto Castanhão foram realizados em 1910 pelo IOCS – Inspetoria de Obras Contra as Secas, sendo atualmente o Departamento de Obras Contra as Secas. O Castanhão tinha dois objetivos principais: garantir água durante os períodos críticos de seca do Estado e conter as enchentes nos anos especialmente chuvosos.

Em 1980, o projeto Açude Castanhão foi motivo de reivindicação de toda a população afetada pelo projeto, já que a execução desta barragem significava a remoção dos residentes nas áreas urbanas do Município de Jaguaribara e da localidade de Poço Comprido. A notícia de desapropriação de terras da região inundada pela barragem, durante o estudo do projeto Castanhão, fez com que se iniciasse uma tensão social que resultou no surgimento de duas lutas paralelas: uma contra a construção da barragem e outra visando à defesa dos seus direitos, caso a construção do açude fosse inevitável.

Figura 4.1 - Localização de Jaguaribara

Segundo a SRH (1999), a medida de construção do Açude Castanhão era única solução para o problema das secas no Ceará. O Governo do Estado resolveu administrar a implantação da barragem do Castanhão que apresentava como principais objetivos:

¾ viabilizar a irrigação de cerca de 40 mil hectares de solos irrigáveis;

¾ permitir e assegurar o abastecimento da região metropolitana de Fortaleza e a região baixa do vale;

¾ estabelecer condições para o surgimento de um grande pólo agroindustrial possibilitando a interiorização do desenvolvimento e melhor distribuição das atividades produtivas;

¾ implantação de um sistema de gestão integrada entre as principais bacias do Nordeste semi-árido;

¾ geração de 22,5 MW de energia elétrica.

A execução do projeto Açude Castanhão trazia algumas desvantagens:

¾ relocação da cidade de Jaguaribara (3.300 pessoas) da Vila de Poço Comprido, (120 pessoas) e de um bairro da cidade de Jaguaretama (cerca de 100 famílias), o que implicou o deslocamento de quase 4.000 pessoas da área urbana;

¾ reassentamento da população rural da área a ser inundada e da área atingida pelas obras civis, o que implica no deslocamento de cerca de 8.000 pessoas residente nos Municípios de Jaguaribara, Jaguaretama, Alto Santo e Jaguaribe; ¾ desmatamento das áreas a serem inundadas pelo açude Castanhão, ocupadas

predominantemente por vegetação típica da caatinga nordestina, apresentando diferentes níveis de degradação, pois foram desmatadas várias vezes ao longo das últimas décadas;

¾ remoção da infra-estrutura existente na área a ser inundada;

¾ impacto social e cultural, decorrente da mudança na vida e na rotina da população a ser deslocada, da interrupção das atividades sociais e produtivas, e da necessidade de remoção de cemitérios, de marcos históricos e de construções antigas.

Atualmente a barragem encontra-se construída e inundada pelas águas do Açude Castanhão. O debate sobre a relocação da população e as conseqüências desta medida ainda é tema atual. Um exemplo de problema semelhante é parte da cidade de Jaguaretama que se localiza nas margens do Açude Castanhão que deve ser removida para que, em cheias, esta não corra risco de ser inundada.

4.1.3 Instituições Envolvidas no Projeto Castanhão

O projeto Castanhão envolveu várias instituições como o Governo Federal, por intermédio do DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas), diversas secretarias do Estado, lideranças políticas e sociedade cível além de representantes dos municípios atingidos pela da bacia hidráulica do Açude. Formou-se, assim, o grupo multiparticipativo, com a finalidade de tomar decisões sobre todo o processo de planejamento da nova cidade.

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