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Tanto as experiências educativas comunitárias como as ligadas às Organizações Não Gover- namentais nos oferecem um campo de possibilidades para a aprendizagem e o trabalho com a diversidade. Mas por que as estruturas formais de ensino resistem a essa rede educativa alternativa que nos cerca?

Por que muitos educadores e gestores têm diiculdade em dialogar com esses espaços onde a questão da identidade negra está fortemente colocada? São indagações que nos remete a pensar sobre um imaginário criado que estigmatiza e impede os sujeitos de experimentarem aquilo que forma a sua humanidade: a diversidade.

Referências bibliográicas

BENTO, Maria A. (Org.). Práticas Pedagógicas para a Igualdade Racial na Educação Infantil. São Paulo: CEERT, 2011. Disponível em: http://www.ceert.org.br/arquivos/Praticas-Pedago- gicas-para-a-Igualdade-Racial-na-Educacao-Infantil.pdf

GOMES, Nilma. As práticas pedagógicas de trabalho com relações étnico-raciais na escola na perspectiva de Lei 10.639/2003: desaios para a política educacional e indagações para a pes- quisa. In: DOSSIÊ RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, Educ. rev. no.47 Curitiba Jan./Mar. 2013. Disponível: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-40602013000100003 Acesso 29/09/2014.

__________. Educação Étnico-cultural. In: Diversidade na Educação: relexões e experiências. Bra- sília: Secretaria de Educação Media e Tecnológica, 2003, p. 67-76.

RATTS, Alex. Os lugares da gente negra: raça, gênero e espaço no pensamento de Beatriz Lé- lia Gonzáles. XI Congresso Luso Afro Brasileiro de Ciências Sociais, 2011, Disponível:http:// www.xiconlab.eventos.dype.com.br/resources/anais/3/1308498461_ARQUIVO_Ratts_Os_lu- gares_da_gente_negra.pdf

SANTOS, M. Deoscoredes; LUZ, Marco Aurélio. O rei nasce aqui – Obá Biyi: a educação pluri- cultural africano-brasileira. Salvador: Fala Nagô, 2007.

SILVA, Petronilha B. G.; GONÇALVES, Luis A. Oliveira. Movimento Negro e Educação. Set/ ou/Nov/dez 2000, nº15. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n15/n15a09.pdf, acesso 15 de novembro de 2014.

Unidade 10 - Para uma educação antirracista

Objetivos: Analisar o conceito de multiculturalismo; pensar o encontro do multiculturalismo

e diversidade no Brasil; reletir essas categorias na educação; apontar a presença ou não das diferenças entre a proposta da Educação Étnico-racial e antirracista com os apontamentos trazidos pelos conceitos de diversidade e multiculturalismo.

Olá cursist@s!

Hoje chegamos ao inal desse primeiro módulo em que discutimos sobre o racismo e as suas diversas manifestações, sobretudo, no âmbito da educação. Analisamos as experiências educa- tivas ligadas à diversidade, debatemos nos nossos fóruns questões raciais presentes no cotidia- no escolar. Para essa última aula propomos reletir aspectos daquilo que denominamos Educa- ção Antirracista ou Educação Étnico-racial. Para tanto, nos colocamos as seguintes questões: O que deine uma Educação para as relações étnico-raciais? Como surgiu essa ideia ou proposta? Educação Étnico-racial é a mesma coisa que Educação Antirracista? Em que constitui essa proposta de educação? O que muda?

As respostas para essas e outras indagações suscitarão revisitar termos como, multiculturalis- mo e diversidade. Termos ou bandeiras políticas?

1. Diversidade e Multiculturalismo

Pensar em uma educação antirracista implica compreender alguns signiicados dos termos multiculturalismo e diversidade, pois são esses conceitos que respaldaram as reivindicações políticas do movimento negro e norteiam as propostas para uma educação étnico-racial.

O conceito de multiculturalismo surge no contexto de globalização30, marcado pelo cresci-

mento dos intercâmbios culturais e conlitos étnicos, raciais e culturais que daí emergiram, sobretudo durante o século XX.

O paradoxo desse contexto se caracterizava pelo duplo movimento: por um lado, a homoge- neização cultural que se apresentava como resultado da circulação e massiicação dos meios de comunicação, bem como da produção de modelos padronizados de consumo. Por outro, os grupos minoritários criticando a diluição de suas identidades e levantando a bandeira do reconhecimento das diferenças culturais.

O mundo se apresentava na segunda metade do século XX como multicultural com espaços so- ciais que aglutinavam, devido às diásporas (coloniais ou contemporâneas), diferentes grupos étnicos. O desaio estava posto: reconhecer as diferenças que cercam o nosso espaço e marcam a nossa contemporaneidade.

30 Não há consenso sobre a origem da globalização, alguns autores identiicam-na no século XV-XVI com as expansões marítimas, outros no século XIX, a partir da expansão imperialista, e ainda há outros autores que apontam os anos de 1980 como marco, dentro do contexto de implementação das primeiras medidas neoliberais (quebra de fronteiras nacionais, circulação das mercadorias em escala mundial e Estado não interventor).

A origem do multiculturalismo encontra-se no interior dos movimentos sociais, sobretudo ne- gros, que empreendiam suas lutas em favor dos grupos minoritários. Gonçalves; Silva (2003) localizam o começo do multiculturalismo já em ins do século XIX nos Estados Unidos nas lutas por direitos civis. Assim, ao se tornar o mote das mobilizações sociais negras, o racismo e as discriminações raciais passaram a ser denunciados.

No entanto, o multiculturalismo não icou circunscrito aos embates políticos. Suas propostas adentraram-se no campo da educação e das artes. Na verdade, o próprio conceito surgiu nas universidades dos EUA na década de 1960, com os professores afro-americanos preocupados

com os processos de segregação e exclusão das “minorias”31 étnicas. Suas ideias foram difun-

didas nas escolas, igrejas e associações negras norte-americanas. A partir desses primeiros estudos, novas pesquisas sobre práticas pedagógicas e metodologias sobre educação dentro de uma perspectiva multicultural surgiram ao longo do século XX (SILVA; BRANDIM, 2008).

IMPORTANTE

Para efeitos didáticos, podemos dividir o multiculturalismo em quatro fases:

Fins do século XIX – ainda não estruturado dentro de padrões conceituais, mas já inserido nas lutas políticas norte americanas; Anos 1960 – surge enquanto conceito nas universidades americanas; Anos 1970 - ganha força ao se vincular as mobilizações populares e às pesquisas na área da educação;

Décadas de 1980/1990 – inluenciado pelos Estudos Culturais, que valoriza as diferenças e pluralidade culturais. Nesse momento, há uma associação entre educação escolar e cultura. Nessa fase também se amplia o campo de pesquisa sobre o tema dentro das universidades. É nesse período que o multiculturalismo chega ao Brasil.

PARA REFLETIR

O que propõem, de fato, o multiculturalismo? E para a educação?

31 O termo minorias pode ser encontrado nos estudos jurídicos e nas ciências sociais, ambos apresentam linhas teóricas e debates diferentes. Assim, o termo pode suscitar muitos signiicados. Mas, grosso modo, podemos dizer que minorias são grupos socialmente oprimidos e que estão submetidos a vários tipos de violência e exclusão. Cabe

É possível elencar os seguintes elementos que estruturam o campo teórico e político do mul- ticulturalismo, quais sejam:

a. É uma estratégia política de reconhecimento e representatividade da diversidade cultural;

b. Está associado às lutas dos grupos oprimidos e excluídos socialmente;

c. Faz uma revisão dos conceitos de democracia e cidadania, reletindo-os na sua relação

com as políticas de identidades culturais e com as novas formas de representatividade que essas identidades exigem;

d. Desaia o discurso hegemônico sobre cultura e educação;

e. Defende a diversidade cultural silenciada pelo poder dominante;

f. Tornou-se um compromisso social, político e cultural com a diversidade;

g. Tem como fundamento o reconhecimento e o direito à diferença.

Tais elementos são traduzidos para a educação da seguinte forma: a) crítica aos saberes esco- lares impregnados de uma visão etnocêntrica e de estereótipos; b) pensa a educação a partir de uma ruptura com um saber escolar que privilegia os grupos dominantes; c) crítica à pratica pedagógica e às orientações curriculares estruturadas pela ideologia do monoculturalismo, que apresenta e universaliza apenas uma cultura, a ocidental; d) ênfase no reconhecimento da diversidade; e) trabalha as seguintes questões: machismo, racismo, preconceitos, discrimi- nações, entre outros; f) procura reorganizar o currículo e as práticas pedagógicas para tratar a diversidade.

Contudo, cabe frisar que os estudos sobre o multiculturalismo apresentam diversas linhas e posições. No momento é importante icarmos atentos para os desdobramentos da proposta multicultural para a educação hoje. Isso porque têm assumido, nos últimos anos, caminhos discursivos diferentes das propostas originais. No Brasil, parece que a ideia de diversidade cul- tural, eixo da política multicultural, se reconigurou nos moldes do mito da democracia racial. Veremos que tudo é diversidade no discurso. Mas, o que acontece de fato?