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Capítulo II – Estruturação do dispositivo metodológico do estudo

II. 2.2.5) Análise de conteúdo

II.3. Considerações relativas a este capítulo

O dispositivo metodológico foi construído, propositadamente, para a concretização de uma pesquisa orientada pela utilização de múltiplos métodos de recolha e técnicas de análise de dados no sentido de se obter várias perspetivas sobre os processos de ensino-aprendizagem-avaliação, consoante os objetivos definidos para este estudo. O procedimento seguido, pretendeu responder ao objetivo geral: «produzir conhecimento sobre os modos de trabalho pedagógico e de avaliação da aprendizagem mais comuns na docência no ensino superior, equacionando a sua relação com o contexto de transição paradigmática, nomeadamente no que diz respeito à tensão entre reprodução e transformação das culturas pedagógicas dominantes» e encontra-se representado no quadro nº4.

Quadro nº4:

Relação entre os objetivos específicos do estudo e os diferentes instrumentos metodológicos seguidos

A realização deste dispositivo metodológico desenvolveu-se através de um estudo exploratório, descritivo e interpretativo, que se insere numa lógica de pesquisa qualitativa, mas que inclui também o recurso complementar a uma componente quantitativa (que lhe acrescenta uma vertente correlacional), conferindo-lhe um caráter algo inovador e erigindo uma abordagem metodológica que se baseia nos pressupostos de Krathwol (1998)

“a investigação, no entanto é um ato criativo; não limite seu pensamento a abordagens específicas. O investigador criativamente combina elementos dos métodos de qualquer maneira que faça o melhor sentido para o estudo que quer fazer. Os seus próprios limites são a sua própria imaginação e a necessidade de apresentar os seus resultados de forma convincente. A pergunta de partida a ser respondida é que realmente determina o método” (p. 27).

A integração destas várias perspetivas, através da complementaridade dos dados recolhidos e analisados, viabiliza a construção de um conhecimento mais aprofundado sobre os contextos, processos e atores implicados na pesquisa. De facto, “uma investigação é, por definição, algo que se procura. É um caminhar para um melhor conhecimento e deve ser aceite como tal, com

OBJETO DA

INVESTIGAÇÃO OBJETIVOS ESPECÍFICOS

INSTRUMENTOS DE PESQUISA Análise documental Entrevista Inquérito por

questionário Diretrizes e

recomendações no âmbito da “reforma do ES”

(PB) Caraterizar as conceções de ensino-aprendizagem-avaliação que estão

subjacentes às políticas do ES impulsionadas pelo PB Documentos internacionais relativos à implementação do PB no EEES Exploratória (Perito de Bolonha e ex- Delegado Nacional do Bologna Follow-Up Group) Semi- estruturada (Diretores dos cursos MIEIC e MIP) Medidas da política educativa para a implementação do PB Documentos relativos a medidas de política educativa que pretendem dar resposta à implementação do PB no ES em Portugal Processos educativos no ES em contexto de transição para o PB

Caraterizar modos de trabalho pedagógico e de avaliação da aprendizagem enunciados nas fichas das unidades curriculares de cursos do 1º e 2º ciclo da UP

Planos de estudo e fichas das UC obrigatórias do 1º ano e do 4º ano dos MI em estudo na FEUP e na FPCEUP

Identificar as perceções de professores e de estudantes sobre os MTP e de AA vivenciados Professores e estudantes das UC em estudo Estabelecer relações de aproximação e/ou

afastamento entre as orientações pedagógicas subjacentes ao PB e as conceções dos MTP e de AA de professores e de estudantes

Perspetivar possibilidades e limites de um MTP e de uma AA progressivamente mais emancipatórios

todas as suas hesitações, os desvios e as incertezas que isto implica” (Quivy & Campenhoudt, 1992: 29).

Paralelamente, é importante ter em consideração que é um conhecimento local e específico dos grupos em estudo que se traduz numa “fotografia” das representações dos sujeitos num dado espaço-tempo relativamente aos fenómenos em estudo. Apesar de este conhecimento ser contextual e específico, foi essencial na construção de uma problemática “da prática” que, conforme a perspetiva de Hadji (2001), resulta de

“investigações descritivas e explicativas que constituem uma ação prévia indispensável a qualquer proposição sobre a avaliação das práticas, porque dão origem a um melhor conhecimento dessas práticas. A exigência da prova diz então respeito às asserções recolhidas de um modelo teórico da prática, e não de um modelo construído ad hoc, para a prática. Por outras palavras, temos de querer provar que o nosso modelo de análise é pertinente e não que a prática é boa” (p. 40).

Desta forma, esta pesquisa recusa a procura de um conhecimento prescritivo e normativo para a prática, positivista e determinista, típico das ciências exatas e naturais e desenvolvidas “num contexto em que a ciência (newtoniana) havia triunfado sobre a filosofia (especulativa), afirmando-se como a incarnação mesma do prestígio social no mundo do conhecimento” (Wallerstein, 1996: 26).

Esta recusa permite a construção de um conhecimento que se ancora na produção de uma teoria explicativa e interpretativa da prática, que reanima a importância da especulação na investigação científica, a qual é defendida por Magueijo (2003) por ter um papel importante na construção de conhecimento científico. Partindo da perspetiva deste autor, Alexander (2006) salienta ainda que a “especulação permite […] preencher os espaços empíricos, para conjeturar acerca do fenómeno que não pode ser diretamente pesado ou medido, e para fazer a ponte entre o racionalismo e o empirismo” (p. 261).

Neste sentido, as práticas de ensino-aprendizagem-avaliação, ao não serem passíveis de serem pesadas ou medidas, constituem um objeto de estudo científico que apenas pode ser alvo de conjeturas e especulações, interpretações e perspetivas analíticas, sobre o que os seus atores experienciaram, tendo em conta que este “fenómeno educativo enquanto fenómeno social, dá-se num contexto determinado, tem um tempo e um espaço

próprios. Comporta pelo menos dois atores, com papéis reversíveis e animados por perceções e significados específicos e interatuantes” (Rodrigues, 2001: 63). Perante este panorama de complexidade, a concretização de uma investigação que produza conhecimentos pertinentes sobre estes fenómenos em estudo requer, conforme referem Almeida e Pinto (1987), além do desenvolvimento de um dispositivo metodológico adaptado à realidade mas criativo nos seus procedimentos e análises, também a construção de uma matriz teórica que organize e explicite os conceitos e suas relações, de forma a sustentar e produzir conhecimento sobre os modos de trabalho pedagógico e de avaliação da aprendizagem no ensino superior. Foi na linha destas ideias que foi planeado e concretizado este estudo.

PARTE II:

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