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Considerações sobre a aplicação do Roteiro para a gestão ambiental de agroecossistemas familiares

OBJETIVOS PARA A SUSTENTABILIDADE Compostagem

4.5.1 Considerações sobre a aplicação do Roteiro para a gestão ambiental de agroecossistemas familiares

A principal diferença entre o roteiro proposto (Quadro 48) e o método MESMIS em sua concepção original é que os agricultores devem ser vistos como os principais usuários do método.

Logo, em termos de aplicação prática, as etapas devem ser conduzidas com o objetivo primordial de capacitar os agricultores para que eles entendam e dominem o método, possibilitando sua utilização como um instrumento de gestão. Isso significa que todos os documentos e ferramentas desenvolvidas devem ser adequados para o nível de instrução das famílias, especialmente as ferramentas para a medição e monitoramento dos indicadores.

Desta forma, é importante que o primeiro ciclo de aplicação do roteiro (o tempo 1) seja conduzido de maneira semelhante à proposta pelo MESMIS: por uma equipe multidisciplinar através de uma abordagem sistêmica, participativa e interdisciplinar.

Todavia, o nível de participação dos agricultores é fator determinante para o sucesso do roteiro em seu objetivo de orientar a gestão dos agroecossistemas, pois é no primeiro ciclo que as ferramentas são elaboradas, de modo que para serem eficientes e, principalmente, eficazes para a tomada de decisão, é fundamental que os agricultores acompanhem e participem de fato da elaboração das mesmas. Quanto mais participativo tiver sido o primeiro ciclo, mais autonomia as famílias terão para dar continuidade ao monitoramento dos indicadores e demais atividades de gestão.

Após o primeiro ciclo, as principais ferramentas já terão sido elaboradas e testadas, de modo que as famílias estão treinadas para realizar os ajustes e atualizações necessárias; a partir deste momento, o monitoramento dos indicadores passa a desempenhar o papel central, orientando a execução de todas as outras atividades.

Em resumo, o primeiro ciclo estimula a criação e a organização dos elementos para a gestão dos agroecossistemas e suas respectivas ferramentas; a partir de então, a família deve periodicamente atualizar seu sistema, adequando-o frente a mudanças internas e no ambiente que o envolve.

Os resultados gerados no presente trabalho contribuem para ampliar e aprofundar o debate em torno da gestão ambiental de agroecossistemas. O tema está longe de ter sido esgotado, não apenas nessa dissertação, mas inclusive em um contexto acadêmico e de extensão rural. Neste sentido, o desenvolvimento deste trabalho permite inferir a necessidade de aperfeiçoar o MESMIS como método de gestão e sua disseminação no meio rural.

Para tanto, seria pertinente, em trabalhos futuros, a avaliação da aplicabilidade do roteiro proposto (Quadro 48) para que se verifique os seus benefícios e limitações a partir de um estudo de caso.

Ao passo que o trabalho já foi iniciado nos cinco agroecossistemas participantes deste projeto, sua participação em um segundo ciclo de avaliação de sustentabilidade poderia gerar resultados relevantes, no sentido de atribuir um juízo de valor para a capacidade do MESMIS não só de ser um instrumento de gestão, mas da sua capacidade para criar uma cultura de gestão nos agroecossistemas, que talvez seja o maior desafio, de acordo com as percepções da equipe multidisciplinar (com ênfase nas famílias agricultoras).

Neste mesmo sentido, é possível inferir a pertinência de avaliar a aplicabilidade do roteiro proposto para a gestão não apenas no nível dos agroecossistemas individualmente, mas também a nível de grupo de famílias. Esta proposta vai ao encontro da importância de se fortalecer os processos de cooperação entre as famílias agricultoras. Para a produção agroecológica, a associação das famílias não apenas é uma forma de viabilizar muitas ações para a sustentabilidade, mas também uma exigência para a sua certificação participativa. Ao passo que a associação tem início, a sua evolução para a cooperação pode ser facilitada pela adoção de uma estrutura metodológica que a sistematize, ou seja, o MESMIS se torna o norteador das etapas a serem cumpridas pelas famílias em seu processo de cooperação para a sustentabilidade.

Em termos de aplicação do roteiro, a diferença fundamental é que ao invés da formulação de indicadores relativos aos agroecossistemas como sistemas de produção individuais, os indicadores deverão ser formulados de acordo com as necessidades do grupo como um todo.

5 CONCLUSÕES

A aplicação do método MESMIS a partir do estudo de caso desenvolvido junto aos agroecossistemas de Chapecó permite que sejam traçadas duas linhas de conclusões – uma com relação aos resultados da avaliação de sustentabilidade e outra relativa a utilização do método como instrumento de gestão ambiental para agroecossistemas familiares.

A avaliação de sustentabilidade dos agroecossistemas participantes da pesquisa mostrou um cenário de conquistas e desafios para as famílias em seu processo de transição agroecológica.

Dos quinze pontos de destaque identificados, nove deles, ou seja 60%, obtiveram médias vermelhas, podendo-se destacar os pontos da mão de obra e da lucratividade, que foram os principais pontos críticos apontados pelas famílias, além do manejo agroecológico e da qualidade de vida.

A mão de obra é um grande fator limitante para o desenvolvimento sustentável dos agroecossistemas estudados, ao passo que contam basicamente com a força de trabalho familiar para o desenvolvimento de diversas atividades que vão desde a produção até o beneficiamento e comercialização direta dos produtos. O manejo agroecológico, que demanda atenção constante dos agricultores, fica comprometido, impactando negativamente na estabilidade e resiliência dos agroecossistemas e, consequentemente, prejudicando a produtividade dos cultivos e a lucratividade e renda gerada. Além de limitações internas como essas, as famílias ainda enfrentam dificuldades mais amplas em termos de qualidade de vida, como a falta de valorização do trabalho agrícola familiar e da produção agroecológica.

Os resultados obtidos com a avaliação de sustentabilidade apontam, portanto, para uma série de desafios cuja superação demanda o estabelecimento de um processo cíclico e permanente de melhoria, pautado em atividades de planejamento, execução, controle e análise crítica – atividades básicas da gestão. Em outras palavras, mais importante que o desempenho dos indicadores e a classificação dos agroecossistemas em escalas de sustentabilidade, é o planejamento e a operacionalização da melhoria contínua, sendo fundamental que o elemento da “gestão ambiental” seja incluído na rotina das famílias.

Neste sentido, o MESMIS se mostrou como um método adequado para fornecer a estrutura metodológica para a gestão ambiental de agroecossistemas familiares, ao passo que permite a execução destas atividades básicas de gestão a partir de uma abordagem sistêmica, participativa e multidisciplinar.

A estrutura metodológica do MESMIS é flexível o suficiente para captar as particularidades da agricultura familiar em seu contexto local e sua abordagem sistêmica e interdisciplinar permite enxergar o agroecossistema para além de seus componentes e fronteiras físicas, entendendo que tratam-se de sistemas complexos, constituídos por diversos elementos (pontos de destaque) em interação e transformação. Além disso, sua abordagem participativa permite a construção de um conhecimento coletivo pautada no diálogo entre os saberes científicos e a experiência acumulada nos agricultores.

O processo de construção e utilização de indicadores, por sua vez, permite que os pontos de destaque para a sustentabilidade sejam mensurados, monitorados e avaliados, e a comparação da situação do agroecossistema frente aos cenários almejados fornece informações imprescindíveis para a identificação e priorização de oportunidades de melhoria, alinhando as necessidades de intervenção com as reais possibilidades das famílias agricultoras.

Todavia, para que haja de fato um processo de busca ativa pela sustentabilidade dos agroecossistemas, é imprescindível que as famílias possam conduzir o processo de avaliação de sustentabilidade, transformando-o em um instrumento de gestão.

Essa é a intenção maior do roteiro proposto para a gestão ambiental de agroecossistemas familiares a partir do método MESMIS, de modo que a inserção dos elementos indicados visa fortalecer o caráter cíclico do método, através da capacitação das famílias para a sua utilização, além de auxiliar na comunicação com as partes interessadas.

Com o apoio de ferramentas adequadas, as famílias se instrumentalizam para liderar seus processos de tomada de decisão com maior autonomia, de modo que a sustentabilidade se constrói em função de um processo endógeno e não de acordo com conclusões e recomendações de um grupo externo.

Cabe a ressalva, no entanto, que a proposta de utilização do MESMIS como instrumento de gestão não busca de forma alguma invalidar as abordagens originais do método. A aplicação do MESMIS junto a determinados agroecossistemas pode ter como objetivo a geração de informações específicas que sejam necessárias às partes interessadas, sejam elas de natureza técnica, acadêmica, governamental etc. Não obstante, a capacitação de agricultores familiares para a gestão ambiental de seus agroecossistemas é uma necessidade latente que não pode ser negligenciada e o método MESMIS tem plena possibilidade de suprir essa demanda.

Em resumo, a Agroecologia, o MESMIS e a gestão ambiental podem juntos formar um tripé para a construção de agroecossistemas sustentáveis, ao passo que a Agroecologia fornece a base do conhecimento (interdisciplinar, sistêmico e participativo) e o espaço para a formação e consolidação de movimentos sociais, o MESMIS propõe a estrutura metodológica para a avaliação da sustentabilidade dos agroecossistemas, e a gestão ambiental garante a construção de ferramentas para os ciclos de melhoria contínua, trazendo a visão de longo prazo para o momento presente.

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