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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.2 PONTOS DE DESTAQUE E PONTOS CRÍTICOS

Com base na caracterização dos agroecossistemas, os pontos de destaque para a sustentabilidade foram identificados de forma conjunta para todos eles, pois se organizam de maneira semelhante, se dedicam a produção agroecológica e estão inseridos no mesmo contexto regional. A forma como se relacionam com os pontos de destaque, todavia, varia de família para família, de modo que estas particularidades ficam evidenciadas a partir da avaliação dos indicadores, no item 4.5. No Quadro 6 são apresentados os pontos de destaque para a sustentabilidade dos agroecossistemas, subdivididos nas dimensões ambiental, econômica e social.

Quadro 6 – Pontos de destaque dos agroecossistemas estudados.

Ambiental Econômica Social

Saúde do solo Diversidade Manejo agroecológico Água Esgoto Resíduos sólidos Mão de obra Produtividade Dependência de insumos externos Comercialização Lucratividade Controle administrativo e financeiro Qualidade de vida Continuidade no campo Satisfação com o trabalho e residência no campo Atuação participativa Acesso a informação ATER

A partir da dinâmica inspirada na construção dos diagramas de Venn (descrita no item 3.4.2), realizou-se a priorização dos pontos de destaque, com o objetivo de identificar aqueles que representavam as maiores limitações e desafios para a sustentabilidade dos agroecossistemas, na opinião das famílias.

O Quadro 7 compila os pontos críticos dos agroecossistemas, que foram aqueles pontos de destaque priorizados pela maioria das famílias. Cabe ressaltar que todos os pontos de destaque foram priorizados por pelo menos uma família.

Quadro 7 – Pontos críticos dos agroecossistemas estudados. Pontos críticos priorizações Nº de

Mão de obra 5

Lucratividade 5

Água 4

Dependência de insumos externos 3

Controle administrativo e financeiro 3

Atuação participativa 3

Acesso a ATER 3

Qualidade de vida 3

Os pontos mais críticos para os agroecossistemas foram, portanto, mão de obra e lucratividade, que foram priorizados por todas as famílias.

A problemática da água foi priorizada por quatro das cinco famílias, e os demais pontos críticos (atuação participativa, acesso a ATER e qualidade de vida) foram priorizados por três das cinco famílias.

Destes oito pontos priorizados, é importante ressaltar que as questões de mão de obra, água, acesso a ATER e qualidade de vida (ou seja, a metade dos pontos priorizados) não são problemas locais, simples de serem tratados apenas no nível do agroecossistema. Estas questões necessitam de soluções regionais, muitas vezes relacionadas a decisões políticas, como o desenvolvimento de políticas públicas que visem o fortalecimento da agricultura familiar e a conservação ambiental numa esfera mais priorizada.

A partir dos pontos de destaque identificados, foram levantadas as principais relações e interações estabelecidas entre eles, levando a um sistema organizado de pontos de destaque, ao qual deu-se o nome de Mapa de Interações (Figura 11).

Figura 11 – Mapa de Interações referente aos pontos de destaque dos agroecossistemas.

Legenda

Pontos de destaque Pontos de destaque críticos Flechas indicando as interações

O Mapa de Interações mostra como os pontos de destaque se relacionam entre si, de modo que a ação em um determinado ponto pode gerar impactos em diversos outros pontos. Vale destacar que o Mapa sintetiza as interações mais pertinentes que ocorrem nos agroecossistemas, de acordo com os relatos das famílias, visando ilustrar a organização destes sistemas em função de seus pontos de destaque.

As diversas flechas que “saem” do ponto crítico da mão de obra, por exemplo, refletem como esse fator limita a ação das famílias. Como a mão de obra é escassa frente a demanda, torna-se necessário que as famílias priorizem certas atividades a custas de outras. O controle administrativo e financeiro, a diversidade do agroecossistema, as possibilidades de comercialização, a atuação participativa, a qualidade de vida, o acesso a informação e o manejo agroecológico são os principais pontos que sofrem impactos negativos devido a essa problemática da mão de obra. Por outro lado, o manejo agroecológico também influencia na demanda por mão de obra. No escopo da produção agroecológica, o agroecossistema deve ser manejado de forma a favorecer sua estabilidade e resiliência. Portanto, se por um lado o manejo agroecológico demanda constante atenção do agricultor e uma elevada carga de trabalho manual, na medida em que o agroecossistema se torna mais estável e resiliente, passa a demandar menos intervenções do agricultor.

A questão da lucratividade também merece atenção especial por ter sido considerada o principal ponto crítico, junto com a mão de obra. O Mapa de Interações mostra os principais fatores que influenciam na lucratividade do agroecossistema, sendo eles: controle administrativo e financeiro, comercialização, rendimento dos cultivos e dependência de insumos externos. Dentre estes, destaca-se o rendimento dos cultivos que talvez seja o ponto que pode influenciar mais diretamente na lucratividade. Na produção agroecológica, o rendimento dos cultivos depende em grande parte da manutenção de um solo saudável, que por sua vez, depende diretamente do manejo efetuado. Portanto, o manejo agroecológico deve ser alvo de permanente atenção do agricultor, que deve buscar desempenhar as diversas técnicas da maneira mais sinérgica possível.

O manejo agroecológico é, portanto, um ponto de destaque que não foi priorizado pela maioria dos agricultores mas que precisa ser ressaltado ao passo que se mostra como um fator determinante para que se alcance melhorias nos dois principais pontos críticos.

A partir da mesma lógica utilizada para analisar os pontos da mão de obra e da lucratividade, é possível analisar cada um dos demais pontos,

identificando as interações envolvidas na questão analisada. O conhecimento dessas inter-relações é essencial para a identificação de maneiras de solucionar problemas e limitações dos agroecossistemas, bem como de potencializar melhorias simples e evitar que alterações gerem impactos negativos não previstos.

4.3 INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE SELECIONADOS E