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Considerações sobre a Gestão da Demanda e a Atribuição dos Recursos Hídricos 44

A Gestão da Demanda de Água (GDA) é definida como “a adaptação e a implementação de uma estratégia por uma instituição dos recursos hídricos para controlar a demanda e a utilização dos recursos hídricos de forma a corresponder a qualquer um dos objectivos seguintes: eficiência económica; desenvolvimento social; equidade social; protecção ambiental; sustentabilidade dos serviços de abastecimento de água; e aceitação política”.

Os instrumentos da GDA são frequentemente categorizados em três grupos: ƒ Instrumentos económicos;

ƒ Instrumentos obrigatórios (administrativos); ƒ Instrumentos de informação.

Com esta definição, propõe-se que a gestão da demanda de água seja utilizada como uma ferramenta – no âmbito do conceito da GIRH – para o objectivo duplo de atingir uma utilização “i) equitativa e ii) razoável” dos recursos hídricos da bacia do Púngoè de acordo com os princípios orientadores subjacentes para a gestão conjunta da bacia, promovendo, ao mesmo tempo, a água para o desenvolvimento socio-económico.

5.4.1 GDA e Utilização Equitativa

De forma a aderir ao princípio orientador de utilização equitaiva, é necessário haver procedimentos para a atribuição de água entre países bem como entre sectores e consumidores.

Utilização equitativa entre países

O Cap. 5.9.3 inclui princípios para a atribuição dos recursos hídricos na bacia do Rio Púngoè entre Moçambique e o Zimbabwe e para o desenvolvimento sustentável.

Utilização equitativa entre consumidores de água

O Púngoè tem recursos hídricos suficientes para abastecer todos os consumidores de água e, consequentemente, a atribuição equitativa não é de momento uma questão significativa de gestão. No entanto, há duas excepções: i) assegurar o acesso dos pobres à água e ii) assegurar uma atribuição adequada em circunstâncias extremas tais como secas.

Ambos os países dão prioridade à atribuição dos recursos hídricos para o consumo básico humano no caso de faltas de água. A restrição para os outros usos deve, numa situação de seca, estar sujeita a critérios sociais e económicos e é necessário preservar, sempre, água para sustentar o ecossistema. Apesar das políticas estarem claras, os mecanismos não estão. Assim sendo, as medidas propostas para abordar esta área da gestão são discutidas no Cap. 5.6: Gestão de calamidades.

Os instrumentos económicos para controlar a demanda e assegurar um acesso equitativo já foram introduzidos em Moçambique e no Zimbabwe. A Política Nacional de Tarifas de Moçambique inclui ferramentos de atribuição de preços da água para controlar a demanda para consumo urbano e agrícola. A taxa urbana é não-linear, ou seja, quanto mais se consumir, mais caro fica o metro cúbico. O objectivo é de tornar a água para consumo e saúde acessível para todos, desencorajando, ao mesmo tempo, a rega de jardins. Do mesmo modo, fora das zonas urbanas, a água para consumo doméstico bem como para actividades de subsistência não está sujeita a tarifas. O Zimbabwe utiliza ambos os instrumentos económicos através de tarifas não-lineares para consumo de água urbano, instrumentos de informação e instrumentos administrativos através da emissão de direitos da água em que o aspecto equitativo é levado em consideração no processo de tomada de decisões. Não obstante, é necessário adoptar e aplicar estas políticas e estratégias

nacionais a nível da bacia e ajustar as estratégias nacionais em termos de relevância no contexto do Púngoè.

Gestão da Demanda de Água para uma Utilização Equitativa

Para assegurar que todos os consumidores beneficiem, é necessário ter atenção especial a i) assegurar o acesso a água a pessoas pobres e desfavorecidas (por exemplo, viúvas e órfãos menores) e ii) assegurar a atribuição adequada em circunstâncias extremas tais como secas. Para este fim, as instituições dos recursos hídricos devem garantir:

¾ A adopção e aplicação totais das políticas e estratégias nacionais de GDA a nível da bacia e o ajuste das estratégias nacionais com relevância no contexto do Púngoè. A ARA-Centro necessita urgentemente desta actividade. No entanto, pode-se também propor a melhoria dos procedimentos actuais utilizados na ZINWA Save/Conselho da Sub-bacia do Púngoè;

¾ Os sistemas de tarifas e de licenças são estruturados de forma a atingir um balanço entre as considerações a favor dos pobres e a água como um bem económico, ou seja, é necessário desenvolver directrizes específicas para a bacia do Rio Púngoè;

¾ As medições e estimativas do uso da água e a troca destas informações;

¾ De forma a garantir o acesso equitativo à água, as ferramentas da GDA devem ser ligadas a investimentos a favor dos pobres e a outras medidas discutidas no Cap. 5.7.1 – Pobreza, equidade e desenvolvimento a favor dos pobres.

5.4.2 A GDA e a Utilização Razoável

Devido à disponibilidade abundante de água na bacia do Rio Púngoè, as leis económicas ditam que não é um bem escasso e, assim sendo, o valor é relativamente baixo. As prioridades institucionais nesta fase estão principalmente centradas em questões relacionadas com a engenharia para fornecer volumes adequados de água aos vários consumidores. Isto é necessário para sustentar o processo de desenvolvimento económico e social e sustentar os ambientes humanos e naturais na bacia.

Por outro lado, a situação nas áreas urbanas da Beira e de Mutare não é tão favorável. Registam-se perdas de água significativas nos sistemas de distribuição de água da Beira e de Mutare. A estimativa dos requisitos futuros de água para as cidades de Mutare e da Beira assume que as perdas de água podem e devem ser reduzidas de forma significativa no futuro, libertando assim quantidades de água importantes para outros usos. No caso da Beira, as perdas devem diminuir do nível actual que ultrapassa os 50% para 35%. No caso de Mutare, a redução correspondente será de 41% para 25%. Assim sendo, abordar a redução das perdas no sistema de distribuição urbano é um requisito importante e urgente. Para este fim, a Beira está a planear envolver-se num programa de detecção de fugas e de reabilitação.

A agricultura também consome grandes quantidades de água e oferece, ao mesmo tempo, oportunidade para poupanças substanciais. Há possibilidade de melhorar a eficácia da irrigação através da introdução de técnicas de irrigação modernas – por exemplo irrigação de pivô central ou gota-a-gota – farão muito para atingir isto. O sector agrícola pode ser também alvo de instrumentos mais estritos de GDA – por exemplo, através da introdução de

tarifas de água mais elevadas. Não obstante, os benefícios da conservação de água podem ser pesados em relação aos potenciais benefícios de atrair investimentos na agricultura. Assim sendo, os instrumentos da GDA devem ser utilizados com cuidado para não desencorajar investimentos na bacia.

Devido à disponibilidade abundante de água e ao desejo de atrair investimento na região, instrumentos administrativos avançados da GDA que focam a conservação da água – se introduzidos como uma opção da estratégia regional – não teriam êxito fora das áreas hídricas sob pressão.

Gestão da Demanda de Água para Uso Razoável da Água

A GDA como uma ferramenta de conservação deve ser estruturada de forma a atingir um equilíbrio entre atrair investidores e promover a conservação. Assim sendo, recomenda-se o seguinte:

¾ A Nível de Planeamento: os planos de gestão dos recursos hídricos devem incluir a identificação de sectores em que o abastecimento de água está sob pressão e promover programas sectoriais da GDA para estes sectores. Durante o Projecto Púngoè foram identificadas as áreas urbanas da Beira e de Mutare, algumas áreas agrícolas e algumas capitais distritais como áreas em que os recursos hídricos estão sob pressão. Assim sendo, é necessário formular programas específicos da GDA para estas três áreas prioritárias nos seguintes termos:

ƒ Gestão da demanda de água com foco na redução de perdas no sistema de distribuição urbano, bem como numa utilização mais eficaz da água canalizada, pode ser uma importante prioridade actual e futura.

ƒ Há possibilidade de melhorar a eficácia da irrigação através da introdução de técnicas de irrigação modernas – por exemplo, irrigação de pivô central ou gota-a-gota – com potencial considerável para poupar grandes quantidades de água. Uma análise das políticas de tarifas e da consciencialização são exemplos de outros instrumentos de gestão que podem ser conjugados com melhores sistemas técnicos;

ƒ As capitais distritais na bacia têm normalmente fornecimentos de água sazonalmente inadequados e sistemas de abastecimento de água muito fracos. Os habitantes podem beneficiar de consciencialização e de apoio para identificar fontes alternativas de abastecimento de água (por exemplo, recolha de água da chuva).

¾ A Nível de Desenvolvimento: O desenvolvimento dos recursos hídricos deve levar em consideração todas as opções de investimento possíveis tanto no lado da procura como no da oferta, antes da aprovação do projecto. Por outras palavras, a gestão da demanda de água e o aumento da oferta devem ter um peso igual na selecção de alternativas de investimento. Esta medida é justificada por aspectos ambientais, económicos e financeiros;

¾ A Nível da Gestão:

ƒ Promover a definição de taxas de água numa base económica, apesar de ser necessário ter atenção para assegurar que há um equilíbrio entre atrair investidores e promover a conservação;

ƒ Formar todo o pessoal na Gestão da Demanda de Água;

ƒ Promover a monitorização da utilização pelos diferentes sectores e consumidores;

ƒ Aumentar a consciencialização: educação e informação sobre o uso eficaz da água serão também necessárias para aumentar a consciencialização sobre a gestão da demanda da água entre os consumidores;

As instituições centrais para a GDA são a ARA-Centro e a DNA, em Moçambique e a ZINWA Save, ZINWA e DWR, no Zimbabwe bem como as Autoridades Municipais e Ministérios da Agricultura e de Planeamento.