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Conforme mencionado anteriormente, melhorar as condições de vida da população rural requer um abastecimento de água seguro, bem como segurança para sobreviver a períodos com precipitação insuficiente. Por conseguinte, as acções a nível local devem focar em assegurar pequenos volumes em vários locais, em vez de grandes volumes em poucos locais. As principais áreas de desenvolvimento de pequena escala relacionadas com os recursos hídricos na bacia do Rio Púngoè são:

ƒ Melhor abastecimento de água rural;

ƒ Melhor fiabilidade da agricultura de subsistência; ƒ Melhor eficácia da irrigação de pequena escala.

Os Governos locais são, normalmente, responsáveis pelo desenvolvimento rural. No entanto, em muitos casos, o desenvolvimento de pequena escala é orientado pelos consumidores de água pois estes percebem directamente a ligação entre o abastecimento de água, maiores rendimentos e melhores condições de vida.

O Anexo J contém uma Nota Conceptual do Projecto para a Análise de Alternativas de Financiamento de Pequenas Barragens/Açudes em conjunto com o Abastecimento de Água e Instalaçoes de Irrigação.

Apresentam-se, a seguir, exemplos de projectos de desenvolvimento de pequena escala e alternativas para a gestão e operação do projecto.

7.3.1 Abastecimento Rural com Água Subterrânea

Vilas pequenas, que estão normalmente rodeadas por comunidades tradicionais, são frequentemente abastecidas por pequenos sistemas (PSAA) baseados em furos, poços profundos ou pouco profundos e, em alguns casos, rios ou fontes. Os poços instalados pelos Governos Locais ou por ONGs contribuem de forma significativa para o abastecimento de água das comunidades rurais dispersas em Moçambique.

A maioria dos PSAAs em Moçambique estão em fracas condições ou não operacionais devido à falta de manutenção, instalações de tratamento inadequadas e cortes de energia. Para além disso, a qualidade da água subterrânea não é fiável e isto deve-se principalmente aos solos salinos. Por conseguinte, para melhorar as condições de vida a nível local é necessário desenvolver os pequenos sistemas de abastecimento de água urbanos e rurais. Os Governos Locais são responsáveis pelo abastecimento rural de água fora dos centros urbanos e devem promover o desenvolvimento dos recursos hídricos subterrâneos. As autoridades regionais dos recursos hídricos, em particular, a ARA-Centro em Moçambique, podem desempenhar um papel importante no desenvolvimento dos recursos hídricos subterrâneos para pequenos consumidores urbanos ou rurais. O envolvimento da ARA-Centro e da ZINWA Save pode ser definido do seguinte modo:

ƒ Fornecer apoio técnico aos Governos Locais e ONGs;

ƒ Facilitar a troca de dados entre a ARA-Centro/ZINWA Save e as autoridades nacionais e as organizações locais.

A coordenação de um inventário de áreas problemáticas no que diz respeito ao abastecimento de água rural é muito importante. As autoridades regionais dos recursos hídricos devem realizar este inventário em conjunto com os governos locais. Nas áreas problemáticas identificadas, pode ser necessário avaliar a situação em detalhe através de campanhas de amostragem, questionários e entrevistas com a população local.

Em áreas prioritárias, pode ser necessário realizar campanhas no terreno. Isto pode abranger inventários de poços, amostragem da água e mapeamento geológico. Os governos locais podem necessitar de apoio das autoridades regionais dos recursos hídricos nestas actividades.

7.3.2 Melhor Fiabilidade da Agricultura de Subsistência

Em condições normais, a água verde utilizada na agricultura de subsistência pode ser suficiente para as necessidades básicas de subsistência em particular nas zonas montanhosas da bacia hidrográfica com precipitação relativamente boa. No entanto, o problema crucial é que a agricultura de subsistência não justifica a construção de reservatórios para períodos de anos secos quando a precipitação não é suficiente para culturas satisfatórias.

Em termos da demanda de água de longo prazo, o volume de água necessário para assegurar colheitas adequadas para os agricultores de subsistência durante anos secos é muito pequeno e, normalmente, soluções de pequena escala são suficientes. A maior segurança na agricultura de sequeiro, através do acesso adicional a água azul ou subterrânea, pode também permitir que as actividades de subsistência se transformem em

negócios de pequena escala, uma vez que a eficácia do cultivo irá melhorar e os excedentes podem ser vendidos aos mercados locais.

As medidas para aumentar a segurança do abastecimento costumam ser relativamente simples. As soluções técnicas podem ser alargadas a tudo desde pequenos canais de diversão ou açudes em ribeiros, pequenos tanques de armazenamento à abstracção profunda ou pouco profunda de água subterrânea. A gravidade é o principal meio para transportar água, o que significa que as zonas montanhosas da bacia são favoráveis para este tipo de desenvolvimento de pequena escala.

Comum a estas medidas é o facto do agricultor individual apenas necessitar de aconselhamento técnico sobre soluções viáveis e apoio de investimento. Os próprios agricultores podem fazer a maioria do trabalho de construção e desenvolvimento no terreno. O papel das autoridades regionais dos recursos hídricos é de fornecer apoio técnico, bem como aprovar e aplicar as licenças de água. Em conjunto com os orgãos locais ou governamentais rurais devem também promover este tipo de desenvolvimento através da informação e educação. No Zimbabwe e em Moçambique isto pode ser feito através dos fóruns estabelecidos das partes interessadas. No entanto, as facilidades de investimento de pequena escala não devem ser da responsabilidade da ARA-Centro ou da ZINWA Save mas sim dos governos ou ONGs locais.

7.3.3 Irrigação de Pequena escala

Os princípios da agricultura de sequeiro podem ser aplicados à irrigação de pequena escala sem instalações de armazenamento de água. Os pequenos reservatórios a nível das machambas aumentariam a segurança do abastecimento de água durante períodos secos. Antes da independência de Moçambique, havia várias pequenas barragens na bacia do Rio Púngoè. Ao longo dos últimos cinco anos, registou-se um aumento significativo nos pedidos de título de propriedade de terras para a agricultura comercial, em particular na Província de Manica. Alguns dos agricultores pediram também a construção de pequenas barragens para o armazenamento e abastecimento de água.

Na província de Sofala, existe um projecto em curso para aumentar as areas de irrigação de pequena escala. O projecto preve a concepção e construção do canais de irrigação sendo a água abstraída directamente do rio.

No Zimbabwe, a agricultura de sequeiro e de irrigação são praticadas em toda a bacia. Devido à combinação do relevo montanhoso e a dificuldade associada ao acesso à água para irrigação, a disponibilidade de terra irrigável é limitada. Consequentemente, o cultivo nas margens dos ribeiros regista uma tendência crescente. Para além disso, os pontos de tomada para a maioria dos esquemas de irrigação estão localizados nas secções superiores dos rios para facilitar o escoamento por gravidade para terras irrigáveis e abranger tanta área quanto possível.

É importante apoiar e promover a construção de pequenas barragens e fornecer o apoio financeiro relevante. As pequenas barragens devem ser todas orientadas pela demanda e devem ser construídas e operadas pelos próprios consumidores de água. A ARA-Centro e a ZINWA Save devem estar envolvidas na aprovação das barragens e abstracção de água correspondente e devem também promover a reabilitação das antigas estruturas de

armazenamento ou a construção de novas pequenas barragens. Neste contexto, as autoridades dos recursos hídricos podem assumir as seguintes responsabilidades:

ƒ Através do Comité da Bacia do Púngoè e Conselho da Sub-Bacia do Púngoè, fazer um inventário e uma avaliação das necessidades das pequenas barragens na bacia; ƒ Em conjunto com as autoridades e ONGs locais, identificar fontes de financiamento

para a construção e reabilitação de pequenas barragens em que as partes interessadas podem suportar parte do investimento;

ƒ A pedido dos consumidores de água, realizar estudos preliminares para seleccionar os melhores locais para barragens para discussão com os consumidores de água para a definição de prioridades. No caso das barragens prioritárias, é necessário realizar levantamentos técnicos, estudos de concepção e documentos de construção; ƒ Fiscalização das obras de construção e reabilitação e, caso solicitado, apoiar na

gestão e operação de barragens.