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4.4 Considerações Sobre o Zoneamento Atual da Ilha Comprida

A Ilha Comprida, emancipada como município pelo plebiscito realizado em 27 de outubro de 1991 (emancipação oficializada em 5 de março de 1992), está incluída na legislação federal e estadual referente a Gerenciamento Costeiro, Unidades de Conservação (no grupo das Unidades de Conservação de Uso Sustentável) e à proteção da Mata Atlântica.

Mas o município também dispõe de um Plano Diretor Municipal em discussão e foi declarado Estância Balneária em 1995, com base na legislação paulista sobre o assunto1.

Há uma situação conflitante instalada no território da Ilha Comprida, que é a presença de uma grande quantidade de loteamentos aprovados anteriormente à APA (muitos deles já implantados) e a perspectiva do seu desenvolvimento como Estância Balneária, por um lado, em contraposição à existência de uma legislação ambiental com grandes restrições, geralmente aplicáveis a áreas ainda não ocupadas e, principalmente, em que não haja direitos de propriedade estabelecidos, neste caso, para milhares de proprietários.

O município vem discutindo modificações no regulamento da APA, estabelecido pelo Decreto Estadual Nº 30.817, de 30 de novembro de 19892, procurando adequar a situação encontrada, quanto aos loteamentos existentes, aos objetivos expressos na legislação referente à APA de Ilha Comprida.

Essa discussão vem ocorrendo por ocasião da elaboração do Plano Diretor Municipal Participativo, processo ainda em desenvolvimento, no processo relativo ao desenvolvimento e aprovação dos instrumentos de gestão da APA, incluindo os relacionados ao seu Conselho Gestor, bem como o desenvolvimento do processo de elaboração e implantação dos instrumentos relativos ao Gerenciamento Costeiro.

4.4.1 - Antecedentes

Incidem sobre a Ilha Comprida alguns diplomas legais referentes principalmente ao Gerenciamento Costeiro e às Unidades de Conservação (neste caso, de Uso Sustentável), incluindo-se também o município na área de Domínio da Mata Atlântica.

A Ilha Comprida está incluída na APA federal Cananéia-Iguape-Peruíbe (APA CIP) – criada pelo Decreto Federal Nº 90.347, de 23 de outubro de 1984, para proteger o

1

Leis Estaduais Nº 10.426, de 8 de dezembro de 1971, e Nº 6.470, de 15 de junho de 1989; Decretos Estaduais Nº 20, de 13 de julho de 1972, e Nº 30.624, de 26 de outubro de 1989; e Decreto-Lei Complementar Nº 9, de 31 de dezembro de 1969.

Complexo Estuarino-Lagunar de Iguape-Cananéia-Paranaguá (em conjugação com a APA de Guaraqueçaba, também federal).

Em 1987, um Decreto Estadual cria a Área de Proteção Ambiental de Ilha Comprida3, regulamentada pelo Decreto Estadual Nº 30.817, de 30 de novembro de 1989, que classificou a Zona de Vida Silvestre – ZVS como ARIE – Área de Relevante Interesse Ecológico. A partir de então, os principais diplomas legais e instrumentos de regularização aprovados são da instância estadual, além das formas mais recentes de organização da legislação federal sobre esses assuntos.

O Decreto de criação da APA estadual teve como objetivo a proteção dos recursos naturais, da flora e da fauna, encontrados na Ilha Comprida, além da qualidade das águas, tendo em vista a sua potencialidade para aqüicultura e proteção das condições de sobrevivência econômico-cultural de núcleos tradicionais de pescadores, que praticam pesca artesanal.

Em 1988, como parte da implementação de estudos relativos ao Programa Estadual de Gerenciamento Costeiro, é concluído o primeiro relatório técnico do Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro (SMA, 1990), que apresenta uma proposta de Macrozoneamento do Complexo Estuarino-Lagunar de Iguape e Cananéia, que inclui o zoneamento do Decreto Estadual Nº 30.817/1989 para a APA Ilha Comprida (embora com algumas denominações diferentes).

Esse zoneamento definiu uma grande parte da Ilha Comprida, desde a sua porção sul, como Zona de Vida Silvestre – ZVS (destinadas a proteger remanescentes da mata pluvial de restinga, banhados e dunas e áreas mencionadas no Art. 18 da Lei federal Nº 6.938/81), mas reconheceu algumas áreas urbanizadas, mesmo ao sul da ilha, embora classificadas como Unidades Urbanas Controladas, ao longo da orla marítima (SMA, 1990).

Essa legislação foi complementada em anos recentes pela Lei Estadual Nº 10.019, de 03 de julho de 1998, e pelo Decreto Nº 47.303, de 07 de novembro de 2002, que instituíram o Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro e definiram a estrutura de gestão para elaboração da regulamentação de cada Setor da área costeira paulista. O Zoneamento Ecológico Econômico do Setor Complexo Estuarino-Lagunar de Iguape-Cananéia está ainda em processo de elaboração / discussão, assim como o novo Plano Diretor municipal.

Os dispositivos da legislação federal são concretizados no Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro e no Zoneamento Ecológico-Econômico Costeiro, definidos como os principais instrumentos de gestão para a região. O Plano Diretor Municipal Participativo discute algumas das diretrizes e normas estabelecidas e propõe modificações, constituindo- se no principal instrumento do ordenamento territorial da Ilha Comprida, tendo, porém, que

4.4.2 - A Ilha Comprida como Unidade de Conservação

O Decreto Federal Nº 90.347, de 12 de outubro de 1984, é o primeiro diploma legal a estabelecer a região que abrange parte dos municípios de Cananéia, Iguape e Peruíbe como Unidade de Conservação da Natureza.

No Estado de São Paulo, o Decreto Estadual Nº 26.881/1987 estabeleceu a Área de Proteção Ambiental de Ilha Comprida, objetivando a proteção dos ecossistemas associados, a qualidade das águas (com vistas à aqüicultura) e a proteção das atividades tradicionais, bem como aspectos relevantes da cultura dos pescadores artesanais.

Esse Decreto estabelece os princípios gerais e cria Zonas de Vida Silvestre – ZVS (destinadas a proteger remanescentes da mata pluvial de restinga, banhados e dunas e áreas mencionadas no art. 18 da Lei Federal Nº 6.938/814), a serem regulamentadas, depois. Nessa época a Ilha Comprida ainda pertencia aos municípios de Cananéia e Iguape.

O Decreto Estadual Nº 30.817, de 30 de novembro de 1989, estabeleceu o zoneamento da APA Ilha Comprida, definindo as Zonas ZU – Zonas Urbanizadas (que são 4: ZU 1, ZU 2, ZU 3 e ZU 4), ZOC – Zonas de Ocupação Controlada (que são 2: ZOC 1 e ZOC 2), os Núcleos de Pescadores (que são 7), a ZPE –Zona de Proteção Especial e a ZVS –Zona de Vida Silvestre (presente na porção sul da Ilha Comprida, cuja área inclui algumas vias de ligação locais, além do eixo de ligação entre o atracadouro da balsa de Cananéia e a praia).

O Decreto Nº 30.817/1989 menciona também os Núcleos de Pescadores, que são: • Núcleo de Vila Nova

• Núcleo de Ubatuba • Núcleo Sítio Artur • Núcleo de Boqueirão • Núcleo de trincheira • Núcleo de Juruvaúva • Núcleo de Morretinho.

A distribuição das Zonas na Ilha Comprida está apresentada no Figura 4.4.2 a seguir (Zoneamento da APA Ilha Comprida), e suas características são apresentadas no Quadro 4.4.2.

Quadro 4.4.2 - Zonas de Uso e parâmetros admissíveis para parcelamento do solo

Zonas Parcelamento do solo

ZU 1 Zona Urbanizada 1

a) 500 m², com rede de abastecimento de água e coletora de esgotos, com sistema de tratamento.

b) se não existir rede e tratamento de esgotos, loteador deverá apresentar projeto, e lotes dependerão desse projeto ZU 2 Zona Urbanizada 2 1.000 m², se houver redes de água e esgotos.

ZU 3 Zona Urbanizada 3

ZU 4 Zona Urbanizada 4 Idem a ZU 1 ZOC 1 Zona de Ocupação

Controlada 1 ZOC 2 Zona de Ocupação

Controlada 2

a) 1.000 m², com rede de esgotos; b) 2.500 m², com soluções individuais. ZPE Zona de Proteção Especial Não permitido

ZVS Zona de Vida Silvestre Não permitido Núcleos de Pescadores Não permitido

Fonte: Decreto Estadual Nº 30.817/1989.

Há também dispositivos que restringem o parcelamento do solo em terrenos alagadiços e sujeitos a inundações, em áreas em que a preservação das condições naturais da dinâmica hidro-geomorfológica seja essencial para a sobrevivência da biota local, e em locais inadequados do ponto de vista geológico, mas que permitem a ocupação de lotes por edificações desde que suas características não prejudiquem os sistemas naturais, a biota e os “ ... bens de valor natural e cultural...” (sambaquis, no Artigo 14), cuja área não poderá ser alterada ou ter material retirado.

O Artigo 9º define que “A ocupação dos lotes, em loteamentos e desmembramentos já existentes, regularmente aprovados mas não implantados, total ou parcialmente, dependerá de parecer da Comissão de Integração Ambiental da Ilha Comprida instituída nos termos do artigo 25 deste decreto, após audiência dos órgãos técnicos competentes da Prefeitura e do Estado, por meio da Secretaria do Meio Ambiente, especialmente no que respeita ao cumprimento das exigências de implantação do loteamento.”

O Artigo 11 declara a Zona de Vida Silvestre da Ilha Comprida como Área de Relevante Interesse Ecológico – ARIE, estabelecendo o artigo 12, no seu parágrafo 2º, que nessa área só serão permitidas edificações destinadas à realização de pesquisas e ao controle ambiental, desde que aprovadas pelo Município (além de outras restrições, quanto às vias já existentes nessa área e uma outra, a ser estabelecida entre o Núcleo de Pedrinhas e a praia).

Este decreto estabelecia a Secretaria do Meio Ambiente e as Prefeituras Municipais de Iguape e Cananéia, à época, como responsáveis pela implementação do Decreto, articuladas numa Comissão de Integração Ambiental da Ilha Comprida.

4.4.3 - Novo Plano Diretor Municipal

O município de Ilha Comprida apresenta uma situação bastante conflitante entre ocupação e preservação ambiental, representada pela existência de um grande número de loteamentos aprovados5, com lotes vendidos, em décadas anteriores ao estabelecimento da legislação de conservação ambiental, situação que o atual governo municipal procura contemplar e equacionar com a proposta de Plano Diretor, atualmente em discussão.

O Plano Diretor do município, intitulado “Planejar Já”, elaborado segundo as diretrizes de processo participativo, estabelecidas pelo Estatuto da Cidade, vem sendo discutido em audiências públicas, abordando aspectos essenciais como o Macrozoneamento do território municipal, instrumento de desenvolvimento estratégico que define as áreas que podem e as que não podem ser ocupadas, com horizonte temporal de 10 anos a partir da sua aprovação.

Informação do site da Prefeitura Municipal assinala que “ ...segundo o prefeito Márcio Ragni, estas diretrizes de desenvolvimento devem contemplar a ocupação de 30% e a conservação de 70% do território “ (www.ilhacomprida.sp.gov.br, acesso em 10 de maio de 2007).

A Figura 4.4.3. mostra as Zonas de Uso, da proposta municipal, para a Ilha Comprida.

5 - METODOLOGIA