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Embora os argumentos defendidos no item anterior sejam favoráveis à racionalidade do referido postulado, esta não é tão evidente como deixa transparecer a primeira vista. Se a hipótese de lucros econômicos estritamente positivos for excluída, então uma empresa pode bancar a entrada no mercado em análise. Nesta condição de entrada sancionada, se a empresa dominante sustentar a produção ao nível de pré-entrada, o preço de mercado pode cair abaixo dos seus próprios custos e gerar prejuízo.

De acordo com Koutsoyanis (1975, p.294), Bain (1956) originalmente estabeleceu seis prováveis supostos que um potencial entrante pode considerar sobre a reação de uma empresa dominante:

1) Manutenção do nível de produção; 2) Manutenção do nível de preços; 3) Acomodação parcial de preços; 4) Retaliação;

5) Elevação de preços;

6) E indiferença (condição em que o impacto da entrada seria muito pequeno, quase desprezível).

8O modelo tradicional do preço-limite apresentado é resultante da análise de Modigliani (1958), considerada

Para Koutsoyanis (1975), a hipótese mais provável seria a de uma acomodação parcial da entrada, na qual a empresa dominante reduziria parte da produção para não permitir um declínio muito forte dos preços de mercado. O preço resultante seria menor que o preço pré-entrada, no entanto, maior que o obtido a partir do postulado de Sylos pós-entrada. Em seu diagnóstico, o referido autor baseia-se em condições extremas, de preço ou quantidade constante por questões analíticas. Por outro ângulo, a acomodação de um novo entrante numa indústria, não necessariamente implica atração de mais outros potenciais concorrentes, posto que o autor os escalona em entrantes potenciais segundo seus custos de produção, logo os outros potenciais concorrentes permaneceriam enfrentando barreiras à entrada até mais elevadas.

Acrescente-se que Possas (1985) ressalta que a generalização de práticas anticompetitivas, colusivas, nas estruturas oligopolísticas apontam para uma probabilidade não desprezível de uma reação cooperativa (parcerias) por parte da empresa dominante, principalmente se o novo competidor potencial possuir as condições tecnológicas, comerciais e financeiras ao menos a altura das empresas (majors e supermajors) mais bem situadas na indústria.

Com efeito, uma empresa dominante que se defronta com um entrante em igualdade de condições, sua liderança, conforme mostra ROCHA (2002), dificilmente será sustentada. Em sua análise, o autor presume que um potencial entrante nestas condições pode supor que após a sua entrada, entre em vigor um regime de oligopólio de Cournot (duopólio), no qual as duas empresas estabelecem as quantidades produzidas simultaneamente. A partir deste suposto, o autor analisa a concorrência como um jogo em forma extensiva que acontece em três estágios:

1) No estágio inicial, a firma dominante estabelece seu nível de produção tendo duas opções – produzir QL tal como mostrado na seção anterior, ou

produzir QM, que seria a quantidade de monopólio;

2) No segundo estágio, o entrante potencial decide entrar ou não no mercado – em caso negativo, o jogo termina, em caso positivo, o jogo caminha para o terceiro estágio;

3) No terceiro estágio, o novo entrante decide produzir a quantidade como num duopólio de Cournot e a empresa dominante deve decidir entre manter o nível de produção anterior, ou produzir a quantidade de Cournot.

Com base nas mesmas hipóteses sobre a curva de demanda da seção anterior, a melhor opção para a empresa dominante seria produzir uma quantidade igual ao do novo entrante, ou seja, as quantidades de um duopólio de Cournot:

QCournot = b c A 3 − (Eq.2.23)

De acordo com Rocha (2002), a ameaça de sustentação do nível de produção anterior à entrada não é viável, uma vez que a adoção do postulado de Sylos não apresenta uma posição de equilíbrio de Nash nestas condições. Neste sentido, como o entrante considera as expectativas de lucros pós-entrada, a limitação de preços pré-entrada teria impacto nulo na prevenção à entrada da mesma.

Para Koutsyannis (1975) e Guimarães9 (1983) existem outros argumentos contrários ao postulado de Sylos.

Primeiro: as barreiras à entrada relativas à existência de economias de escala e/ou à diferenciação de produto podem não ser relevantes se o entrante já existir em outra indústria. Os referidos autores acrescentam que elevadas barreiras à entrada, por permitirem um preço-limite elevado, podem, inclusive, incentivar a entrada, posto que o entrante potencial pode suportar prejuízos iniciais se os preços de mercado permitirem lucros para plantas de grande escala. Isto é, os potenciais entrantes podem inicialmente suportar prejuízos se existirem expectativas de lucros futuros.

Em segundo lugar: as barreiras podem ser transponíveis por entrantes inovadores, com acesso a novos métodos e processos de produção, ou que se estabeleçam em locais privilegiados em termos do mercado consumidor, ou que acessem as melhores fontes de recursos (inputs). Neste sentido, pode-se considerar que as barreiras que viabilizam a

9Para Guimarães (1983), p.41, “cabe rever inicialmente a hipótese de que a decisão de entrar em uma

indústria depende da expectativa de obtenção imediata de lucro superior ao normal de modo a considerar a hipótese alternativa de que o entrante espera obter lucros dentro de certo intervalo de tempo (...) este intervalo pode ser relativamente dilatado no caso em que a entrada corresponde a uma diversificação de uma firma operando em outra indústria”.

adoção de estratégias de prevenção à entrada, não são dadas, porém suscetíveis à modificações. Deste modo, a própria hipótese subjacente ao “Postulado de Sylos” perde relevância na ocasião de mudanças estruturais na indústria (SILVA, 2003).