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Constituição do corpus, caracterização dos contextos e contactos

Capítulo 4. Delinear estratégias

4.3 Constituição do corpus, caracterização dos contextos e contactos

Começamos por fazer uma indicação sumária da amostra para que vá ficando associada aos tempos da investigação, ou seja, as diferentes fases de pesquisa. Assim sendo, podemos dizer que a amostra inicial é composta por 35 jovens (32=15-18 anos; 1=14 anos; 2=21 anos; 16 raparigas e 19 rapazes), com graus/níveis e formas de participação muito diferenciadas (Parlamento dos Jovens, assembleia de bairro, juventudes partidárias, jornais escolares, graf- fiti, música). Estas são as formas de participação pelas quais os escolhemos, mas depois autorrevelaram-se outras. Possuem ainda backgrounds familiares muito distintos, inclusive sob o ponto de vista da escolaridade, das formas de participação, do poder económico e social dos pais.

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No grupo de foco 4, participaram o Joaquim e a Estela (perfil 4) e ainda a Anita e a Carminho (perfil 2).

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Quais os métodos encontrados para chegar aos participantes?No bairro de habitação social o primeiro contacto foi feito através do Centro Social em 2009, na época afeto ao programa Escolhas e que no decorrer do processo deixou de estar enquadrado neste programa governamental. É um bairro de habitação social situado numa freguesia urbana do Porto encruzilhada entre prédios de luxo e vários bairros sociais. O “bairro” – modo como é, aliás, designado pelos informantes – foi construído na década de 50 e finalizado no início da década de 60. Importante espaço neste bairro é o centro paroquial datado da década de 90 e erigido, muito em especial, para dar resposta aos problemas das famílias, dos seus jovens e crianças.

Os alunos das duas escolas aderentes ao Parlamento dos Jovens foram contactados através dos professores responsáveis nesse ano pela participação no mesmo; em ambos os casos as escolas cederam um espaço para a realização das entrevistas. Importa, porém, explicitar que o espaço escola foi apenas um ponto de partida, mas nunca houve a intenção de ser um objeto de estudo em si mesmo, como sucede em algumas investigações.

A escolha acabou por recair em duas escolas com contextos sociais, eco- nómicos e geográficos bem distintos: uma escola profissional (escola 1) situ- ada numa zona mais pobre e típica da cidade e uma escola oficial (escola 2) localizada numa zona nobre. Esta opção foi feita de acordo com os objetivos do estudo, com jovens com graus de participação na sua comunidade, mas provenientes de contextos diferenciados, aliás, como pretendíamos quando desenhámos o modelo de investigação.

A escola 1 foi selecionada entre a lista de escolas participantes no pro- grama no distrito do Porto76. A escola já tem mais de 20 anos e tem apostado em cursos na área das tecnologias da informação e da comunicação, o que faz com que os alunos tenham, pelo menos em teoria, alguma apetência para lidar com as tecnologias (vídeo, fotografia, televisão, multimédia). Situa-se numa das freguesias históricas do Porto. Como acontece noutras escolas pro- fissionais existentes no país, parte dos alunos são mais velhos do que o limite habitual de idade no secundário (17/18 anos); dois dos três jovens que estive- ram mais envolvidos e que foram à sessão distrital tinham 21 anos, estando já fora da idade que tínhamos estipulado inicialmente (15-18). Mas esta con-

76A pesquisa foi feita no Porto, por ser o local de residência da investigadora, que fez a

dicionante inerente ao ensino profissional fez com que se decidisse incluí-los na amostra e essa mesma situação foi debatida com eles. Relativamente ao processo de recrutamento dos jovens, o professor que estava nesse ano a co- ordenar o Parlamento dos Jovens deu-nos a lista de participantes e os seus contactos e nós estabelecemos todas as ligações com eles; as entrevistas fo- ram realizadas na escola.

A escola 2 situa-se numa zona de classe média-alta do Porto. É uma escola estatal criada em meados do século XX e uma das identificadas com a alcunha de “colégio privado”, por ter infraestruturas de maior qualidade e relações ex- traordinárias entre professores e alunos, designadamente quanto à promoção de diversas atividades extracurriculares e formas de expressão pessoal. Aliás, esta mesma tónica encontra-se na voz dos alunos entrevistados, que têm cons- ciência da situação de privilégio77. Em termos processuais, na escola 2 foi a própria professora quem estabeleceu os contactos com os alunos em todas as fases, com exceção dos grupos de foco, uma vez que nessa altura eles já não se encontravam no secundário. Foi a primeira vez que a escola envolveu os es- tudantes do secundário e a professora optou por lançar o desafio aos alunos e pedir-lhes que eles mesmos decidissem se queriam participar, que indicassem qual o tema em que pretendiam apostar e que dissessem se estavam dispostos a trabalhar, uma vez que esse seria o objetivo. O trabalho seria feito pelos alunos e a professora interviria nas questões mais administrativas e também daria apoio na elaboração do projeto.

Quanto aos jovens ligados à política tradicional, foram contactados pri- meiro através das sedes dos partidos, que foram reencaminhando para os jo- vens ou para as juventudes afetas78, que por sua vez nos foram dando os con- tactos. Quando passámos à fase de marcação destas entrevistas, optámos por não entrevistar mais ninguém do Partido Social Democrata (PSD) uma vez que já tínhamos conseguido fazer entrevistas na escola 2. Por isso mesmo, foram escolhidos um rapaz e uma rapariga por cada um dos seguintes par- tidos: Partido Socialista (PS), Partido Popular (CDS), Bloco de Esquerda e

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Exemplo desse discurso: “– [nome da escola] tem um ambiente muito familiar, as pessoas respeitam-se e os professores interagem bem com os alunos. Não é como numa escola pública qualquer, é mais semelhante a uma privada.” (Simão, E1).

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Durante a fase de contactos telefónicos iniciais em 2009, e com exceção de um partido de esquerda, a faixa etária foi invariavelmente considerada baixa e foi sempre sugerido o contacto com rapazes em vez de raparigas.

Partido Comunista Português (PCP). Foi fácil conseguir esta gestão de género em todos os partidos, com exceção de um deles, em que pelo telefone nos foi dito que as raparigas não tinham uma intervenção muito assinalada e que seria difícil fazer escolhas nesse sentido.

Relativamente às três raparigas que participavam em jornais escolares premiados no âmbito do Concurso Nacional de Jornais Escolares promovido pelo Público (2008/2009) intitulado: “Por que é que a política também é para nós?”, foram escolhidas por terem escrito crónicas para o efeito. Os contactos foram fornecidos pelo professor que dirigia o jornal e depois encetados por nós. Tendo em conta que a investigação foi conduzida no Porto, optámos pela escola que, entre as premiadas, se encontrava mais próxima do concelho, situando-se na Área Metropolitana do Porto. Este jornal era o único que se incluía nos parâmetros dos objetivos de análise de jornais (com artigos de opinião79) e que estava nesta área geográfica.

Os writers foram contactados através de uma pesquisa de grupos de cria- dores de graffiti em Portugal, e depois de alguns contactos chegámos a um dos informantes, que no dia da entrevista levou mais dois amigos. Esta revelara- se das escolhas mais difíceis, pois a faixa etária que nos interessava não se coadunava com os existentes no Grande Porto. Foram feitos vários contactos em sistema de bola de neve até se conseguir chegar a um dos entrevistados, que se encarregou de “recrutar” dois amigos, mas acabou por ser impossível falar com uma rapariga80. Por esse motivo, depois acabou por realizar-se uma entrevista com uma rapariga que compunha canções e que foi indicada por um dos entrevistados do grupo da política tradicional.

4.4 Jovens como quasi-pesquisadores

Um dos objetivos iniciais deste estudo, não fosse ele sobre participação, foi dar conta da voz dos participantes, não só pelas técnicas usadas mas também pedindo que de alguma forma fossem colaborando na investigação, dando

79Como verificámos, o mais habitual no concurso foi serem os rapazes a participar na reali-

zação das crónicas, pelo que pareceu interessante escolher raparigas pela invulgaridade (Brites, 2011b).

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Para este objetivo foi contactado o Instituto Português da Juventude/Norte, que indicou que do Registo Nacional do Associativismo Jovem não constavam associações que se dedicas- sem à arte de graffiti.

opinião para além das perguntas, recolhendo material para discussão e fazendo eles menos minientrevistas a outros. A nossa intenção foi efetuar apenas uma abordagem exploratória a este enquadramento metodológico. Esclarecemos que não temos qualquer pretensão de nos incluir em pesquisa etnográfica ou pesquisa-ação. A intenção foi explorar potencialidades e abrir perspetivas para pesquisas futuras.

Apesar disso, de certa forma alguns dos seus princípios estão aqui presen- tes, como a necessidade de fazermos a observação direta, participar de ativi- dades com os entrevistados e dar-lhes voz direta; essa voz refletiu-se na estru- tura das segundas entrevistas e também nos grupos de foco participatórios. As segundas entrevistas tiveram uma importante componente das sociabilidades familiares porque as respostas das primeiras indicaram que este era um núcleo de relevância. Fizemos questão de explicar isto mesmo aos entrevistados que participaram nas segundas entrevistas. A mudança tinha ocorrido por causa deles. Nas segundas entrevistas pedimos que contribuíssem ativamente para a discussão recolhendo exemplos de notícias, conversas, ou outros materiais que julgassem relevantes sobretudo tendo como mote a cobertura da campa- nha para as eleições presidenciais de 2011, que tinha decorrido dias antes. Nos segundos grupos de foco exploraram o potencial da pesquisa participató- ria, subjacente à ideia de considerar que jovens a pesquisar jovens contribuiria para dar a conhecer o que poderia ter escapado à pesquisa mais tradicional, e deste modo consideramos os participantes como quasi-pesquisadores (Hig- gins, Nairn & Sligo, 2007). Ou seja, foi-lhes pedido que fizessem pequenas entrevistas a jovens sobre temas que tínhamos discutido durante os primeiros grupos de foco. A ideia era que os segundos grupos de foco servissem para expor e comentar esses projetos exploratórios feitos por eles mesmos.

Um dos desafios da pesquisa foi manter os informantes interessados no estudo, não só para se sentirem à vontade para contribuírem de forma positiva como para o fazerem ao longo do tempo. Numa pesquisa na qual se abordaram temáticas como a política, a participação e as notícias, o desafio seria à par- tida duplo. Por um lado, conseguir que os jovens menos interessados nestes assuntos se fossem mantendo na investigação que poderiam considerar “enfa- donha” e, por outro, fazer com que os que evidenciavam níveis de participação elevados e interesse nas notícias se mantivessem a par de um projeto que, a dada altura, poderia deixar de ser suficientemente interessante no contexto das suas atividades e passar a ser encarado como “brincadeira” sem sentido.

Um dos fatores de sucesso, pelo menos do número de jovens envolvidos nas diferentes fases, terá sido o facto de poderem falar sem estarem a ser julga- dos, de simplesmente poderem e conseguirem dar opinião, o que lamentaram nem sempre lhes ser possível. Foi evidente este sentimento de que há uma escassez de espaços de participação nas diferentes estruturas quotidianas; as entrevistas e os grupos de foco permitiram essa estrutura aberta de comunica- ção.

A reflexão inerente à participação no estudo oscilou em duas esferas: na pessoal, centrada na forma como a investigação se refletiu neles mesmos, e nas indicações/questões/referências que foram fazendo sobre a própria pesquisa.

Relativamente à primeira reflexão, sempre que possível foi pedido aos in- formantes para darem opinião sobre a pesquisa e se esta tinha alterado hábitos e opiniões. Durante todo este processo, referiram-se ao assunto sobretudo quando questionados sobre se a primeira entrevista e os temas abordados te- riam levado a que pensassem mais do que o habitual sobre o que tínhamos falado.

“– Por acaso lembrei, via um jornal e associava logo ao assunto e, mesmo assim, fez com que desse mais valor às questões que foram co- locadas! Vi as coisas e pensava sempre nos dois lados.” (Vasco, E2)

Algumas reflexões incluíram ou refletiram contextos familiares em que os jovens comentaram a pesquisa e o que tinham dito.

“– Sim, aliás, se estivesse a ver o telejornal e aparecesse alguma coisa que se relacionasse com o que falámos, eu dizia aos meus pais, isto tem a ver com a entrevista que fiz, falámos disto. E no jornal da escola a minha participação também aumentou.” (Marisa, E2)

“– Falei com os meus pais na altura, na semana seguinte, mas depois. . . exames e testes, foi passando[ri-se]” (Anita, E2)

“– Sim, eu lembrei-me bastantes vezes, por exemplo quando a minha mãe tirava as notícias da televisão, eu lembrava-me, ah, eu na entre- vista falei em ver as notícias na internet. Posso começar a fazer isso mais vezes e assim a minha mãe não se chateia tanto.” (Marta, E2)

A entrevista nos seus discursos foi encarada como mote para passarem a ver a informação de forma mais crítica ou também em quantidade. Sendo este

um processo incipiente, faz pensar que poderia ser feita a aposta em projetos desta natureza que promovessem a participação e a literacia.

“– Curiosamente, a seguir à entrevista fiquei muito mais atenta ao que se passa. Chego a casa, e com isto da crise, a primeira coisa que faço é pôr na SIC Notícias para ver o que se passa. Por acaso houve um período ainda mais especial em que estive sempre atenta ao que se passa. Mas essa do jornalismo, lembro-me muitas vezes da entrevista.” (Fátima, E2)

“– Nas semanas seguintes pensei sobre o que tínhamos falado. Refleti melhor sobre o que disse e o que me foi dito, acho que me interessei mais um pouco, fiquei mais atento à política, ao jornalismo, em relação aos media. Foi um contributo positivo, sem dúvida.” (Salvador, E2) “– Sim, acho que comecei a ver as coisas de maneira diferente, com mais atenção do que via anteriormente. Foi mais a prestar mais aten- ção às notícias.

– Em quantidade ou de forma mais crítica?

– Em quantidade, mas [ri-se] também de forma mais crítica, tento ava- liar o conteúdo da notícia quando a estou a ver.” (Paula, E2)

“– Lembrei-me várias vezes, acho que disse umas coisas um pouco er- radas. Refleti numas conversas sobre essas coisas.

– Pensaste mais nas tuas atividades de consumo de notícias ou como ativista?

– Um pouco nas duas, comecei a tomar mais atenção às notícias, quer dizer, eu já tomava, mas agora mais. No ativismo continua igual, mas é engraçado que nas notícias realmente comecei a tomar mais atenção depois daquela conversa toda! Aliás, costumo comentar notícias na net.”(Tânia, E2)

Entre os informantes mais centrados na participação ativa e no consumo ativo e intenso de informação, a entrevista 1 serviu para refletirem sobre os seus próprios processos. Isso foi visível nas respostas durante a entrevista 2, mas também em alguns e-mails trocados anteriormente com alguns dos jovens. Consideraram a reflexão importante não pela dificuldade mas pela invulgaridade dos temas que nem sempre têm espaço na agenda social.

“– Lembro-me que a entrevista não tinha perguntas difíceis, mas tinha perguntas que nós não fazemos todos os dias. Não se está sempre a pensar nisso, o facto de ter de pensar nisso para responder fez com que fosse fazendo conexões e ligações com os assuntos que fui experimen- tando depois da entrevista. Liguei uma coisa à outra.

– Isso é importante?

– É como ir a uma entrevista de trabalho. Obriga-nos a pensar sobre determinados contextos e situações. Logo obriga e é positivo porque aprendemos muito sobre nós.” (Joaquim, E2)

A Natércia, que já durante a primeira entrevista tinha colocado perguntas sobre o projeto, no final da segunda entrevista disse que tinha gostado das perguntas, mas também fez questão de anotar que não falava em nome dela mas como representante do partido.

“– Sim, lembro-me de nos dias seguinte me ter lembrado de algumas coisas que disse, ainda que não tivesse refletido de uma forma tão pro- funda como isso, mas por exemplo lembro-me das questões da manipu- lação da informação que cheguei a referir. Agora a propósito da mar- cação desta nova entrevista na campanha eleitoral, as eleições também me passou muitas vezes pela cabeça, os tempos de antena e a manipu- lação, os temas que são dados a cada uma das campanhas.”(Natércia, E2)

A Carla destacou a centralidade da entrevista para pensar de forma mais consciente sobre alguns assuntos que constituem reflexão quotidiana.

“– Sim, por uma razão muito simples, nunca tinha reparado até que forma ou até que ponto eu tinha uma relação tão forte com aquilo que via, a quantidade de vezes que tinha acesso a essa informação. E nem reparava, essa era uma atitude involuntária, não pensava bem, acerca do que estava a fazer. Efetivamente depois da entrevista passei a ter mais noção de que vejo, acedo pela internet e faço um determinado número de coisas que por serem involuntárias nem tinha bem a noção [de que as fazia].” (Carla, E2)

Mas nem todos tinham uma memória ativa sobre a primeira entrevista. Por exemplo, o Fausto, embora se recordasse vagamente de ter comentado com os outros colegas que participaram na investigação, disse que as memórias da entrevista eram “muito vagas”. Mas lembrava-se de ter falado do assunto com os colegas que também participaram e de ter estado a ver um telejornal e falar com a família sobre isso e a entrevista. Já Simão, sempre confiante das suas faculdades pessoais, reafirmou a sua capacidade interventiva: “Não vi grande diferença. A entrevista serviu para mostrar o interesse que eu tinha e não para aumentar. Passei a ter mais consciência do que faço” (Simão, E2).

No caso concreto dos grupos de foco participatórios, é de realçar a pos- sibilidade prática que tiveram de agir, apresentando as suas entrevistas. O Dino (GF2) mostrou nervosismo por ter de falar em público (ainda que fos- sem só quatro pessoas) e ter de ler o que tinha escrito da minientrevista que fez. O seu nervosismo deu lugar a um sorriso quando terminou a exposição com ajuda de uma das colegas. Noutro, uma das raparigas regozijou-se por ter tido a oportunidade na escola de falar com os colegas e confrontá-los com o que considerava ser a falta de interesse pela política e de como isso lhe tinha permitido fazer campanha pela participação.

Relativamente às reflexões sobre a investigação em si mesma, houve dois domínios a destacar. Por um lado, um grupo de jovens que foi partilhando reflexões quer durante os dois anos que durou o trabalho de campo quer pos- teriormente, inclusive perguntando quando o trabalho estaria finalizado. Por outro, o interesse sobre a investigação também numa perspectiva de saber se o nosso “interesse” por eles se circunscrevia a obter as informações de que precisava para o trabalho. Esta incerteza sobre um certo carácter “interes- seiro” da investigação fez-se sentir mais junto dos jovens escolhidos através do bairro. A Beatriz sempre foi das mais curiosas durante a investigação. Logo na entrevista 1 perguntou se estavam a ser feitas entrevistas aos jovens mais informados e se, depois de finalizado o trabalho, continuaríamos a as- sistir à assembleia mensal do bairro. No fundo estava a testar o interesse que teríamos no bairro em si mesmo. No final da investigação, no grupo de foco 2, reforçou questões sobre os processos da investigação (algumas das quais já tínhamos abordado em sessões anteriores, o que também revela o quanto estas questões são ambivalentes e precisam de ser reforçadas para se tornarem mais efetivas):

“– Beatriz: Posso fazer uma pergunta? – Investigadora: Claro.

– Beatriz: É avaliada por isto ou gosta de fazer?

– Investigadora: Gosto de fazer e também sou avaliada. [. . . ] – Dino: E nós servimos?!!? Temos servido?

– Investigadora: Às vezes as pessoas têm dito: Eu acho que não disse nada de jeito. . .

– Beatriz: [interrompendo] Pois. . .

– Investigadora: . . . mas se eu quisesse falar com especialistas e pessoas que supostamente soubessem muito. . .

– Beatriz: [falam em simultâneo] Não falava connosco... não ia ter tanta piada!

– Investigadora: Exato. Vocês e as outras pessoas que estou a entrevistar são as que eu quero ouvir.” (GF2)

A Manuela também foi uma das informantes que mais se destacou em querer saber como funcionou o processo de investigação e uma das que mais

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