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Constituição e composição do CMELAF – contradições e divergências

4.3 ARTICULAÇÃO COM A COMUNIDADE – O CONSELHO COMO CANAL

4.3.4 Constituição e composição do CMELAF – contradições e divergências

Na Pesquisa do IBGE foi declarado que o Conselho tinha como participantes oito representantes: um da Secretaria Municipal de Esporte, três de outras secretarias municipais, dois de entidades empresariais, dois de clubes e associações esportivas, não se referindo a participação de associações de cidadãos e profissionais da área.

Na realidade, como previa a Lei, a composição inicial contava com doze conselheiros titulares e o mesmo número de suplentes:

[...] I - Seis (06) representantes do Poder Público, e seus respectivos suplentes, indicados pelo Prefeito Municipal, das seguintes secretarias:

a) Um representante da Secretaria Municipal de Esportes e Lazer; b) Um representante da Secretaria Municipal de Saúde;

c) Um representante da Secretaria Municipal de Educação;

d) Um representante da Secretaria Municipal de Assistência Social; e) Um representante da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo;

f) Um representante da Coordenadoria de Imprensa e Comunicação Social. II - Seis (06) representantes da sociedade civil e seus respectivos suplentes, na seguinte conformidade:

a) dois representantes de associações de amigos de bairro ou assemelhados; b) dois representantes de associações esportivas;

c) um representante de entidade social destinada a promover a prática de atividades físicas, esportivas e de lazer;

d) um representante dos professores de educação física que trabalham no município” [...] (SANTANA DE PARNAÍBA, 2003).

Os representantes da sociedade civil foram eleitos no I Fórum Municipal de Atividade Física, Esporte e Lazer, em abril de 2004. Consta da Ata de Eleição a ausência de candidatos a suplência de representação de Entidade Social e de candidatos para representar as Associações Esportivas, embora existam na cidade dois Clubes formalmente constituídos, o Anhangüera Nikkei Clube e o Clube Atlético Sant’Anna (CASA). Dessa forma, esses representantes foram indicados pela SMAFEL.

A partir de então, as primeiras reuniões foram realizadas com o objetivo de definir o Regimento Interno para que o Conselho pudesse começar a atuar. Já nessas reuniões, além das irregularidades já apontadas quanto à nomenclatura e dos questionamentos sobre a própria competência do Conselho, a questão da legitimidade e da representatividade de parte dos membros da sociedade civil foi levantada, o que impediu que sua nomeação fosse efetivada:

[...] Depois dessa eleição foram feitas algumas reuniões e descobriu-se que alguns dos representantes estavam ilegais, não estava coerente com o que estava no Decreto. A gente teve que arrumar isso. Verificamos que quase 50% dos membros da sociedade civil não se adequavam ao Conselho. [...] Quanto aos representantes das associações esportivas também não poderiam ter sido eleitos porque as associações não estavam regularizadas. Eles representavam times de futebol da cidade, na realidade clubes fictícios, que não tinham estatuto, nem eram entidades sociais. [...] Nenhum dos dois conselheiros dos Clubes (Associações Esportivas) tinha documentação da entidade regularizada (PRESIDENTE).

Dessa forma, foi considerado que seriam necessários ajustes para que a representação da sociedade civil se tornasse legítima e para tanto foi elaborado e aprovado o Decreto nº 2.670, de 10 de fevereiro de 2005, nomeando os membros do Conselho (SANTANA DE PARNAÍBA, 2005), com outros seis representantes da sociedade civil, com mandato de dois anos:

- um de Associações de Amigos de Bairro ou assemelhados; - dois representantes de Associações Esportivas;

- um de Entidade Social de prática esportiva;

Novas reuniões se seguiram, e mais uma vez foi constatada divergência, agora entre o Decreto e a Lei, quanto à representação da sociedade civil (Quadro 8).

Representação Lei nº 2.449,

agosto de 2003

Decreto nº 2.670, fevereiro de 2005

Associações de Amigos de Bairro ou Assemelhados 2 1

Associações Esportivas 2 2

Entidade Social de Prática Esportiva 1 1

Professores de Educação Física 1 2

Quadro 8 – Comparação da representação da sociedade civil no CMELAF entre 2003 e 2005

Houve, na realidade, uma inversão entre o número de representantes das Associações de Amigos de Bairro e dos Professores de Educação Física:

[...] De todos os membros do Conselho, além dos seis representantes do poder público, estavam regulares: um representante de Associações de Amigos de Bairro ou Assemelhados, que eu passei a representar em fevereiro de 2005, um representante dos professores de educação física, mas que na verdade, como saiu errado no decreto, eram dois, e o representante da entidade social, o então presidente da Fundação Eprocad (PRESIDENTE).

É relevante observar que esse processo, ou seja, a sucessão de “erros”, poderia indicar a tendência para um direcionamento da representação, gerada na própria SMAFEL, numa tentativa de “controle” sobre os representantes: um dos professores de Educação Física passa a representar uma Sociedade Amigos de Bairro, assume a Presidência e permanece como funcionário da SMAFEL.

Apesar dos “erros” constatados, a primeira Mesa Diretora foi eleita em abril de 2005 com a seguinte composição:

- Presidente, um dos representantes da sociedade civil, de Sociedade Amigos de Bairro; - Vice-Presidente, representante da SMAFEL;

- 1º Secretário, outro representante da sociedade civil, de Sociedade Amigos de Bairro; - 2º Secretário, representante de Associação Esportiva.

A situação evolui para nova alteração legal através do Decreto nº 2.697, de 20 de maio de 2005 (SANTANA DE PARNAÍBA, 2005), ou seja, três meses depois da nomeação inicial. A profissional da SMAFEL que, em fevereiro de 2005, era a representante da

Secretaria no Conselho, passa a suplente de representante de um dos dois Professores de Educação Física, nomeados pelo Decreto de fevereiro de 2005. A antiga suplente, também profissional da SMAFEL passa a ser a representante da SMAFEL, ou seja, uma inversão de posições. Meses depois, houve o desligamento dessa profissional do quadro da SMAFEL, o que provocou a necessidade de novas alterações e discussões no âmbito do Conselho, como avalia o presidente:

[...] Perdemos um tempo enorme nessas alterações. Outros fatos foram acontecendo que agravaram a situação, por exemplo, a saída da representante da SMAFEL, que passou a representante dos professores de Educação Física e depois saiu do Conselho e da Prefeitura (PRESIDENTE).

Apesar de aparentemente mantida a paridade numérica (seis representantes do poder público e seis da sociedade civil), o desequilíbrio a favor do poder público na representatividade dos diferentes interesses é evidente nesse Conselho:

[...] Dessa forma o Conselho na verdade ficou vinculado a Secretaria de Esportes. Eu, por ser também funcionário da SMAFEL, fico numa posição “esquisita” ao representar o meu bairro, não podendo cobrar nada. [...] Acredito que na constituição do Conselho não deveria ser permitida a participação na Diretoria de representantes vinculados ao poder público, como é o meu caso e dos professores de Educação Física (PRESIDENTE).

Os “erros”, atribuídos meramente ao processo de digitação do regimento e do texto do Decreto, resultam efetivamente numa menor representação de Associações de Amigos de Bairro, ou seja, da representação da Comunidade, e de um número maior de professores de Educação Física. Dessa forma, além dos seis membros oriundos do poder público, mais três dos seis membros têm vínculo com a SMAFEL. Dos três restantes, dois representantes de Associações Esportivas não tinham caracterização legal de suas entidades. Portanto, um único membro, o representante da Entidade Social, pode ser considerado como representativo da sociedade civil.

A preocupação quanto ao fato da Secretaria ter mais “controle” sobre o Conselho se confirma pelas palavras do representante da SMAFEL:

[...] Hoje, com a continuidade, o atual presidente é Professor da SMAFEL/GESP, está em boas mãos, ele é de total confiança minha e precisamos sim de uma nova organização em cima do Conselho. Uma eleição nova vai estruturar novamente o Conselho (SECRETÁRIO).

Em contrapartida, o Presidente discute a não autonomia do Conselho em relação ao poder público, como reflexo da não-representatividade dos membros da sociedade civil:

[...] Na minha avaliação, enquanto não for totalmente separado do poder público, acredito que o Conselho não tem condições de atuar como deve. Eu, como munícipe, vejo muita coisa errada na Secretaria de Esportes, mas como sou membro dela, não posso ficar jogando pedra. Mesmo com a paridade, eles conseguem mais um voto e definem tudo, o poder público não vai deixar na mão da população, sendo que ela pode significar oposição a ele, ainda mais numa cidade pequena como a nossa, em que todo mundo sabe quem é quem, quem é favor quem é contra, quem é da oposição, isso é complicado, bem complicado (PRESIDENTE).

A proposta de ser alternar o local de realização das Assembléias entre os diferentes equipamentos da SMAFEL efetivamente não ocorreu. O representante da sociedade civil destacou ainda o que podemos considerar um “desgaste”, em função de não se atingir os objetivos quanto às políticas públicas:

[...] é uma tarefa muito árdua. Tipo, você não recebe para estar lá, te consome muito tempo, te expõe a muitas brigas, muitos desgastes. Se eu tivesse investido na própria Fundação, essa energia teria sido melhor usada não só para alcançar os resultados dela, mas até em relação as políticas públicas (CONSELHEIRO).

As questões relativas à representação, à representatividade qualitativa dos diferentes segmentos sociais e às forças políticas presentes no CMELAF são referenciadas como pontos cruciais observados em Conselhos Gestores de uma maneira geral. As condições de participação verificadas e apontadas nas entrevistas são aspectos também enfatizados por Gohn (2000) e Santos (2004), que destacam a desigualdade em termos das condições de participação, acesso à informação, disponibilidade de tempo e condições financeiras, entre os representantes do poder público e da sociedade civil.