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Reuniões e participação no CMELAF – conflitos e tensões

4.3 ARTICULAÇÃO COM A COMUNIDADE – O CONSELHO COMO CANAL

4.3.5 Reuniões e participação no CMELAF – conflitos e tensões

O Fórum Municipal de Atividade Física, Esporte e Lazer realizado em abril de 2004, ano eleitoral no Município, foi o primeiro chamamento para a participação da Comunidade na discussão da política local de Esporte. O significado da participação da Comunidade nessa reunião teve diferentes leituras segundo os representantes dos diferentes

segmentos envolvidos entrevistados. O representante da Entidade Social avalia a participação da Comunidade no evento em termos da proporção entre a participação da sociedade civil e do poder público:

[...] Em relação ao Conselho, houve a primeira Conferência em 2004 que teve uma participação razoável, com poucas pessoas da sociedade civil [...] participaram mais pessoas da Prefeitura e só algumas de associações (CONSELHEIRO SOCIEDADE CIVIL).

Já para o representante da SMAFEL, a avaliação da participação é positiva, no que se refere à diversidade dos segmentos que participaram, e destaca a sua visão sobre o “desconhecimento” do Conselho como canal de participação e que esse canal seria colaborativo e com forte vinculação aos interesses da SMAFEL:

[...] Voltando ao Conselho, o início do Conselho foi nota 10. No Fórum tivemos vários segmentos juntos. Mas infelizmente as pessoas ali dentro não sabem o que têm nas mãos. Uma ferramenta muito forte para trabalhar ao lado do Secretário, porque ali você coloca diretrizes para como brigar, até na hora de fazer planejamento (SECRETÁRIO).

Embora tenha sido registrada a presença nas reuniões que se seguiram dos representantes da sociedade civil, indicados e eleitos (Quadro 9), a sua representatividade é questionada pelo Presidente, pois quem participou efetivamente foram aqueles que, como ele próprio (oficialmente representante de Sociedade Amigos de Bairro), tinham também alguma vinculação com o poder público:

[...] A participação da comunidade é mínima nas reuniões, não só pela questão numérica, mas pela sua própria representatividade, pois a maioria dos membros que participa é, no final das contas, como eu, oriunda do poder público” (PRESIDENTE).

Aliado à fraca representatividade da sociedade civil, o absenteísmo dos membros governamentais, apontado em estudos sobre Conselhos Gestores de outras áreas, também acontece nas reuniões do CMELAF. A progressiva ausência dos membros indicados pelo poder público nas reuniões no decorrer de 2005 (Quadro 10) pode ser considerada como reflexo de um possível desinteresse frente às questões discutidas, até então essencialmente voltadas a questões formais. A própria relevância do tema Esporte no bojo das políticas sociais do Município é colocada em dúvida pelo Presidente do Conselho:

[...] mesmo os representantes das outras Secretarias não manifestavam interesse em participar do Conselho, diferentemente do que acontecia, por exemplo, no da Saúde, da Criança e do Adolescente e da Segurança. Eu acredito que são conselhos em que o pessoal está lá, participa. De repente porque o Esporte não é prioridade do mandato do atual prefeito. A prioridade dessa administração é Educação e Saúde (PRESIDENTE).

Reuniões Representantes Titulares

Fórum 20/04/05 01/06/05 10/08/05 13/09/05* Vinícius Mocsdanyi Associação

Amigos de Bairro P P P P A

Valmir Baptista Damas Associação Amigos de Bairro P P P P P Ferdinand Câmara da Costa Entidade Social P A P e S P e S P Maurício Doratiotto Professores de

Educação Física P P, outro P, outro P, outro P, outro Gilmar Queiroz Santos Associações Esportivas S S P e S P e S S Luci Mara da Silva Moreno Associações Esportivas P P P e S A P

* reunião extraordinária

P = Presente A = Ausente S = Suplente

Fonte: elaborado pela autora a partir das atas do CMELAF

Quadro 9 – Participação dos representantes da sociedade civil nas reuniões do CMELAF

Reuniões Representantes Titulares Secretaria

Fórum 20/04/05 01/06/05 10/08/05 13/09/05*

Bethânia Myrian Brotto SMAFEL P P P e S P nova P

Robert Wagner Saúde P P e S P A P

Rose Atarian Cardoso Assistência Social P A A A A

Kátia Daher Cultura P A A A A

Milton Jesus Comunicação Social P A P novo e S novo A P

Georges Petralhas Educação P S A A A

* reunião extraordinária

P = Presente A = Ausente S = Suplente

Fonte: elaborado pela autora a partir das atas do CMELAF

Quadro 10 – Participação dos representantes do poder público nas reuniões do CMELAF

Outro aspecto, apontado por GOHN (2000), também pode ser considerado para explicarmos o absenteísmo constatado: o conhecimento por parte dos participantes sobre o significado e o papel de um Conselho Gestor. A discussão acerca da participação/absenteísmo

pode estar ainda relacionada à questão da capacitação dos Conselheiros para a participação nos Conselhos Gestores, apontada por Gohn (2000) como uma das fragilidades desse canal de participação. Estes aspectos são destacados pelo representante da sociedade civil:

[...] As pessoas tinham uma outra visão, não sabiam o que era o Conselho e quando começaram a ver que tinham que trabalhar e eu comecei a cobrar e o pessoal começou a sumir. A gente começou a substituir essas pessoas [...] não tem pessoas qualificadas e preparadas para discutir esse tipo de coisas. E aí o presidente foi muito adequado num momento complicado. Aí o Conselho ficou desativado e não há interesse do governo para que funcione. [...] Para mudar esse panorama eu acho que deveria ter treinamento para os gestores municipais. Eu, como representante da sociedade civil, tentei fazer modificações [...] (CONSELHEIRO SOCIEDADE CIVIL).

Outro fator levantado pelo representante de Entidade Social como determinante para a fraca participação nas reuniões é a falta de foco nas discussões. Além disso, o processo de estabelecimento do Convênio com o GESP também é apontado como elemento desestabilizador do Conselho:

[...] Aí a gente começou a questionar também o GESP. Toda aquela mudança de atuação do GESP, e a eleição dos membros estava muito próxima disso, no meio desse processo. Aí era aquela coisa, eu levantava as questões tentando dar uma direção para as discussões, porque não tinha ata, não tinha pauta, não tinha assunto a ser tratado. [...] começou a não ter mais foco, o GESP começou a ter uma mudança, um momento de transição do GESP, o pessoal da Prefeitura passar para o GESP. Isso foi muito conturbado porque, lógico, quando era funcionário da Prefeitura tinha X benefícios, quando foi para o GESP já não tinha. Então até administrar tudo isso, até o presidente ficou meio perdido. Começou a ter uma certa desistência do pessoal do Conselho, As pessoas não estavam vindo mais às reuniões [...] (CONSELHEIRO SOCIEDADE CIVIL).

A formalização do Convênio SMAFEL/GESP se deu em agosto de 2005, logo após a saída da Prefeitura, e do próprio Conselho, da pessoa que o articulou34:

[...] Nas outras reuniões aquela pessoa que articulou a Conferência35 e o Conselho já tinha saído e as pessoas que ficaram não sabiam o que estavam fazendo lá. Até tinham idéia para que é que ele era, mas não tinham bagagem nenhuma. O próprio presidente novo não tinha conhecimento, bagagem e apoio. A própria pessoa que saiu não passou as informações, não deixou nada (CONSELHEIRO SOCIEDADE CIVIL).

34 O último registro de sua presença consta da “ata” da Assembléia de 01 de junho de 2005.

O processo de implantação e o funcionamento do CMELAF revelam aspectos semelhantes ao que ocorre com Conselhos de outras áreas. Das fragilidades levantadas por Gohn (2000) e que, segundo a autora, estão no debate atual sobre os Conselhos Gestores no que se refere a institucionalização da participação, questões como a falta de tradição participativa da sociedade civil se manifestam claramente no caso do Esporte, como já havia avaliado Linhales (1998).

Outra questão observada é o desconhecimento por parte da maioria da população da própria existência dos Conselhos e das possibilidades de participação, reforçada pela carência de ações no sentido de se dar publicidade às suas ações (GOHN, 2000; SANTOS, 2004). No presente estudo identificamos um movimento inicial nesse sentido em 2004, provavelmente motivado pelo processo eleitoral local e pela atuação em particular de uma profissional da SMAFEL. Seu afastamento da Secretaria é citado como uma possível desarticulação da participação e do próprio Conselho.

Face ao exposto, o CMELAF de Santana de Parnaíba se configura num mecanismo com grandes limitações quanto a proporcionar uma efetiva participação da sociedade civil nas questões relativas às políticas públicas de Esporte. Destacamos alguns dos fatores determinantes desse quadro verificado no Município pesquisado, a serem considerados na análise de Conselhos Municipais de Esporte:

- a pouca vinculação dos movimentos sociais organizados da cidade com o tema Esporte; - a não apropriação da população dos valores do Esporte;

- a postura de pouco envolvimento do poder público ante a questão da participação popular, e - a visão do poder público em relação ao Conselho, considerado um mecanismo meramente

formal que possibilitaria a captação de recursos.