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A administração do município de Santana de Parnaíba esteve nas últimas décadas a cargo de diferentes partidos políticos, com um claro predomínio de prefeitos eleitos pelo Partido da Frente Liberal (PFL), hoje Democratas (DEM), nos últimos onze anos: entre 1997 a 2004, com duas gestões de Silvio Roberto Cavalcanti Peccioli; e, a partir de 2005, com José Benedito Pereira Fernandes, eleito por uma ampla coligação de partidos, obtendo 33.855 votos dos 50.505 eleitores, em 2004 (IBGE, 2006).

Essa não renovação das forças políticas locais nos últimos anos pode suscitar diferentes interpretações sobre a atuação da administração municipal quanto as políticas sociais. Em princípio, duas possibilidades podem ser levantadas: um efeito positivo, pois propiciaria o desenvolvimento e o aprimoramento das políticas sociais; e outro negativo, uma vez que poderia significar um campo propício para práticas como o clientelismo.

A postura do PFL frente a questões da relação entre Estado, Mercado e Sociedade, e em especial quanto a participação da sociedade civil, são expressas em sua “Plataforma Democrática de Mudança”. O PFL entende o cidadão como “agente de mudança da sociedade brasileira” e se posiciona como o “partido da cidadania”, ao manifestar a crença na “força da

cidadania politicamente ativa e socialmente organizada”. Em seus Princípios, o Partido postula a exigência de uma ampla participação da Comunidade na formulação e implantação de decisões voltadas ao desenvolvimento nacional, bem como na fiscalização dos atos governamentais (PFL, 2006).

Quanto a formulação de políticas setoriais, cuja finalidade para o Partido é proporcionar o exercício da “cidadania plena”, são consideradas como base “a cooperação entre os três níveis de governo, a solidariedade do povo e a multiplicação das energias sociais”. No que se refere a lógica das relações entre Estado, Mercado e cidadãos, o PFL defende um “equilíbrio de forças” entre os três elementos da ordem social, no sentido de se atingir equilíbrio nas relações entre o capital e o trabalho:

[...] Na atualidade, é pertinente afirmar que nem tudo que pode vem do Estado; nem tudo que compra e vende vem do mercado. Entre a lógica do mercado e a do Estado, existe uma realidade igualmente forte: uma sociedade dos cidadãos [...] não espera que tudo seja solucionado pelo Estado e que as pressões sejam exercidas, apenas, pelos representantes políticos. Tampouco o Mercado é capaz de responder às complexas exigências da sociedade (PFL, 2006).

Esta breve apresentação da visão do Partido nos permite vislumbrar que a implantação desses valores deverá estar fortemente presente em um município governado pelo partido há onze anos, o que em princípio significaria um equilibrado atendimento dos interesses do Mercado e da Comunidade nas políticas públicas locais.

Nas Diretrizes do PFL é destacado um conjunto dos setores estratégicos, considerados pelo Partido como Plataforma de mudanças requeridas pela sociedade. Dentre esses setores considerados estratégicos encontramos o Esporte, nos termos do “[...] Incentivo à educação física e aos desportos, estimulando sua prática pelos jovens e promovendo amplamente o esporte amador” (PFL, 2006, p. 33). As propostas de ação para o setor denominado “Esportes” contidas na Plataforma do PFL, são apresentadas e discutidas mais adiante, no Capítulo sobre articulação e participação nas políticas de Esporte em Santana de Parnaíba.

A institucionalização da participação da sociedade civil no Município nesse último período de administração do PFL, iniciado em 1997, é registrada no processo de elaboração do Pano Diretor Municipal para o período 1998-2004 (SANTANA DE PARNAÍBA, 1997), que estabeleceu as diretrizes para a formulação de uma política de desenvolvimento para o município. Representantes da Comunidade participaram da Comissão de Acompanhamento do Plano Diretor e de audiências públicas: “As audiências públicas convocadas possibilitaram

traçar diagnósticos, fazer projeções, definir objetivos e refletir sobre as políticas gerais e setoriais” (LEITE; MOURA, 2006, p. 136).

Em 1999, a Prefeitura passou por um processo de reestruturação administrativa, por intermédio do Programa de Modernização da Administração Tributária e da Gestão dos Setores Sociais Básicos (PMAT), financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES): “[...] formou-se um grupo de trabalho para formular o Plano Diretor Municipal (1998-2004), que contou com a colaboração técnica da Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano (Emplasa)” (LEITE; MOURA, 2006, p. 135). A participação da Comunidade na formulação do Plano Diretor se deu através de representação na Comissão de Acompanhamento e da realização de audiências públicas, que embasaram também o Plano de Governo do Município.

A possibilidade de participação da Comunidade, postulada no Estatuto da Cidade (BRASIL, 2001), no artigo sobre gestão democrática22, foi incorporada nas diretrizes gerais da Lei Orgânica do Município (LOM) (SANTANA DE PARNAÍBA, 2002), no artigo 98 do Capítulo II – Seção I – do Planejamento Municipal:

O Município organizará sua administração e exercerá suas atividades com base num processo de planejamento de caráter permanente, com a cooperação das associações representativas da população.

PARÁGRAFO ÚNICO: Se considera processo de planejamento, cumulativamente:

I- a elaboração dos planos gerais e específicos, voltados ao desenvolvimento do Município e ao ordenamento de suas funções públicas;

II- a implantação, o acompanhamento, a avaliação e a reelaboração sistemática das diretrizes e proposições em geral, constantes dos planos; III- a manutenção e funcionamento do sistema de planejamento que, articula a participação da administração e da população do Município;

IV- a manutenção e atualização constante do Sistema de Informações Municipais que, fornece as bases técnicas para a elaboração dos planos e suas revisões e atualizações; e

V- a ação planejada do Município junto aos órgãos, entidades e sistemas regionais, dos quais participa [...] (SANTANA DE PARNAÍBA, 2002, grifo nosso).

A normatização da forma de participação da população no processo de planejamento é reafirmada no Artigo 102:

22 Capítulo V, do Estatuto da Cidade – Da Gestão Democrática da Cidade:

[...] Art. 48. Para garantir a gestão democrática da cidade, deverão ser utilizados, entre outros, os seguintes instrumentos: I – órgãos colegiados de política urbana, nos níveis nacional, estadual e municipal; II – debates, audiências e consultas públicas; III – conferências sobre assuntos de interesse urbano, nos níveis nacional, estadual e municipal; IV – iniciativa popular de projeto de lei e de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano; V – referendo popular e plebiscito (BRASIL, 2001).

[...] PARÁGRAFO 4º - Lei complementar ordenará e disciplinará o processo de planejamento permanente do Município e a participação da população naquele processo, devendo dispor, sem prejuízo de outros eventualmente pertinentes, sobre os seguintes assuntos:

I - competência, organização, integração e participação da Administração e da população no sistema de planejamento;

II - funções e conteúdos mínimos ou típicos dos planos das diferentes categorias que, integram o processo de planejamento;

III - meios de provimento da vinculação aos planos dos Atos da Administração;

IV - regime de planejamento, abrangendo a vigência dos planos e a sistemática de sua elaboração, discussão e encaminhamento a aprovação, assegurada nesta sistemática a participação direta da população; e

V - meios de provimento da vinculação aos planos do conteúdo dos instrumentos de sua aplicação [...] (SANTANA DE PARNAÍBA, 2002, grifo nosso).

O reconhecimento dos direitos constitucionais do cidadão e a descentralização dos serviços são apontados na LOM como objetivos do Município, tendo em vista a política de desenvolvimento, formulada no Plano Diretor (1998-2004):

[...] Art. 1º - São objetivos fundamentais do Município de Santana de Parnaíba:

I- garantir, no âmbito de sua competência, a efetividade dos direitos fundamentais da pessoa humana;

II- colaborar com o Governo Federal e Estadual na Constituição de uma sociedade livre, justa e solidária;

III- promover o bem estar e o desenvolvimento da sua comunidade; e

IV- promover o adequado ordenamento territorial, de modo a assegurar a qualidade de vida de sua população e a integração urbana e rural.

Art. 2º- Todos os serviços prestados pelo Poder Público Municipal ou colocados a disposição da população, como a educação, saúde, transporte, lazer e assistência social são obrigatoriamente extensivos aos bairros periféricos [...] (SANTANA DE PARNAÍBA, 2002, grifo nosso).

Embora não citado textualmente no artigo 2º, o Esporte é tema, juntamente com o Lazer, de nove artigos do Capítulo III – da Educação, da Cultura, dos Esportes e Lazer, seção III – dos Esportes e Lazer, os quais serão apresentados e tratados no tópico seguinte.

A institucionalização da participação da sociedade civil também aparece indicada na LOM em títulos e capítulos específicos relacionados a diferentes áreas da política urbana. O Conselho Municipal, mantido pelo poder público, é o instrumento referenciado, através menção da criação de novos conselhos ou da reformulação dos já existentes em determinadas áreas. Na LOM é declarada a função/objetivo dos Conselhos de Saúde; do Meio Ambiente e de Esportes, Lazer e Atividade Física. Para os demais conselhos, é feita apenas a referência sobre a necessidade de regulamentação posterior, conforme o caso :

- Saúde – controle das políticas de saúde, bem como na fiscalização e no acompanhamento das ações de saúde, nos termos da legislação federal.

- Educação – o Conselho da área segue orientação e deve ser composto por representantes da coletividade organizada, de acordo com o que prevê a Constituição Federal e o artigo 237 e seguintes da Constituição do Estado de São Paulo.

- Meio Ambiente – destinado a apresentar sugestões ao planejamento da política ambiental do município.

- Cultura, Defesa do Patrimônio Histórico Tombado, Promoção Social e Condição

Feminina – serão regulamentados por Lei complementar.

- Esportes, Lazer e Atividade Física – com o objetivo de opinar e avaliar a aplicação da política esportiva.

Os Conselhos Gestores são considerados em alguns casos como instrumento de fiscalização do executivo municipal e em outros como tendo caráter consultivo, em áreas sem vinculação formal a políticas federais.

A participação da sociedade civil também é relatada no processo de revisão e atualização do Plano Diretor Municipal 1998-2004, entre 2005 e 2006. Durante este processo, conforme prevê a Lei Orgânica, foram realizadas cinco audiências públicas e o projeto de lei do Plano Diretor Municipal para o período 2006-2013 foi aprovado pela Câmara Municipal de Santana de Parnaíba em 07 de novembro 2006 (LEITE; MOURA, 2006).

Traçado este panorama inicial, fica evidente a intenção formal de se estimular a participação da Comunidade nos processos de gestão do Município, seja em nível mais global, em especial no processo de planejamento municipal, seja nas áreas relacionadas às políticas sociais, dentre as quais se insere o Esporte.