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5 O Tribunal Penal Internacional para os crimes da ex-Jugoslávia

5.2 Constituição

As Câmaras, o Registo e o Gabinete do Procurador são os três pilares principais que constituem o Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia. Cada um destes órgãos tem contribuído para que, pelo menos uma parte dos culpados pelos crimes cometidos na Croácia, na Bósnia-Herzegovina, na Sérvia, no Kosovo e na Antiga República Jugoslava da Macedónia, entre 1991 e 2001, sejam levados perante a justiça e julgados pelas suas acções.

As chamadas Câmaras (the Chambers) são os dois grupos de juízes que se designam por Câmaras de Primeira Instância (Trial Chambers) e a Câmara de Recursos (Appeals Chamber), sendo que são assistidas durante os processos por equipas das Câmaras de Apoio Jurídico (Chambers Legal Support). As Câmaras são presididas por um Presidente e por um vice-Presidente, ambos eleitos por votação pelos juízes para um mandato de dois anos, renovável apenas uma vez. O Presidente tem funções de supervisão sobre os julgamentos do TPIJ, assim como das suas sessões plenárias, e das actividades do Registo; elege os juízes das Câmaras de Primeira Instância e de Recursos; representa o Tribunal em acções diplomáticas e políticas; serve de canal de comunicação com o Registo; e tem a seu cargo os relatórios anuais, para a Assembleia Geral das Nações Unidas, e bianuais, para o Conselho de Segurança, sobre o desenvolvimento das actividades do Tribunal. O vice-Presidente tem como função assumir as obrigações do Presidente caso este esteja impedido de o fazer.196

Fig.4 Organização das Câmaras de 1ª Instância e de Recursos

Fonte: http://www.icty.org/sid/326

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Os juízes, que fazem parte do Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia, têm como funções chegar à culpa ou inocência dos acusados e definir a sentença dos que sejam condenados. O grupo dos juízes do TPIJ vem das mais diversas áreas do Direito, entre elas o Direito Criminal e o Direito Internacional, e são escolhido tendo em conta a sua conduta como pessoas «of high moral character, impartiality and integrity

who possess the qualifications required for appointment to the highest judicial offices».197 Existem três Câmaras de Primeira Instância e cada uma é constituída por três juízes permanentes e por, normalmente, um máximo de seis juízes ad litem, ainda que, estes números possam variar de acordo com a especificidade dos processos. Todos os juízes pertencem ao Tribunal Penal, de entre os quais são designados os três permanentes para cada Câmara, enquanto os juízes ad litem são nomeados pelo Secretário-Geral das Nações Unidas a pedido do Presidente do TPIJ. Os julgamentos devem ser caracterizados por serem justos, rápidos e orientados de acordo com as regras presentes nas Regras de procedimento e provas do Tribunal, tendo sempre presente os direitos dos acusados e a protecção das vítimas e das testemunhas.198

A Câmara de Recursos, como o próprio nome indica, tem como função estudar os recursos dos julgamentos feitos pelos acusados e decidir de forma favorável ou não, e é comum aos dois Tribunais Penais ad hoc. Esta Câmara é composta por sete juízes permanentes, sendo que cinco pertencem ao Tribunal Penal Internacional para a ex- Jugoslávia e os restantes dois fazem parte do Tribunal Penal Internacional para Ruanda. Apenas cinco juízes tomam as decisões para cada processo de recurso. O papel das Câmaras de Apoio Jurídico engloba um grupo de assistentes jurídicos de entre os quais se destacam o Chefe de Gabinete, o Chefe Adjunto de Gabinete e o Chefe das Câmaras eleitos pelo Presidente do Tribunal, sendo estes os coordenadores dos assistentes no apoio dado aos juízes nos processos legais quanto a pesquisas a nível do Direito Internacional Criminal, Direito Internacional dos Direitos Humanos e Direito Internacional Humanitário; ajudam na preparação dos processos e no tratamento das provas e outros documentos relacionados com os julgamentos.199

No geral, o Registo, por um lado, é o órgão responsável pelos acusados, pelas provas, pelas testemunhas e por tudo o que esteja relacionado com os mesmos, de forma a garantir o bom desenrolar dos julgamentos, assim como de toda a fase de preparação

197 Em http://www.icty.org/sections/AbouttheICTY/Chambers 198 Idem

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que se lhe antecipa. Por outro lado, e de certa forma, é o Registo que trata de toda a parte administrativa do Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia, sendo que, nesta variante, as suas funções incluem apoiar as Câmaras, a Acusação e a Defesa na condução dos julgamentos, ou seja, durante um julgamento os oficiais do Registo são responsáveis pela gravação dos testemunhos, da apresentação das provas e de todos os documentos apresentados pelas partes presentes no julgamento. Em relação às testemunhas, é da responsabilidade dos oficiais do Registo que estas compareçam no Tribunal, ao mesmo tempo que lhes garantem a segurança e o apoio psicológico. Quanto aos acusados e, posteriormente, àqueles considerados culpados e condenados, o Registo tem ao seu dispor e sob o seu controlo o Gabinete de Assistência Jurídica e de Detenção (Office of Legal Aid and Detention) e a Unidade de Detenção das Nações Unidas (UN Detention Unit – UNDU). Nas primeiras instalações, os oficiais do Registo garantem a representação legal dos acusados proporcionando-lhes um advogado de defesa em caso de não terem condições financeiras de ter um e asseguram os serviços de interpretação e tradução nas várias línguas dos acusados - «All court proceedings and

are interpreted and all documents used by the parties are translated into or from English, French, Bosnian/Croatian/Serbian (BCS) and/ or Albanian and Macedonian»200. Já a Unidade de Detenção das Nações Unidas é o local onde os acusados ficam instalados antes e durante os julgamentos, sendo que, ainda que seja, efectivamente, uma prisão, as suas condições são mantidas de forma a corresponderem aos mais altos requisitos internacionais. Para além das funções acima referidas, o Registo, que é dirigido por um escrivão indicado pelo Secretário-Geral das Nações Unidas, tem-lhe ainda atribuídos deveres diplomáticos – a nível da comunicação entre o Tribunal e a comunidade internacional, questões de interesse para os estados-membros, cumprimento de sentenças e a relações com as autoridades dos Países Baixos – e responsabilidades quanto à informação pública, segurança, viagens, recursos humanos, serviços financeiros, arquivos e visitas, entre outros.201

200 Em http://www.icty.org/sections/AbouttheICTY/Registry 201 Idem

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Fig.5 Organização do Registo

Fonte: http://www.icty.org/sid/326

O último órgão que compõe o Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia é o Gabinete do Procurador que é dirigido por um Procurador nomeado pelo Conselho de Segurança, por um período de quatro anos, e por um Procurador Adjunto indicado pelo Secretário-Geral das Nações Unidas. Sob a orientação dos dois cargos mais altos do TPIJ, estão os colaboradores oriundos das mais vastas áreas profissionais, tais como agentes da polícia, especialistas criminais e forenses, analistas, advogados e conselheiros jurídicos, os quais trabalham, actualmente, de forma equivalente a um Ministério Público, incluindo nas suas funções a área da investigação em conjunto com a área da acusação. De uma forma geral, as funções do Gabinete do Procurador identificam-se com as funções do próprio Procurador e podem definir-se entre a investigação e a construção de um processo de acusação (e de recurso) contra os responsáveis pelos crimes cometidos contra os direitos humanos e o Direito Internacional Humanitário durante o conflito no território da antiga Jugoslávia. Nesse sentido, um processo de acusação começa pelo Procurador, quando este decide, de forma completamente independente, e tendo em conta informações recebidas por parte de variadas fontes que podem ser indivíduos, governos, órgãos das Nações Unidas e organizações internacionais ou organizações não-governamentais, a abertura de uma investigação, o objecto de investigação, quais os indivíduos a acusar e quais as

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acusações a serem feitas. Após o trabalho de investigação realizado pelos especialistas do Gabinete do Procurador, se este resultar na confirmação de que existe uma sustentação forte o suficiente para formalizar a acusação, o Procurador elabora um primeiro esboço para ser validado por um juiz e a partir daí dar início ao processo de julgamento. Todo o processo passa depois para um grupo de trabalho da Câmara de Primeira Instância, o qual, constituído pelo Presidente, pelo Vice-Presidente e pelos juízes nomeados, identifica as características do processo quanto aos acusados e à jurisdição do caso, sendo que, a ser confirmada a jurisdição do TPIJ, o processo de acusação é mais uma vez revisto por um juiz que confirma a validade da acusação e emite um mandado de prisão.202

Fig.6 Organização do Gabinete do Procurador

Fonte: http://www.icty.org/sid/326

Uma vez iniciado um julgamento, o Gabinete do Procurador tem como função apresentar as razões que fundamentam o seu caso em oposição às razões da defesa, baseadas nas provas e nas testemunhas. As provas podem ser desde ordens militares e relatórios policiais a fotografias e vídeos, enquanto as testemunhas são maioritariamente vitimas, sobreviventes, testemunhas presenciais, funcionários das organizações internacionais, informantes, criminosos e especialistas nas áreas relacionadas com os crimes. A análise de cada caso cabe a um conjunto de três juízes que serão os

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responsáveis pela decisão do destino do indivíduo acusado. Em caso de recurso, seja por parte da defesa, seja por parte da acusação, o pedido é feito à Câmara de Recursos, normalmente escrito, e deliberados por cinco juízes responsáveis. Quanto aos meios que o Tribunal utiliza para proceder à prisão dos indivíduos acusados, este recorre à colaboração das forças policiais dos estados-membros e às instituições internacionais, uma vez que de acordo com o próprio estatuto do TPIJ e do Conselho de Segurança das Nações Unidas, os estados-membros estão obrigados a garantir a sua total colaboração nas investigações e nos processos de acusação – «In practice, however, this cooperation

had often been lacking, especially from certain states that were once part of Yugoslavia.»203

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