• Nenhum resultado encontrado

5 O Tribunal Penal Internacional para os crimes da ex-Jugoslávia

5.3 Objectivos

«De acordo com a Resolução 827 (1993) o Tribunal tem competência para julgar as graves violações às Convenções de Genebra de 1949, as violações às leis ou costumes de guerra, o crime de genocídio e os crimes contra a humanidade cometidos no território da ex-Jugoslávia desde o ano de 1991 por indivíduos, e nunca por organizações, partidos políticos, entidades administrativas ou outros sujeitos jurídicos. Assim, a missão do tribunal é levar perante a justiça as pessoas alegadamente responsáveis pelas violações pelo direito internacional humanitário, fazer justiça às vítimas, dissuadir futuros crimes e contribuir para a restauração da paz, através da promoção da reconciliação no território da ex-Jugoslávia.»204

Os crimes pelos quais os indivíduos podem ser acusados incluem assassinatos, todo o tipo de torturas, deportação, perseguições, escravatura, roubos, destruição arbitrária de cidades ou vilas e de instituições religiosas, entre outros, sendo que os indivíduos podem ser acusados de forma diferente tendo em conta o papel que teve na realização dos crimes – Responsabilidade Criminal Individual (Individual criminal

responsability)205. Cada indivíduo pode ser acusado como aquele que teve a responsabilidade directa do crime, seja como mandante, executante ou cúmplice de alguma forma, ou pode ser acusado por ter tido conhecimento do crime antes ou depois, e estando em situação de o impedir ou punir os culpados – pela sua posição superior num cargo governamental ou noutro tipo de instituição com autoridade – não teve qualquer reacção (command responsability). Os oficiais do Tribunal Penal chegam aos réus através de intensas investigações onde recolhem o máximo de evidências e provas, assim como o relato de várias testemunhas que formam a base de uma acusação. O Tribunal apenas leva a julgamento pessoas enquanto indivíduos e não organizações, grupos governamentais ou mesmo instituições militares e estados. É neste sentido que o Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia se diferencia dos tribunais nacionais, uma vez que a sua autoridade chega até àqueles que normalmente se encontram protegidos pelas leis da imunidade, como os chefes de estado ou líderes militares, que ao estarem no topo da hierarquia de um estado costumam conseguir sair impunes de situações em que têm conhecimento dos crimes praticados ou até quando são os próprios mandantes.

204 RIBEIRO, Manuel de Almeida e FERRO, Mónica. A Organização das Nações Unidas. 2ª Edição,

Livraria Almedina. Coimbra, 2004. P. 302

87

Sendo um dos objectivos do Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia repor a verdade sobre os acontecimentos da guerra da antiga República (Establishing

the facts), o trabalho de investigação que os seus funcionários realizam são realizados da forma mais meticulosa possível, recorrendo aos testemunhos de vítimas, sobreviventes, criminosos e especialistas forenses e criminais. Deste modo, algumas das evidências e provas a que os seus investigadores conseguiram ter acesso foram suficientes para provar a veracidade da ocorrência de vários crimes que até então eram contestados como verdadeiros, tais como o genocídio de Srebrenica, as torturas e assassínios nos campos de Prijedor e outras localidades da Bósnia-Herzegovina, e as violações me Foča.206

Alguns dos casos tratados no TPIJ serviram de fundamento para mudar o Direito Internacional ou para o melhorar: «The “Čelebići” trial was a milestone in

international law. It was the first time that a court found rape to be a form of torture and convicted an accused on this basis.»207 Uma vez que o Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia foi o pioneiro no seu tipo, as suas formas de actuar foram também um meio de criar procedimentos, que em conjunto com os utilizados anteriormente, pudessem ser mais eficazes e rápidos, tanto na investigação das bases de sustentação para as acusações como nos próprios julgamentos. As características dos casos tratados pelo Tribunal têm sido essenciais na mudança do Direito Internacional Humanitário, do Direito Criminal e na aplicação das Convenções de Genebra, além da já referida acusação de Responsabilidade de Comando.208 De acordo com o referido anteriormente, o Tribunal tem, também, a seu cargo a protecção e assistência das vítimas e das testemunhas, através da Divisão das Vítimas e Testemunhas (Victims and Witnesses

Section), para que estas tenham uma oportunidade de serem ouvidas em tribunal e dêem o seu testemunho sobre os actos que sofreram ou viram sofrer: «By testifying at the

Tribunal, they contribute to the processo f the truth. (…) As of early 2011, more than 4,000 witnesses had told their stories in court.»209 Já a Divisão de Conferências e Serviços de Línguas (Conference and Language Services Section) tem como função os serviços de interpretação e tradução dos documentos relativos aos processos em julgamento. 206 Em http://www.icty.org/sid/324 207 Idem 208 Em http://www.icty.org/sections/AbouttheICTY/OfficeoftheProsecutor 209 Em http://www.icty.org/sid/324

88

O trabalho do TPIJ, actualmente, uma vez que já terminou a fase dos procedimentos de elaboração de acusações, e em simultâneo com os julgamentos que ainda decorrem em Haia, assume também a parte de assistência aos tribunais nacionais do território da antiga Jugoslávia onde colabora na construção das bases jurídicas das instituições locais dos novos estados nascidos da antiga República Federal da Jugoslávia.210

Quadro 1: O trabalho do TPIJ em números211

161 Pessoas acusadas por violações contra o Direito Internacional Humanitário

no território da ex-Jugoslávia

35 sob a tutela do Tribunal na Unidade de Detenção das Nações Unidas 35 Processos de acusação a decorrer

17 em espera para a Câmara de Recurso

17 actualmente em julgamento

1 actualmente em pré-julgamento 126 Pessoas com processos concluídos

13 Absolvidas

64 Condenadas

13 Transferidos para uma jurisdição nacional de acordo com a Regra

11bis

36 Tiveram as acusações retiradas ou faleceram

Fonte: http://www.icty.org/sections/TheCases/KeyFigures

89

5.4.O TPIJ e o tráfico humano: o papel da procuradora Carla Del

Documentos relacionados