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O presente ponto tem como propósito apresentar o meu percurso durante a experiência da Prática Profissional Supervisionada I e II, bem como os ideais e valores que se cimentaram com o decorrer destas experiências.

Ambas as práticas, tanto em creche, quanto em contexto jardim-de-infância, contribuíram para a construção e solidificação de uma parte significativa da minha profissionalidade docente como educadora de infância. Apesar de todas as suas especificidades e diferenças, quer ao nível dos contextos educativos, intervenientes e experiências, foi através das mesmas que formei e fortaleci a minha ação educativa. Como refere Nóvoa, citado por Cardona (2008b), o processo de profissionalização é consequente do “desenvolvimento do corpo de saberes e saberes-fazer” e ainda “valores característicos da profissão” (p.6).

Pessoalmente, considero que a construção do perfil profissional do educador(a) de infância decorre do tempo, do espaço, do pensamento crítico e reflexivo e acima de tudo, das experiências vividas nos diferentes contextos. Considero ainda que esta construção não é algo estanque, sendo uma construção evolutiva, em que a base são as vivências e reflexões resultantes do dia-a-dia.

O contexto creche foi um surpreendente para mim, pois esta era uma realidade com a qual nunca havia contactado antes. O número de crianças e as suas necessidades foram o que mais me marcou, tendo vivido verdadeiramente o sentido de educuidar (Dias, 2012), em que a educação está sempre associada ao cuidado com as crianças. Já em jardim-de-infância, o que mais surpreendeu foi a constante

51 curiosidade e necessidade de atenção dos vinte e cinco elementos com os quais me relacionei.

(Nota de Campo n.º 48.2 – 3 de maio de 2017 – Contexto Creche) Quando cheguei o Vid

encontrava-se à porta da sala a chorar, a Lê abordou-o perguntando “o que se passa?”. Dei uma festinha ao Vid, perguntei-lhe se queria um abraço. Ao verem este ato o Enzo e o Gu acariciaram também o Vid que não nos disse o que se passava.

(Nota de Campo N.º 28.1. – 3 de novembro de 2017 – Contexto Jardim-de-Infância) Mal chego

à instituição vejo no corredor o Alê que me diz “Bom dia Catarina” eu retribuo os bons dias, abrindo os braços à espera de um abraço. Este corre até mim. São estes pequenos momentos que me fazem percecionar o quão bom é estabelecer uma relação com uma criança.

Neste sentido, os valores psicopedagógicos, as questões éticas e todos os conceitos que, atualmente me definem enquanto educadora de infância e que foram aprofundados, ou alterados de acordo com a atividade reflexiva, ancoraram-me na prática.

Considerando que, o meu desempenho profissional se baseia numa “numa rede de interacções sociais mais alargadas, em consequência do grupo etário das crianças . . . da dinâmica de funcionamento da rede institucional” (Oliveira-Formosinho citado por Cardona, 2008, p.7), bem como das relações estabelecidas com as famílias, é imprescindível estabelecer um conjunto de ideais e valores que me auxiliem na construção da práxis profissional.

Estabelecer relações emocionais com cada uma das crianças é sem dúvida o primeiro passo para toda a ação educativa. Quer em creche, quer em jardim-de infância, esta foi a minha prioridade. Proporcionar-lhes um ambiente onde em que se sentissem seguras, física e emocionalmente, com grandes níveis de bem-estar foi outro dos meus grandes focos no decorrer das práticas. Na creche, auxiliar as crianças na transição da hétero para a autorregulação, enquanto que no jardim-de-infância, demonstrar para com as crianças uma atitude de apoio na sua autorregulação e durante a resolução de conflitos.

(Nota de campo n.º 31.7 - 23 de março de 2017 - Contexto Creche) - (…) Procedi à muda da fralda do Lu. Quando peguei no mesmo para coloca-lo no móvel muda-fraldas, este reagiu gritando e pontapeando. Neste momento, estava sozinha e a estratégia que encontrei para acalmá-lo foi cantar uma canção calma. O seu sossego e tranquilidade foram imediatos.

(Nota de campo n.º 24.4.- 27 de outubro de 2017 - Contexto Jardim-de-Infância) Baixei-me ao

nível das duas crianças para entender o que se havia passado, mas a mesmo tempo que a Uá. chorava, o MC. explicava o ocorrido, o P. e a Tubarão agarraram-me pelo braço gritando “Catarina, Catarina!” para que lhes desse atenção e a Sporting e a Fada também entraram em conflito. A tensão nestes momentos é alguma, pois são várias as crianças a necessitar de atenção e por isso várias situações a gerir. Ajudei a resolver as várias situações, e colocados novamente em fila, prosseguimos pelas áreas da sala.

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Brincar com as crianças, ter em conta a sua voz ativa, adotando a pedagogia da participação foram outros intuitos durante as PPS, pois são as motivações e interesses das crianças que guiam toda prática. Encarar cada criança como um ser único, com um

background específico, sempre foi prioridade, pois é uma demonstração de respeito por

cada uma. Para além do respeito, os valores de cooperação, da tolerância e da entreajuda através do meu exemplo foram também uma preferência, pois tal como Siraj- Blatchford (2004) defende “Não se pode esperar que as crianças dêem aos outros aquilo que elas próprias nunca tiveram” (p. 147).

(Nota de Campo N.º 36.5. - 15 de novembro de 2017 – Contexto Jardim-de-Infância) Ainda no

tapete, antes do momento de planear, o RO. dirigiu-se a mim dizendo “Catarina, sabes o que é que vou planear? Tesouros! Procurar tesouros contigo!”

(Nota de Campo N.º 36.7. - 15 de novembro de 2017 – Contexto Jardim-de-Infância) Já

dispersos pelas diferentes áreas presentes na sala, a Girafa e o Macaquinho aproximaram-se de mim. Este último pediu-me “Catarina, podemos jogar o jogo da corrida e das palmas e da estátua?”, tal como havíamos realizado no recreio. Repetimos a brincadeira.

(Nota de Campo N.º 36.8. - 15 de novembro de 2017 – Contexto Jardim-de-Infância) (…) o Dimu

diz-me “vou para a área do tesouro”. Visto que, esta resposta surgiu novamente perguntei “então se calhar temos mesmo de criar uma área dos tesouros… Onde achas que ficava bem?”. O Dimu responde “ali” enquanto aponta para a área da natureza. “E que materiais deve ter?”, pergunto e o Dimu responde “Lupas… E mais nada”.

Para além disto, as atitudes de encorajamento, a atenção à comunicação verbal e não verbal, a atuação na Zona de Desenvolvimento Próximo (ZDP), que é definida pela distância entre o nível atual de desenvolvimento de uma pessoa, determinado pela resolução de um problema, e o nível seguinte de desenvolvimento que pode ser alcançado sob mediação de um adulto ou de um par com maior aptidão (Hauser-Cam, Nugent, Thies, & Travers, 2014).

(Nota de Campo N.º 53.3. - 9 de dezembro de 2017 – Contexto Jardim-de-Infância) O P. tem

demonstrado não ter grande à vontade nas atividades de expressão motora, ao nível da locomoção. Noto este facto quando subimos ou descemos escadas e o P. acaba por fazer todo o percurso a tremer (…) Por esta razão, acompanho o P. incentivando-o a realizar os exercícios, fazendo-os com o mesmo, ou simplificando-os. Hoje pela primeira vez, o P. fez as atividades livremente, correndo, lançando e andando. Durante todo o tempo tentei incentivá-lo dizendo “estou muito contente por estares a fazer os exercícios”, “tu consegues”, “boa P.”. No final da sessão, este, esboçou um grande sorriso, dizendo “caína, o P. conseguiu!!”. É gratificante ver este tipo de evolução.

No que diz respeito à relação com as famílias, prezei sempre por adotar uma postura de disponibilidade e respeito, de forma a facilitar e construir a comunicação entre as diferentes partes. Tal como referem Sarmento e Marques (2006), a relação entre os educadores de infância e as famílias, é uma relação de parceria, onde deve de permanecer o sentido de articulação mútua. Nesse sentido, apresentei-me às famílias, comunicando através de conversas ou através de recados o que ocorria no

53 contexto sala, convidando-os a participar no dia-a-dia da creche e do jardim-de- infância.

(Nota de Campo N.º 39.1. – 4 de abril de 2017 – Contexto Creche) Após realizado o convite, o pai

do Sant aceitou deslocar-se à creche para realizarmos a receita dos bolinhos de cocô, onde todas as crianças participaram.

Tudo isto porque, tal como referem Sanches e Sá-Chaves (2008), os pais são detentores de conhecimento sobre as crianças, que é essencial à prática do educador, e este último também detém conhecimentos sobre as crianças essenciais às famílias. Para além disso, a interação entre os educadores e as famílias é fulcral para assegurar a progressão nas aprendizagens das crianças (Sanches & Sá-Chaves, 2008).

Como já referi anteriormente, a construção da profissionalidade é sem dúvida um processo progressivo, reflexivo e construído ao longo do tempo e por essa razão, sigo com a certeza que o estabelecimento da relação com os encarregados de educação é algo que tenho de melhorar, pois, apesar dos esforços, ainda tenho dificuldade em estabelecer esta relação. No contexto de creche, senti mais facilidade em comunicar com as famílias, do que em contexto jardim-de-infância. Isto devido à flexibilidade dos horários da instituição onde decorreu a PPS II, o que levava a que não me cruzasse com algumas famílias.

Tanto na experiência em creche, como na experiência em J.I., foi minha prioridade estabelecer com as equipas educativas relações positivas, de cooperação e comunicação com as mesmas, de forma a dar continuidade às intenções pedagógicas estabelecidas pelas mesmas.

(Nota de Campo n.º 5.5.- 10 de fevereiro de 2017 – Contexto Creche) Foi realizada a reunião de

educadoras, da qual tive oportunidade de assistir. Estas reuniões têm como objetivos a discussão e reflexão de temas propostos pelas educadoras em conjunto com a coordenadora pedagógica do estabelecimento educativo.

Como referido nos pontos anteriores, o estabelecimento educativo onde decorreu a PPS II tinha como modelo pedagógico a abordagem HighScope, contrariamente à instituição educativa onde decorreu a PPS I, que não tinha nenhuma abordagem pedagógica predefinida. Neste sentido, tive especial cuidado em pesquisar sobre a abordagem HighScope, refletindo muitas vezes sobre o modelo pedagógico, de forma a desenvolver e consolidar os meus conhecimentos sobre esta prática.

(Reflexões Semana 1 – 25 a 29 de setembro de 2017) No primeiro dia de estágio, uma das

principais ideias transmitidas pela educadora cooperante foi a importância de fomentar a resolução de problemas entre as próprias crianças, isto é, deixar que os problemas sejam resolvidos entre elas sem que seja necessário recorrer à ajuda de um adulto. Sempre que foi pedida a minha intervenção na resolução de um conflito, tive sempre em conta os princípios supracitados.

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Sempre que existiam dúvidas da minha parte, dirigi-me aos elementos da equipa educativa com os quais contactei, expondo as minhas questões. Ambas as equipas educativas foram sem dúvida fulcrais para a construção da minha profissionalidade docente, pois acredito que aprendi com os melhores exemplos, acerca do verdadeiro trabalho em equipa.

No que diz respeito às práticas investigativas são práticas que, para além de necessárias, são complementares a toda a estrutura evolutiva do profissional. Tanto a prática profissional supervisionada I, quer a II fizeram consciencializar-me para a importância do trabalho de investigação em educação. Em ambas as experiências, senti que o meu conhecimento expandiu, tendo ficado desperta para temáticas proporcionadas pelos ambientes educativos, levando ao meu crescimento enquanto futura educadora.

Penso que o ser humano deve estar sempre predisposto a novas oportunidades, novas experiências e novos conhecimentos que o tornem melhor. Com isto quero dizer que os princípios, valores e intencionalidades acima referidos não são estanques, foram resultado das experiências obtidas, podendo alterar-se ao longo do tempo. No entanto, o que irá sempre permanecer é o foco por conceder alegria e bem-estar às crianças, através de uma ação educativa de qualidade.

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