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A construção dos modelos didáticos dos gêneros: Resumo de artigo opinativo

Neste subitem, caracterizaremos o modelo didático, pela ordem, resumo de artigo opinativo, dissertação e, por último, a resenha crítica. Com relação ao modelo didático do Resumo, vale ressaltar a dificuldade de encontrar material bibliográfico no Brasil.

No caso da Suíça, por exemplo, a entrada do resumo na esfera escolar deu-se de forma “estranha”. Ele surgiu, segundo WIRTHNER 2006, como uma alternativa aos textos literários. Estes eram reservados aos melhores alunos e, para os alunos menos aplicados, o resumo entrou na escola elementar como uma solicitação de condensação de documentos para a leitura de textos mais técnicos como relatórios, dossiês, etc. No Brasil, no século XX, o resumo entrou como elemento disciplinador, corretivo, punitivo. À solicitação de livros literários, pedia-se um resumo. Nos livros paradidáticos, havia encartes de atividades de resumo das leituras solicitadas pelos docentes. Ou seja, no Brasil e em terras francófonas, o resumo entrou como elemento de punição, de castigo.

Bain (1990), especialista no assunto, discorda da pressão existente na escola sobre a necessidade de redução de algumas partes do texto. Para o autor, fica-se controlando, cognitivamente, a compreensão do texto em vez de se preocupar com a situação de produção determinada e com as consignas. Bain, analisando materiais didáticos, afirma que eles, geralmente, apontam os seguintes apelos aos estudantes: “trier entre l`essentiel e l`acessoire; conserver les temps du text de départ; maintien du point de vue narratif; vocabulaire personnel”72(1990, p.130). Para o autor, muitas vezes, há paráfrases absurdas, em virtude da consigna solicitar que se use um vocabulário pessoal. Para Bain (op. cit, p.132), e com ele

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“...selecionar entre o essencial e o acessório; conservar os tempos dos textos-base; manutenção do ponto de vista narrativo; vocabulário pessoal...” (tradução nossa)

concordamos, “notre aproche est donc différent puisqu`elle considère avant tout le text a produire T2 et la situation dont elle dépend”73.

Em 2002, Machado voltou-se para a produção de uma SD do gênero resumo, diferenciando-o, nas seções introdutórias, de outros gêneros em que aparece o processo de sumarização, por exemplo74. Assim, em sua SD sobre Resumo mostram-se gêneros distintos, como, por exemplo, guia de TV, resumo de artigo acadêmico, quarta capa de livro, etc. Machado, em sua pesquisa, constata que o resumo é um gênero autônomo, ou seja, ele não é considerado resumo quando está a serviço de uma resenha crítica ou de reportagens, por exemplo. Atualmente, com os estudos e avanços do ISD, o resumo escolar, como qualquer outro gênero, deve-se instaurar numa perspectiva comunicativa, de acordo com as situações particulares e definidas e, evidentemente, ligadas à atividade social. Por isso, o estudante, colocando-se no seu papel social, deverá produzir um resumo a partir de um texto opinativo veiculado num jornal de circulação nacional para ser lido primeiramente pelo professor- pesquisador e, depois, pelos leitores do jornal escolar da instituição em que a pesquisa se efetua. Ou seja, o contexto de produção é elemento primordial para a boa consecução da atividade. Resumir, portanto, depende da razão pela qual se resume. Implica, pois, uma interpretação do texto-base tendo sempre em vista o destinatário. A distinção entre o essencial e o acessório depende da meta, do objetivo do agente-produtor. Rejeitamos, por isso, nesta pesquisa específica, qualquer trabalho representacionista de produção textual. Dolz & Schneuwly (2004) ao mencionar o resumo escolar, falam de uma paráfrase complexa por meio da qual o estudante vai “pôr em cena” uma “dramatização escolar” que será construída no texto de chegada (a resumir), qual seja, a utilização de diferentes vozes enunciativas.

Concordamos com os autores, já que, nas análises, pudemos observar diversas instâncias enunciativas, após a aplicação da SD. Wirthner 2006 cita, ao abordar o resumo, e com ela concordamos, que a hierarquização e a priorização das informações é uma questão bastante fluida. Por isso, as consignas da produção de um resumo têm de ser as mais claras possíveis.

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“...nosso trabalho é, portanto, diferente , já que considera, antes de tudo, o texto a produzir (texto 2) e a situação a qual ele depende”. (tradução nossa)

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É bom destacar que, apesar de o processo de sumarização estar presente em diversos gêneros de textos, não podemos chamá-los de resumos. Nestes casos, a depender do contexto de produção e dos objetivos do agente- produtor, contituir-se-á em outros gêneros, como, por exemplo, em resenha crítica, etc.

Para a elaboração de um modelo didático75, solicitamos a professores de Língua Portuguesa do Ensino Médio, em tese, especialistas no assunto, que produzissem resumos, levando em conta a mesma situação de comunicação. Além disso, baseamo-nos nas produções dos estudantes, na SD de Machado e no que dizem os experts sobre o assunto, como exemplo, Bain e Wirthner76. São, na opinião de Dolz & Schneuwly (1997), as práticas sociais de referência77. Assim, temos, com relação ao resumo de artigo opinativo:

a) Um estudante determinado, no papel de “aluno-especialista”, conhecedor do texto-base a ser resumido e das capacidades implicadas na produção de um resumo, realiza uma ação de linguagem escrita. Local de produção: na sala de aula de uma instituição privada, COEB. Momento de produção: durante hora-aula do professor- pesquisador. Leitor/receptor: professor-pesquisador, dirigida também aos leitores do jornal escolar, outros alunos da mesma instituição, professores, diretor de escola, pais, etc.; portanto, não especialistas. O resumo produzido, portanto, terá os seguintes objetivos: fazer o público leitor do jornal escolar tomar conhecimento dos aspectos fundamentais/prioritários do texto publicado na Folha de S. Paulo, na seção Ciência em Dia. No contexto sociossubjetivo: Instituição: COEB; papel social do produtor do texto: estudante. Papel social do leitor: pais de alunos, professores, etc. Não é possível, como no caso da resenha crítica, a indicação dos leitores interessados. A temática desenvolvida pode interessar a quaisquer leitores potenciais do jornal escolar, em geral, os pais cooperados da escola Cooperada Nova Geração: COEB. b) Para a mobilização dos conteúdos, o estudante deve ter lido/relido o texto-base. O agente-produtor deve trazer conteúdos prioritários78 do texto-base, parafraseá-lo, com o intuito supracitado. O estudante, ao produzir este resumo, não estará se posicionando, mas, de outro modo, parafraseará a tese, os argumentos e a conclusão do texto matriz.

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Em artigos posteriores, pretendemos divulgar, em termos quantitativos, os resultados, de maneira mais fina, do folhado textual dos três gêneros pesquisados de resultaram na construção do modelo didático. Para os objetivos desta pesquisa, tencionando não transformar a tese num material extremamente longo, resultados qualitativos pareceram-nos suficientes.

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Tais fatores, segundo a bibliografia pesquisada, são imprescindíveis para a produção do modelo didático.

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A apresentação dos modelos didáticos terá a seguinte ordem: primeiramente o resumo de artigo opinativo, em seguida a dissertação escolar e, por fim, a resenha crítica.

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Os aspectos tidos como prioritários aqui são: a) A indústria norte-americana tomou uma decisão radical ao iniciar 261 processos contra pessoas que baixam músicas pela internet; b) é necessário reverter para o artista fruto de seu trabalho; c) Como processar as pessoas que baixam música (termos probabilísticos)? d) A medida tornará os fabricantes de discos impopulares; e) Depoimento de Cary Sherman: justiça como meio de punição; f) “Os criminosos” não baixam músicas para ganhar dinheiro, mas por lazer, como cultura, costume; g) Necessidade de os marqueteiros arrumarem nova forma de ganhar dinheiro, mesmo com os novos meios de comunicação.

c) Contextualização do resumo: de caráter informativo, já que, neste caso, não há a comparação deste texto com outros do mesmo autor. Normalmente, nesta fase o agente-produtor diz/aborda qual ramo do conhecimento foi tratado no texto-base e qual a contribuição que foi trazida ao expectante. Ou seja, trata-se do conteúdo temático desenvolvido: a truculência da justiça americana, em casos de downloads de músicas pela internet.

d) Com relação ao plano global, o resumo, baseando-nos em Wirthner, quando também solicitou resumos a partir de textos opinativos da imprensa, geralmente, apresenta as seguintes características: nome do texto a ser resumido, local de publicação, seção, etc. Estes elementos costumam aparecer, com muita freqüência no primeiro parágrafo e serem retomados posteriormente ao longo do resumo.

e) Apresentação dos conteúdos das diferentes partes/momentos do texto-base com a respectiva descrição das ações do autor do texto original. Exemplos: o autor aborda, constata, confirma, etc.

f) Não-avaliação do texto-base: na consulta a especialistas (cf. Bain, D; Wirthner, M.). Acordamos que o texto resumido deve ser uma paráfrase do texto original de Marcelo Leite, sem que haja qualquer tipo de apreciação pelo agente-produtor de resumos. Por outro lado, devem-se evitar “absurdos semânticos”, apenas porque lhe foi pedida uma paráfrase.

g) Discurso predominantemente teórico, marcado pelo distanciamento principalmente, pelo presente de valor genérico, pela freqüência de frases declarativas, ausência de marcas de 1ª e 2ª pessoas do singular.

h) No momento de apresentação do texto-base, normalmente no 1º parágrafo, aparecem seqüências descritivas a respeito da situação de comunicação. No momento de se reportar ao conteúdo temático do texto-base, aparecem novamente seqüências descritivas explicando ou argumentando sobre o discurso do texto-base. Assim, chamaremos a essas seqüências “descrição de ações”. Elas guiam o leitor pelos diferentes parágrafos do texto. Por isso, são comuns verbos como: aborda, constata, examina, estuda, confronta, sugere, etc. Tais verbos, a nosso ver, revelam o trabalho interpretativo do agente-produtor em relaçao ao discurso do texto-base.

i) Com relação à coesão nominal, o próprio objeto do resumo- e seu autor- constituem as séries coesivas . Elas serão formadas por expressões nominais definidas, e por muitas outras mais, tais como: Marcelo Leite, Leite, o autor, o jornalista, o articulista, etc. Evidentemente, não é escopo deste trabalho deter-se em

seqüências coesivas em profundidade; entretanto, de outro modo, numa seção da seqüência didática, trabalhar com estes elementos de coesão. Forte presença de organizadores lógico-argumentativos como: já que, porque, uma vez que, portanto, então, etc.

j) Há dois tipos de vozes: a voz do expositor/aluno, que chamaremos de neutra, e a voz do autor do texto resenhado79. São comuns, por conseguinte, expressões como: Segundo Leite, Para Leite, etc.seguidas normalmente de uma paráfrase do que foi lido no texto. Presença do discurso “rapporté”, principalmente, indireto com a utilização de verbos de elocução mais a conjunção integrante que. Como no texto base havia apenas uma ocorrência do discurso rapporté direto, sua presença foi menor tanto na escrita dos docentes quanto na escrita dos estudantes.

k) Com relação às modalizações, há predomínio de afirmações lógicas produzindo, assim, maior objetividade. Por exemplo: “O autor afirma que...; o autor constata que...”. As modalizações lógicas expressando dúvida/possibilidade ou modalizações deônticas aparecem; mas, de outra forma, estas são atribuídas ao autor do texto resumido. Com relação às modalizações apreciativas, estas, em nosso Corpus, apareceram de forma bastante tímida.

l) Em relação às escolhas lexicais, são fortemente influenciados pelo conteúdo temático do texto.